quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Qual é a origem do Natal segundo a história

Natal é uma festa cristã que celebra o nascimento de Jesus Cristo. Entretanto, segundo a Enciclopédia Britannica, a origem da celebração reúne mais elementos do que apenas o aniversário do profeta mais importante do cristianismo.

(Leia também: Decoração natalina: afinal, existe alguma árvore de Natal sustentável? A resposta é complexa)

<><> Como o Natal começou

De acordo com a Britannica, a origem precisa da atribuição do dia 25 de dezembro como data de nascimento de Jesus não é clara. Isso porque não há pistas sobre isso no Novo Testamento da Bíblia católica. 

Uma explicação generalizada da origem desta data é que em 25 de dezembro ocorreu a cristianização do dies solis invicti nati (dia do nascimento do sol não conquistado), informa a fonte inglesa. O feriado era popular no Império Romano e celebrava o solstício de inverno (no Hemisfério Norte) como símbolo do ressurgimento do sol, ao mesmo tempo em que marcava também o início do inverno e o anúncio do renascimento da primavera e do verão.

data só foi relacionada com o nascimento de Cristo por volta de 221 d.C., sendo difundida por Sextus Julius Africanus, um viajante e historiador cristão do final do século 2 e início do 3, tornando-se, assim, universalmente popular nos séculos seguintes. 

Mas a relação com o festival pagão romano ainda existia. Depois de a data de 25 de dezembro ter se tornado amplamente aceita como aquela do nascimento de Jesus, os escritores cristãos da época frequentemente conectavam o renascimento do sol ao nascimento do “filho de Deus”

Ainda de acordo com a Enciclopédia, esta visão sugere uma posição indiferente por parte da Igreja Católica de se apropriar de uma festa pagã em um momento no qual ela tinha a intenção de se distinguir categoricamente das crenças e práticas pagãs.

Uma segunda visão, diz a Britannica, sugere que a data do nascimento de Jesus acabou sendo o dia 25 de dezembro por um raciocínio que identificou o equinócio da primavera (21 de março) como a data da criação do mundo

De acordo com as escrituras cristãs, esse processo teria durado sete dias. Assim sendo, o quarto dia da criação, quando a luz foi criada, seria o dia da concepção de Jesus (ou seja, 25 de março). Portanto, 25 de dezembronove meses depois, faz sentido que seja data de seu nascimento. 

Natal começou a ser amplamente celebrado como uma liturgia cristã específica a partir do século 9. No entanto, diz a Enciclopédia, foi no início do século 20 que a celebração passou a ser também um feriado familiar, sendo comemorada tanto por cristãos quanto por não-cristãos, e perdendo os elementos religiosos para ser mais caracterizada pela troca de presentes

 

¨      Como o Natal evoluiu ao longo dos séculos

Natal é alegre e vibrante — mas como se popularizou tanto? Repleto de tradição e festividade, o feriado cristão, comemorado na maior parte do mundo em 25 de dezembrocelebra o nascimento de Jesus Cristo em Belém.

Nos tempos modernos, tornou-se um feriado cada vez mais secularizado, marcado como uma época de alegria e festas em família, mesclada por tradições provenientes de diversas culturas. Conheça a origem do Natal e qual é o significado de alguns de seus rituais mais apreciados.

<><> Quando Jesus Cristo nasceu?

Os evangelhos cristãos não citam a data de nascimento de Jesus, conhecida como Natividade. Eles contam a história de sua concepção imaculada virgem Maria e nascimento humilde de seu filho.

Segundo os evangelhos, a mãe de JesusMaria, foi uma virgem escolhida por Deus para ter seu único filho. Após saber que Maria estava grávida, seu noivo, um carpinteiro chamado José, quis cancelar o noivado. Mas um anjo lhe apareceu nos sonhos e disse-lhe para não temer. Os noivos então fizeram uma árdua jornada até Belém para participar de um censo obrigatório.

Havia tantos visitantes em Belém que não havia alojamento disponível para o casal alugar. Depois que um estalajadeiro se compadeceu deles e os deixou dormir em seu estábuloonde Maria deu à luz o filho de Deus. Ela o acomodou em uma manjedoura enquanto os anjos cantavam e uma estrela começou a brilhar forte no céu.

Os historiadores discordam sobre como o dia 25 de dezembro foi associado ao Natal pela primeira vez. No entanto, por volta de 336 d.C., o Natal foi celebrado pela igreja católica em Roma nesse dia, coincidindo com o festival romano do equinócio de inverno de Saturnália.

Os festivais de inverno já existiam em todo o mundo desde a antiguidade e muitas das tradições pagãs desses festivais acabaram sendo associadas ao Natal. Por exemplo, o festival germânico de solstício de Yule incluía banquetes e celebrações, e os druidas celtas realizavam um festival de solstício com duração de dois dias em que eram acesas velas e decoradas as casas com azevinho e visco.

