quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Orlando Calheiros: O golpe foi um plano de longo prazo

Há exatos 10 anos, entregávamos nas mãos da então presidenta Dilma Rousseff o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, a CNV, que jogava luz sobre alguns dos principais crimes cometidos pela ditadura militar.

O texto era o resultado de um esforço coletivo que, ao longo de dois anos, envolveu agentes do estado, políticos, algumas centenas de pesquisadores e, sobretudo, as vítimas do regime da caserna.

Eu estava entre esses pesquisadores, estava presente na cerimônia, acompanhei os trabalhos que deram origem à CNV, acompanhei também a sua dissolução e o desmantelo de seu legado. Inclusive, acompanhei como se formou nas redes sociais uma espécie de “contra-narrativa” aos trabalhos da Comissão.

·       A contra-ofensiva online dos militares

Vi como mensagens que desacreditavam as nossas descobertas, e defendiam os militares, se espalhavam por meio de páginas e perfis apócrifos no Facebook, mesmo nos espaços virtuais que pouco ou nada tinham a ver com o assunto.

As discussões surgiam nos comentários de perfis maiores que falavam sobre jogos de videogame, em páginas que falavam da cidade do Rio de Janeiro, e grupos que conversavam sobre investimentos, etc. Nenhum “lugar” parecia estar previamente imune ao tema.

O WhatsApp, que na época começava a despontar no gosto do brasileiro, seguia uma tendência bem semelhante à das redes sociais. A paz dos grupos, já ameaçada pelas eleições de 2014, era continuamente desafiada por mensagens que defendiam os militares do revanchismo da “ex-terrorista Dilma”, como diziam as mensagens.

Para além da diversidade “espacial”, isto é, dos múltiplos fronts ocupados pela ofensiva contra a CNV, na época, me chamava a atenção também o fato de que boa parte dessa iniciativa citava as mesmas fontes, sempre os mesmos blogs, as mesmas páginas de Facebook, os mesmos vídeos, os mesmos canais de Youtube.

Quando eram forçados a desenvolver respostas, recorriam aos mesmos argumentos, aos mesmos exemplos, até a escrita era semelhante.

Perdi a conta de quantas vezes li relatos de pessoas que afirmavam ter convivido com a esposa do Coronel Ustra e sobre como esta costumava levar pedaços de bolos para os “moços e moças” que estavam presos no DOI-CODI.

Sempre a mesma história. Tanto que era óbvio que havia uma articulação coordenada, que aquela iniciativa, que toda aquela “contra-narrativa” contra a CNV, tinha uma origem que poderia, melhor, que deveria ser rastreada.

Fui atrás de alguns perfis e páginas que divulgavam essas mensagens. Os perfis e páginas eram apenas o primeiro estágio de uma caminhada que invariavelmente terminava em um grupo de WhatsApp. Grupos, na verdade, pois cada perfil, cada página, te levava para um grupo diferente.

Grupos diferentes, mas que agiam da mesma forma e recebiam os mesmos materiais.

·       O negacionismo “soft” e naturalizado

Havia, claramente, uma articulação. Pior, uma articulação que não apenas tinha como finalidade a divulgação de materiais que negavam os crimes da ditadura militar, como o recrutamento de novos soldados para as fileiras desse empreendimento.

Estratégia que parecia estar dando certo, pois era cada vez mais comum ver esse tipo de material circulando, inclusive amplamente beneficiado pelos algoritmos do Facebook, que já naquela época ampliavam o alcance de postagens consideradas “polêmicas”.

Dito de outra forma, a arquitetura da plataforma favorecia a formação de novos soldados para a operação contra a CNV. Pior, soldados que atuariam como verdadeiros agentes transmissores, vetores desse tipo de informação infecciosa, contagiando e cooptando novos soldados para a iniciativa.

Enquanto isso, na época, ouvia dos meus pares que se tratava apenas de “um punhado de malucos” na internet.

Mas o tempo foi passando, a tática dos “malucos” foi se transformando, a operação parecia ter entrado numa nova fase. Agora não apostavam apenas nas mensagens diretas defendendo o regime militar, no engajamento pela polêmica, mas também numa forma, digamos, mais refinada de comunicação.

Abrandavam o discurso negacionista, disfarçando-o sob a forma de visões alternativas e “politicamente incorretas” da história brasileira, ao mesmo tempo em que aumentavam os ataques à academia e a historiografia brasileira, colocando-as sob suspeita.

“Pregação comunista” diziam, ao mesmo tempo em que pediam que você perguntasse aos seus avós sobre o que foi a ditadura militar.

Estratégia antiga, a mesma utilizada pela indústria do tabaco nos Estados Unidos para manter o consumo de cigarros mesmo após a descoberta de que causavam câncer. Colocavam a ciência sob suspeita ao mesmo tempo em que ofereciam a sua própria versão dos fatos, uma versão, digamos, mais confortável, acessível e familiar.

Em quem acreditar? Nos malditos comunistas que desejavam destruir o país, ou nos nossos avós que vivenciaram a ditadura militar?

