quarta-feira, 29 de maio de 2024

Você deve se preocupar com seu micro-ondas? Veja o que dizem os especialistas

Os fornos de micro-ondas há muito tempo são um item básico nas cozinhas de todo o mundo, revolucionando a maneira como as pessoas cozinham e consomem alimentos. No entanto, um movimento pequeno, mas crescente, está deixando de usar micro-ondas, motivado por riscos à saúde e preocupações com a qualidade dos alimentos.

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As conversas nas plataformas de redes sociais revelam um sentimento de que os micro-ondas não são seguros. As pessoas, confiantes nos benefícios para a saúde de não usar micro-ondas, compartilham suas experiências pessoais em depoimentos frequentemente acompanhados de sentimentos como “Nunca mais olhei para trás”. Algumas pessoas afirmam que o cozimento em micro-ondas retira os nutrientes dos alimentos e prejudica a saúde.

Mas essas preocupações são legítimas? Os fornos de micro-ondas dependem de uma forma exclusiva de radiação não ionizante, conhecida justamente como “micro-ondas”, que é diferente da radiação ionizante encontrada nos raios X e em outras fontes de alta energia. De acordo com Christopher Baird, físico da West Texas A&M University, nos Estados Unidos, especializado em eletromagnetismo, as micro-ondas em nossas cozinhas são uma forma de radiação eletromagnética semelhante às ondas de rádio.

“É extremamente raro que um forno de micro-ondas funcione mal o suficiente para prejudicar uma pessoa próxima”, afirma Baird. “Mesmo nesses casos extremamente raros, nenhum dano é causado além de queimaduras e danos nos nervos superficiais.”

•        A origem do micro-ondas

Os fornos de micro-ondas são um item básico nas cozinhas norte-americanas e que ganhou espaço em quase todo o mundo – mas nem sempre foi assim. Os fornos de micro-ondas foram inicialmente criados por Percy Spencer em 1945, depois que ele observou as micro-ondas geradoras de calor emitidas por um magnetron durante um experimento de radar. Sua primeira tentativa de converter isso em um utensílio de cozinha era colossal, com cerca de 1,80 m de altura e pesando mais de 90 kg – muito diferente dos modelos modernos.

Quando a tecnologia do tempo de guerra foi adaptada para uso doméstico após a Segunda Guerra Mundial, ela resultou em fornos de micro-ondas menores e mais fáceis de usar nas cozinhas. Posteriormente, nos anos 1970, houve uma mudança notável nos hábitos alimentares dos norte-americanos.

As empresas de alimentos atenderam cada vez mais a famílias e indivíduos ocupados ou que preferiam não cozinhar, expandindo suas ofertas para jantares e lanches congelados e que podem ser aquecidos no micro-ondas, uma tendência que aumentou a dependência das pessoas por alimentos já preparados e convenientes.

Hoje em dia, jantares prontos para serem saboreados, de lasanha a torta de frango, oferecem refeições econômicas e de dose única em questão de minutos – o mercado de alimentos congelados registrou 72,2 bilhões de dólares em vendas em 2022.

Os fornos de micro-ondas estão presentes em 96% das residências norte-americanas, de acordo com uma Pesquisa de Consumo de Energia Residencial da Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos, sendo que 99% dessas residências usam o aparelho pelo menos uma vez por semana.

Estilos de vida acelerados e ocupados que exigem soluções práticas e convenientes, como alimentos de micro-ondas, impulsionam o crescimento do mercado em um setor que deverá ultrapassar 230 milhões até 2031, de acordo com a pesquisa de mercado.

Embora o micro-ondas em si não represente um risco à saúde, alimentos ultraprocessados, como jantares congelados prontos para o consumo, apresentam problemas de saúde conhecidos.

•        Como os micro-ondas funcionam?

As micro-ondas existem em um espectro de baixa a alta frequência, de acordo com a Nasa, e tornam possível a tecnologia moderna, como rádio, mensagens de texto, raios X e GPS.

