terça-feira, 23 de abril de 2024

“A extrema-direita reivindica o realismo da ‘crueldade’ do mundo”, diz professor

Um movimento orquestrado por diversos atores cresce e ascende no cenário mundial, ainda que traga consigo traços de fascismo, nazismo e autoritarismo. Uma “rede de conservadorismo e ressentimento” que se vale das plataformas digitais para disseminar o ódio. Essa é a extrema-direita, que ascendeu ao topo em diferentes países, do Norte rico ao Sul em desenvolvimento. Mas como esse movimento ganhou ainda mais força no Brasil?

Para chegar ao poder, a extrema-direita não mede esforços e se vale das estratégias mais repulsivas, inclusive, com o uso da violência. É o que aponta Moysés Pinto Neto, em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Segundo o professor, “o traço essencial da extrema-direita não se passa na linha do tempo, mas na utilização da violência como forma de manutenção do poder e na ideia de que um segmento social, baseado em algum elemento específico, tem direito a manter a hierarquia pela força”, coloca.

LEIA A ENTREVISTA:

·        Como você definiria a chamada “nova direita” ou extrema-direita? O que há de novo em relação à direita tradicional?

Moysés Pinto Neto – Há aspectos de continuidade e descontinuidade.

Na continuidade, destacaria em geral aquilo que caracteriza a direita em qualquer das suas modulações, isto é, a defesa de que, pela razão x ou y (economia, mérito, religião, raça, nação, gênero, etc.), as hierarquias são justificadas na sociedade. Durante os avanços nos direitos daqueles que estão na condição de subalternos, a direita se posiciona de modo “conservador”, entendendo que existe razão suficiente para que o status quo seja mantido. Em circunstâncias nas quais a “janela de Overton” se desloca mais para a direita, surge então a extrema-direita: quando não se trata apenas de evitar incremento nos direitos dos subalternizados, mas ativamente promover o governo da força afirmando a supremacia de uma certa camada sobre outra da população. Em geral, chamava-se isso de “reacionário”, no sentido de restaurar uma ordem perdida, mas penso que o termo ainda está preso no imaginário do progresso. O traço essencial da extrema-direita não se passa na linha do tempo, mas na utilização da violência como forma de manutenção do poder e na ideia de que um segmento social, baseado em algum elemento específico, tem direito a manter a hierarquia pela força.

Em relação à descontinuidade, chamaria atenção para o abandono da ideia de “ordem”. Hoje, a extrema-direita é propagadora do caos. Ao contrário dos modelos nazista e fascista do início do século XX, baseados na verticalidade e na utilização do Estado como meio para impor suas decisões – embora Arendt tenha mostrado que não é bem assim em As origens do totalitarismo – hoje a extrema-direita funciona fomentando a desregulação e o caos. Seu programa, próximo do que é chamado bizarramente de “anarcocapitalismo”, é de impor a força não por meio de um governo, mas da ausência dele. Assim, sistemas informais de controle substituem os formais, que eram baseados em princípios jurídicos que limitavam as ações dos poderes em relação a seus alvos.

A desregulação, chamada “liberdade”, é o poder de impor sua vontade sem limites, de acordo com o tamanho da força (econômica, política, religiosa, étnica, racial, de gênero), sem encontrar qualquer freio normativo. Por isso, a demanda não é pelo “direito” à liberdade, como supostamente a imprensa transmite, como um pombo-correio domesticado, mas pela imunidade geral ao direito. Nunca houve um sistema jurídico que não se baseasse na limitação das ações individuais em relação a outros direitos de outrem: meu direito à locomoção não permite, por exemplo, agredir alguém com um soco. Mas é exatamente isso que a demanda por “liberdade” da extrema-direita reivindica: exercer o poder sendo imune ao controle jurídico.

·        Como a nova direita compreende o que é a esquerda e quais as consequências políticas disso?

Moysés Pinto Neto – De uma maneira genérica, ser de esquerda (o que dá quase na mesma que ser “comunista” ou “woke”), significa perceber a dimensão social dos problemas. A extrema-direita reivindica o realismo da “crueldade” do mundo. Bolsonaro, por exemplo, sempre recusou pedidos de aumento de direitos afirmando que “não teria poder para isso”, pois não seria “hipócrita” a ponto de negar a violência e a dureza do mundo. Na pandemia, isso ficou bem explícito: sobrevivam os mais fortes, não temos tempo para choramingar em relação às vidas dos fracos que foram perdidas. O principal problema da esquerda seria, por isso, sua hipocrisia, ao afirmar que é viável um mundo justo para todos, diante do cinismo da extrema-direita que reconhece o individualismo predatório como a única forma possível de vida (algo próximo do “realismo” que Mark Fisher ligou ao capitalismo, mas que a extrema-direita leva mais longe).

A principal consequência disso é a tentativa de abolir todas as formas de solidariedade social, especialmente aquelas sustentadas pelo Estado. Por isso, todo tipo de legislação protetiva, como a das crianças e adolescentes (ECA), o direito do trabalho (CLT), a defesa do meio ambiente, dos povos indígenas, da população LGBTQIA+, enfim, todo tipo de reconhecimento formal e informal das relações sociais – e de uma possível solidariedade entre os indivíduos – é negada como hipocrisia e freio ao progresso. No imaginário da extrema-direita, só existem indivíduos e suas famílias. Mas, ainda mais longe que a já extremista Margaret Thatcher, esses indivíduos não estão sujeitos sequer a uma lei comum: eles podem impor-se pela força.

·        Qual é a cara da extrema-direita no Rio Grande do Sul? Não me refiro somente a pessoas, mas instituições que dão sustentação a esta visão de mundo.

Moysés Pinto Neto – O RS não está fora da curva mundial da extrema-direita. Em geral, seus principais ícones são homens brancos ricos que controlam boa parte da informação e do mercado, sendo capazes de impor suas vontades de modo arbitrário e contrariando padrões jurídicos e éticos mínimos. O RS também contribuiu para a formação de duas especificidades do autoritarismo brasileiro: seu papel nas ditaduras foi indiscutível, desde Getúlio Vargas até Ernesto Geisel, e por isso existe uma mentalidade visceralmente ligada ao governo pela força por aqui.

Além disso, agora na sua face mais moderna, o RS produziu a neocolonização da coluna oeste do país, do Sul ao Norte, criando boa parte do caldo cultural, político, econômico e social das monoculturas e da exploração de áreas biodiversas pela pecuária. O que se repete no interior do Estado, claro. Assim, podemos dizer que, em parte, o gaúcho foi construtor da mais poderosa figura da extrema-direita da atualidade: o “ruralista” e seu séquito de adeptos culturalmente. Isso não foi apenas construção gaúcha, porque também a cultura “caipira” do interior de São Paulo produziu modulações estéticas, assim como a incorporação dos rednecks norte-americanos. Ou seja, a colonização gaúcha, que explorou as políticas de etnogenocídio das populações indígenas durante a Ditadura para conquistar mais terras, hoje compõe o quadro sob a rubrica eufemística do “agronegócio”.

