sexta-feira, 31 de maio de 2024

América Latina foi seduzida por caudilhos, diz escritor chileno Roberto Ampuero

O povo da América Latina deixou-se seduzir pelos caudilhos e terminou mal, afirma o escritor e político chileno Roberto Ampuero em entrevista à AFP, cujo último livro se debruça sobre a vida de um homem forte, o alemão Erich Honecker. 

"Nunca voltarei a Berlim" conta a história do homem que liderou a Alemanha Oriental comunista desde o início dos anos setenta até quase a queda do Muro de Berlim, do qual foi seu construtor, e que passou seus últimos dias exilado no Chile, ainda sem entender como seu país se voltou contra ele, segundo Ampuero.

No livro, o ex-chanceler chileno, na sua juventude comunista e agora liberal, fala de líderes fortes que marcaram os povos da América Latina aproveitando-se da fragilidade das instituições democráticas.

LEIA A ENTREVISTA:

<><> Neste livro você retrata Erich Honecker, mas antes escreveu sobre outros homens fortes. O que lhe interessa nesses personagens e como você vê o papel deles na América Latina? 

R: O que me assombra, especialmente na América Latina, é como as nossas vidas (...) foram marcadas e definidas por homens fortes ou ditadores ou caudilhos, quando o que deveria ter definido as nossas vidas é o que queríamos ser, em um marco democrático absoluto.

No caso da Venezuela, quantos foram marcados para sempre? Por Hugo Chávez ou por Nicolás Maduro. Quantos em Cuba? Eles estão sob a ditadura há 65 anos. Todas as suas vidas e circunstâncias foram marcadas por um irmão (Fidel Castro) ou outro irmão (Raúl). 

O nosso povo muitas vezes se deixou seduzir pelos caudilhos e no final acabou muito mal (...) E isso é terrível, porque é uma restrição quase feudal (...) É doloroso.

<><> Quais características da América Latina facilitam o surgimento dessas lideranças?

R. O fracasso das nossas repúblicas, pelas fragilidades da nossa democracia e pela responsabilidade da classe política, mas também os cidadãos, que votam (...). Essa ainda é a realidade na América Latina, a falta de instituições políticas sólidas. 

São homens fortes que seduziram povos inteiros e os levaram, inclusive com cantos de sereia, a aprovar constituições que acabaram sendo cadeados, dos quais não podem mais escapar. 

É por isso que a separação de poderes é tão importante, (...) democracia representativa, direitos individuais, liberdades individuais. Nada disso pode ser tocado por qualquer Constituição, porque o quantitativo não pode prevalecer sobre o que é essencialmente humano.

<><> Como surgiu 'Não voltarei a Berlim', romance coral sobre o líder da ex-RDA, cujo falecimento completa 30 anos nesta quarta-feira?

R. Tive três reuniões, não pessoais, com Honecker e ele me interessou como figura. A primeira, muito jovem e depois do golpe de Estado de Augusto Pinochet - cheguei a morar na Alemanha Oriental. 

A segunda, eu já morando no Ocidente, em Bonn, onde era correspondente, a agência de notícias italiana me disse (...) para relatar o que estava acontecendo lá. Tive que presenciar tudo isso que aconteceu, que terminou com a queda do muro. 

E a terceira, quando voltei ao Chile, em 1993, Honecker chegou ao Chile, destituído, velho, doente. É quando eu digo: 'esse homem está me perseguindo'. Ele está me pedindo um livro. Fiquei com isso na cabeça por muito tempo e de repente saiu.

<><> Este romance encerra a trilogia que começou com "Nossos Anos Verdes Oliva", sobre sua vida na Cuba comunista, e "Atrás do Muro", sobre suas experiências na ex-RDA. O que você estava interessado em contar?

R. Há assuntos que estão em aberto, como quando há conversas pendentes entre um casal ou entre amigos (...). Há coisas às quais é preciso voltar, seja para restabelecer a amizade ou o relacionamento ou simplesmente para ter tranquilidade consigo mesmo.

Vivi a experiência ditatorial dos regimes comunistas que conheci, Alemanha Oriental e Cuba. Então sou muito marcado por isso (...). Acho que muitas coisas deixaram de ser faladas e é interessante voltar a examiná-las.

¨      Governo Lula só enviará embaixador a Israel após Netanyahu deixar o poder, diz mídia

Na terça-feira (29), Brasília anunciou o redirecionamento do embaixador brasileiro em Israel para Genebra, deixando o cargo sem ninguém. De acordo com a Folha de S.Paulo, a substituição do diplomata só deve acontecer quando a guerra na Faixa de Gaza acabar.

Segundo a reportagem, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve indicar substituto para a embaixada de Israel até que a guerra termine e que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu saia do poder.

Diplomatas do Itamaraty, ouvidos pela mídia, afirmaram que a Embaixada do Brasil em Israel está paralisada com a guerra, sem atividades culturais ou comerciais, e esse seria um dos motivos para não nomear um novo embaixador.

Outro motivo seria o fato de o governo israelense nunca ter se desculpado por ter repreendido publicamente o embaixador Frederico Duque Estrada Meyer, uma ação que o Itamaraty considerou uma tentativa de humilhação não apenas ao diplomata, mas ao próprio Brasil. Ao contrário: o chanceler do país, Israel Katz, fez seguidos ataques a Lula em suas redes sociais.

A outra razão é que o Brasil apoia oficialmente a denúncia feita pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça (CIJ) de que Israel promove um genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza.

As relações entre Brasília e Tel Aviv foram profundamente abaladas em fevereiro após declarações de Lula sobre a guerra no enclave palestino e a reação do governo Netanyahu às críticas.

