sexta-feira, 31 de maio de 2024

Lavrov admite acordo de paz acelerado para a Ucrânia, mas Ocidente deve parar envio de armas

O ministro das Relações Exteriores da Rússia expressou a possibilidade de uma aproximação para uma resolução pacífica do conflito ucraniano, mas referiu que há muitos obstáculos para que isso aconteça.

Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, disse na quinta-feira (30) que existe uma possibilidade teórica de "acelerar" a solução política da crise ucraniana.

Durante uma entrevista à Sputnik, o alto responsável respondeu "teoricamente, sim" a essa possibilidade.

"Isso requer que o Ocidente pare de bombear armas para a Ucrânia e que Kiev pare de lutar. Quanto mais cedo isso acontecer, mais cedo terá início um acordo político", apontou ele.

Além disso, indicou Lavrov, é difícil imaginar um diálogo sobre a paz dado o domínio do "partido da guerra" em Kiev.

"O 'partido da guerra' governa em Kiev e busca, pelo menos em palavras, derrotar a Rússia 'no campo de batalha'. Sob tais condições, é difícil imaginar um diálogo sobre a paz", disse.

O ministro referiu também que a Ucrânia tem uma proibição legal de efetuar negociações com a Rússia desde 30 de setembro de 2022.

"Quanto ao status legal de Vladimir Zelensky após 20 de maio, quando seu mandato como presidente da Ucrânia expirou, o presidente russo Vladimir Putin falou claramente sobre essa questão em uma coletiva de imprensa em Minsk em 24 de maio", lembrou o ministro russo.

"Esperemos que, mais cedo ou mais tarde, haja forças políticas na Ucrânia que se preocupem com os interesses do povo. Por enquanto, não há outra opção a não ser continuar a operação militar especial até que seus objetivos sejam alcançados", concluiu o chanceler russo.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, disse na sexta-feira (24), após as conversações russo-belarussas, que Moscou considera que a legitimidade de Vladimir Zelensky acabou.

·        Conferência de paz com Kiev e Moscou pode ser continuação dos esforços de Pequim, diz Lavrov

A Rússia considera a ideia de convocar uma conferência internacional de paz para a resolução do conflito ucraniano, com a participação tanto de Moscou quanto de Kiev, como uma possível continuação dos esforços da China para criar condições para resolver essa crise.

É o que disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em entrevista exclusiva à Sputnik nesta quarta-feira (29).

"Compartilhamos a posição de que, antes de tudo, é necessário eliminar suas causas profundas e garantir os interesses legítimos de todas as partes", acrescentou Lavrov.

Os futuros acordos sobre a resolução do conflito ucraniano devem basear-se no princípio de segurança igual e indivisível, acrescentou o ministro.

A última rodada de conversações entre Moscou e Kiev para alcançar um acordo de fim das hostilidades ocorreu em 29 de março de 2022 na cidade turca de Istambul, e desde então os países não voltaram a retomá-las. Antes das negociações na Turquia, as delegações da Rússia e da Ucrânia realizaram uma série de consultas em Belarus no final de fevereiro e nos primeiros dias de março de 2022.

O conflito na Ucrânia, segundo o Kremlin, pode avançar em direção a uma solução política desde que se leve em conta a nova realidade territorial e se cumpram as garantias de segurança nas quais Moscou insiste.

¨      EUA são cúmplices de crimes e não têm interesse na população civil russa, diz Lavrov

A Rússia acredita que os Estados Unidos se tornaram cúmplices dos crimes de Kiev em relação aos ataques com mísseis realizados pela Ucrânia contra cidades russas, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em entrevista exclusiva à Sputnik.

"Na estratégia de segurança nacional dos EUA, a Rússia é chamada de ameaça imediata. Os Estados Unidos e a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] dizem explicitamente que seu objetivo é infligir uma derrota estratégica ao nosso país", declarou.

Para Lavrov, o destino da população civil "das cidades russas não interessa à Casa Branca, que se tornou cúmplice dos crimes do regime de Kiev".

A última rodada de conversações entre Moscou e Kiev para alcançar um acordo de fim das hostilidades ocorreu em 29 de março de 2022 na cidade turca de Istambul, e desde então os países não voltaram a retomá-las. Antes das negociações na Turquia, as delegações da Rússia e da Ucrânia realizaram uma série de consultas em Belarus no final de fevereiro e nos primeiros dias de março de 2022.

O conflito na Ucrânia, segundo o Kremlin, pode avançar em direção a uma solução política desde que se leve em conta a nova realidade territorial e se cumpram as garantias de segurança nas quais Moscou insiste.

¨      Rússia vê planos da OTAN para fornecer F-16 a Kiev como um sinal na esfera nuclear, diz Lavrov

A Rússia considerará o fornecimento de caças F-16 à Ucrânia um sinal de ação deliberado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na esfera nuclear, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em entrevista exclusiva à Sputnik.

