Desmonte
do Estatuto do Desarmamento: Pacote da 'segurança' de Lira tem jabuti que até
anistia arma ilegal
A Câmara aprovou o regime de urgência para a
votação de uma série de projetos que, em tese, nas palavras do presidente da
Casa, Arthur Lira (PP-AL), representam uma resposta à crise da segurança pública no país.
Mas especialistas no tema identificaram, no meio
desse pacote, uma proposta, patrocinada pela bancada da bala, que, nas palavras
deles "desmonta o estatuto do
desarmamento" e "concede anistia para quem desde 2008 tem arma
ilegal".
O pacote de Lira inclui a versão feita pela
Comissão de Segurança da Câmara, integrada majoritariamente pela bancada da
bala, do projeto de lei 9.433/2017. A proposição prevê, entre outros uma
espécie de anistia para portadores de armas ilegais.
O Estatuto do Desarmamento previa a regularização
de armas até 2008. Portanto, hoje, quem ainda ostenta armamento não
regularizado está com porte ou posse ilegal. O projeto bancado por Lira muda
essa determinação.
Portadores de armas ilegais há mais de dez anos,
por exemplo, poderiam, segundo o texto, regularizar o armamento "a
qualquer tempo". Para especialistas ouvidos, trata-se de uma anistia que
pode beneficiar principalmente o crime organizado.
A proposta prevê ainda a ampliação da validade do registro de
armas 3 para 10 anos, dilatando portando os prazos para revisão dos dados do
portador.
Não bastasse, o texto ainda acaba com a restrição a posse de
armas para quem responde a inquéritos -- limitando a
vedação a condenados não por qualquer crime, mas por dispositivos específicos,
como crime hediondo.
Em um momento em que governadores do país,
inclusive da direita, pedem políticas para restringir a circulação de armas, o
projeto 9433 da bancada da bala vai no sentido oposto. Ele chega a ampliar o
entendimento do direito de legítima defesa, legalizando reação armada a ameaça
"contra si ou outrem".
¨ Congresso quer ‘ver dinheiro’ para só depois votar
corte de gastos
Brasília ferve a
cada minuto das negociações políticas desta semana. As reuniões com muitos partidos
e as conversas privadas são permeadas por tensão e cobrança.
E, nesse contexto,
tudo indica que a votação do pacote de corte de gastos fique pra semana que vem
— a última antes do recesso.
É a contradição da
política: os deputados aprovaram a urgência da análise, porém a urgência da
Câmara neste momento é outra.
Deputados do
Centrão — bloco informal que reúne parlamentares de legendas de centro e
centro-direita — que são maioria, estão em modo vingança após
aprovarem um projeto sobre emendas que não foi seguido pelo Supremo Tribunal
Federal (STF).
O ministro
considerou a proposta
aquém da transparência que o Congresso devia nesse tema, e incluiu
novas ressalvas, validadas por unanimidade no STF.
<><>
Governo libera emendas mas resistência ao pacote persiste
Com isso,
parlamentares usam a pauta do país – o corte de gastos – para direcionar essa
reatividade política.
O governo já deu
uma volta e publicou uma portaria para liberar emendas. Mas nem isso é
suficiente: deputados defendem a votação só semana que vem "para ver a
efetividade da portaria”.
A tônica é: não
basta publicar, tem que liberar emendas na prática.
Nesses próximos
dias úteis eles vão calibrar expectativa e realidade. A escolha dos relatores é
mais um pedido de socorro do governo ao Centrão.
Sem o Centrão, não
tem a menor possibilidade de dar certo. Mesmo com o Centrão, não vai ser fácil
até por questão de mérito.
O presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta terça-feira (10) que o governo não
tem votos para aprovar o pacote fiscal enviado na semana passada ao Congresso.
O texto
do governo mexe em temas sensíveis, como uma menor correção do salário mínimo
e uma restrição ao acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Não tem votos. O
assunto é polêmico, o
BPC é polêmico,
o abono é polêmico, o salário mínimo é polêmico.
É um assunto que
ferve, além de toda a insatisfação "pelo não cumprimento de uma lei que
foi aprovada pelo Congresso
Nacional e
sancionada pelo presidente da República", afirmou Lira.
Para tornar tudo
ainda mais inflamável, estamos a pouquíssimos dias do recesso parlamentar. Aqui
em Brasília até as paredes sabem que quando os parlamentares querem eles votam
em minutos, em sessões relâmpagos faturam quando os acordos são feitos.