O coração de um forno de micro-ondas está em seu tubo magnetron, que gera essas micro-ondas. Uma vez produzidas, elas ricocheteiam no interior metálico do forno, criando um ambiente de cozimento altamente controlado. Quando as micro-ondas encontram as moléculas de água, elas induzem uma rápida vibração nessas moléculas, gerando atrito à medida que elas se chocam umas contra as outras. Esse atrito, por sua vez, gera calor, ou energia térmica, aquecendo efetivamente o alimento.

As micro-ondas cozinham os alimentos principalmente de fora para dentro. Os alimentos com maior teor de água, como vegetais frescos, tendem a cozinhar mais rapidamente porque a radiação de micro-ondas aquece facilmente a água.

A radiação ionizante altera os átomos e as moléculas e danifica as células da matéria orgânica, enquanto a radiação não ionizante causa apenas aquecimento por meio de energia térmica. Como a radiação não ionizante emite menos energia do que a luz visível e não altera os átomos e as moléculas dentro do nosso corpo, ela pode ser usada com segurança dentro de casa, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

“Se a radiação usada em fornos de micro-ondas de alguma forma toxificasse os alimentos que cozinhava, então as ondas de rádio emitidas continuamente pelo roteador Wi-Fi doméstico estariam toxificando todos os alimentos da casa da mesma forma”, diz Baird. Ele enfatiza que nenhuma dessas preocupações é válida.

Até mesmo a luz de velas tem mais ondas eletromagnéticas do que os fornos de micro-ondas. Logicamente, “as pessoas precisariam estar mais preocupadas com a luz de velas” se essas afirmações sobre micro-ondas fossem precisas, comenta Baird.

A FDA reconhece a existência de casos isolados e raros de lesões causadas por radiação associadas ao uso de fornos de micro-ondas, principalmente devido a problemas como a quebra do lacre do micro-ondas.

“As ondas eletromagnéticas de alta energia podem induzir correntes elétricas significativas nos nervos, podendo causar queimaduras e danos”, diz Baird. Ele cita casos raros em que o mau funcionamento de fornos de micro-ondas causou danos aos nervos de pessoas que estavam dentro ou perto do forno.

A FDA afirma que há poucos motivos para preocupação, a menos que o forno de micro-ondas sofra danos que possam permitir que as micro-ondas escapem.

Por motivos de segurança, o órgão norte-americano desaconselha o uso de certos recipientes de plástico, panelas de metal e papel-alumínio no micro-ondas. Evidências crescentes sugerem que o uso de plásticos no micro-ondas, mesmo aqueles rotulados como “seguros para micro-ondas”, libera partículas microscópicas nocivas de plástico nos alimentos.

•        O micro-ondas prejudica os alimentos?

Os alimentos aquecidos por micro-ondas retêm a umidade na superfície, impedindo o desenvolvimento de uma aparência desejável, como uma crosta marrom-dourada, em determinados alimentos. No entanto, os resultados de um estudo publicado em 2020 enfatizam as vantagens de tempos de processamento curtos, baixas temperaturas de aquecimento e níveis de potência relativamente baixos, que evitam a perda de nutrientes.

Algumas pesquisas favorecem o uso do micro-ondas e do forno em vez dos métodos de cozimento sob pressão e fervura para preservar os antioxidantes dos vegetais. As vitaminas A e C, por exemplo, se mantêm particularmente bem em alimentos cozidos no micro-ondas. E o cozimento do peixe truta no micro-ondas faz com que as quantidades de vitamina K aumentem.

Um artigo publicado na revista Food Science and Nutrition descobriu que os fornos de micro-ondas usam menos energia e água do que outros utensílios de cozinha comuns.

O Instituto Internacional de Energia de Micro-ondas norte-americano também desmentiu um boato comum: o de que países como o Japão e a Rússia proibiram os fornos de micro-ondas devido à radiação. Não há nenhuma evidência que sustente essas alegações, que se tornaram virais nas mídias sociais nos últimos anos em meio ao crescente interesse no movimento de estilo de vida sem micro-ondas.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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