quinta-feira, 30 de maio de 2024

Brexit fracassa, e conservadores devem perder no Reino Unido após 14 anos

Representados por David Cameron, os Conservadores voltaram ao poder no Reino Unido em 2010, após a renúncia do então primeiro-ministro Gordon Brown. Catorze anos e cinco premiês depois, o partido corre grande risco de perder as eleições e o comando do governo britânico para os Trabalhistas, amaldiçoado por aquilo que lhe rendeu mais apoio no passado recente: o Brexit — e, mais especificamente, a crise econômica causada pela saída da União Europeia.

·        Cenário é desfavorável

# Pesquisas mostram ampla vantagem dos Trabalhistas.

- Um levantamento feito pela emissora britânica BBC coloca o Partido Trabalhista com 45% das intenções de voto, contra 23% do Partido Conservador, segundo dados compilados até 24 de maio. Hoje, a maior parte dos analistas vê como muito improvável uma vitória do atual primeiro-ministro Rishi Sunak sobre Keir Starmer nas eleições de 4 de julho. "Se tivesse uma virada, seria histórica, mesmo", diz ao UOL Kai Enno Lehmann, professor do IRI-USP (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo).

# Economia melhorou, mas perspectivas são pessimistas.

- A convocação das eleições gerais veio horas após o anúncio de que a inflação em 12 meses desacelerou para 2,3% em abril, o nível mais baixo em quase três anos. Lehmann reforça, porém, que "o pior ainda está por vir" — principalmente a partir de outubro, com a implementação de novas regras do Brexit para importação. "Imagino que a gente vá ter falta de produtos, então há um interesse político em deixar esse problema para o Partido Trabalhista resolver", analisa.

# Convocar eleições foi medida de 'desespero', diz professor.

- Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), lembra que os próprios Conservadores tinham como certa a realização das eleições no outono no Hemisfério Norte — isto é, entre setembro e novembro —, na expectativa de que Sunak teria números melhores para apresentar à população. Como o prognóstico é ruim, o anúncio foi antecipado. "Foi uma medida de desespero. É a única chance de ele sobreviver", avalia.

“Não consigo imaginar um cenário onde o Partido Conservador vai sair com uma maioria desta eleição. (...) Alguns deputados anunciaram que não vão se candidatar novamente. E, até o dia da eleição, vários outros vão fazer a mesma coisa. Isso, na prática, significa que muitos não acreditam que o partido pode ganhar.” - Kai Enno Lehmann, do IRI-USP

“Eu diria que as chances de reviravolta são zero. Literalmente zero. Já que a vitória dos Trabalhistas é tida como certa, a questão é por quanto ele [Starmer] vai ganhar, se vai ser uma vitória avassaladora ou mais ou menos. Muita gente tem dito que seria um referendo sobre o Partido Conservador, mas eu acho que é um referendo sobre o Partido Trabalhista.” - Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC

·        Brexit: de trunfo a 'desastre'

# Saída da UE foi aprovada em plebiscito em 2016.

- Na ocasião, 52% dos eleitores — cerca de 17,4 milhões de pessoas — de Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte votaram a favor do Brexit, acreditando no argumento de que a União Europeia prejudicava a soberania dos países do Reino Unido. A vitória levou à renúncia de David Cameron, que era contra a saída. O então primeiro-ministro foi substituído por Theresa May.

# Brexit demorou mais de três anos para sair do papel.

Embora tivesse defendido a permanência do Reino Unido na UE, May liderou o acordo de saída, tendo falhado três vezes em aprovar o Brexit no Parlamento britânico. Em 2019, após os sucessivos fracassos e pressões dentro do próprio Partido Conservador, a primeira-ministra deixou o cargo e deu lugar a Boris Johnson. Ele foi alçado à posição sob a promessa de concretizar o Brexit o mais rápido possível, o que aconteceu em janeiro de 2020.

# Desde então, economia do Reino Unido patinou.

- O principal argumento dos Conservadores era de que, com o Brexit, o Reino Unido estaria livre das amarras da UE e poderia fechar acordos comerciais com outros países. Na prática, aconteceu o contrário: os custos de vida e dos negócios subiram, a burocracia aumentou e a parte da mão de obra estrangeira deixou o país. Em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) britânico cresceu 1,6%, de acordo com dados oficiais; em 2023, a expansão foi de 0,1%.

# Convencer eleitores de que o Brexit falhou é 'desafio'...

- Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC, explica que muitos dos votos conquistados pelos Conservadores em 2019 foram de eleitores tradicionalmente Trabalhistas que "viraram a casaca" justamente por causa do Brexit. Colocar a saída da UE em xeque agora, portanto, seria arriscado demais para Starmer, caso seja eleito primeiro-ministro. "Eles [favoráveis ao Brexit] fazem parte da base que vai elegê-lo. Ele só teria capital político para tentar algo do tipo em um eventual segundo mandato", diz.

# ... Mas tema não é tratado por Conservadores ou Trabalhistas.

- A campanha eleitoral começa oficialmente em 30 de maio e, ao menos até o momento, nem Sunak e nem Starmer levantaram discussões sobre o Brexit. O primeiro foca em tentar convencer a população de que a economia está próxima a uma reviravolta; o segundo, em contrapartida, aposta principalmente nas promessas de trazer maior estabilidade e reduzir com as filas de espera no NHS, o sistema público de saúde do Reino Unido.

