quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Adolescentes sentem que recebem pouco apoio emocional dos pais, diz estudo

À medida que os transtornos de saúde mental entre jovens aumentam em todo o mundo, um relatório publicado pelo National Center for Health Statistics, do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, aponta uma lacuna significativa entre o nível de apoio social e emocional que os adolescentes afirmam sentir vindo dos seus pais e o que os pais desses jovens acham que estão entregando.

documento aponta que pouco mais de um quarto (27,5%) dos adolescentes de 12 a 17 anos afirma sempre receber apoio social e emocional dos seus pais. Por outro lado, a maioria dos pais (76,9%) acredita que seus filhos recebem todo o apoio de que precisam. Para os autores, essa constatação sugere que os pais podem subestimar a necessidade percebida de apoio social e emocional de seus filhos adolescentes.

As descobertas tiveram como base dados da Pesquisa Nacional de Entrevistas de Saúde – Adolescentes, cujos dados foram coletados entre julho de 2021 e dezembro de 2022 para estimar a prevalência de apoio social e emocional autorrelatado por quase 1.200 adolescentes de 12 a 17 anos nos EUA. Além disso, os pesquisadores também analisaram dados do mesmo período da pesquisa ​​para comparar as respostas relatadas pelos pais sobre o apoio aos seus filhos.

Enquanto 58,5% dos jovens afirmaram que “sempre ou geralmente” receberam o apoio social e emocional de que precisavam; 21,6% disseram que isso acontecia “às vezes” e 19,9% afirmaram que “raramente ou nunca” recebiam esse suporte. Ao avaliar a percepção dos pais, os dados se mostraram bastante divergentes: 93% achavam que seus filhos sempre ou geralmente recebiam o suporte necessário; 4% às vezes e somente 2,9% raramente ou nunca.

·        Possíveis consequências

Na avaliação do psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, muitas hipóteses podem tentar explicar o porquê dessa discrepância e, a depender do ponto de vista, podem diminuí-la ou ampliá-la. “Analisando somente o fato de haver essa diferença, isso pode impactar de diversas maneiras a relação entre a dinâmica familiar e as possíveis consequências para os adolescentes”, avalia.

Uma das consequências apontada no estudo é o possível aumento de risco para problemas de saúde nesses adolescentes. Foram avaliados cinco pontos voltados a saúde e bem-estar: saúde ruim ou razoável, sintomas ansiosos, sintomas depressivos, satisfação com a vida muito baixa e qualidade de sono ruim.

“Em todos esses cinco pontos foi observada uma grande diferença entre aqueles que sempre ou geralmente tinham o suporte social e emocional comparados aos que às vezes, raramente e nunca receberam o suporte de que precisavam. Isso pode aumentar o risco para o desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentos de risco”, alerta Kanomata.

Outras possíveis consequências são o distanciamento pela falta de suporte familiar, problemas de autoestima, insegurança, dificuldade em se relacionar com outras pessoas, dificuldades acadêmicas e, futuramente, até mesmo profissionais. “Resultados como esses sinalizam para as famílias a necessidade de rever como está a comunicação entre pais e filhos”, orienta Kanomata.

Vale lembrar também que os adolescentes estão em uma fase de desenvolvimento emocional e psicológico, na qual a capacidade de avaliar suas necessidades emocionais pode ser diferente da dos pais. Com isso, eles podem sentir que recebem menos apoio ou não reconhecer quando o suporte é oferecido de maneiras que eles não consideram úteis ou adequadas.

Além disso, nessa fase da vida é comum que os jovens busquem mais autonomia e independência, o que leva a uma mudança e até distanciamento na relação entre pais e filhos. “É comum os profissionais da área de saúde se depararem com essas situações. Principalmente quando se trata de transtornos mentais e comportamentos de risco (como uso de drogas e automutilação). O diagnóstico muitas vezes surpreende os pais por não identificarem precocemente sinais de que os filhos não estavam bem”, observa o psiquiatra.

·        Quando procurar ajuda?

Considerando que essa fase do desenvolvimento é marcada por muitas mudanças físicas, emocionais e sociais, oferecer apoio emocional adequado é fundamental para o bem-estar dos adolescentes. “Demonstrar aos filhos que [os pais] estão presentes emocionalmente e manter um canal de comunicação aberto e sem julgamentos favorece que os adolescentes se sintam acolhidos e protegidos”, orienta Kanomata.