Aqui também foi um dos laboratórios da tendência anarcocapitalista, que radicalizou um setor econômico que já havia fortemente aderido ao neoliberalismo durante o governo Antônio Britto, nos anos 90, abrangendo empresários, think tanks e a mídia local. O Fórum da Liberdade talvez tenha sido uma das suas principais expressões. Mas também aqui o Movimento Brasil Livre – MBL, por exemplo, disparou a pauta moral como questão nacional na intervenção fascista contra o Queermuseu, e inclusive colocou um prefeito alinhado com o movimento (Nelson Marchezan) no poder durante um mandato. O papel do “Parcão” no cenário urbano de Porto Alegre, com uma forte mobilização de 2015 até 2022, marca bem – assim como a própria radicalização da direita em Porto Alegre e no RS.

O terceiro foco talvez seja ainda mais complicado: o interior da imigração ítalo-germânica, que se bolsonarizou de modo radical, conta com uma rede muito organizada de disseminação do ecossistema bolsonarista de mídia (sobretudo WhatsApp). Esse campo espelha perfeitamente a supremacia branca aqui no Estado, de modo bem semelhante ao que se passa em Santa Catarina e no Paraná. A radicalização ali foi extrema, inclusive envolvendo boicotes a pessoas que votaram em Lula e uma sistematização total. Esses espaços hoje alcançaram um nível de radicalização inédito em relação às ideias da extrema-direita.

·        Quanto ao Rio Grande do Sul, que eventos ou episódios são ilustrativos da força social da extrema-direita? Até que ponto ela se atualiza no “gauchismo”?

Moysés Pinto Neto – Curiosamente, não vejo o “gauchismo”, no sentido de tradicionalismo, como algo tão forte na determinação da extrema-direita por aqui. Isso porque, como no resto do país, existe um efeito de bolsonarização sobre o setor rural que deságua na figura do “ruralista”, que por aqui não é mais tão diferente que no campo dos outros Estados. Nisso, pode se dizer que há uma relação de ida e volta entre o gaúcho que saiu do RS e colonizou o Oeste do país e suas origens aqui no Sul. O “tradicionalista” de hoje vive no espaço menor do CTG ou do Acampamento Farroupilha, mas tem pouco espaço nas figuras de poder do campo (por exemplo, o recuo da pecuária para as monoculturas).

Na verdade, até o contrário: vimos em regiões fortemente “gaúchas”, no nosso Pampa, uma preponderância da esquerda sobre a direita. Basta ver lugares como Bagé, Dom Pedrito, Caçapava do Sul, em que o PT ganhou em todos os cargos. O gaúcho que realmente vive como o gaúcho, que não é apenas o fazendeiro rico com suas caminhonetes, parece se inclinar mais à esquerda atualmente.

Uma coisa, porém, marca bem a relação entre gauchismo e extrema-direita: as relações de gênero e raça. Embora seja totalmente possível uma leitura indígena da figura do gaúcho, desde a tradição do mate por exemplo, o “tradicionalismo” embranqueceu o gaúcho, não raro o aproximando da celebrada visão criptonazista que domina enormes regiões do Estado em relação à supremacia racial branca oriunda da imigração germânica e italiana. O mesmo se passa com a questão de gênero, em que a misoginia e o machismo são naturalizados de modo a engessar os papéis e manter a hierarquia heteropatriarcal sobre a figura do gaúcho. Gostaria de destacar, nesse sentido, a importância estratégica de movimentos estéticos como a “estética do frio”, que procuram ressignificar a figura do gaúcho a partir de abordagens feministas, ecológicas e antirracistas. Cito os trabalhos de Clarissa Ferreira e Vitor Ramil cantando Angélica Freitas como exemplos dessa desconstrução.

·        Porto Alegre receberá em junho Jordan Peterson, no tradicional evento Fronteiras do Pensamento. Além de ser um polemista, quem é esse personagem? Quais são suas ideias e perspectivas ideológicas?

Moysés Pinto Neto – Não sou um especialista no pensamento de Peterson, estou mais focado no seu papel no ecossistema da extrema-direita. Ele ficou muito conhecido por ter “desafiado” estudantes “woke” em uma universidade no Canadá, reivindicando a “liberdade de expressão” dentro das universidades. Desde então, começou a alavancar seu trabalho atacando as políticas de gênero que afirmam a plasticidade das relações e dos corpos, como por exemplo a filosofia queer de Judith Butler. Quando começou a ficar mais famoso, começou a ampliar seu escopo para atacar como um todo o “marxismo-cultural”, conceito de origem norte-americana que foi trazido para cá por Olavo de Carvalho, cujo trabalho político é basicamente uma cópia da extrema-direita dos EUA.

Essa noção vaga de “marxismo cultural”, que é basicamente tomado como qualquer politização das relações sociais, vista como “doutrinação”, serve então de combustível para se alinhar aos fóruns mais diversos da extrema-direita, circulando o mundo inteiro e vendendo muitos livros para homens descontentes com a ascensão do feminismo. Por isso, Peterson foi “adotado” pelos trolls dos grupos masculinistas, como os “redpills” e “incels”, na medida em que supostamente ofereceu uma perspectiva alternativa “científica” ao progressivo reconhecimento de direitos para as populações dissidentes em relação às formas dominantes de gênero e sexualidade.

·        No cenário gaúcho especialmente, e brasileiro, que outros personagens cumprem um papel semelhante ao de Peterson?

Moysés Pinto Neto – Sim, existem diversos “gurus” do bolsonarismo na mesma linha, embora poucos com papel acadêmico. Na sua maioria, esses disseminadores vêm das plataformas digitais como influencers, ocupando o ecossistema de público criado por Olavo de Carvalho. O deputado Nikolas Ferreira e Eduardo Bolsonaro são exemplos, uma vez que, embora evidentemente sem a mínima base intelectual, importaram as polêmicas políticas dos EUA. O Brasil Paralelo é outro exemplo.

·        O que explica esses personagens serem vistos como “pensadores”, enquanto pesquisadores e professores universitários são vistos como “doutrinadores”?

Moysés Pinto Neto – A adesão desse público às ideias de extrema-direita. Segundo essa perspectiva, viveríamos em um mundo controlado pela cultura woke e pelo marxismo cultural. No caso do Brasil, ainda seríamos um país desde sempre e ininterruptamente (salvo no governo Bolsonaro, e olhe lá) socialista.

A crítica da “doutrinação” nasceu na esquerda para criticar conteúdos compulsórios que violavam a liberdade das crianças e dos adolescentes. Por exemplo, noções puritanas de sexualidade sem base científica ou obrigações religiosas impostas a adeptos de outras religiões ou nenhuma. Quando, porém, essa crítica se fez valer, alterando os currículos e produzindo a introdução de discussões científicas ou críticas sobre esses tópicos, os derrotados passaram a chamar seus inimigos de doutrinadores, como se houvesse apenas uma inversão dos polos.