Mas ter esse tempo
exíguo e deixar tudo para a reta final também funciona como uma faca no pescoço
– nesse caso não só do governo, mas do país.
Os parlamentares
têm todo o direito de debater o pacote de corte de gastos e de, inclusive,
discordar dele, remodelar a proposta.
O que não dá é
colocar em suspenso uma pauta importante para as contas públicas em nome da
reatividade agressiva que tem pautado as relações do Câmara com
os outros poderes.
¨ Controlada por bolsonaristas, CCJ da Câmara aprova
projeto que prevê recontagem física de votos e retoma voto impresso
A Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara
dos Deputados aprovou
nesta quarta-feira (11) um projeto que determina a recontagem física de
votos em eleições, o que, na prática, retoma o voto impresso.
O texto foi
aprovado por 31 votos favoráveis a 20, e agora precisará
ser votado no plenário da Câmara, antes de seguir para o Senado. Entidade diz que
a iniciativa tem o objetivo de "alimentar desconfiança" sobre o
processo eleitoral brasileiro.
PEC do voto
impresso é arquivada depois de rejeição na Câmara dos Deputados
A pauta da Casa é
de competência do presidente, deputado Arthur Lira (PP-AL), que já colocou
em votação o tema em 2021. O
texto foi rejeitado na ocasião.
O deputado Hugo
Motta (Republicanos-PB), que deve suceder Lira na cadeira, se ausentou daquela
votação e, na prática, contribuiu para a rejeição da proposta.
Apenas o PSD e a
Federação PT-PCdoB-PV orientaram contra a matéria. PL e Republicanos foram
favoráveis.
Vale lembrar que a
maior parte da comissão é composta por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), que defendeu o voto impresso em diversas ocasiões durante seu governo.
✏️O texto determina que após o fim da
eleição, 5% das urnas eletrônicas serão selecionadas aleatoriamente para a
contagem pública dos votos.
Participarão do
sorteio Ministério Público, da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB)
e de outras entidades interessadas.
“A implementação da
contagem pública em uma amostra aleatória de 5% das urnas busca aprimorar a
transparência e a confiabilidade do processo eleitoral, sem comprometer a
celeridade da apuração. A seleção aleatória das urnas para contagem manual
serve como mecanismo de auditoria, permitindo a identificação de possíveis
inconsistências entre os resultados eletrônicos e físicos”, afirma Medeiros em
seu voto.
Segundo o projeto,
o voto é uma "declaração de vontade do votante, concretizada fisicamente
de modo direto e privativo", sendo proibida "a representação
puramente eletrônica".
<><> Contagem
manual
A proposta
implementa uma contagem manual de votos sob responsabilidade de seção
eleitoral, que deve ser realizada imediatamente após o encerramento do período
de votação com publicação da ata de encerramento no mesmo local.
Conforme a
proposta, a urna será aberta diante dos fiscais e cada voto será
retirado individualmente lido em voz alta. Em seguida, será apresentado pelo
membro da mesa ao exame visual dos fiscais com subsequente registro no
boletim de urna.
O texto também
estabelece que ao final da extração do último voto, o interior da urna
será exibido aos fiscais e será realizada a contagem manual, a totalização,
a comparação com os dados eletrônicos e o registro de todas as ocorrências.
<><> PEC
rejeitada
Em 2021, o plenário
da Câmara rejeitou e arquivou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que
propunha o voto impresso em eleições, plebiscitos e referendos.
O resultado
representou uma derrota para o então presidente Bolsonaro, que, sem apresentar
provas, vinha falando em fraude no sistema de votação por meio da urna
eletrônica e fazendo acusações sem fundamento a ministros do Supremo Tribunal
Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.
Para ser aprovada,
a PEC precisava de, no mínimo, 308 votos. No entanto, o texto elaborado na
oportunidade pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) teve o apoio de apenas 229
deputados. Outros 218 deputados votaram contra a PEC, e um parlamentar se
absteve. Ao todo, 448 votos foram computados.
'Retrocesso', diz
entidade
Em nota, a entidade
Pacto pela Democracia classificou o projeto aprovado pela CCJ nesta quarta como
um "retrocesso" e diz que a iniciativa tem o objetivo de "alimentar
desconfiança" contra o sistema eleitoral do país.
“A aprovação desse
projeto é preocupante por se tratar de uma mudança drástica no sistema de
votação, sem período de teste ou avaliação de custos, valendo no Brasil inteiro
já na próxima eleição. Agora, ele vai para votação em plenário sem passar por
uma ampla discussão com a sociedade e podendo aprofundar a desconfiança no
sistema eleitoral e no processo democrático como um todo", avalia Arthur
Mello, um dos coordenadores do Pacto pela Democracia.