<><> Banquetes medievais de Natal

Com o tempo, o Natal se popularizou — e incorporou novas tradições. No Período Medieval, a Inglaterra celebrava o Natal com um festival de 12 dias com todos os tipos de comemorações, como peças de teatro e banquetes extravagantes para marcar o nascimento de Jesus. Músicas, presentes e decorações tornaram-se o padrão.

Os banquetes mais extravagantes eram celebrados por monarcas como Henrique III, cujos convidados se empanturraram com 600 bois em uma ceia de Natal no século 13. As universidades coroavam um “Rei do Natal” ou “Rei dos Feijões” que “mandava” nos colegas durante as férias, e até mesmo as celebrações mais modestas incluíam cânticos e cantigas natalinas.

Mas nem todos apreciavam as celebrações. Em 1644, os puritanos ingleses proibiram o festival, provocando tumultos e incitando a segunda guerra civil da Inglaterra.

<><> Influência alemã no Natal

A Inglaterra não detinha o monopólio do Natal. Povos de todo o mundo incorporaram costumes de seus festivais de inverno ao feriado — mas talvez nenhum povo tenha sido tão consistente como os alemães.

Atribui-se à Alemanha a origem da árvore de Natal, símbolo universal que evoluiu a partir da tradição pagã de decoração com galhos de árvores. A versão alemã do pinheiro levado para casa e adornado com velas e presentes era chamada de Tannenbaum. A tradição se popularizou no século 19, quando a família real britânica, com raízes alemãs, montou uma árvore de Natal e deu início à tendência mundial.

Na Alemanha — local origem de diversas outras tradições, como guirlandas do Adventoquebra-nozes e mercados de Natal — o Natal também foi moldado por forças políticas. Na década de 1930, os nazistas tentaram redefinir o feriado como uma celebração não cristã do Terceiro Reich.

<><> Os Estados Unidos se apaixonam pelo Natal

Assim como na Inglaterra, puritanos norte-americanos baniram o Natal em Massachusetts em 1659, suspendendo a proibição apenas em 1681. Nos Estados Unidos, o Natal não era comemorado muito intensamente até a Guerra Civil, que reforçou para muitos a importância do lar e da família. Em 1870, após o fim da guerra, o Congresso fez do Natal o primeiro feriado federal do país.

Além disso, com o afluxo de imigrantes aos Estados Unidos na segunda metade do século 19, eles trouxeram suas próprias tradições ao país. Como escreve William D. Crump, historiador de Natal, na obra The Christmas Encyclopedia (“Enciclopédia de Natal”, em tradução livre), isso criou “uma espécie de sincretismo de Natal, com a assimilação de várias culturas em um feriado mais uniforme e amplamente celebrado em casa com a família”.

Um dos expoentes culturais trazidos pelos imigrantes se tornou uma celebridade característica dos Estados Unidos: o Papai Noel.

<><> Como São Nicolau se tornou o Papai Noel

Uma das figuras mais populares do Natal moderno é o Papai Noel, o patriarca de barriga redonda e barba branca que pilota um trenó guiado por renas para entregar presentes a crianças boazinhas em todo o mundo. O Papai Noel é inspirado em São Nicolau, um bispo grego do século 3 associado aos presentes trocados em dezembro.

Papai Noel foi trazido aos Estados Unidos por imigrantes alemães e holandeses nos séculos 18 e 19. Ele foi popularizado por histórias de escritores norte-americanos como Washington Irving e Clement Clarke Moore — cujo poema “A Visit from St. Nicholas” (“Uma visita de São Nicolau”, em tradução livre) seja talvez mais conhecido por suas palavras de abertura “Era noite de Natal”.

aparência típica do Papai Noel foi propagada pelo ilustrador Thomas Nast, que fez desenhos baseados em contos folclóricos europeus para criar um Papai Noel cuja popularidade logo se espalhou pelo mundo. Em 1890, o comerciante James Edgar deu início a um costume indelével ao se vestir de Papai Noel e cumprimentar crianças nos corredores de sua loja de departamentos em Brockton, Massachusetts. A ideia se popularizou e, desde então, Papai Noel passou a frequentar lojas de departamentos (e, mais recentemente, shoppings) de quase todo o mundo.

<><> As origens de outros costumes de Natal

A luz sempre fez parte dos festivais de inverno, com suas típicas noites longas e escuras. As luzes elétricas de Natal são um desdobramento moderno das velas antigamente colocadas por alemães em suas árvores. Thomas Edison, o inventor da lâmpada, é considerado o inventor do primeiro fio de luz. Em 1882, seu parceiro de negócios, Edward H. Johnson, criou a primeira árvore de Natal iluminada por luzes coloridas.