"Os caças F-16 têm sido há muito tempo o principal meio de lançamento no âmbito das chamadas missões nucleares conjuntas da OTAN. Portanto, não podemos deixar de considerar o fornecimento destes sistemas ao regime de Kiev como um sinal de ação deliberado da OTAN na esfera nuclear", disse Lavrov.

Segundo o chanceler russo, eles estão tentando deixar claro para nós que os Estados Unidos e a OTAN estão prontos para literalmente qualquer coisa na Ucrânia.

Ao mesmo tempo, o fornecimento de caças F-16 não mudaria de forma alguma a situação na linha de contato, acrescentou o ministro.

"Esses jatos serão destruídos, assim como outros tipos de armas fornecidos pelos países da OTAN à Ucrânia", complementou Lavrov.

¨      Para Lavrov, EUA estão colocando 'lenha na fogueira' do conflito no Oriente Médio

Os Estados Unidos, ao declararem publicamente compromisso com uma solução justa para a questão palestina, na verdade estão jogando lenha na fogueira do conflito no Oriente Médio, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em entrevista exclusiva à Sputnik.

"Os norte-americanos falam publicamente sobre seu compromisso com uma solução justa para a questão palestina. No entanto, na prática, estão generosamente jogando lenha na fogueira do confronto armado", disse Lavrov.

O ministro destacou que por seis meses Washington bloqueou a adoção de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo, "praticamente dando carta branca para a destruição de Gaza."

Em março, "o país foi forçado a se abster na votação e o Conselho aprovou uma resolução exigindo o fim das hostilidades, enquanto o representante dos EUA, sem o menor constrangimento, declarou que o documento do Conselho de Segurança da ONU não tinha força obrigatória", pontuou Lavrov.

"A declaração de Washington sobre a suspensão do fornecimento de munições a Israel se referia a um tipo de munição (bombas aéreas) e apenas de um lote de ajuda de curto prazo. Alguns dias depois, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou um projeto de lei para cancelar a pausa no fornecimento de armas a Israel. Se o documento, preparado pelos republicanos, for aprovado também no Senado, ele não permitirá que a Casa Branca negue ajuda militar a Tel Aviv" concluiu o ministro.

Segundo Lavrov, a experiência de diálogo de Moscou com os norte-americanos "demonstra claramente que não se deve confiar nas declarações dos EUA."

"Por muito tempo, quisemos acreditar neles, negociamos e fizemos acordos. Mas depois se revelou que todas as suas promessas, que também foram registradas em papel e em resoluções do Conselho de Segurança da ONU, Washington não pretendia cumprir", enfatizou Lavrov.

¨      Não há escassez nos arsenais ocidentais, há falta de vontade de fornecer mais armas a Kiev

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam as causas da escassez de armamentos nas linhas de frente ucranianas e apontam que o Ocidente está investindo em armas mais modernas e sofisticadas que não desejam enviar a Kiev.

A escassez de armas vem estrangulando as capacidades das forças ucranianas em confronto com tropas russas e aparentemente drenando os arsenais dos EUA e de aliados europeus. Desde o início do conflito, Kiev recebeu de Washington bilhões de dólares em armas e equipamentos militares para a frente de combate.

No entanto esse auxílio minguou nos últimos meses, e um dos motivos, segundo analistas ouvidos pela mídia americana, é a incapacidade dos EUA de produzir armas o suficiente para repor os estoques direcionados para Kiev.

Um artigo publicado no The Trumpet, por exemplo, aponta que os arsenais dos EUA chegaram a um nível "perigosamente baixo". Segundo o artigo, desde o início do conflito ucraniano os Estados Unidos já enviaram mais de 2 milhões de projéteis de 155 milímetros, calibre utilizado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), para a Ucrânia, que dispara uma média de 110 mil projéteis por mês. Isso excede em muito os 28 mil projéteis mensais que as fábricas americanas conseguem produzir, sendo que antes do início do conflito a produção era de 15 mil projéteis. O Pentágono tem planos para aumentar a produção para 100 mil projéteis por mês, mas o prazo para isso acontecer vai até o final de 2025.

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas apontam que a escassez de armas fornecidas a Kiev não é fruto da falta de capacidade de produção, mas sim de uma mudança de paradigma em relação à forma como conflitos são travados e da falta de vontade do Ocidente de enviar mais armas à Ucrânia.

Isabela Gama, professora de relações internacionais da Universidade Abu Dhabi, afirma que "existe um lobby interno nos Estados Unidos para que o país não se envolva mais nesse conflito". Além disso, ela aponta que há um estoque menor nos arsenais ocidentais porque os armamentos produzidos atualmente são mais modernos.

"Então existe a necessidade de menos armamentos e mais armamentos inteligentes, o que demanda um orçamento militar muito alto, mas não necessariamente de produção em massa, mas de produção de qualidade, tecnologia muito avançada. Os orçamentos de gastos militares […] no mundo inteiro apenas aumentam — o Brasil é um exemplo disso, e nós não estamos em conflito. E também existe uma falta de vontade dos Estados Unidos em enviar armamentos para a Ucrânia por conta de uma questão política, não logística", explica a especialista.