No entanto, é óbvio que não é assim. Primeiro, porque os conteúdos estão baseados na argumentação racional e nas ciências, e não na tradição, no dogmatismo e na autoridade, como eram os anteriores. Segundo, porque nenhum desses conteúdos é imposto como uma necessidade obrigatória se envolvem controvérsia filosófica. Eles são apresentados como alternativas ao estudante para se orientar. Em certas áreas, como a medicina, há evidências que não podem ser substituídas por meras “opiniões” e a desconsideração destas não significa uma limitação de direitos, mas a simples produção do conhecimento sujeito ao erro e acerto. Terceiro, porque o que esses sujeitos reclamam não é da doutrinação em si, uma vez que eles próprios gostariam de ser os doutrinadores. Os pais que atacam as escolas querem ter o direito absoluto sobre as ideias dos filhos, como se fosse o poder do pater familias romano, e nem comento os pastores que cuidam do seu “rebanho”.

Esse problema, impulsionado pelas plataformas digitais (veja-se o trabalho de Leticia Cesarino), levou a uma criação de uma rede de conservadorismo e ressentimento: de um lado, aqueles que gostariam do retorno reacionário dos “valores tradicionais” impostos a todos indistintamente, como se fossem o único caminho possível para o desenvolvimento da disciplina e da responsabilidade; de outro, os fracassados do sistema escolar que se entendem vítimas de “injustiça”, porque suas opiniões (infundadas) não foram consideradas, como se a liberdade de expressão se confundisse com o mérito acadêmico. As peças produzidas pela extrema-direita, como o recente rascunho de fundamentação do golpe encontrado, ou os tuítes do Carlos Bolsonaro, falam por si só: trata-se de pessoas extremamente despreparadas e arrogantes, em geral acreditando que sua condição (branca, masculina, hétero, cristã, rica, forte) pudesse, por si só, levar à credibilização das suas “opiniões” fraquíssimas.

·        Voltando ao Fronteiras do Pensamento. O que significa o evento ser patrocinado pela RBS, empresa de comunicação jornalística com concessão pública, e pelo Brasil Paralelo, uma produtora que publica vídeos propondo revisionismos históricos (senão desinformação/fake news)? Como compreender essa contradição, se é que há?

Moysés Pinto Neto – O Fronteiras do Pensamento se celebrizou como uma ocasião para trazer ao RS grandes intelectuais. Trouxe Zygmunt BaumanGilles LipovetskyEdgar Morin, entre outros. Portanto, construiu uma marca específica. Em função da sua comunicação mais agressiva, sobretudo a partir da RBS, conseguiu atingir uma marca de público bem superior aos eventos acadêmicos, embora grandes nomes do pensamento mundial também tenham comparecido ao RS sem o mesmo alarde. Em função de uma mudança na equipe curatorial, acredito que tenha havido uma inflexão mais à direita.

O cenário atual, no entanto, indica que não foi uma inflexão suave. Ao fazer a parceria com o Brasil Paralelo, assumiu uma postura agressiva, pois a produtora não é considerada como uma interlocutora com credibilidade no país, mas como mera transmissora de propaganda de ultradireita. Basta pesquisar as pesquisas acadêmicas já feitas em todo Brasil sobre ela. Temas como escravidão, racismo, colonização e sistemas políticos são reconsiderados a partir do enfoque mais reacionário possível, subvertendo anos e anos de pesquisa e revisão crítica de conceitos produzidos pela academia. Curiosamente, se colocam contra a “doutrinação”, quando a academia é infinitamente mais diversa e problematizante, enquanto a produtora é linear, previsível e doutrinadora das ideias de direita mesmo em questões hoje praticamente indiscutíveis.

Ao realizar essa virada, trazendo Peterson em parceria com o Brasil Paralelo, o Fronteiras busca naturalizar a discussão trazida a um eixo muito à direita, da mesma forma que os norte-americanos foram empurrando a janela de Overton chamando a social-democracia de comunismo, para depois chamar o liberalismo (algo próximo do que Nancy Fraser chama de “neoliberalismo progressista”) de comunista e, enfim, manter a disputa entre uma centro-direita muito moderada e uma extrema-direita muito radical (supremacista). Mesmo os neocons, como Bush, hoje são tidos como moderados por lá. É o mesmo que querem fazer aqui.

·        Na virada do milênio, Porto Alegre foi uma espécie de farol global, reunindo representantes de inúmeras lutas altermundialistas no Fórum Social Mundial, em contraposição ao evento de Davos. O que houve com aquela cidade de 2000? O que ainda hoje sobrevive daquele ideário?

Moysés Pinto Neto – É uma pergunta que nós, porto-alegrenses, nos temos feito constantemente. A realidade é que a cidade mudou profundamente e é melhor virar a página do FSM, do orçamento participativo e tudo que marcou aquela época das ótimas gestões do PT. A nostalgia e a comparação óbvia com a situação triste atual já se mostraram ineficazes para vencer a disputa política. São 20 anos de gestões de direita na Prefeitura.

Prefiro olhar para uma Porto Alegre mais recente, a que fez explodir no Brasil inteiro o barril de pólvora de 2013, que mobilizava ativistas para preservar o corte de árvores no Gasômetro, a Massa Crítica das bicicletas, que buscava o “Largo vivo” e a “Defesa pública da alegria”, juntando-se ainda com os movimentos feminista, LGBTQQIA+, negro e indígena, para capitalizar um novo processo de reinvenção da cidade, como fizemos, surpreendentemente, colocando a bancada negra como protagonista da política de Porto Alegre e do RS.

Infelizmente, os partidos de esquerda, engessados pelas suas burocracias, seguem muito presos nas suas próprias memórias e dinâmicas e pouco abertos ao novo. Veja por exemplo a disputa para a Prefeitura: ao longo dos últimos seis meses, a principal discussão foi se haveria “frente de esquerda”. O que importa isso? Na prática, os votos da esquerda convergem no segundo turno. O problema é se enraizar na população, mostrar que a cidade é dominada pelas construtoras, que tem um projeto elitista voltado para os ricos, que perde constantemente seu patrimônio cultural, seus espaços públicos e sua riqueza ambiental. Isso com uma política de comunicação eficaz, uma mobilização social. Em vez disso, a esquerda fica discutindo quem será vice e quem será cabeça de chapa, e em geral os nomes são sempre os mesmos.

·        Nós, enquanto sociedade, temos repertório para lidar com o emaranhado de crises conexas que hoje vivenciamos? Como superar essa encruzilhada?

Moysés Pinto Neto – É uma pergunta muito ampla. Mas o que ela mostra sem dúvida é o entrelaçamento de todas as crises. O declínio do patriarcado e o backlash homofóbico, misógino e fundamentalista religioso; as vitórias do movimento negro e o rebote supremacista; a consciência do direito à autonomia dos povos indígenas e a resposta colonial violenta do mundo rural; a devastação ambiental e o negacionismo, impulsionado pelas exigências do capitalismo de crescimento infinito sem qualquer lastro material. Tudo está entrelaçado. A direita sabe disso. Por isso, seu espectro vai do garimpeiro no território Ianomâmi até Jordan Peterson, da terra ao gênero, da racialização à desregulação econômica, do discurso de ódio à devastação ambiental. A direita conhece a interseccionalidade das suas questões. E nós, conhecemos?

 

Fonte: Entrevista com Moysés Pinto Neto, para IHU

 

Jung Mo Sung: Qual é a importância da Igreja no mundo de hoje?