A inovação norte-americana também moldou a tradição eternamente popular de troca de presentes no Natal. No século 20, o papel de presente comercial substituiu o embrulho de papel pardo quando Rollie B. Hall, cujo irmão fundou a Hallmark Cards, usou envelopes decorados estilizados franceses após acabar o papel de seda em sua loja. 

Hallmark também exerceu influência sobre o cartão de Natal moderno, transformando pequenos cartões de papelão impressos no fim do século 19 em um cartão maior com formato de livro, perfeito para frases personalizadas de felicitações.

Presentes, cartões e decorações são ótimos, mas, para muitos, o Natal não está completo sem suas guloseimas prediletas. Casas de pão de ló ganharam popularidade no Natal no início do século 19 depois que os irmãos Grimm publicaram o clássico infantil "João e Maria", em que duas crianças são sequestradas por uma bruxa que mora em uma casa com paredes feitas de pão de ló e outros doces. De bolo de frutas a ponche wassail, cada cultura tem seus próprios pratos típicos de Natal.

<><> Um feriado cada vez mais secular

Embora o Natal tenha origens religiosas, ele se tornou um feriado cada vez mais secular — e comercial. Essa preocupação existe há séculos, afirma a historiadora Lisa Jacobson. “As pessoas reclamam do consumismo de Natal desde que assumiu sua forma moderna em meados do século 19”, declarou ela ao site de notícias The Current da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. “Não acredito que a ambivalência tenha algum dia desaparecido por completo”.

Aqueles que temem que o feriado tenha se desviado de suas raízes religiosas têm razão. Em 2019, mais de nove em dez norte-americanos entrevistados pela pesquisa Gallup afirmaram que comemoravam o Natal, mas apenas 35% declararam que consideravam o feriado “fortemente religioso”. Contudo, com seu sincretismo de tradições religiosas e pagãs, o feriado oferece algo — sagrado ou não — a todos que o comemoram.

 

¨      O ano em que a Inglaterra cancelou o Natal

No dia de Natal de 1647, um tumulto eclodiu em Canterbury, uma cidade a cerca de 96 Km a sudeste de Londres, na Inglaterra. O fato motivador? O então prefeito William Bridge havia ordenado a prisão do dono de uma loja e tentado golpeá-lo na cadeia – tudo isso por ter fechado sua loja no feriado.

Uma multidão de espectadores se recusou a ficar parada sem fazer nada. Eles atacaram Bridge e depois começaram a se revoltar. Eles quebraram as vitrines das lojas que permaneceram abertas, saquearam-nas e rapidamente tomaram o controle de Canterbury. Eles até capturaram o depósito da cidade, onde a pólvora era armazenada. Um de seus atos menos violentos: pendurar azevinhos (enfeites típicos das árvores de Natalpela cidade.

O motim de Natal em Canterbury foi uma batalha em uma guerra contra o Natal que ocorreu na Inglaterra do século 18 – e os cristãos foram os responsáveis por ela.

<><> Um feriado híbrido

Embora o Natal homenageie o nascimento de Jesus, os primeiros cristãos não comemoravam o feriado até o século 4, quando as tradições pagãs – como a Saturnália de Roma e, por fim, o Yule, um festival germânico do meio do inverno – começaram a se misturar com as crenças cristãs para criar um período alegre de folia.

No século 16, as pessoas na Inglaterra comemoravam o Natal por 12 dias, de 25 de dezembro até a Epifania, com desfiles, festas, canções de Natal e decorações de azevinho e velas. Mesmo depois que a Inglaterra se separou da Igreja Católica em 1534 e formou a Igreja Protestante da Inglaterrao Natal continuou a ser uma época festiva muito apreciada.

No entanto, nem todo mundo abraçou o espírito do NatalOs puritanos – ou protestantes – que queriam “purificar” a Igreja da Inglaterra, acreditavam que o Natal destacava tudo o que havia de errado com a igreja. Eles ficavam horrorizados com o fato de as pessoas comemorarem o feriado com todos os tipos de travessuras, como jogos de azar, esportes e desregramento, o que incluía bebidas alcoólicas e encenações

alegria do Natal era muito secular, muito católica e muito pagã para o gosto deles. “Os puritanos estavam certos quando apontaram – e apontaram com frequência – que o Natal não passava de um festival pagão coberto com um verniz cristão”, observou o historiador Stephen Nissenbaum em seu livro “The Battle for Christmas”.