Apesar de Frederico Meyer ter sido definitivamente redirecionado de cargo, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, continua atuante.

¨      Nicarágua saúda consenso alcançado entre Brasil e China para paz na Ucrânia, diz governo de Ortega

O Ministério das Relações Exteriores da Nicarágua informou que o país ratifica a posição e reforço dos laços bilaterais com a China e declara apoio ao consenso alcançado no Comunicado Conjunto entre a China e o Brasil para se atingir a paz na Ucrânia.

Na quarta-feira (29), o governo da Nicarágua emitiu uma nota na qual saúda a posição chinesa e brasileira sobre a crise ucraniana.

"O governo da Nicarágua, apegado à sua política e vocação para a paz no mundo, partilha a posição da irmã República Popular da China sobre a solução política para a crise da Ucrânia, e apoia o consenso alcançado no Comunicado Conjunto entre China e Brasil nesta questão", diz o documento.

Segundo a chancelaria nicaraguense, os seis pontos alcançados por Brasília e Pequim na quarta-feira da semana passada (23) representam uma solução política viável para a crise que já se estende por mais de dois anos.

O governo da Nicarágua aditou o comunicado mencionando a necessidade de "não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não provocações por nenhuma das partes".

Além de manifestar sua crença absoluta no diálogo e negociação, o governo julga necessário aumentar os esforços para assistência humanitária às regiões relevantes no sentido de prevenir uma crise de maiores proporções, se opondo veementemente "ao uso de armas de destruição em massa, incluindo armas nucleares e armas químicas e biológicas".

O comunicado destacou ainda que as partes devem evitar ataques às suas usinas nucleares salientando que o direito internacional precisa ser respeitado.

Por fim, a Nicarágua se soma aos esforços chineses e brasileiros ao "se opor à divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados" na esperança de que as diversas iniciativas internacionais se somem para o desenvolvimento de todos, "protegendo a "estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais".

 

¨      Primeiros deslocados pelas mudanças climáticas no Panamá se despedem de sua ilha

Uma comunidade de indígenas do Panamá recebeu nesta quarta-feira (29) do governo as casas onde eles vão viver no continente após abandonarem, entre a saudade e a esperança, sua pequena ilha, que corre o risco de ser devorada pelo mar devido às mudanças climáticas. 

"Estou emocionada. As casas estão bonitas, são pequenas, mas muito confortáveis", declarou à AFP Vidalma Yánez, de 57 anos, em frente àquele que será seu novo lar.  

Em cerimônia formal, o presidente Laurentino Cortizo inaugurou o bairro Nuevo Cartí, construído na área indígena de Guna Yala, no Caribe panamenho, para realocar cerca de 1.200 habitantes da ilha Cartí Sugdupu, ameaçada pelo aumento do nível do mar.  

"A crise climática que o mundo enfrenta nos obrigou aqui no Panamá a mudar da ilha para esta urbanização de cerca de 300 casas", disse Cortizo, ao entregar as chaves à primeira das famílias beneficiadas.  

Entre 3 e 6 de junho, os moradores vão começar a se mudar da ilha, que fica a cerca de 15 minutos de distância de lancha. Eles são os primeiros deslocados pelas mudanças climáticas no Panamá, segundo o governo.  

Os indígenas viviam amontoados e sem serviços básicos em Cartí Sugdupu, que tem o tamanho de cinco campos de futebol. Ela é uma das 365 ilhas do arquipélago da região de Guna Yala, várias das quais correm risco de serem inundadas. Quarenta e nove delas, que são habitadas, estão apenas entre 50 centímetros e 1 metro acima do nível do mar.  

"Há outras ilhas panamenhas que também estão em situação de vulnerabilidade", alertou Cortizo, após responsabilizar os países desenvolvidos pelo aquecimento global. O presidente entregou pessoalmente uma centena de chaves, mas, concluído o ato, todas já estão nas mãos dos novos proprietários, ressaltou o governo.

- Mudança de vida -

Nuevo Cartí foi construído com um investimento estatal de 12,2 milhões de dólares (62,7 milhões de reais na cotação atual), em uma área de 14 hectares pertencente a esta comunidade. 

"A forma de viver vai mudar muito, as pessoas da ilha estão acostumadas a uma vida diferente", diz Yánez, mãe de três filhos, animada para deixar a superlotação da ilha. "É melhor do que estar lá. Lá na minha casa estamos todos juntos [amontoados]", diz ela, que vai morar com os filhos e dois irmãos em uma casa de dois quartos. 

Os habitantes de Cartí Sugdupu, que vivem da pesca, do turismo e da produção de mandioca e banana que colhem na área continental, não possuíam acesso à água potável, compartilhavam os sanitários e a maioria também não possuía eletricidade contínua.

Em Nuevo Cartí, eles terão casas próprias com dois quartos, sala de estar, sala de jantar, cozinha, banheiro e lavanderia, além de acesso a água e luz. Cada casa também possui uma área de 300 m² para plantio. 

"Será um pouco difícil, porque não teremos o mar tão próximo para pescar, mas vão entrar diferentes negócios", diz Yánez. Além disso, há casas equipadas para pessoas com deficiência e instalações relacionadas à cultura da etnia Guna.  

Franklyn, que vai viver com a mulher e cinco filhos, diz que ganha a vida indo para o continente trabalhar nas plantações de banana. Agora, não vai depender de uma canoa para se deslocar.  

"Lá é puro mar", diz ele, nostálgico. "Aqui é pura floresta, onde as crianças podem correr e fazer mais coisas", acrescenta, otimista. 

 

Fonte: AFP/Sputnik Brasil

 

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