quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Henrique Rodrigues: ‘Assustado com bolsonaristas desejando a morte de Lula? Não deveria’

Para além de toda a repercussão no noticiário nacional e internacional do principal fato jornalístico do dia, a internação do presidente Lula para drenar uma hemorragia intracraniana, um aspecto chamou muito a atenção na cobertura do episódio: as toneladas de matérias e postagens denunciando bolsonaristas anônimos e “famosos” desejando aberta e explicitamente a morte do veterano político que ocupa a chefia do Estado brasileiro.

Claro, tais fatos justificam as reportagens publicadas sobre esse comportamento, mas o que me espanta nisso tudo é grande parte da sociedade “normal” ficar surpresa, horrorizada e chocada com um monte de cidadãos e cidadãs dizendo sem rodeios que estão torcendo, orando ou desejando muito que Lula morra. Gente, nós estamos falando de bolsonaristas.

O bolsonarismo, em síntese absoluta e de forma mais sucinta possível, é uma seita composta por gente desajustada, disfuncional e safada. E nem se trata aqui de ofender essas pessoas, embora as palavras soem pesadas. Esse quadro é algo já constatado de forma irrefutável.

Imagine você ser alguém que encontrou sentido na sua vida após conhecer um sujeito tosco, irremediavelmente ignorante e violento, que a única coisa que fez na vida para ganhar alguma notoriedade foi passar décadas dizendo e fazendo as coisas mais abjetas e moralmente baixas para transmitir uma imagem de uma pessoa má. Gritos, pedidos de morte, frases desumanas e vergonhosas, xingamentos, enfim, todo tipo de chorume verbal e gestual para tentar aparecer e ser notado, passando longos 30 anos sendo visto como um idiota a ser ignorado.

Agora, você acha mesmo que quem venera esse cara, e ainda festeja torturador, aplaude assassinatos de PMs, difunde teses anticientíficas no meio de uma pandemia mortal e que idolatra todo tipinho canalha e descompensado seria alguém que teria mínimos resquícios morais para não fanfarronar clamando pela morte de um adversário que encara como inimigo mortal?

Isso que tratamos aqui nem se refere a Lula. Podia ser sobre o padeiro da esquina, sobre o técnico da seleção, sobre um funkeiro ou uma atriz famosa. Seria “natural” que alguém não nutrisse amores ou não incluísse em suas orações pedidos de melhora para alguém que odeie ou deteste muito, mas como disse, nem é disso que se trata esse texto. Cada um age como bem entender em relação ao outro.

Falamos aqui sobre esse barbarismo insano, exibicionista. É uma espécie de concurso para ver quem é o mais asqueroso, para eleger o maior mau-caráter do país, o soberano da escrotice nas redes. Essa gente é desajustada por se espelhar numa figura repulsiva que é vista no planeta todo como um pária nojento, é disfuncional por comprometer e submeter sua capacidade como ser humano simplesmente para bajular um facínora, e é safada por fazer tudo isso com plena consciência. Trocando em miúdos, falamos de uma seita e é impossível encarar isso com alguma racionalidade a ponto de nos espantarmos com esse comportamento.

Nós vivemos para ver uma sociedade em que ser nocivo nas relações e abjeto nas atitudes é motivo de orgulho para quem quer aparecer e se integrar com seus iguais. Vale tudo nessa busca mesquinha por uma migalha de atenção, sempre se alimentando dessa máquina sórdida de triturar consciências e freios morais.

Pare, pense e reflita. Você deveria mesmo se surpreender ou se chocar com tudo isso que viu hoje? Ah, faça-me o favor...

 

¨      Médicos ironizam internação e desejam a morte de Lula em redes sociais.  Por Zé Barbosa Júnior

Num perfil da rede social instagram voltado para médicos e pessoas ligadas à medicina, a notícia da ida urgente do presidente Lula para a UTI do Hospital Sírio Libanês e depois sua transferência para São Paulo ocasionou uma série de comentários maldosos e repletos de ódio por parte de médicos e enfermeiros que não se contiveram em responder ao post original com ironias e desejos hediondos de morte ao Presidente da República. O post coloca de forma que deixa no ar uma certa ironia na legenda da foto: "Prepara a sala porque vai subir um hematoma subdural crônico agudizado pra drenar".

Muitos comentários na postagem se mostravam assustados com a baixeza e a crueldade de falas feitas por aqueles que fizeram juramento de cuidar da vida humana desejando as piores coisas ao presidente e sem vergonha alguma de mostrar seus rostos e perfis, dado por certo a impunidade de seus atos e palavras públicas. O desejo de morte e de sofrimento por parte de médicos realmente causou estranheza e asco por parte de quem leu os comentários perversos e abjetos.

