Luís Nassif: É hora
da PF investigar o cartel que manipula o câmbio
Seria conveniente
que a opinião pública brasileira – mídia, agência reguladora, Ministério
Público e Polícia Federal – começassem a se preparar para o grande desafio
contemporâneo da política e da economia brasileira: a investigação sobre o
cartel da Faria Lima.
Vamos a algumas
definições iniciais para não generalizar.
Não se trata da
Faria Lima nem da indústria dos fundos como um todo. Aliás, para os enormes
lucros do cartel houve prejuízos de todos os que estavam na ponta contrária,
além de fundos multimercados e investimentos em ações.
O cartel é um grupo
restrito de grandes operadores, com poder de influenciar o mercado.
Sua forma de
atuação é conhecida. Primeiro, investem em algum ativo considerado barato ou
caro.
No episódio da
semana passada, investiram em contratos de compra de títulos públicos. O valor
dos títulos públicos pré-fixados corresponde ao valor de resgate (já
conhecido), dividido pela taxa de juros do dia. Quanto maior a taxa, menor o
valor do papel, e vice-versa: quanto menor a taxa, maior o valor do papel.
No início do ano, o
mercado apostava em estabilização ou queda da taxa Selic. Havia um obstáculo
pela frente: o Ministério da Fazenda alcançar ou não as metas propostas no
regime de arcabouço fiscal. Pequenas variações para cima ou para baixo não
seriam motivo para temores maiores.
De repente,
analistas, economistas de banco, operadores, começam a trabalhar o terrismo
fiscal, ajudado por uma mídia cúmplice. Passa-se a taxar de “gastança” qualquer
despesa social, a usar o catastrofismo como instrumento de discussão.
Em uma mídia
parcial, sem espaço para vozes dissonantes, foi se formando o clima terrorista,
adequado para o segundo tempo do jogo.
O tiro de partida
foi a declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em abril,
sinalizando para uma mudança de rumo na política monetária. A Selic vinha
caindo 0,50 em cada reunião do Copom. No máximo, o mercado apostava em uma redução
da queda para 0,25. Depois da virada de Campos, as expectativas começam a
mudar.
O tiro final seria
no dia do anúncio do pacote fiscal de Fernando Haddad. Na véspera deu-se o
estouro da boiada, por motivo insignificante: a inclusão do pacote de isenção
de Imposto de Renda para quem ganhasse até R$ 5 mil.
Não se entenda como
o mercado como um todo. Parte expressiva do mercado pagou uma conta alta com as
manipulações da semana passada. Fundos multimercados, investidores que venderam
contratos de opções, foram vítimas do mesmo esquema do cartel.
O câmbio explodindo
afetou todas as importações em curso, pressionou preços dos comercializáveis
aumentando as apostas na elevação da inflação e num salto de até 0,75 pontos na
Selic. Como não haverá superávit fiscal capaz de anular os impactos de tal
salto da Selic na dívida pública, tem-se então governo, economia, investidores,
economia real, consumidores, nas mãos de um cartel, que opera livremente, sem
nenhuma expectativa de risco para inibir sua atuação.
O governo não
conseguirá livrar-se dessa amarra, nem o Banco Central, mesmo sob a condução
mais responsável de Gabriel Galipolo.
É hora de
caracterizar o cartel da Faria Lima pela qualificação correta: é uma
organização que pratica crime de cartel e de atentado aos direitos coletivos.
Mais que isso,
provoca desconfiança em relação ao mercado financeiro, impõe perdas
extraordinárias aos agentes do mercado que tiveram prejuízos expressivos.
Na Inglaterra,
jogada semelhante com a libor não passou em branco.
·
O
cartel da libor
A Comissão Europeia
aplicou multas no montante total de 1.700 milhões de euros a oito bancos,
acusando-os de terem constituído um cartel que manipulou os mercados de
derivados.
Quatro bancos
formavam um cartel para manipularem as taxas dos derivados no mercado do euro;
seis manipulavam conjuntamente as taxas dos derivados no mercado do yen. Volta
a aplicar-se aqui a lógica da não condenação.