Essa pergunta é tão ampla que não pode ser respondida de forma objetiva, mas, ao mesmo tempo, é fundamental porque as pessoas e grupos que participam nos debates e polêmicas sobre ações, opções e prioridades das igrejas pressupõe uma resposta a essa pergunta.

De uma certa forma, podemos dividir as lideranças das igrejas (seja no âmbito das comunidades locais ou no nível regional ou global) em dois grupos: os que pensam que a sua religião e a sua igreja são fundamentais para a vida das pessoas e do mundo, e o grupo que, apesar de gostar e de lutar pela sua igreja, creem que a Igreja e o cristianismo têm um papel secundário.

Alguém poderia perguntar: papel secundário ou central para o quê? A resposta depende do sujeito que vai responder; isto é, não há uma resposta correta “em si” que poderíamos achar em um livro sagrado e dizer aos outros que eles estão errados. Por exemplo, para um padre, uma freira, um pastor ou pastora que tem certeza que foi vocacionado por Deus, a Igreja e a sua religião são muito importantes, fundamentais para a vida das pessoas. A importância da (sua) Igreja/religião é proporcional à importância da sua vida. E ninguém quer se sentir sem importância, sem autoestima.

O que pode acontecer quando uma pessoa que se sente chamada por Deus, ou encontra o sentido da sua vida em uma igreja, e é criticada ou menosprezada por causa da religião ou sua igreja? Provavelmente vai se defender e até mesmo atacar as pessoas que desvalorizam, não a religião no sentido abstrato, mas criticam “a” religião/Igreja que faz ela se sentir importante na vida. Para essas pessoas a experiência religiosa é a base, o fundamento, da sua autoestima.

E de onde vem esse menosprezo que leva essas pessoas religiosas reagirem de forma até irracional e agressiva? Vem da cultura moderna iluminista que se sente superior aos grupos sociais que creem que Deus ou deuses estão atuando na vida das pessoas e no mundo. E essa cultura difusa do iluminismo está presente na esquerda política e também na esquerda cristã. Uma boa parte da esquerda cristã ainda não resolveu o problema da justaposição da cultura marxista iluminista (a razão e a consciência libertam o ser humano da opressão) com a linguagem religiosa do Deus libertador.

Porém, o mundo cristão não está dividido em essas duas tendências. Há uma terceira. O Papa Francisco é expressão mais significativa de uma teologia que, mantendo a linguagem religiosa cristã, afirma que a Igreja e a religião não são os valores mais importantes na vida. Para ele, o mais importante é o Reino de Deus, isto é, anunciar Deus que liberta os seres humanos de todas formas de escravidão. Nesse processo, a Igreja não é o valor supremo, mas é “apenas” um instrumento de anunciar e tornar presente o Reino de Deus entre a humanidade. A igreja é importante porque é o espaço de convivência de fé e de mútuo perdão, mas não é, não pode ser visto como o fundamento da vida e da fé da comunidade.

É na comunidade ou na igreja que as pessoas experimentam a graça, isto é, a de reconhecermos mutuamente que somos seres humanos, amados por Deus, sem importar a sua capacidade de consumo e de trabalho. Em uma sociedade centrada na ideologia da meritocracia medida em valores financeiros, a comunidade cristã tem sido e/ou deve ser o espaço de convivência da graça, da gratuidade e de misericórdia. E porque é movida pelo Espírito de Deus que essa comunidade reconhece que todos seres humanos são portadores de dignidade, independentemente da sua condição social, racial, sexual, capacidade intelectual...

A Igreja é ainda importante? Sim, porque sem igrejas e comunidades teremos menos espaços de convivência em que as pessoas podem experimentar a graça e perdão mútuo. Mais do que isso, a Igreja é o espaço social organizado que permite as pessoas manterem a fé de que o Reino de Deus está entre nós, apesar de tantas injustiças e opressões. Igreja, como espaço social organizado, precisa de presbíteros/as, pastores/as, lideranças etc., mas, para que a Igreja não perca o Espírito, é preciso ter claro que a Igreja não é o fim último, mas sim um instrumento para o Reino de Deus.

O fundamento das muitas das críticas ao Papa Francisco não é a questão da sexualidade ou das questões sociais e ambientais, mas sim da defesa de uma teologia/eclesiologia de uma igreja centrada em si mesma, uma visão de “vocacionados” que se sentem superiores. Esquecem que a vocação é graça, não mérito. Sem a missão de anunciar o Reino de Deus, o reino da justiça e da paz, a Igreja perde o seu espírito, a sua vocação.

 

       O cristianismo influenciou outras religiões?

 

O cristianismo conseguiu sedimentar a sua história no esteio temporal da humanidade com eficácia, isso nós não podemos negar. Todavia, construiu o seu império usando como moeda, o sangue inocente. Além disso, o cristianismo costurou sua história norteada por momentos ética e moralmente desonrosos, isto é, expandindo-se eliminando vários territórios com os seus habitantes, negociando com impérios na busca por poder e, pelos recursos das camadas mais pobres de várias nações, cidades, lugarejos e famílias. Não só isso, por anos monopolizou a verdade e, com isso, atrasou o avanço científico de várias comunidades, nublando o entendimento individual e coletivo induzindo-os ao erro. Essas são só algumas calamidades do cristianismo e, muitas dessas tristes constatações ainda acontecem hoje em dia.

Mas, como foi o início do catolicismo/cristianismo palestino?

# Jesus era judeu, veio de uma família judia, estudou as escrituras judaicas e seguiu a religião judaica.

# A única referência desse Jesus que se conecta com o catolicismo/cristianismo é o seu nome.

# No cristianismo os dois ritos que o identificam são o batismo e a eucaristia. Esses ritos não são invenções cristãs, mas sim práticas preexistentes do próprio judaísmo. Portanto, o cristianismo surge como mais uma seita judaizante com pouquíssima relevância no seu início quando comparada com a dos Essênios, dos Fariseus, dos Saduceus e dos Zelotes. Nesse contexto, o batismo veio dos Essênios/João Batista.

>>> Outras religiões que devemos considerar, são:

• Zoroastrismo:

- É cronologicamente anterior, já possuía concepções escatológicas bem definidas. Estas concepções são relativas à ressurreição do corpo, imortalidade da alma, paraíso, inferno, estado intermediário e julgamento.

• Mitraismo:

- Mitra e Jesus (o da bíblia) apresentam desde cedo semelhanças começando pelos seus nascimentos milagrosos. A ideia de sacrifício está marcada em ambos.

• Parsismo:

- A luta entre o bem e o mal acontece e no final e Ormazd irá vencer.

Foi de onde surgiram as ideias de paraíso, inferno e o dia do julgamento. Itens esses presentes no Judaísmo. Mas, também é verificado em outras religiões mesopotâmica e seitas persas.

• Hélios e Apolo:

- A história do personagem mais importante do cristianismo, Jesus Cristo, encontra-se repleta de elementos solares destes deuses. Baco, filho de júpiter, deus do vinho, transformou a água em vinho primeiro que o mito cristão. Hércules teve 12 trabalhos (lembra dos 12 apóstolos?). Além do nascimento milagroso semelhante ao de Jesus.

