Você deve se preocupar com seu micro-ondas?
Veja o que dizem os especialistas
Os fornos de
micro-ondas há muito tempo são um item básico nas cozinhas de todo o mundo,
revolucionando a maneira como as pessoas cozinham e consomem alimentos. No
entanto, um movimento pequeno, mas crescente, está deixando de usar
micro-ondas, motivado por riscos à saúde e preocupações com a qualidade dos
alimentos.
(Veja também: Os 5
benefícios do espinafre que fazem dele um superalimento)
As conversas nas
plataformas de redes sociais revelam um sentimento de que os micro-ondas não
são seguros. As pessoas, confiantes nos benefícios para a saúde de não usar
micro-ondas, compartilham suas experiências pessoais em depoimentos
frequentemente acompanhados de sentimentos como “Nunca mais olhei para trás”.
Algumas pessoas afirmam que o cozimento em micro-ondas retira os nutrientes dos
alimentos e prejudica a saúde.
Mas essas preocupações
são legítimas? Os fornos de micro-ondas dependem de uma forma exclusiva de
radiação não ionizante, conhecida justamente como “micro-ondas”, que é
diferente da radiação ionizante encontrada nos raios X e em outras fontes de
alta energia. De acordo com Christopher Baird, físico da West Texas A&M
University, nos Estados Unidos, especializado em eletromagnetismo, as
micro-ondas em nossas cozinhas são uma forma de radiação eletromagnética
semelhante às ondas de rádio.
“É extremamente raro
que um forno de micro-ondas funcione mal o suficiente para prejudicar uma
pessoa próxima”, afirma Baird. “Mesmo nesses casos extremamente raros, nenhum
dano é causado além de queimaduras e danos nos nervos superficiais.”
• A origem do micro-ondas
Os fornos de
micro-ondas são um item básico nas cozinhas norte-americanas e que ganhou
espaço em quase todo o mundo – mas nem sempre foi assim. Os fornos de
micro-ondas foram inicialmente criados por Percy Spencer em 1945, depois que
ele observou as micro-ondas geradoras de calor emitidas por um magnetron
durante um experimento de radar. Sua primeira tentativa de converter isso em um
utensílio de cozinha era colossal, com cerca de 1,80 m de altura e pesando mais
de 90 kg – muito diferente dos modelos modernos.
Quando a tecnologia do
tempo de guerra foi adaptada para uso doméstico após a Segunda Guerra Mundial,
ela resultou em fornos de micro-ondas menores e mais fáceis de usar nas
cozinhas. Posteriormente, nos anos 1970, houve uma mudança notável nos hábitos
alimentares dos norte-americanos.
As empresas de
alimentos atenderam cada vez mais a famílias e indivíduos ocupados ou que
preferiam não cozinhar, expandindo suas ofertas para jantares e lanches
congelados e que podem ser aquecidos no micro-ondas, uma tendência que aumentou
a dependência das pessoas por alimentos já preparados e convenientes.
Hoje em dia, jantares
prontos para serem saboreados, de lasanha a torta de frango, oferecem refeições
econômicas e de dose única em questão de minutos – o mercado de alimentos
congelados registrou 72,2 bilhões de dólares em vendas em 2022.
Os fornos de
micro-ondas estão presentes em 96% das residências norte-americanas, de acordo
com uma Pesquisa de Consumo de Energia Residencial da Administração de
Informações sobre Energia dos Estados Unidos, sendo que 99% dessas residências
usam o aparelho pelo menos uma vez por semana.
Estilos de vida
acelerados e ocupados que exigem soluções práticas e convenientes, como
alimentos de micro-ondas, impulsionam o crescimento do mercado em um setor que
deverá ultrapassar 230 milhões até 2031, de acordo com a pesquisa de mercado.
Embora o micro-ondas
em si não represente um risco à saúde, alimentos ultraprocessados, como
jantares congelados prontos para o consumo, apresentam problemas de saúde
conhecidos.
• Como os micro-ondas funcionam?
As micro-ondas existem
em um espectro de baixa a alta frequência, de acordo com a Nasa, e tornam
possível a tecnologia moderna, como rádio, mensagens de texto, raios X e GPS.