Em 6.07.2012, o colunista José
Nocera, no The New York Times, sintetizava o grau do escândalo:
“Por que o
escândalo criou indignação na Grã-Bretanha? Porque é realmente ultrajante”,
disse Karen Petrou ,
sócia-gerente da Federal Financial Analytics. “Eles não deveriam estar fixando
essa taxa — não importa qual seja o motivo.”
Ela continuou: “Se
eu te der meu dinheiro, preciso poder confiar em você com ele. Se você só pode
ser confiável por meio de regulamentação, então você pode muito bem ser um
utilitário. E se os bancos não são confiáveis para gerenciar suas mesas de negociação,
então precisamos repensar todo o nosso modelo bancário.” Petrou não é uma
defensora do retorno aos dias da Glass-Steagall, a lei da era da Depressão que
separava o banco de investimento do banco comercial. Mas com o escândalo da
Libor, ela disse, ela certamente poderia entender os crescentes pedidos por
isso.
O Barclays, é
claro, dificilmente é o único grande banco que manipulou a Libor por diversão e
lucro. É simplesmente o primeiro a admitir seu erro e a se acertar com o
governo. Dizem que quase todos os grandes bancos estão sob investigação por
jogar com a Libor, incluindo JPMorgan Chase, Citigroup e outros gigantes
financeiros americanos”.
O mesmo ocorreu no
Brasil. Fundos e investidores em multimercado tiveram perdas recordes com o
movimento especulativo. A operação que envolveu meia dúzia de instituições
trouxe prejuízo e insegurança para o mercado e ameaças concretas para toda a
economia no próximo ano, à medida que se tornaram elementos fortes para uma
elevação da taxa Selic.
·
Como
investigar
O primeiro passo é
cercar-se de especialistas em mercados futuros, para identificar as manobras.
Hoje em dia, a
atuação de cada operador é registrada digitalmente. Então, haverá muito mais
possibilidades de identificar as manobras do cartel.
O primeiro passo é
identificar as datas-chave, no qual há suspeitas de manipulação. Por exemplo,
poderia pegar todos os movimentos e declarações de Campos Neto e checar as
operações do Banco Santander – de onde ele saiu para o Banco Central.
Depois, conferir as
comunicações entre agentes econômicos, sabendo que o primeiro que for
identificado em práticas de manipulação tratará de apelar para o benefício da
delação premiada.
Há sempre a
carteira de ativos de Campos Neto – e de seu padrinho Paulo Guedes – para ser
analisada. E haverá a necessidade de acordos operacionais com agentes do
mercado norte-americano, para identificar operações casadas com ativos em reais
existentes na Bolsa de Nova York.
Mesmo que a
investigação não desvende totalmente a trama, pelo menos passará a noção e
risco para os operadores do cartel. Hoje em dia, eles ameaçam, soltam notas no
Radar da Veja desancando o governo, bancam pesquisas da Quaest para pressionar
as autoridades, com uma desfaçatez sem tamanho.
Importante:
abusaram tanto, com seu terrorismo em um quadro de melhoria de todos os indicadores
da economia real, que perderam o apoio unânime da mídia corporativa. No máximo,
conseguem ludibriar jornalistas financeiros e setoristas.
¨ Mercado segue aumentando as projeções para inflação,
juros e PIB para 2025
Segundo o mais
recente Relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (9), as
projeções para a taxa Selic, inflação e PIB foram ajustadas, refletindo a
reação do mercado às recentes pressões inflacionárias e cambiais.
Para 2025, a
expectativa para a taxa básica de juros é de 13,50%, um aumento em relação aos
12,63% previstos anteriormente.
Para o final de
2024, a projeção para a Selic foi ajustada de 11,75% para 12%. Essas
expectativas surgem na véspera da última reunião de política monetária do ano
do Banco Central, agendada para esta terça e quarta-feira.