Um rapaz que se descreve como servidor público concursado, altruísta e empreendedor diz que o presidente deveria “ir se drenar no SUS” e em seguida arremata com uma pergunta irônica se o presidente é um homem ou um gato, já que gastou 4 vidas, e comemora que só restam 3. Um outro que se apresenta como biomédico e socorrista diz que “torcemos pela alta celestial”, evocando a morte de Lula.

O festival de baixezas e horrores continua com um estudante de medicina numa universidade do Paraguai ao se declarar com emojis apaixonados, “hematoma, eu te amo”, enquanto um ortopedista membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia ironiza o cântico religioso e posta que o objetivo é fazer uma “corrente de oração”, cantando: “segura na mão de Deus... e vaaaaaaiiiiii”.

Outro ortopedista faz um comentário cruel, pois ainda traz á tona a morte de dona Marisa Letícia, ao dizer “dona Marisa está com saudades” e por fim um rapaz que se apresenta como médico no Ceará e Piauí é mais contundente e aberto em sua postagem: “pronto, Satanás, tá nas tuas mãos, já pode puxar pra baixo”.

Muitas pessoas que não concordaram com os comentários de ódio chegaram a marcar o Ministério Público Federal e ministros do STF, denunciando os perfis por incitação ao ódio e manifestações de violência.

 

¨      Psicanalista destrincha ódio bolsonarista contra Lula. Por Iara Vidal

A bem-sucedida cirurgia de emergência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe alívio a aliados e seguidores nesta terça-feira (10). No entanto, um cenário preocupante emergiu nas redes sociais alinhadas ao bolsonarismo, onde a internação do presidente foi usada como combustível para ataques e desinformação.

A intervenção cirúrgica para tratar uma hemorragia intracraniana provocada por uma queda reacendeu o debate sobre os limites éticos do discurso público. Enquanto mensagens de apoio inundaram os perfis do presidente e de sua esposa, Janja, nos círculos bolsonaristas, o tom foi de comemoração.

Frases carregadas de hostilidade, piadas mórbidas e distorções sobre o estado de saúde de Lula ganharam força, reforçando o fanatismo político e a polarização extrema no Brasil.

Em conversa exclusiva com a Fórum, a psicanalista e socióloga Ingrid Gerolimich comenta que o ódio bolsonarista contra o presidente Lula transcende o debate político e expõe uma dinâmica psicológica e social enraizada no desamparo coletivo, alimentada por ideologias autoritárias. 

Ela explica que essa manifestação agressiva está profundamente ligada ao que Sigmund Freud descreveu em "O Futuro de uma Ilusão": a busca por pertencimento em meio ao colapso de estruturas simbólicas e à insegurança gerada pelas rápidas transformações do capitalismo contemporâneo.

<><> O ódio como "nova religião"

No bolsonarismo, Gerolomich identifica uma espécie de "neofundamentalismo político", em que a ideologia assume o papel de uma nova religião. Essa "fé" se fundamenta em figuras messiânicas, como Jair Bolsonaro, e narrativas que prometem salvação e proteção contra um "outro" construído como inimigo. 

Lula, nesse contexto, é elevado a um arquétipo do mal absoluto, simbolizando tudo o que o bolsonarismo rejeita: mudanças sociais, moralidade progressista e a pluralidade política.

Essa dinâmica cria uma ilusão coletiva que organiza os medos e angústias dos indivíduos, projetando em Lula o papel de bode expiatório. 

"O desejo de morte contra Lula reflete uma tentativa desesperada de recuperar controle e segurança em um ambiente de caos e desilusão", explica Gerolomich.

<><> A ferida narcísica da derrota

Freud destaca, em seus estudos, o papel das figuras de autoridade na psique coletiva. Para os apoiadores de Bolsonaro, a derrota nas urnas e a volta de Lula ao poder representam uma ferida narcísica profunda, abalando a ilusão de que o bolsonarismo seria a única força legítima para governar o país. 

Essa frustração, segundo Gerolomich, provoca um deslocamento dos impulsos destrutivos, que encontram em Lula um alvo simbólico para canalizar suas angústias reprimidas.

"A ideologia bolsonarista reforça a exclusão e a violência como meios de proteger as estruturas tradicionais. No entanto, ao invés de coesão, essas dinâmicas apenas amplificam o desamparo e a hostilidade coletiva", afirma a psicanalista.