Bom, considerando alguns dos sincretismos supracitados (existem muito mais) e a grande influência helenista exercida na palestina, podemos entender que o cristianismo herdou conceitos dos pensamentos mitológicos e filosóficos gregos, em especial, a preexistência da alma de Platão, as máximas do estoicismo e as generalizações dos pensamentos religiosos mais proeminentes dos seus vizinhos. Cabe salientar que, não era incomum o sincretismo cultural entre os povos.

 

       Por que a igreja católica está cheia de símbolos do anti-cristo agora?

 

A igreja católica foi formada sendo composta por vários mártires que depois viraram santos. O cristianismo da atualidade, historicamente falando, é uma "filial" do catolicismo de outrora e, conforme sabemos, os "evangélicos" são uma espécie de massa que segue as ordens do líder. Além disso, compartilham e vivem a visão desse líder. Dessa forma, qualquer definição de cristianismo embasada somente em meia história endossada pelo entendimento deslocado, vai desfavorecer o leigo defensor desse líder.

Portanto, as bases do catolicismo foram forjadas por Paulo e, pelos eruditos que defendiam as visões textuais Paulinas e, pasme, a maioria deles, inclusive dos fantasmagóricos "apóstolos" são os santos que conhecemos hoje. Ou seja, se conhece a história do cristianismo primitivo, sabe o papel desses santos no DNA do catolicismo e, também do motivo do protestantismo ser como é, uma fábula que isola toda a complexidade da religião cristã buscando enriquecer financeiramente a hierarquia dogmática e nada mais.

 

       Há sinais de que Jesus Cristo está voltando?

 

# Mateus 24:6–8 diz: “E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores”.

Guerras sempre aconteceram, antes, durante e depois de Jesus - então não é um métrica coesa para termos como base para o seu retorno.

# Apocalipse 6:12 diz: “E vi quando abriu o sexto selo, e houve um grande terremoto; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua toda tornou-se como sangue”

Terremotos sempre aconteceram, eclipse solar também, dadas as circunstâncias temporais e ambientais. Dessa forma, não é uma métrica confiável para termos como fundamento para o seu retorno.

# Joel 2:30–31 diz: “E mostrarei prodígios no céu e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia de Jeová”

Desastres naturais, eclipses solar e lunar. Sempre tivemos esses tipos de fenômenos naturais, inclusive na época dos extintos dinossauros. Então, ainda não é um métrica fidedigna.

Entendam que, Jesus não vai voltar. Ele morreu e se decompôs. Os textos eclesiásticos tentam fomentar essa bravata, mas não vai acontecer. O estilo de pregação apocalíptico trabalhava com o retorno de um enviado de deus, de suas leis, e, a restauração de tudo que seu povo "oprimido", nesse caso, os Hebreus haviam passado nas mãos dos outros povos ou pelos próprios líderes hebreus corruptos que, não seguiram as ordens de deus. Também não haverá arrebatamento, é tudo fábulas cristãs. Todos que adotaram esse tipo de pregação (Jesus, João Batista, Pedro, Paulo, etc.) esperavam o retorno de um representante de deus.

# Veja o que disse Paulo:

"Nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum procederemos os que dormem"

Aconteceu conforme Paulo esperava? Não.

# Pedro:

"Ora, o fim de todas as coisas está próximo"

Aconteceu conforme Pedro esperava? Não.

# Mateus/Jesus

"Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem.

Aconteceu conforme Mateus/Jesus esperavam? Não.

Mas, concordo que usar Noé como exemplo não foi muito inteligente, já que enchentes acontecem desde que o mundo é mundo. Enfim, certamente, esse rebuliço cristão não vai acontecer.

 

Fonte: IHU OnLine/Quora

 

 

 

Como o diagnóstico tardio de autismo impacta as diferentes fases da vida

Encontrar o seu lugar no mundo pode ser um desafio de anos. Em muitos casos, essa busca intensa é reflexo da necessidade de se encaixar e pertencer. Para quem é diagnosticado de forma tardia dentro do transtorno do espectro autista (TEA), essa procura tem ainda mais impacto e significado. E quando, enfim, o diagnóstico vem, vários são os sentimentos. Alívio e autoconhecimento são alguns deles, isso porque um passado inteiro de incompreensões passa a fazer sentido.

Estima-se que, hoje, há um caso de autismo a cada 44 pessoas nos Estados Unidos, conforme dados publicados pelo CDC (Center for Disease Control and Prevention), em 2022. Em nível nacional, não se sabe ao certo qual o número correto de brasileiros com autismo. No entanto, com base na estatística apresentada pelo órgão ligado ao governo norte-americano, o cálculo aponta um contingente de 4 milhões de indivíduos que vivem com TEA no Brasil.

Considerado uma alteração do neurodesenvolvimento, o transtorno do espectro autista é uma condição inata, que se manifesta desde a primeira infância. Carlos Uribe, neurologista do Hospital Brasília, da rede Dasa no DF, explica que os sintomas característicos incluem alteração no desenvolvimento normal da linguagem, dificuldade para as interações sociais e presença de comportamentos estereotipados. "Dentro do espectro tem casos com sintomas muito graves e outros com sintomas muito sutis, que inclusive podem passar despercebidos durante vários anos", ressalta.

As características centrais do autismo têm a ver com limitações ou deficiências nas habilidades sociais (cognição social), linguagem e comportamento. Segundo o neurologista, o assento dessas habilidades cognitivas está localizado em redes amplas de neurônios que têm seus epicentros no lobo frontal. Casos com sintomas muito sutis podem passar despercebidos durante a infância e a adolescência. Por isso, talvez, o diagnóstico tardio esteja presente na vida de vários indivíduos. São pessoas que, muitas vezes, eram chamadas de forma coloquial de "esquisitas" ou "diferentes", na avaliação de Uribe.

"Por se tratar de uma condição inata, há um componente genético/hereditário muito forte. É muito comum que, nesses casos de diagnóstico tardio, tudo tenha sido iniciado pelo diagnóstico de um filho, que faz perceber que alguns comportamentos e algumas experiências passadas dos pais poderiam estar explicados por um diagnóstico de TEA nos progenitores", completa o neurologista.

•        Autismo e depressão

"Desde a infância, eu me diferenciava das demais crianças." Larissa Argenta Ferreira de Melo, 40 anos, apresentava perfil introvertido, não gostava de toques ou abraços, tampouco de conversar ou fazer amigos. Estudava em um tradicional colégio particular, mas ninguém, jamais, suspeitou que o autismo fizesse parte da vida dela. Aluna destaque, com notas altas e bom desempenho, a desconfiança sempre passou despercebida. Naquela ocasião, só sabiam das altas habilidades/superdotação, mas não havia nenhuma adaptação curricular para isso.

Com a chegada da adolescência, os problemas começaram a aparecer. Larissa tinha mau comportamento, tornou-se agressiva, arredia e faltava aulas. "Tinha uma sensação de tristeza, de inadequação, que, aos poucos, foi se transformando em desencanto pela vida, em vontade de não mais viver. Por esse motivo, a partir dos 17 anos, comecei a saga de internações psiquiátricas intermitentes, que perduraram até os 34 anos. O diagnóstico, à época, era transtorno afetivo bipolar (TAB), e experimentei todas as medicações existentes, mas nenhuma fazia efeito", relembra.