 

Isabela enfatiza que a recente declaração do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, que pediu o fim das restrições do uso de armas pela Ucrânia contra a Rússia, indica que vai haver um maior envolvimento dos países-membros da aliança nesse esforço, o que expõe que o problema não é a escassez de armas. Segundo ela, o que ocorre é que muitos países estão optando por preservar seus próprios arsenais, enviando para a Ucrânia apenas armamentos obsoletos, dos quais pretendem se desfazer nesse processo de modernização.

"A questão é que os países ocidentais não estão mais querendo enviar [para a Ucrânia] o seu material bélico que seja muito caro, como caças supercaros, armamentos muito modernos. Até agora, o que tem sido enviado à Ucrânia são basicamente armamentos já antigos, que na verdade estavam sendo um fardo para alguns países", explica Gama.

"Não à toa, a Alemanha foi ao Brasil pedir que o Brasil enviasse tanques e munição, um determinado tipo específico de munição, para a Ucrânia, porque nós temos e nós não usamos, porque são muito antigos e têm sido um fardo para o Brasil, e há algum tempo o governo brasileiro tenta se livrar desses tanques. Mas o Brasil, como não quer se envolver no conflito, decidiu não enviar. Nós fomos duramente criticados pelo chanceler alemão, mas o problema não é escassez, o problema é que não há vontade de enviar os armamentos mais modernos para a Ucrânia", complementa.

Ela afirma que os EUA continuam sendo uma potência bélica que detém armamentos modernos e caros, "que eles não vão enviar à Ucrânia". "Então a imagem [que fica] é que os Estados Unidos não estão tão interessados assim em se envolver diretamente [no conflito ucraniano]."

·        Tecnologia nos arsenais substituiu quantidade por qualidade

Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares, concorda que o problema no fornecimento de armas à Ucrânia não é fruto de escassez nos arsenais ocidentais, mas da substituição por armas mais modernas.

"Você armazenar armas durante um período muito longo, principalmente armas pesadas, é um grande problema. Primeiro porque você cria um risco para a população. Mesmo com todas as medidas de segurança, paióis com 200 mil, 300 mil munições de projéteis de 155 milímetros podem causar um estrago ao redor de 20, 30 quilômetros do paiol se houver algum problema dentro dele. Esse é o primeiro problema, segurança. Você tem que pensar na segurança da população", explica.

"O segundo problema é que munição acaba perdendo a validade, então você nunca vai ter uma garantia total da qualidade daquela munição se você precisar usar." Por isso a melhor opção é o investimento em armas mais modernas no modelo de produção "just in time".

"Outro ponto é que muita coisa mudou em termos de tecnologia. Munições guiadas, por exemplo, são uma trend hoje. Eu vi uma munição guiada italiana, em La Spezia, que tinha um alcance de 80 quilômetros. [Elas] Têm uma precisão muito grande e são muito mais caras de produzir, dez vezes mais caras do que as munições tradicionais. Então você ter grande estoque desse tipo de munição é uma coisa complicada. E se você tem as unidades fabris prontas para operar, você consegue suprir as necessidades das Forças Armadas em um tempo relativamente curto. Ou seja, você saiu de um momento que você precisava de muita munição para outro que você precisa de menos munições, com mais qualidade e um custo muito mais alto."

Ademais, ele aponta que o conflito ucraniano surpreendeu países do continente.

"O terceiro ponto é que ninguém pensava que haveria um conflito de grandes proporções na Europa. Ninguém pensava nisso, foi uma coisa totalmente inesperada. Todo mundo achava que se houvesse conflito, seria um conflito de baixa intensidade, como foi lá no Afeganistão, como foi a guerra da Geórgia, que foi rapidamente resolvida pela Rússia", explica o especialista.

·        Há possibilidade de uso de armas nucleares táticas no conflito?

Questionados sobre se países ocidentais podem recorrer ao uso de armas nucleares de baixo impacto, também chamadas de táticas, no conflito ucraniano, ambos os especialistas descartam essa possibilidade.

Isabela Gama adverte que "armas nucleares de baixo impacto, na verdade, não são exatamente de baixo impacto" e destaca que o conflito vigente em si já representa uma nova modalidade de confronto.

"É uma modalidade mista de ciberguerra com uma guerra tradicional. Eu acredito e espero que não se torne uma guerra nuclear, obviamente. Mas o envolvimento da OTAN está sendo cada vez maior, e eu tenho grandes ressalvas. Acredito que os países que possuem a capacidade bélica nuclear não se envolverão nesse sentido."

Pedro Paulo Rezende, por sua vez, aponta que a comunidade internacional já aprendeu os riscos de apostar na nuclearização.

"Para haver uma situação em que seja necessário empregar armas nucleares, é preciso que tudo se agrave de uma maneira exponencial. Eu não acredito no uso de armas nucleares, principalmente depois de Chernobyl. Os efeitos de Chernobyl deixaram as nações mais cuidadosas em relação a isso, Chernobyl e Fukushima. Então acho muito difícil que se usem armas nucleares táticas na Ucrânia ou na Europa tão cedo", conclui o especialista.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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