<><> A psique do ódio coletivo

O desejo de morte dirigido a Lula não é apenas uma manifestação política, mas um sintoma psíquico e social. Ele emerge como resposta ao colapso das ilusões sociais, incapazes de conter os impulsos destrutivos reprimidos. 

Para Gerolomich, a violência simbólica e real expressada nas redes bolsonaristas contra o presidente reflete uma busca por pertencimento em um grupo que promete proteção e coesão, mas que, na prática, opera pela exclusão e pela destruição.

<><> Um alerta para a democracia

A análise psicanalítica de Gerolomich revela como movimentos autoritários e polarizados utilizam o ódio como um afeto aglutinador, criando inimigos para justificar suas frustrações. No entanto, ela alerta que essa dinâmica, ao transformar adversários políticos em símbolos de ameaça existencial, enfraquece o tecido democrático.

"Quando o ódio é o afeto central de uma ideologia, não há espaço para diálogo, apenas para confronto e destruição", conclui Gerolomich. 

O desafio, portanto, é romper esse ciclo de desamparo e violência, resgatando a capacidade de lidar com o dissenso sem recorrer ao ódio como resposta primária.

A análise expõe a complexidade do ódio bolsonarista contra Lula e ressalta a importância de compreender as raízes psíquicas e sociais desses impulsos para proteger a democracia e reconstruir as bases do diálogo público.

 

¨      Freud explica: Ódio, desinformação e pulsão de morte - o lado sombrio do bolsonarismo

Enquanto a notícia da bem-sucedida cirurgia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva traz alívio a aliados e seguidores, um cenário diferente se desenha nas redes sociais alinhadas ao bolsonarismo. 

A internação de Lula para uma intervenção cirúrgica de emergência nesta terça-feira (10), trouxe à tona um fenômeno preocupante: a celebração da fragilidade humana como arma política. 

Nas redes sociais, a notícia foi combustível para desinformação e ataques de bolsonaristas que expuseram o nível alarmante de fanatismo político no debate público brasileiro.

Enquanto médicos confirmavam o bom estado clínico de Lula após a cirurgia, usuários bolsonaristas nas redes espalhavam desinformação, referindo-se ao episódio como um "derrame", termo popular para acidente vascular cerebral (AVC), algo que os profissionais de saúde descartaram. 

Entre as postagens mais comentadas, não faltaram danças, piadas e mensagens de ódio, algumas com desejos explícitos de sofrimento ao presidente.

<><> Freud explica

A reação das hordas bolsonaristas à internação de Lula reflete uma dinâmica explorada pela psicanálise: a pulsão de morte, conceito introduzido por Sigmund Freud

Essa força inconsciente, que age em oposição às pulsões de vida, se manifesta como uma tendência à destruição, seja direcionada ao próprio indivíduo ou projetada no outro.

A partir desse entendimento freudiano, em contextos de fanatismo político como o bolsonarismo, o "outro" deixa de ser visto como adversário e passa a ser tratado como inimigo. 

Essa desumanização justifica o regozijo diante do sofrimento alheio, transformando a doença em uma "vitória simbólica".

<><> Ressentimentos ameaçam a democracia

A filósofa e psicanalista francesa Cynthia Fleury se destaca por suas análises sobre o ressentimento e suas implicações nas democracias contemporâneas. 

Em sua obra "Curar o Ressentimento: O Mal da Amargura Individual, Coletiva e Política" ela explora como a amargura e o ressentimento podem envenenar tanto a esfera pessoal quanto a pública, tornando-se uma ameaça significativa à democracia.

Em entrevista ao jornal argentino Clarín, em agosto de 2023, Fleury destacou que o ressentimento, quando utilizado como força motriz na política, resulta em violência e destruição, em vez de justiça.

"O ressentimento como motor da história nunca produziu justiça, apenas violência e destruição", disse.

Fleury também observa que o ressentimento é uma força sombria que pode afetar tanto indivíduos quanto o Estado de Direito, sendo crucial resistir à tentação de transformá-lo no propulsor de nossas histórias individuais e coletivas.

A filósofa alerta que, em tempos de intensa fanatismo político, o ressentimento pode levar à desumanização do outro, comprometendo a possibilidade de diálogo e construção coletiva, elementos essenciais para a saúde das democracias modernas.

Para Fleury, é imperativo que tanto indivíduos quanto sociedades identifiquem e diagnostiquem o ressentimento, resistindo à tentação de torná-lo o motor de suas narrativas pessoais e políticas. Ela propõe caminhos de sublimação, criação e cura para enfrentar esse desafio.