Aos 34 anos foi reavaliada por um psiquiatra que descartou o diagnóstico anterior, mas não conseguiu saber o que de fato ela tinha. Felizmente, à época, parou de tomar medicações erradas, o que melhorou bastante sua qualidade de vida. "Aos 38 anos, estava em um relacionamento com uma pessoa que tinha sido casada com uma autista. Ele disse que precisávamos fazer terapia para resolver questões da relação, mas, na verdade, era uma avaliação neuropsicológica, que resultou no meu diagnóstico de autismo. Esse foi um dos momentos mais difíceis para mim."

No começo, refutou completamente a avaliação. Larissa não aceitava o diagnóstico, pois afirmava ter "uma percepção capacitista" do autismo. Uma depressão profunda surgiu, o que gerou uma grave crise sensorial, somatizada em adoecimento físico. Depois de tantas dificuldades, como consequência, foi internada em setembro de 2022, em isolamento, com suspeita de tuberculose. Foram quase 10 dias sem conseguir respirar, tendo alterações nos batimentos cardíacos e perdendo eletrólitos.

"Como eu estava em risco de vida, aproveitei o momento de introspecção e reflexão para estudar sobre o que era autismo, como ele se manifestava em mulheres. A partir desse momento, tudo começou a fazer sentido, e o diagnóstico que antes me gerava dor passou a ser um instrumento de libertação. Tudo começou a fazer sentido, todas as dores, as dificuldades, as rejeições", acrescenta.

•        Luz na escuridão

Ainda neste período, decidiu que, caso não morresse naquele momento, dedicaria o resto da vida à causa autista, imaginando a quantidade de pessoas que viveram e morreram sem ter acesso ao diagnóstico. Larissa pensou, ainda, naqueles que sofriam na terapia, mentalmente e fisicamente, e em muitos que não têm condição financeira para buscar tratamento adequado. Essa crença, talvez, tenha a segurado nos dias ruins. E mais do que isso, passou a encarar a própria jornada com uma definição nunca experimentada antes: a de lutar por um motivo.

Por sorte, ela começou a melhorar e descobriu que estava com uma pneumonia atípica agressiva, mas tratável. Ao sair do hospital, colocou em execução o que havia planejado durante o período de internação. "Sabia que, ao assumir o diagnóstico, enfrentaria muitos preconceitos e dificuldades, mas não poderia me calar ou me omitir. O primeiro passo foi assumir o autismo no emprego", detalha.

Servidora pública concursada desde 2005, ocupava função de chefia na ocasião. Ao apresentar o diagnóstico, foi imediatamente descomissionada, e luta até hoje na Justiça para reverter a situação. "Inaugurei um escritório de advocacia especializado na causa autista. Comecei a me articular com os movimentos ativistas, também das demais deficiências e síndromes. Tive a oportunidade de participar da criação da Comissão dos Direitos do Autista da OAB Subseção Taguatinga, a qual presido. Em outubro deste ano, tive a alegria de falar sobre autismo e diversidade na Conferência Nacional da Mulher Advogada da OAB Nacional, em Curitiba", conta Larissa.

Foi convidada pelo deputado Eduardo Pedrosa para integrar a Frente Parlamentar do Autismo; da Prevenção ao Suicídio, Depressão e Qualidade de Vida. Recebeu moção de Louvor do deputado Fábio Felix pela atuação na educação inclusiva. Começou a atuar junto ao Legislativo na luta pela inclusão. "Eu me uni ao Sindicato dos Bancários de Brasília no combate ao assédio moral aos autistas e seus familiares. Proponho projetos ao Executivo para a criação de políticas públicas. E me engajei em diversas redes e movimentos, ocupando cargos voluntários de natureza jurídica."

•        Propósito

Nada nesta nova fase parecia parar Larissa. Até que, no ano passado, foi diagnosticada com uma doença rara: SED (Síndrome Ehler-Danlos), que lhe causa bastante fadiga e limita sua capacidade de produção. No entanto, isso não a impediu de continuar atuando pela causa. Atualmente, consegue ficar pouco tempo em exposição social, o que a impede de marcar presença física em eventos. Mas, sempre que pode, afirma aceitar os desafios que se apresentam.

A cada dia que passa, Larissa enxerga que o diagnóstico tardio prejudicou seu desenvolvimento enquanto ser humano. Dores poderiam ser evitadas no passado, sofrimento em decorrência do desconhecimento e da desinformação sobre quem de fato ela era. "Olhando para trás, consigo ver todo o prejuízo social, profissional, educacional e relacional que essa situação me causou. Tenho profunda gratidão por ter tido acesso ao diagnóstico, de me entender, de me conhecer e buscar o meu equilíbrio", comenta.

Grande parte dos dias de Larissa são dedicados a terapias e acompanhamentos médicos. Conta com diversos profissionais que a acompanham e que lhe ajudam a se manter sem crises. Por conta da SED, faz fisioterapia duas vezes por semana em clínica especializada. Cuida da alimentação, não toma leite nem glúten e evita açúcar refinado. Não lê notícias negativas, que possam desestabilizá-la emocionalmente, e escapa do excesso de telas. "Vivo cheia de regras, mas que me possibilitam viver em paz. Isso é libertador, e vou dedicar todo o meu empenho e capacidade para que o máximo de pessoas possam ter o direito de viver da mesma forma: em paz dentro de si mesmo."

•        Um rosto desconhecido

Vários aspectos podem contribuir para o diagnóstico tardio de autismo, como a falta de informação sobre o assunto, que levaria a não identificação dos sinais ao longo da infância e da adolescência. Rafael Alberto Moore, professor no curso de psicologia do Centro Universitário Uniceplac, doutor em psicologia clínica e especialista em neuropsicologia, ressalta que algumas apresentações atípicas dos sintomas também podem dificultar a identificação do TEA.

Além disso, a falta de acesso a serviços e a profissionais de saúde durante a infância e a adolescência atrapalham a busca pelo diagnóstico correto, já que o retrato de informações e dados no que diz respeito ao tema são difíceis de encontrar. O processo de avaliação, na fase adulta, segundo Rafael, é similar aos primeiros anos de vida.

"Um neurologista ou um psiquiatra vai analisar o caso com apoio de outros profissionais que fornecem avaliações complementares, como um fonoaudiólogo e um neuropsicólogo, por meio de avaliação e aplicação de testes específicos. O autismo pode estar associado a quadros genéticos, que tornam o quadro mais provável, ou outros fatores genéticos e ambientais mais gerais. Como transtorno de neurodesenvolvimento, os sinais do autismo devem ser identificados desde as fases iniciais do desenvolvimento", discorre.

Muitos sinais também se tornam menos presentes nos adultos, que podem mascarar ou desenvolver capacidades de enfrentamento, o que torna difícil a avaliação. De acordo com Rafael, para o diagnóstico no adulto nem todos os sintomas precisam estar presentes no agora, se eles puderem ser comprovados em fase prévia do desenvolvimento, ou seja, um comportamento estereotipado ou repetitivo na infância, por exemplo, que não está mais presente no adulto, ainda é um indicativo de autismo.