Alguns sinais de que está no momento de buscar ajuda profissional são: sofrimento intenso e prolongado; dificuldade em manter as atividades pessoais, sociais e acadêmicas; alterações de humor significativas; isolamento; alterações de sono e/ou apetite; atitudes pessimistas; sinais de automutilação ou pensamentos suicidas; e uso de álcool ou outras substâncias.

“O apoio social e emocional nesta faixa etária pode fazer uma diferença significativa no desenvolvimento do adolescente. A importância deste estudo é promover reflexões e possíveis mudanças, inclusive políticas públicas voltadas para saúde mental e educação”, afirma o psiquiatra.

 

¨      Problemas no sono na infância podem aumentar tendências suicidas, diz estudo

Se seu filho às vezes tem dificuldade para dormir, pode ser fácil considerar isso como uma fase que será superar futuramente. Porém, um novo estudo publicado semana passada sugere que existem possíveis consequências sérias para esse pensamento — como um risco maior de ideação ou tentativas suicidas quando ele for mais velho.

Ter distúrbios graves do sono aos 10 anos foi associado a um risco 2,7 vezes maior de ideação suicida e tentativas de suicídio dois anos depois, de acordo com um estudo publicado no periódico JAMA Network Open. Quase 1 em cada 3 participantes com distúrbio grave do sono relatou posteriormente algum nível de comportamento suicida.

 “Dado que o sono é altamente visível como um fator de risco, não estigmatizante e altamente tratável… sugerimos o estudo do sono como um fator de risco e um alvo crítico de intervenção para o suicídio juvenil”, diz a autora sênior do estudo, Rebecca Bernert, suicidologista e fundadora do Laboratório de Pesquisa em Prevenção ao Suicídio de Stanford, na Califórnia, por e-mail.

O suicídio é uma das principais causas de morte entre crianças de 10 a 14 anos, um grupo que também apresenta altas taxas de distúrbios do sono, de acordo com o estudo.

Segundo o trabalho, os distúrbios do sono “surgiram como um fator de risco baseado em evidências para comportamentos suicidas” entre adultos, independentemente de a pessoa ter ou não sintomas depressivos, de acordo com os autores. No entanto, investigações de longo prazo sobre comportamentos suicidas, especificamente na transição da infância para a adolescência, têm sido raras.

Por isso, os pesquisadores utilizaram dados de mais de 8.800 crianças recrutadas pelo Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente em 21 locais nos Estados Unidos, quando tinham 9 ou 10 anos. Naquela época, os responsáveis responderam questionários sobre a saúde do sono de seus filhos, que incluíam fatores como problemas para adormecer ou continuar dormindo, acordar, sonolência excessiva, distúrbios respiratórios do sono, suor excessivo durante o sono e comportamentos que ocorrem quando alguém desperta parcialmente de um sono profundo.

Os responsáveis também preencheram formulários sobre os sintomas de ansiedade ou depressão dos filhos. Os autores obtiveram detalhes sobre histórico familiar de depressão, conflitos familiares e supervisão parental também.

Quando os participantes tinham 11 ou 12 anos, 91,3% deles não haviam experimentado pensamentos ou tentativas suicidas nos dois anos desde a primeira coleta de dados. Mas entre aqueles que experimentaram, distúrbios do sono graves estavam associados a maiores chances de ideação e tentativas — o que permaneceu mesmo depois de os autores considerarem outros fatores que aumentavam o risco, como depressão, ansiedade, conflitos familiares ou histórico de depressão. O risco foi maior entre participantes de cor e adolescentes do sexo feminino.

Além disso, ter pesadelos diários foi associado a um risco cinco vezes maior de comportamentos suicidas.

As descobertas não surpreendem, já que “sabemos o quão importante o sono é para os bebês, mas logo esquecemos o quanto ele é fundamental para as crianças e, em particular, para adolescentes e pré-adolescentes”, afirma Christopher Willard, psicólogo de Massachusetts e associado de ensino em psiquiatria da Harvard Medical School, em Boston, por e-mail. Ele não participou do estudo.

“O cérebro está mudando tanto durante esses anos quanto no primeiro ano de vida, e é por isso que essa faixa etária dorme tanto e precisa de tanto sono para se desenvolver da maneira necessária”, disse Willard. A pesquisa pode ter um impacto multidisciplinar.