No que diz respeito
à inflação, a previsão para 2024 aumentou de 4,71% para 4,84%, e para 2025, a
expectativa subiu de 4,40% para 4,59%. A inflação projetada para 2026 e 2027
também sofreu ajustes, refletindo a contínua volatilidade nos preços
administrados e no Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M).
Em relação ao
Produto Interno Bruto (PIB), o relatório aponta para um crescimento esperado de
3,39% em 2024, um aumento em relação à projeção anterior de 3,22%. Para 2025,
as projeções foram ajustadas para um crescimento de 2,00%, enquanto as
estimativas para 2026 e 2027 permaneceram estáveis.
As expectativas
para o câmbio também foram revisadas, com a projeção para o dólar em 2025
aumentando de R$ 5,60 para R$ 5,77. Para os anos subsequentes, as estimativas
também apresentaram elevações, refletindo um ambiente de maior incerteza
cambial.
A dívida líquida do
setor público é outra variável chave monitorada pelo Relatório Focus. As
projeções para 2024 indicam uma leve redução para 63,04% do PIB, enquanto as
estimativas para os anos seguintes mostram um aumento gradual, alcançando
73,45% do PIB em 2027.
A balança comercial
prevista para 2024 foi ligeiramente reduzida para um saldo positivo de US$
74,15 bilhões. As projeções para os anos seguintes apresentam ajustes menores,
refletindo as expectativas do mercado sobre o desempenho comercial do Brasil no
cenário global.
Essas revisões nas
projeções econômicas indicam uma perspectiva cautelosa dos analistas em relação
à economia brasileira, com ajustes na política monetária, expectativas
inflacionárias e projeções de crescimento sendo recalibradas em resposta às
condições econômicas internas e externas.
¨ Contrariando a histeria do mercado financeiro, economia
tem retomada da capacidade produtiva. Por Camila Bezerra
O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou, na última terça-feira
(3), que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu (0,9%) na passagem do
segundo trimestre para o terceiro, com destaque para as áreas de Serviços
(0,9%) e Indústria (0,6%).
Apesar do resultado
e dos recentes anúncios na área econômica, entre taxa de desemprego e corte de
gastos, o mercado financeiro e a mídia tradicional ainda continuam pessimistas
em relação à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para comentar o
atual cenário econômico do país, o programa Nova Economia da última
quinta-feira (5) contou com a participação do economista e professor Antônio
Corrêa de Lacerda.
“O que chama
atenção também no PIB, porque você poderia dizer o seguinte: ‘ah, então é um
crescimento induzido só por incentivo ao consumo’. Mas não, depois de muitos
anos, nós estamos tendo uma retomada da formação bruta de capital. Isso em bom
economês, para quem não é da área, significa os investimentos em infraestrutura,
máquinas, equipamentos, tudo aquilo que está aumentando a capacidade produtiva
da economia”, explica Lacerda.
O economista e
docente explicou ainda que o PIB é formado por demanda, consumo do governo,
consumo das famílias e investimentos.
“O que gera o
investimento? O investimento, ele, no setor privado, ele é induzido, vamos
dizer assim, ele é, se toma a decisão de investir a partir das expectativas de
crescimento da demanda, portanto da própria economia, e da expectativa de um,
em economês aí, seria a rentabilidade marginal do capital, que na prática é o
resultado das empresas, não é? O que significa que mais crescimento induz a
mais investimento, e por outro lado, o investimento também garante a
sustentabilidade do processo econômico, para que não haja
gargalos”, continua Lacerda.
No entanto, a
restrição fiscal e a elevação da taxa de juros interrompem o virtuoso processo
de crescimento.
“Então, todo esse
pânico interessado, muitas vezes, por parte dos agentes econômicos,
especialmente do mercado financeiro, é muito prejudicial, porque ele
afeta os preços básicos da economia, especialmente a taxa de câmbio. Afeta a
inflação e, evidentemente, cria-se um falso consenso, eu digo falso porque, na
verdade, atende mais aos interesses dos rentistasde elevação da taxa de
juros”, afirma o economista, adiantando que este é o drama que vamos
vivenciar em 2025.