•        Depois da descoberta

O autismo pode afetar importantes marcos do desenvolvimento, como o comportamento motor, a aquisição da fala, as primeiras interações, a maneira de brincar, a interação com o ambiente. “Muitas vezes, esses comprometimentos são pequenos, mas alcançam um grande espectro do desenvolvimento infantil. A criança pode ser identificada de forma pejorativa como estranha, tímida ou diferente”, alerta Rafael.

Se esses comprometimentos não chegarem a gerar impacto na aprendizagem, pode ser que os pais não procurem ajuda de um profissional, descreve o psicólogo. Isso porque tais aspectos podem não ficar registrados ou não serem lembrados adequadamente com o tempo. Outra dificuldade é quando ocorre, durante o desenvolvimento, o mascaramento das diferenças.

As pessoas com autismo falam de mascaramento ao se referir à ação de se comportarem de uma forma que demandam deles em ambientes sociais, mas que não correspondem ao que eles sentem e fazem normalmente. O desenvolvimento dessas formas de adaptação pode não deixar clara a presença de uma série de sinais do autismo, tornando mais difícil o diagnóstico no adulto.

•        O começo de tudo

Dois anos antes da pandemia, Daniel Zukko, 44, procurou ajuda psicológica e psiquiátrica para tratamento contra a depressão. Durante as sessões, um dos temas mais abordados era sua dificuldade em entender regras, em especial as de convivência social. Isso o incomodava e lhe deixava pensativo. Até que recebeu, de presente, o boneco de Sheldon, protagonista do seriado The Big Bang Theory, dado pela primeira psicóloga que conheceu.

O personagem, conhecido pela intelectualidade e humor inteligente, também é autista. “Ela me disse que eu era um pouco parecido com ele”, recorda Daniel. A partir desse momento, a semente foi plantada. Com isso, correu atrás para entender um pouco mais desse universo. Não demorou muito até que o diagnóstico de autismo aparecesse, vindo de outra especialista da área.

“Meu autismo é nível um de suporte com altas habilidades. Tive muitas dificuldades pra entender. Sou da década de 1980. Para quem cresceu nessa época, falava-se muito pouco disso. Todo mundo entendia que autista era rígido e muito agressivo, que ficava balançando, não se comunicava. Pouco se falava de outros níveis”, conta.

Durante quatro décadas, Daniel se moldou para caber. Resolveu se adaptar, costurando sua essência para não ser sempre o “esquisito” dos âmbitos sociais em que estava inserido. Contudo, quando o diagnóstico chegou, uma espécie de alívio veio junto. “Já vinha lendo sobre, pesquisando algumas coisas. Quando, na terapia, começou a falar, pensei na possibilidade. Foi quase um: 'Então é isso? Agora tudo faz sentido'. A partir do alívio, você entende tudo, as máscaras sociais, até que ponto isso me esgotou socialmente e sensorialmente”, acrescenta.

•        Busca pela liberdade

Daniel passou a se conhecer um pouco melhor, conversar com as pessoas e pedir muitas desculpas por acontecimentos do passado. O diagnóstico tardio, talvez, tenha atrapalhado muita coisa, principalmente nas questões sociais. Algumas delas, inclusive, ele mesmo encarava como frescura, sobretudo na alimentação, porque tem problemas com as texturas de certos alimentos. Sempre foi taxado como o chato da comida, que não come isso ou aquilo e que não encosta a mão.

“Odeio passar creme, não gosto de hidratante, por conta do toque. Passei a entender meu cansaço constante da questão sensorial, tenho sensibilidade auditiva, sons diversos são quase que imediatos. Sou músico também. Dificultou, porque a gente vai chegando em pontos de estresse que são muito difíceis. Fui o cara taxado de pessoa difícil e arrogante, por conta dessa coisa de falar e não entender qual o problema de falar.”

Hoje, ele faz acompanhamento com psicólogo, em especial nos momentos de dificuldade. Gosta de ler muito, compreender as coisas e se autoconhecer. Além disso, tem alguns amigos próximos e familiares que o ajudam nesse processo. Daniel é, basicamente, autodidata em quase tudo o que faz. Toca instrumentos, desenha, faz charges, tem dois livros publicados, cria animações 3D, edita vídeos e ainda arruma tempo para ser fotógrafo. “Tenho facilidade com o que me interessa muito, incluindo idiomas", finaliza.

•        Classificação e tratamento

Para realizar o tratamento, há de se considerar a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do sistema nervoso de se adaptar e crescer. Segundo o psicólogo Rafael Alberto Moore, na criança, essa plasticidade é máxima. Por isso, intervenções precoces do autismo são as mais eficientes. No adulto, porém, ainda é possível um conjunto de adaptações, mas de outro tipo. Após a avaliação, ao se identificar as dificuldades específicas de cada pessoa, o tratamento foca em desenvolver habilidades de enfrentamento e adaptação às limitações existentes, à habilitação ou à reabilitação de funções cognitivas com algum prejuízo.

Mas, também, em aspectos emocionais, como autoestima, no estigma que pessoas com autismo sofrem ao longo da vida, na valorização das qualidades e em pertencimento, que, quando afetados, podem contribuir para transtornos de humor e ansiedade em cormobidade. De acordo o especialista, o TEA é dividido em graus, seguindo o nível de suporte necessário para cada pessoa.

“No DSM-V (manual estatístico e diagnóstico de transtornos mentais), o autismo pode ser dividido em três níveis, sendo o nível um o de menor suporte, com relativa autonomia da pessoa, enquanto no nível três existe a necessidade de suporte substancial para a pessoa com autismo”, elenca.

Outra classificação importante é a dos comprometimentos associados ao autismo, que podem ser de linguagem e de intelecto. O autismo não implica em prejuízo de linguagem ou de intelecto, mas, em muitos casos, esses comprometimentos podem ser percebidos.

•        Um novo nascimento

Dificuldades para socializar e manter uma conversa. O simples para Lorrany Beatriz Urias de Abreu, 23 anos, nunca foi algo fácil. Na infância, especialmente na escola, interagir com amigos e professores era sempre um obstáculo que ela nunca tinha forças para atravessar. Além do diálogo, outros desafios enfrentados pela jovem era o de compreender ironia e manter contato visual. "Sempre tive seletividade alimentar. Quando criança, minha alimentação era arroz e tomate na maior parte dos dias", complementa.

Ano passado, depois de muito tempo vivendo uma vida solitária, todas as respostas que Lorrany procurava apareceram. No início, a primeira reação foi de alívio e pertencimento. Sempre se sentiu diferente, mas não entendia por que essa sensação crescia dentro dela, de forma tão exponencial. Lidou com esse assunto na psicoterapia, local em que pôde perceber a evolução por meio de estímulos para flexibilizar a rigidez cognitiva presente do autismo.

Para a jovem, o diagnóstico tardio lhe prejudicou de diversas formas, tendo em vista que, na infância, quando a identificação acontece de forma precoce, há a possibilidade de abranger o acesso a tratamentos adequados e a terapias. "Quando descoberto de forma tardia, as mudanças são mais difíceis de serem realizadas", acredita.