Agora, esse negacionismo “soft” não estava mais restrito aos grupos de WhatsApp e discursões em páginas de Facebook, ele aparecia na boca e nas letras de comentaristas políticos que tinham espaços em grandes veículos de comunicação, jornais, rádios e até televisão.

Tornou-se tão aceito que, pouco tempo depois, o então deputado Jair Bolsonaro pode homenagear o Coronel Ustra em seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff sem que nada lhe acontecesse.

E isso não é tudo, como é de se esperar, estas mesmas redes negacionistas não apenas abraçaram a sua candidatura à presidência em 2018, como foram um dos principais pilares da sua comunicação com o eleitorado conservador ao longo de todo o seu mandato.

E esse é o ponto crucial desta crônica. Pois, segundo a polícia federal, essas mesmas redes tiveram um papel crucial na tentativa de golpe de estado orquestrada por Bolsonaro e seus aliados políticos em 2022.

Inclusive, fala-se da participação direta de integrantes da cúpula golpista nesses grupos. Formavam o que a polícia federal chamava de núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral da trama golpista.

A confirmação dessa relação entre elementos da alta cúpula militar – e militares da ativa, frise-se – e redes de desinformação levanta uma série de suspeitas, principalmente sobre o início dessa relação. Afinal, é preciso saber em que momento os militares entraram nessa operação, não?

Desde quando conspiram ativamente contra a democracia brasileira, não apenas contra o Estado, mas contra a nossa própria memória? Desde quando se organizam para nos impedir de conhecer a verdade, para acobertar os crimes do seu regime?  

Que isso nos sirva de lição, pois a relação dos militares com redes de desinformação e promoção do negacionismo histórico mostra como esse é um campo crítico da disputa política. Algo que vem sendo sistematicamente ignorado pelo campo progressista. Continuamente diminuído como um “punhado de malucos” na internet.

 

¨      A bola dos golpes continua a rolar sobre o pano verde. Por Hildegard Angel

Roberto Jefferson foi sentenciado a nove anos de prisão pelo voto do ministro Alexandre de Moraes. Essa pena seria praticamente um afago, uma carícia, no máximo um peteleco no malfeitor Bob Jeff, que poderia ser nome de pistoleiro de Velho Oeste americano, mas é o de um mutreteiro do Novo Oeste brasiliano.

Bob Jeff merece no mínimo 90 anos de cárcere, em isolamento, com trabalhos forçados, bola de ferro no pé e algemado nas costas, por toda sua mentirada no Mentirão, "escândalo" engendrado por ele para desestabilizar o governo, gerando infinito prejuízo ao Brasil, ao povo brasileiro, à República a nossa Democracia. Ali se iniciou o processo de desmoralização pública (plim-plim) do Partido dos Trabalhadores, e depois, em consequência, do próprio presidente Lula, além da injusta "criminalização" do grupo ideológico do partido, os quadros de mais alto nível intelectual, político e histórico, afastando-os do núcleo do poder, da influência e do aconselhamento a Lula para sempre. E como fazem falta!

Hoje, constatamos desolados os grandes prejuízos que tal afastamento compulsório desses políticos idealistas causou, levando os espertalhões, os corruptos de verdade, de fato é de direito, à posição de relevância e de grande poder de barganha e de pilhagem. Aquelas que eram as folclóricas bancadas "da Bala", "do Boi", "da Bíblia" e de outras denominações fundiram-se numa grande anomalia parlamentar, um cancro chamado Centrão, operando um abominável "golpe" à luz do dia, das câmeras e dos microfones, ceifando e fatiando entre eles o orçamento do Brasil, operando um butim e subtraindo o investimento destinado às reais e prioritárias necessidades do povo. 

Como gangue mafiosa, esses parlamentares meliantes passaram a agir em conjunto, "um por todos, todos por um", no mal sentido é claro, decidindo o destino das pautas e proposições, de acordo com necessidades pessoais e ambições, inviabilizando qualquer projeto de desenvolvimento do Brasil. 

O presidente Lula passou a lançar mão de decretos, já que, para cada votação, tinha antes que pingar recursos "ni mim", digo, nas "Vossas Excelências" do Congresso. Recursos que se  multiplicaram em proporções geométricas no "dadivoso" governo Guedes/Bolsonaro, causando rombo de quase 1 trilhão (!) ao erário público, em nome da desejada reeleição daquela gente sinistra, que mesmo assim perdeu. A esperança falou mais alto que a grana. A Família Adams fez a trouxa, com carpa e tudo, se mudou e se instalou em mansões no Lago Sul, às custas da dinheirama dos fundos partidários e outras "divinas dádivas". 

Naquele período trevoso, concretizou-se o golpe contra o Regime do Governo, que, de Presidencialista, passou a Parlamentarista, sem plebiscito como era a praxe, sendo o orçamento do Executivo reduzido a 1/3 do que foi. Não fosse Presidente o Lula, quem estaria hoje despachando no Planalto seria Arthur Lira, como 1º Ministro, talvez com coroa, cetro e manto. Mas Lula é habilidoso, homem do diálogo, e preservou as instituições, na medida do possível.