<><> Papel
dos bancos públicos
Antônio Lacerda
falou ainda sobre a recuperação do financiamento impulsionada pelos bancos
públicos e agências de fomento.
“Tem havido um
esforço, primeiro, de reconstrução do BNDES, porque em momentos anteriores a
gente sabe que houve uma descapitalização muito grande, no período de 2016 a
2022, houve um processo de descapitalização muito grande, e isso foi uma opção
política”, lembra o convidado.
“Nós estamos tendo
um recorde de desembolso e de aprovações de financiamentos, porque a economia
retomou e isso tem puxado novos projetos, novas projeções na infraestrutura. O
próprio setor industrial respondendo, finalmente”, aponta Lacerda.
Para gerar recursos
que impulsionem o desenvolvimento foi aprovada pelo Congresso Nacional a Letra
de Crédito de Desenvolvimento (LCD), equivalente às LCIs, Letra de Crédito
Imobiliário, e as LCAs, Letra de Crédito Agropecuário, para que os bancos
públicos possam captar recursos diretamente no mercado.
“Estão sendo feitas
também captações internacionais, via mercado, tudo isso para criar esses novos
fundings. Então, se eu comparar os nove meses de aprovações de 2024,
relativamente a 2022, há quase que o dobro de recursos”, continua o
entrevistado, que adianta que apenas o financiamento público não será
suficiente para suprir todas as demandas do país.
¨ Dweck aponta novos rumos para estatais
com foco em eficiência, inovação e boas práticas
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
anunciou nesta segunda-feira (9) um conjunto de medidas para modernizar e
ampliar a eficiência das estatais federais.
As ações foram apresentadas pela ministra da Gestão e da
Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, após reunião com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, ministros e integrantes de estatais, no Palácio do
Planalto, em Brasília.
“Nossa preocupação maior é melhorar a capacidade dessas
empresas, gerar valor para a sociedade e aumentar a sustentabilidade
financeira. A lógica é melhorar a capacidade do governo de discutir as suas
estatais”, disse a ministra, conforme comunicado do Palácio do Planalto.
As medidas serão oficializadas por meio de três decretos:
o primeiro cria o Programa de Governança e Modernização das Empresas Estatais,
enquanto os outros dois reestruturam o modelo institucional responsável pela
formulação e coordenação das atividades das empresas públicas.
“O terceiro é talvez a maior inovação. É justamente como
a gente melhora a gestão corporativa. Aumenta a inovação e garante
sustentabilidade. Então, justamente, é uma ideia de você ter uma modernização e
inovação nas estatais. O foco, obviamente, são as empresas que estão com alguma
questão financeira”, esclareceu Dweck.
A ministra adicionou outras áreas à lista de atenção do
governo federal para formulação de "acordos e ajustes", segundo o
comunicado.
“A Indústria de Material Bélico do Brasil, a Telebrás, a
discussão da área nuclear. Além dessas já mapeadas, devem ser mais umas 10 que
a gente tem olhado com mais atenção, como a Ceitec, na área de semicondutores”.
As ações estão em linha com os debates internacionais
sobre a atuação do Estado como acionista de empresas, como os que ocorrem no
âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para a secretária de Coordenação das Empresas Estatais do
Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Elisa Leonel, o objetivo
é pensar em empresas que possam se beneficiar de atuação rápida, terem os modelos
de negócios repensados e que considerem o mercado em que elas se inserem.
“Uma questão importante é o compartilhamento de boas
práticas. Pela lógica do custo, do ganho de eficiência, como é que a gente
pode, entre as empresas, criar fóruns de boas práticas, de compartilhamento de
experiências, de modo que uma contribua para o fortalecimento das outras e a
gente tente, inclusive, ganhar sinergia, troca entre as empresas”, indicou
Elisa Leonel.
Fonte: Jornal GGN/
Cafezinho/Brasil 247
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