A vida após o diagnóstico tem sido mais leve. Lorrany se culpa menos por ser diferente e compreende que o próprio funcionamento não é igual ao de todo mundo. A socialização evoluiu bastante na adolescência, mas foi difícil trabalhar essa questão sem ao menos saber o porquê da limitação. Realizou psicoterapia por um período e, no momento, encontra-se sem acompanhamento, mas pretende retornar com as sessões.

"Minha família, inicialmente, ficou em choque, não entendia muito bem o diagnóstico, até mesmo por falta de informação. As pessoas estão acostumadas com crianças autistas. Quando olham para algum adulto autista que consegue realizar atividades, como trabalhar e estudar, isso gera estranhamento. Até então, não tem nenhum caso diagnosticado na minha família", diz.

Com autismo nível um e suporte, as maiores dificuldades da jovem estão relacionadas a

barulhos, que causam incômodo, a mudanças repentinas — até mesmo em rotina —, a iniciar conversas com pessoas e a provar novos alimentos. Todavia, são questões que ela lida diariamente, e tem feito o máximo para se esforçar com elas. Sobre barulhos, costuma andar com abafador de ruídos para não lhe gerar uma sobrecarga sensorial.

•        Direitos garantidos

De acordo com Edilson Barbosa, pai de dois jovens autistas e especialista em direito dos autistas, direito penal e processo penal e direito eleitoral e democracia, dependendo do local de trabalho, o indivíduo tem direito a ter um ambiente adequado para o desenvolvimento da sua função. Sempre munido, claro, de relatórios médicos e terapêuticos informando suas condições. “O melhor é informar antes da contratação, como é feito nos concursos públicos”, aconselha.

Em âmbito geral, os direitos estão elencados em várias leis municipais, estaduais, distritais e federais. A principal é a Lei Federal n° 12.764/2012 que, em seu artigo 3°, disciplina esses direitos, detalha Edilson. E em seus seus artigos apresenta um rol de direitos para autistas no Brasil.

“Leiam as leis, tente conseguir interpretar e, se tiver dúvidas, procure uma entidade de defesa dos autistas que, certamente, terá alguém para esclarecer e como ter acesso a esses direitos. Conhecendo seus direitos, a pessoa autista e seu suporte terão condições de não aceitar qualquer violação a eles”, orienta Edilson, que também é presidente do Movimento Orgulho Autista Brasil-MOAB e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Ceilândia-DF.

•        Tristeza e isolamento

Imagine tentar por inúmeras vezes ser quem você não é, ainda mais quando criança. Foi assim que Ilus, 41, começou a própria jornada no mundo. Sempre que buscava se socializar, se frustrava. Desde muito cedo, a mãe percebeu que ela, frequentando a escola, nunca conseguia participar das brincadeiras com outros colegas. Com isso, as professoras eram questionadas, mas respondiam que tentavam a introduzir nas participações, mas sem sucesso.

“Não era uma criança triste por isso, embora tivesse a impressão que nem meus colegas, nem meus professores gostassem de mim. Só não me sentia mais isolada porque morava numa vila, em Minas Gerais, e, com as crianças da vila, meu irmão era uma espécie de ponte que me ajudava a participar de algumas brincadeiras. Na adolescência, minhas dificuldades aumentaram muito, e a escola se tornou quase insuportável pelo bullying que sofria diariamente”, revive.

A partir dos 17 anos, passou a se esforçar para socializar, pois sentia que demorava demais para conseguir fazer amizades, mas, mesmo com muito esforço, o contato com pessoas da própria idade era sempre limitado e cheio de frustrações. “Não tinha grandes dificuldades no estudo, mas me sentia ignorada por meus professores, até que entrei em contato com a física, e esse se tornou um assunto de interesse intenso”, acrescenta.

Fez o bacharelado em física, o mestrado e o doutorado em geofísica espacial, e era sempre vista como inteligente, mas pouco esforçada. No mercado de trabalho, teve a primeira grande barreira. Não conseguia exercer sua profissão, pois a exigência social se tornou um imperativo. Resolveu mudar de área, foi para a música, outro hiperfoco de Ilus. Fez coisas incríveis, um talento nato, mas não o suficiente para mantê-la no eixo e desenvolver uma carreira.

“Quando perdi o apoio de duas produtoras, muito competentes, que trabalhavam em alguns projetos comigo, entrei em depressão. Naquele momento, percebi que meus esforços não tinham me levado a lugar nenhum, e que minhas dificuldades sociais eram reais. O autismo foi a primeira coisa que veio à minha cabeça”, narra.

•        O mundo se abriu

Resolveu estudar mais sobre o assunto e, por fim, se estruturar para realizar avaliação diagnóstica. “Veja bem, sempre soube que era diferente. Percebi como pensava, sentia e estruturava o mundo de uma forma diferente. Mas não compreendia completamente minha diferença no mundo. Por causa da dificuldade de seguir minha profissão, entendi que precisava de ajuda. Nunca me senti uma pessoa com problemas, mas realmente vivia com uma espécie de neblina que me impedia de compreender o mundo e até a mim mesma.”

Quando o diagnóstico chegou, há poucos anos, o primeiro momento foi de uma euforia enorme. Inocentemente, pensava que, quando soubessem que ela era autista, iriam validar todas as coisas que relatava como difíceis. "Acabei descobrindo que a sociedade é capacitista. E qualquer apoio teria que ser conquistado com muita luta. Mas, dessa vez, eu tinha as leis ao meu lado e, finalmente, apoio terapêutico para me fortalecer e me ajudar a lutar para ter uma vida que valesse a pena ser vivida”, adita Ilus.

A descoberta, apesar de difícil para o mundo externo, dentro dela, foi como nascer de novo. Reaprender consigo mesma, enxergar os pontos fortes que sempre existiram e, principalmente, a ter paciência no processo que vem seguindo até então. Sua força, completamente resgatada, une-se ao entusiasmo de viver e fazer com que a vida de outras pessoas também seja melhor. Por isso, o nascimento de um novo movimento, que vem mudando os rumos do país.

•        Uma família

Hoje, Ilus é co-fundadora do projeto Adultos no Espectro (@adultosnoespectro), que começou com uma página do Instagram que fornece informações científicas, além de ser um local de acolhimento para adultos autistas, sejam diagnosticados tardiamente, seja na infância. “Somos uma plataforma de soluções em saúde mental voltada para adultos autistas. Temos cursos rápidos e workshops, grupos de apoio, profissionais associados que fazem diagnóstico e tratamento, como psicólogos, psiquiatra, neurologista e terapeuta ocupacional, e agora daremos início à nossa pós-graduação”, informa.

Todas essas ações são coordenadas por ela e Mayck Hartwig, com quem divide as responsabilidades da iniciativa. O projeto conta com a arte e a experiência cotidiana da pessoa autista e a neurociência como direcionadores do pensamento e do desenvolvimento de linguagem.

“Entendemos que é importante aprender e ressignificar tudo o que diz respeito ao que se conhece no autismo. A diferença precisa ser celebrada e muitos saberes são necessários para se compreender o mundo da pessoa neurodivergente."

 

Fonte: Correio Braziliense