<><> Celebração da fragilidade alheia

A psicóloga social Miriam Abramovay, coordenadora do Programa de Estudos e Políticas sobre Juventude, Educação e Gênero da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), avalia que a celebração da fragilidade alheia, especialmente em contextos políticos como o brasileiro, pode ser interpretada como uma projeção de angústias internas. 

Ela fez essa análise durante uma entrevista concedida ao Centro de Referências em Educação Integral, em março de 2023, no contexto do violento ataque contra a Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo (SP)

Abramovay destacou que a escola muitas vezes se torna palco de violências devido à falta de programas nacionais de convivência escolar, o que evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas para a melhoria do ambiente educacional. 

Essa análise pode ser estendida ao cenário político, onde a ausência de espaços de diálogo e compreensão mútua facilita a projeção de inseguranças internas nos adversários, resultando em desumanização e celebração do sofrimento alheio.

"A celebração da fragilidade do outro reflete uma projeção de angústias internas. É a manifestação de um desejo inconsciente de controle sobre aquilo que parece ameaçador ou diferente", explica Abramovay.

<><> Redes sociais: amplificadoras da pulsão de morte

A internação de Lula expôs mais uma vez o uso das redes sociais como palco para disseminação de discursos de ódio por bolsonaristas.

Após a divulgação do procedimento médico, grupos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro celebraram o ocorrido, disseminando mensagens agressivas e desinformação sobre o estado de saúde do presidente.

Mensagens que celebravam a internação de Lula, algumas sugerindo "justiça divina" ou ridicularizando sua condição, rapidamente ganharam espaço no X (antigo Twitter) e outras plataformas.

Esse deplorável comportamento digital representa um perigo ao normalizar a desumanização de adversários políticos e reforçar a polarização.

Os discursos de ódio associados à polarização extrema não afetam apenas o ambiente digital, mas também ameaçam o tecido democrático. Essas manifestações enfraquecem o diálogo e criam um ambiente hostil à construção de consensos.

<><> Ódio gera lucro para plataformas

Durante entrevista ao Jornal da USP, em março de 2023, o chefe da área de Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas da Unesco, Guilherme Canela, destacou o caráter mercantil do discursos de ódio.

"O ódio e a desinformação geram reações emocionais intensas, o que é rentável para as redes sociais, mas custa caro para a sociedade ao enfraquecer o diálogo e fortalecer a hostilidade coletiva", afirmou.

<><> Respostas institucionais e regulação

A internação de Lula ocorre em meio a discussões sobre a regulação das redes sociais no Brasil. Neste ano, o tema ganhou tração sob a liderança do presidente.

A proposta do governo é estabelecer regras claras para combater desinformação, discurso de ódio e outros conteúdos prejudiciais que circulam no ambiente digital.

O presidente Lula enfatizou, em diversos momentos, que a falta de regulamentação adequada contribui para o enfraquecimento da democracia e para a disseminação de informações falsas, como evidenciado durante a pandemia de Covid-19 e nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

Engrossa a lista de exemplos da urgência do debate o fenômeno horrendo de bolsonaristas que celebram e distorcem a internação do presidente Lula. 

Em eventos recentes, Lula defendeu a criação de diretrizes globais, alinhadas aos princípios dos direitos humanos, como parte de uma agenda internacional liderada por instituições como a Unesco.

<><> Propostas em discussão

O governo brasileiro propõe medidas como:

·        Transparência nas plataformas: Exigir que redes sociais revelem como algoritmos funcionam e como influenciam o consumo de informações.

·        Responsabilização das empresas: Plataformas poderiam ser responsabilizadas por conteúdos ilícitos caso não atuem para removê-los após notificação.

·        Proteção à liberdade de expressão: Medidas preventivas para evitar censura e garantir um equilíbrio entre controle de conteúdo e liberdade de opinião.

<><> Reações bolsonaristas

A proposta enfrenta resistência de setores políticos, incluindo a oposição bolsonarista, que alega riscos de censura e interferência na liberdade de expressão (na verdade, de agressão). Empresas de tecnologia, como Meta e Google, têm mostrado preocupação com o impacto econômico e operacional de uma eventual regulação.

<><> Próximos passos

O governo pretende enviar ao Congresso um projeto de lei consolidado até o início de 2025, buscando apoio para aprová-lo em um contexto de pressão internacional e discussões intensas sobre a regulação digital.

A questão reflete um debate global, no qual o Brasil busca protagonismo ao propor um modelo regulatório que possa servir como referência para outros países, equilibrando os direitos individuais e a proteção das democracias frente aos desafios impostos pelas redes sociais.

 

Fonte: Fórum

 

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