Esse jogo não acabou. A bola dos golpes continua a rolar. Nossa sorte é que os artilheiros deles são pernas de pau, e Lula treina no campo Politheama, do Chico, aquele que derruba até ditadura com um sambinha.

 

¨      Ao fim e ao cabo eram apenas criminosos. Por Pedro Benedito Maciel Neto

Muitas boas pessoas vivem numa realidade paralela; buscam negar que o relatório da Policia Federal, enviado ao STF, que causou rebuliço enorme na quadra da política, pois, revelou a constituição de uma organização criminosa liderada por Bolsonaro.

Bolsonaro e os seus atuaram de forma organizada, mediante divisão de tarefas, com o fim de obtenção de vantagem consistente em tentar manter o próprio Bolsonaro no poder, a partir da consumação de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, restringindo o exercício do Poder Judiciário e impedindo a posse do então presidente da república eleito, havia, inclusive, planos de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. 

Esses são os fatos, os quais, após recebimento da denúncia, poderão ser objeto de defesa de cada um dos réus.

A PF apresentou um robusto relatório, fruto de criteriosa investigação, que lhe permitiu delimitar as ações dos investigados em núcleos, evidenciando a criação de uma estrutura de atuação previamente ordenada, com a individualização de conduta penalmente relevante de cada investigado para atingimento do objeto descrito: (a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral; (b) Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado; (c) Núcleo Jurídico; (d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas; (e) Núcleo de Inteligência Paralela; (f) Núcleo de Operacional para cumprimento de medidas coercitivas 

A organização criminosa liderada por Bolsonaro, teria criado, desenvolvido e disseminado a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do país, que teria como artífices ministros do STF e do TST, essa é a narrativa dos criminosos.

Por quase cinco anos, desde antes das eleições de 2018, Bolsonaro faz ataques às instituições e às urnas; toda retórica do governo Bolsonaro foi preparatória do ambiente para um golpe de Estado, vários fatos e eventos poderiam ser elencados, mas vou me manter aos seguintes:(a) ataques ao STF e seus ministros (https://www.brasil247.com/blog/o-golpe-continua-o-alvo-e-o-stf); (b) ataques ao TSE e seus ministros; (c) ataques às urnas eletrônicas; (d) fechamento de estradas após o segundo turno de 2022; (e) acampamento na frente dos quartéis; (f) pedido de “intervenção militar” (golpe de Estado); (g) bagunça em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula e Alckmin, com a queima de ônibus e veículos nas imediações da praça dos Três Poderes; (h) plano de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília em 24 de dezembro de 2022; (i) fuga de Bolsonaro para os EUA em 30/12/22 e (j) os atos de vandalismo de 8/1/23, ou seja, o planejamento do golpe começou, pelo menos, a partir de 2018.

Os criminosos de estimação da extrema-direita poderão, em sendo recebida a denúncia, apresentar defesa e tentar desconstituir o relatório de oitocentos páginas da PF, testemunhos, a delação de Mauro Cid, tudo corroborado por documentos; tudo observando o devido processo legal e o amplo direito de defesa.

Mas, ao fim e ao cabo, Bolsonaro e os seus são apenas criminosos.

Essas são as reflexões

 

¨      PF indicia mais três militares por participação em tentativa de golpe

A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira (11) o indiciamento de mais três pessoas no inquérito que investiga uma tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022, informa o G1. Os novos indiciados, todos militares, são: Aparecido Andrade Portela, Reginaldo Vieira de Abreu e Rodrigo Bezerra de Azevedo. Com a atualização, o número de indiciados no inquérito do golpe chega a 40 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo a PF, Aparecido Andrade Portella, militar da reserva, agiu como intermediário entre o governo Bolsonaro e financiadores de atos antidemocráticos. Portella visitou o Palácio da Alvorada ao menos 13 vezes em dezembro de 2022, reforçando sua proximidade com o ex-presidente. Investigações apontam que ele usava o codinome “churrasco” para se referir ao golpe e mencionava financiadores cobrando o cumprimento da “ruptura institucional”. Ao ser interrogado, Portella permaneceu em silêncio.

Reginaldo Vieira de Abreu, coronel do Exército e chefe de gabinete na Secretaria-Geral da Presidência, é acusado de difundir desinformação sobre o sistema eleitoral e de manipular relatórios das Forças Armadas para apoiar mentiras propagadas pelo argentino Fernando Cerimedo. Ele também teria monitorado o deslocamento do ministro Gilmar Mendes e compartilhado informações com conspiradores.

Já Rodrigo Bezerra de Azevedo, major do Exército e integrante do Comando de Operações Especiais (Copesp), foi identificado como parte do núcleo operacional do plano para assassinar o ministro Alexandre de Moraes. Registros telefônicos indicam que ele utilizou aparelhos clandestinos e estava vinculado a contas bancárias abertas fraudulentamente. Azevedo negou envolvimento, mas a PF considerou suas explicações inconsistentes.

 

Fonte: The Intercept/Brasil 247

 

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