Dado o design do estudo e o grande tamanho da amostra de uma população mais jovem e não clínica, a pesquisa tem “implicações significativas para os pais, a clínica e a saúde pública”, disse a Dra. Rebecca Berry, psicóloga clínica e professora adjunta associada na Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York, por e-mail. Berry não participou do estudo.

<><> Por que a interrupção crônica do sono pode estar ligada ao suicídio?

Estudos adicionais que repliquem as descobertas usando medições objetivas do sono e forneçam mais detalhes sobre a frequência, natureza e impacto emocional dos pesadelos seriam úteis, segundo Bernert, que também é professora assistente de psiquiatria e ciências comportamentais na Escola de Medicina da Universidade de Stanford.

“É importante notar que, em um estudo como este, não queremos presumir que o sono inadequado causou o comportamento suicida — estamos apenas observando uma conexão entre os dois”, disse a Dra. Neha Chaudhary, psiquiatra infantil e adolescente no Massachusetts General Hospital e na Harvard Medical School, em Boston, por e-mail. Chaudhary não participou do estudo.

É possível que os distúrbios do sono possam ser sinais iniciais de dificuldades de saúde mental que mais tarde se agravam, disse Chaudhary, diretora médica da Modern Health.

Mas quanto ao que pode explicar as associações encontradas, “o sono é um barômetro do nosso bem-estar e uma janela importante para nossa saúde física e emocional”, diz Bernert em um informativo fornecido à imprensa. “Dessa forma, o sono pode falhar em fornecer um refúgio emocional para indivíduos angustiados.”

A qualidade ou quantidade insuficiente de sono também pode interferir na função cerebral, segundo os especialistas.

“Problemas com o sono, falta de sono — que muito estresse, atividades, tarefas escolares e, sim, o tempo de tela, todos contribuem — interferem no desenvolvimento cerebral em vários níveis, mas particularmente no humor, na ansiedade e na regulação emocional”, diz Willard.

Essa falta de regulação, bem como a fadiga, pode prejudicar a tomada de decisões. A capacidade de lidar com estressores diminui, a impulsividade aumenta e a resolução de problemas se torna mais desafiadora, disse Berry. O sono também auxilia na regulação dos níveis de neurotransmissores, no metabolismo, na plasticidade cerebral e na limpeza de proteínas tóxicas do cérebro.

<><> Apoiando a saúde do seu filho

Em todas as idades, seus filhos precisam de bons hábitos noturnos que apoiem um sono saudável, disse Willard.

“Parte disso é uma conversa mais ampla sobre as expectativas de lição de casa nessa idade”, acrescentou, “mas, nas famílias, vocês podem fazer o possível para manter horários de dormir e rotinas consistentes.”

Crie uma rotina de desaceleração que comece uma hora antes de dormir, disse Berry. Ela deve limitar o tempo de tela, o dever de casa e a atividade física tanto quanto possível e incluir atividades relaxantes, como leitura leve, escrever em um diário ou ouvir música calmante.

Para crianças que têm dificuldades para descansar na hora de dormir, “os pais podem considerar a prática de estratégias de mindfulness com seu filho para apoiar a regulação emocional”, diz Berry.

A higiene do sono também é apoiada por hábitos sólidos durante o dia — como exercícios, exposição ao sol, gerenciamento do estresse e evitar cochilos durante o dia, acrescentou ela.

Distúrbios do sono são um sintoma de muitas condições de saúde mental e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, segundo Willard.

“Então, se você notar mudanças drásticas nos padrões de sono do seu filho”, acrescentou, “consulte seu pediatra, fique atento e considere maneiras de ajustar as rotinas diurnas e noturnas.”

Os tratamentos de primeira linha considerados eficazes para adolescentes incluem terapia cognitivo-comportamental para insônia, conhecida como TCCi, e tratamento de ensaio de imagens para pesadelos, disse Bernert.

Especialistas e entes queridos nem sempre conseguem prever uma tentativa de suicídio, mas às vezes há sinais de alerta, incluindo mudanças extremas de humor, desesperança ou perda de interesse em atividades. Tenha conversas abertas com seu filho sobre a saúde mental dele e procure ajuda de um profissional.

Esses tipos de envolvimento dos pais podem ter impactos profundos, disseram os especialistas. Na verdade, os autores descobriram que um aumento na supervisão parental, de acordo com a perspectiva da criança — em relação à frequência dos jantares em família e ao conhecimento da localização da criança ou com quem ela está passando o tempo — estava associado a uma redução de 15% no risco de comportamento suicida.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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