¨
Câmara foca em projetos que anistiam armas ilegais e
libera posse para investigados
No início da semana, a previsão em Brasília era que
a Câmara votaria o pacote de ajuste fiscal enviado pelo governo. No lugar disso, os deputados decidiram levar adiante uma pauta sobre
segurança pública, que envolve alguns projetos polêmicos, como o que anistia
armas de fogo ilegais adquiridas desde 2008 e o que libera armas para pessoas
investigadas por crimes.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse
em entrevista a jornalistas nesta terça-feira (10) que o governo não tem votos suficientes para aprovar o pacote do
ajuste fiscal. Esses textos são prioridade para o governo neste
fim de ano. O objetivo é economizar R$ 370 bilhões em despesas no Orçamento até
2030 e buscar um equilíbrios das contas públicas.
O mercado financeiro também vê a necessidade de um
ajuste fiscal — ainda que tenha achado o pacote do governo pouco ambicioso.
Enquanto algum ajuste não é aprovado, o dólar sobe, assim como a inflação e os
juros.
Para Lira, as propostas do governo são delicadas —
diminuição do ritmo de crescimento do salário mínimo, por exemplo.
Mas o pano de fundo é que os deputados estão insatisfeitos com as novas regras impostas
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para pagamento de emendas parlamentares.
As emendas são pagas pelo governo a deputados e
senadores, que encaminham o dinheiro para obras em seus estados. O STF entendeu
que as regras para distribuição e o rastreio do dinheiro estavam pouco
transparentes. O Congresso viu nas exigências do STF uma
"interferência" combinada com o governo.
Assim, no lugar do pacote fiscal, esta semana — a
penúltima antes do recesso — está sendo dedicada a uma pauta de segurança
pública defendida pele chamada "bancada da bala" da Câmara, formada
por deputados ligados a forças policiais.
·
Armas ilegais
Especialistas em segurança pública identificaram,
no meio do pacote da Câmara, uma proposta patrocinada pela bancada da bala, que,
nas palavras dos estudiosos "desmonta o estatuto do desarmamento" e
"concede anistia para quem desde 2008 tem arma ilegal".
A proposição prevê, entre outros itens, uma espécie
de anistia para portadores de armas ilegais.
O Estatuto do Desarmamento previa a regularização
de armas até 2008. Portanto, hoje, quem ainda ostenta armamento não
regularizado está com porte ou posse ilegal. O projeto bancado por Lira muda
essa determinação.
Portadores de armas ilegais há mais de dez anos,
por exemplo, poderiam, segundo o texto, regularizar o armamento "a
qualquer tempo". Para especialistas ouvidos pelo blog da Daniela Lima, trata-se de uma anistia que pode beneficiar principalmente o crime
organizado.
A proposta prevê ainda a ampliação da validade do
registro de armas 3 para 10 anos, dilatando portando os prazos para revisão dos
dados do portador.
Armas para investigados
O texto ainda acaba com a restrição a posse de
armas para quem responde a inquéritos -- limitando a vedação a condenados não
por qualquer crime, mas por dispositivos específicos, como crime hediondo.
<><> Outros pontos da pauta da Câmara
·
Milícias e facções
Um dos textos aprovados prevê um
cadastro nacional de monitoramento de facções criminosas e inclui as milícias
no rol de organizações fiscalizadas. O texto segue para o Senado.
A proposta original não englobava as milícias, mas
uma emenda do deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) incluiu os grupos
criminosos no escopo do projeto.
Um acordo costurado pelo PSOL junto ao relator,
deputado Da Cunha (PP-SP), incluiu a palavra na proposta e ajudou na votação
simbólica do texto - quando a aprovação é feita por acordo, sem registro de
votos.
Esse texto ainda tem que passar pelo Senado.
·
Bagagens para o tráfico
Um outro projeto aprovado criminaliza a violação, adulteração, troca de bagagem ou etiqueta em viagens
de avião ou de ônibus para traficar drogas. Também vai ao Senado ainda.
Segundo o texto, poderá pegar de 5 a 15 anos de
prisão quem violar, corromper, adulterar, falsificar, alterar ou trocar bagagem,
etiqueta ou outro dispositivo identificador de bagagem de passageiro usuário do
transporte aéreo ou rodoviário para traficar drogas ou matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à sua preparação.
A pena poderá ser aumentada em um sexto se o agente
praticar o crime na prestação dos serviços de transporte aéreo ou rodoviário.
Fonte: g1
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