O coração de um forno
de micro-ondas está em seu tubo magnetron, que gera essas micro-ondas. Uma vez
produzidas, elas ricocheteiam no interior metálico do forno, criando um
ambiente de cozimento altamente controlado. Quando as micro-ondas encontram as
moléculas de água, elas induzem uma rápida vibração nessas moléculas, gerando
atrito à medida que elas se chocam umas contra as outras. Esse atrito, por sua
vez, gera calor, ou energia térmica, aquecendo efetivamente o alimento.
As micro-ondas
cozinham os alimentos principalmente de fora para dentro. Os alimentos com
maior teor de água, como vegetais frescos, tendem a cozinhar mais rapidamente
porque a radiação de micro-ondas aquece facilmente a água.
A radiação ionizante
altera os átomos e as moléculas e danifica as células da matéria orgânica,
enquanto a radiação não ionizante causa apenas aquecimento por meio de energia
térmica. Como a radiação não ionizante emite menos energia do que a luz visível
e não altera os átomos e as moléculas dentro do nosso corpo, ela pode ser usada
com segurança dentro de casa, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção
de Doenças dos Estados Unidos.
“Se a radiação usada
em fornos de micro-ondas de alguma forma toxificasse os alimentos que
cozinhava, então as ondas de rádio emitidas continuamente pelo roteador Wi-Fi
doméstico estariam toxificando todos os alimentos da casa da mesma forma”, diz
Baird. Ele enfatiza que nenhuma dessas preocupações é válida.
Até mesmo a luz de
velas tem mais ondas eletromagnéticas do que os fornos de micro-ondas.
Logicamente, “as pessoas precisariam estar mais preocupadas com a luz de velas”
se essas afirmações sobre micro-ondas fossem precisas, comenta Baird.
A FDA reconhece a
existência de casos isolados e raros de lesões causadas por radiação associadas
ao uso de fornos de micro-ondas, principalmente devido a problemas como a
quebra do lacre do micro-ondas.
“As ondas
eletromagnéticas de alta energia podem induzir correntes elétricas
significativas nos nervos, podendo causar queimaduras e danos”, diz Baird. Ele
cita casos raros em que o mau funcionamento de fornos de micro-ondas causou
danos aos nervos de pessoas que estavam dentro ou perto do forno.
A FDA afirma que há
poucos motivos para preocupação, a menos que o forno de micro-ondas sofra danos
que possam permitir que as micro-ondas escapem.
Por motivos de
segurança, o órgão norte-americano desaconselha o uso de certos recipientes de
plástico, panelas de metal e papel-alumínio no micro-ondas. Evidências
crescentes sugerem que o uso de plásticos no micro-ondas, mesmo aqueles
rotulados como “seguros para micro-ondas”, libera partículas microscópicas
nocivas de plástico nos alimentos.
• O micro-ondas prejudica os alimentos?
Os alimentos aquecidos
por micro-ondas retêm a umidade na superfície, impedindo o desenvolvimento de
uma aparência desejável, como uma crosta marrom-dourada, em determinados
alimentos. No entanto, os resultados de um estudo publicado em 2020 enfatizam
as vantagens de tempos de processamento curtos, baixas temperaturas de
aquecimento e níveis de potência relativamente baixos, que evitam a perda de
nutrientes.
Algumas pesquisas
favorecem o uso do micro-ondas e do forno em vez dos métodos de cozimento sob
pressão e fervura para preservar os antioxidantes dos vegetais. As vitaminas A
e C, por exemplo, se mantêm particularmente bem em alimentos cozidos no micro-ondas.
E o cozimento do peixe truta no micro-ondas faz com que as quantidades de
vitamina K aumentem.
Um artigo publicado na
revista Food Science and Nutrition descobriu que os fornos de micro-ondas usam
menos energia e água do que outros utensílios de cozinha comuns.
O Instituto
Internacional de Energia de Micro-ondas norte-americano também desmentiu um
boato comum: o de que países como o Japão e a Rússia proibiram os fornos de
micro-ondas devido à radiação. Não há nenhuma evidência que sustente essas
alegações, que se tornaram virais nas mídias sociais nos últimos anos em meio
ao crescente interesse no movimento de estilo de vida sem micro-ondas.
Fonte: National
Geographic Brasil
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