“O Estado está falido, com queda na arrecadação todo ano. Não tem dinheiro para nada, e até por isso tem cortado gastos sociais, como o NHS [National Health Service, equivalente ao SUS brasileiro]. A economia está absolutamente um desastre. (...) Vários países europeus estão crescendo bastante, só o Reino Unido continua em queda livre.” - Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC

“Nada no país está melhor do que há cinco anos. A guerra [entre Rússia e Ucrânia] e a pandemia tiveram um impacto negativo no Reino Unido, assim como em todos os outros países. Mas a economia está patinando há anos, quase não cresce. (...) Estamos no quinto primeiro-ministro, o quarto em cinco anos. A sensação é de que o partido está um caos.” - Kai Enno Lehmann, do IRI-USP.

 

¨      G7 quer limitar progresso chinês; 'Essencialmente protecionismo'

O governo chinês declarou nesta segunda-feira (27) que o G7, grupo que reúne os países mais ricos do mundo, busca limitar o progresso comercial de Pequim.

"O G7 exagera a chamada supercapacidade da China e tenta estabelecer obstáculos e limitações ao progresso da China. É essencialmente protecionismo", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, em coletiva de imprensa em Pequim.

A declaração é uma resposta ao comunicado final do encontro de ministros das finanças e banqueiros centrais do G7, no último sábado (24), na Itália, que acusa a China de prejudicar parceiros comerciais com "uso abrangente de políticas e práticas não mercantis que prejudicam os nossos trabalhadores, indústrias e resiliência econômica".

O comunicado informa ainda que o grupo — composto por Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá — vai monitorar os impactos negativos "desse excesso de capacidade" e considera "tomar medidas para garantir condições de concorrência equitativas, em linha com os princípios da Organização Mundial do Comércio [OMC]".

·        Rússia também está na mira do G7

Os países do G7 continuarão a introduzir sanções para reduzir as fontes de renda da Rússia, segundo a declaração final da reunião dos ministros das Finanças do grupo, na Itália.

A reunião na Itália na última semana buscou encontrar terreno comum para utilizar lucros dos ativos congelados da Rússia, além de frear a crescente força exportadora da China em setores-chave.

A Itália está na presidência do G7 neste ano, e o seu ministro da Economia, Giancarlo Giorgetti, disse na semana passada que as propostas dos EUA a respeito do uso de ativos russos tinham "implicações jurídicas bastante sérias", que ainda precisam ser esclarecidas.

Giorgetti acrescentou que estava sendo travada uma "guerra comercial", refletindo tensões geopolíticas, e alertou para o risco de "fragmentação do comércio global".

A Rússia alertou em várias ocasiões ao Ocidente sobre as consequências de ter seus bens tocados e acusou Washington de intimidar a Europa a tomar medidas mais radicais para frustrá-la na Ucrânia.

A Rússia empreende uma operação militar especial na Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022, cujos objetivos, segundo o presidente russo, Vladimir Putin, são proteger a população de "um genocídio do regime de Kiev" e enfrentar os riscos de segurança nacional que representam o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o leste.

Segundo a base de dados Castellum.AI, mais de 18 mil sanções individuais e setoriais foram acionadas contra a Rússia desde o início da operação, além das 2.695 que já estavam em vigor.

China exorta os EUA a respeitarem a soberania das nações vizinhas em meio a tensões

Pequim instou Washington a evitar interferir nas disputas marítimas entre a China e os seus países vizinhos e criar blocos regionais destinados a dissuadir atividades marítimas chinesas, disse o Ministério das Relações Exteriores chinês nesta terça-feira (28).

Na última sexta-feira (24), a China e os Estados Unidos realizaram a segunda rodada de consultas bilaterais sobre questões marítimas através de videoconferência. As consultas contaram com a presença do diretor-geral do Departamento de Fronteiras e Assuntos Oceânicos do Ministério das Relações Exteriores da China, Hong Liang, e do coordenador para a China do Departamento de Estado dos EUA, Mark Lambert.

"[Os Estados Unidos] não deveriam interferir nas disputas marítimas entre a China e os países vizinhos, não deveriam criar pequenos círculos com o objetivo de 'usar o mar para controlar a China', não deveriam minar a paz e a estabilidade regionais", dizia o comunicado.

A China também expressou séria preocupação com as "provocações" dos EUA nas águas que cercam a China e apelou a Washington para respeitar a soberania territorial, os direitos e interesses marítimos da China, dizia a declaração.

Além disso, Pequim apelou a Washington para parar de favorecer aqueles que defendem a alegada "independência de Taiwan" e apontou para o princípio de Uma Só China, que é a base política das relações China-EUA, acrescentou o comunicado.

A China tem estado envolvida em disputas de décadas com vários países da Ásia-Pacífico, incluindo as Filipinas, sobre a afiliação territorial de uma série de ilhas e recifes no mar do Sul da China. Reservas significativas de petróleo e gás foram descobertas na plataforma continental dessas ilhas, incluindo as ilhas Paracel, a ilha Thitu, o atol Scarborough e as ilhas Spratly, dos quais o recife Whitson faz parte.

 

Fonte: UOL/Sputnik Brasil

 

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