Povos indígenas do Sul e Extremo Sul da
Bahia resistem à despejo ilegal
Nos dias 27 e 28 de
maio, povos indígenas do sul e extremo sul da Bahia, organizados pelo Conselho
de Caciques e pela Federação Nacional Indígena dos Povos Pataxó e Tupinambá no
Sul e extremo Sul da Bahia (FINPAT), marcharam em protesto em Salvador e em
Santa Cruz Cabrália, localizada no Extremo sul.
Em Salvador, a
mobilização ocorreu no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA) e na
Secretaria de Justiça e Direitos Humanos localizado no Centro Administrativo da
Bahia (CAB). Já em Santa Cruz Cabrália, antevendo as consequências nas comunidades
de toda região, uma grande Mobilização das comunidades de Santa Cruz Cabrália e
Porto Seguro fechou a BR-367, em Coroa Vermelha. O protesto contou com a
presença de cerca de 500 pessoas que marcharam de Coroa Vermelha até o Fórum de
Santa Cruz Cabrália.
Com as mobilização, o
povo Pataxó responde com resistência e denuncia o processo de reintegração de
posse da Aldeia Patxohã, localizada na cidade de Santa Cruz Cabrália, no sul da
Bahia, que, conforme as lideranças indígenas denunciam, tem o potencial de
gerar precedentes a uma nova onda de reintegrações de posse contra os povos
indígenas.
A Aldeia Patxohã é uma
comunidade já estruturada com produção de hortaliças, mandioca, milho e feijão
que também garantirá o fornecimento de outras comunidades da região. A decisão
afetará o modo de vida de muitas comunidades, causando graves prejuízos culturais
e sociais, especialmente pois o período de colheita do mês junho é rememorado
pelos seus rituais culturais.
A determinação da
reintegração de posse, prevista para acontecer dia 04 de Julho, foi julgada
pela Justiça Estadual da Bahia, resultando em inúmeras denúncias da nova
flagrante violação de direitos contra as comunidades indígenas da região em
benefício aos latifundiários. As lideranças indígenas também denunciam que,
para favorecer o latifúndio local, a decisão da Justiça Estadual passa por cima
da própria Constituição Federal e usurpa a competência exclusiva da Justiça
Federal em julgar disputas sobre territórios indígenas.
·
‘Justiça’ da Bahia
serve ao latifúndio
Em 2019, investigações
da Polícia Federal revelaram grande esquema de vendas de sentenças no TJBA que
envolviam o Ministério Público da Bahia e a Secretaria de Segurança do Estado
da Bahia.
“A fotografia do
momento revela, enfim, uma dinâmica delitiva de cooptação dos agentes do
sistema de justiça, com o envolvimento das então chefias do Tribunal de Justiça
e do Ministério Público baiano, que, blindados pela Secretaria de Segurança
Pública do Estado da Bahia, proliferou a engrenagem organizacional criminosa
investigada que, grife-se, por vital, ainda tenta permanecer ativa, propalou
ameaça de morte ao colaborador Júlio César, numa região onde duas vidas foram
ceifadas e, no mês de junho, contabilizou a morte brutal do agricultor Paulo
Grendene, que denunciou o esquema de grilagem da Operação Faroeste”, conclui a
investigação que já resultou no impedimento de dezenas de desembargadores.
Em recente declaração,
o corregedor nacional de Justiça Luís Felipe Salomão admitiu que “há notícias
que o esquema continua em vigor” e que o Conselho Nacional de Justiça pode
realizar uma intervenção no Tribunal.
Em meio a comprovada
institucionalização da corrupção do Tribunal baiano, levanta-se o
questionamento da parcialidade dos Desembargadores do Tribunal. O caso torna-se
ainda mais grave considerando as ligações políticas que envolvem o processo.
Segundo o movimento, a reintegração de posse favorece a um latifundiário ligado
à Presidenta da Câmara de Vereadores e Pré candidata a prefeita de Itamaraju,
vereadora Jozeni Alves Bonfim (MDB), do mesmo partido de Geraldo Júnior,
vice-governador da Bahia.
·
Guerra pela terra na
Bahia
O relatório da
Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelou a escalada de uma Guerra pela Terra na
Bahia. No estado, recordista em conflitos no Campo e em reintegrações de posse,
ao passo que, com conivência do governo, cresce desenfreada a pistolagem e grilagem
choca-se com a secular resistência de indígenas, camponeses e quilombolas.
A região do sul e
extremo sul da Bahia já é conhecida pelo elevado número de conflitos e pelos
odiosos ataques contra os povos que vivem no campo. Somente nesses cinco meses
do ano de 2024, as comunidades indígenas do sul e extremo sul da Bahia já
sofreram inúmeras ameaças contra suas lideranças. No dia 21 de Janeiro, em um
sórdido ataque, a liderança indígena Nega Pataxó foi assassinada por
pistoleiros. Mais recentemente, o cacique Bacurau, do povo Pataxó, foi alvejado
por pistoleiros na Terra indígena Barra Velha. Somente esse ano, o Cacique da
Terra Indígena de Barra Velha ja sofreu cinco atentados. Em
todos esses casos, as comunidades denunciam a participação dos policiais
militares e pouca efetividade das medidas do governo estadual e federal.
·
Decisão do TJBA atiça
latifundiários e grupos paramilitares armados
Além disso, o
Presidente da FINPAT Kâhu Pataxó denunciou o potencial “efeito cascata” da
decisão do TJBA que pode gerar uma nova ofensiva dos grupos paramilitares da
região. Ao AND, o Presidente da FINPAT realizou a importante denúncia de
que o cacique da Aldeia Patxohã tem sido vítima de perseguições, com constantes
ameaças e “visitas” em sua residência.
Fonte: A Nova
Democracia
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