De fato, a Bíblia – a principal fonte de verdade religiosa para os cristãos – não menciona o dia 25 de dezembro como o aniversário de Jesus, nem indicava que o dia de seu nascimento deveria ser comemorado.

aversão ao Natal atingiu novos patamares durante o reinado do rei Carlos I, que assumiu o trono em 1625. Sua corte real sintetizou a decadência profana do feriado, celebrando o Natal grandiosamente com festas, músicadançapeças de teatro e máscaras.

<><> A proibição do Natal

Os puritanos/protestantes não eram os únicos insatisfeitos com o rei Carlos I, que acreditava ter sido divinamente designado para governar. O rei insistia que sua autoridade superava a do Parlamento, o que lhe rendeu inimigos nesse órgão legislativo.

As tensões entre a coroa e o Parlamento inglês se transformaram em uma guerra civil em 1642. Os monarquistas pegaram em armas em defesa de Carlos; os parlamentares formaram seu próprio exército. Em 1645, os parlamentares haviam conquistado o controle - e agora eles, e não o rei, governavam grande parte da Inglaterra.

Os cristãos puritanos do Parlamento usaram sua autoridade para lançar um ataque em grande escala contra o Natal. Entre suas metas: garantir que nenhum serviço religioso fosse realizado no Natal e garantir que o dia 25 de dezembro fosse um dia útil.

Fechar as igrejas no Natal provou ser o curso de ação mais simples. Em 1645, o Parlamento emitiu o Directory of Public Worship, um novo texto que excluía o Natal como um feriado que exigia serviços religiosos.

Dois anos depois, o Parlamento foi além e proibiu toda e qualquer comemoração de Natal. O Parlamento até mesmo enviou seus soldados para derrubar decorações de Natal erguidas de forma desafiadora e interromper cultos clandestinos.

<><> Motins no Natal

Em geral, as pessoas comuns reagiram à proibição do Natal pelo Parlamento com uma mistura de descrença, raiva e desafio.

Como em Canterbury, as pessoas em várias cidades saíram às ruas para protestar contra as ações do Parlamento contra o Natal. Edmund e Ipswich no dia de Natal de 1647, quando muitos desafiaram a proibição oficial e tentaram obrigar os proprietários de lojas a manterem seus estabelecimentos fechados durante o feriado.

Nem todos os protestos se tornaram violentos. Os escritores usaram o poder da imprensa para criticar e ridicularizar a proibição em publicações a favor do Natal, como The World Turned Upside Down e o panfleto A Vindication of Christmas. Entre as queixas deste último, estava o fato de que a lei do Parlamento havia sitiado “nossa alta e poderosa Christmas-Ale, que anteriormente derrubaria Hércules e faria tropeçar os calcanhares de um gigante”.

A proibição abriu espaço para os monarquistas, que capitalizaram o sentimento pró-Natal do país para promover sua causa. De acordo com o historiador Jonathan Healey, eles “gostavam de relembrar uma era antiga de hospitalidade calorosa e diversão obscena, em contraste com o que eles viam como a austeridade cultural do regime puritano”.

<><> Oliver Cromwell chega ao poder

Em 1653Oliver Cromwell tornou-se Lorde Protetor da Comunidade da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Cromwell havia sido um membro do Parlamento relativamente sem destaque durante o governo de Carlos I, mas as guerras civis o transformaram em um comandante militar e líder da causa parlamentarista.

A história sempre culpou Cromwell, o rosto do Protetorado, pela proibição do Natal, mas as proibições do Parlamento são anteriores à sua ascensão como Lord Protetor. De fato, o máximo que se pode dizer sobre o papel de Cromwell na proibição é que ele optou por não reverter o que o Parlamento já havia feito.

morte de Cromwell, cinco anos depois, pôs fim ao experimento republicano da Inglaterra. O Parlamento logo convidou o filho de Carlos I para governar como rei em 1660restaurando assim a monarquia britânica.

<><> O renascimento do Natal

rei Carlos II restaurou mais do que apenas a monarquia. Ele reabriu teatros, reavivou a cultura da corte e ressuscitou o Natal em 1660 com tradições familiares, como enfeitar as igrejas com azevinho. Jogos, banquetes, danças e jogos de azar na época do Natal também voltaram, especialmente na corte real.

O famoso cronista da vida no século 17, Samuel Pepys, até marcou o retorno do Natal na Inglaterra em seu famoso diário. Ele comemorou o feriado em 1660 indo à igreja duas vezes naquele dia, uma pela manhã e outra à noite, após uma refeição de carneiro e frango. Embora Pepys tenha achado o sermão da noite “monótono” e lamentado que ele “me fez dormir”, ficou claro que os velhos costumes haviam retornado definitivamente.

A proibição do Parlamento, no final das contas, pouco fez para tirar o espírito natalino do coração dos homens e mulheres ingleses. Mas fez outra coisa: ressaltou o fato de que o Natal há muito tempo está na mira da política.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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