terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Ângela Carrato: A mídia e o mercado unem-se em prol dos ricos, contra os pobres, e a sorte

Quase nove milhões de pessoas deixaram a pobreza no Brasil no ano passado.

Pela primeira vez, desde 2012, a parcela dos extremamente pobres ficou abaixo dos 5% da população.

O PIB no terceiro semestre de 2024 cresceu 0,9%, apontando para uma alta que deve superar os 3% pelo segundo ano consecutivo.

O acordo de livre comércio entre os países do Mercosul com a União Europeia, emperrado há mais de duas décadas, finalmente foi assinado.

O Brasil deve ser o principal beneficiado com esse acordo, com um avanço de 0,46% no PIB até 2040.

Todas essas excelentes notícias para a população brasileira se devem à política econômica adotada pelo governo Lula, que, nesses quase dois anos, tem sido incansável na luta para recolocar o país na rota do desenvolvimento, depois da terra arrasada deixada pelos golpistas Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Era de se esperar que tamanho sucesso merecesse manchetes, editoriais e comentários dos especialistas em política e economia. Mas o que se vê é exatamente o contrário.

Além de esconder as boas notícias, a mídia corporativa tem feito de tudo para passar para a opinião pública a impressão de que Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, erram e, mais grave ainda, suas propostas para ajuste fiscal estariam na contramão dos interesses dos mais pobres.

O exemplo mais gritante foi a divulgação, por jornais e emissoras de TV, de pesquisa do instituto Quaest, na quarta-feita (4), indicando que a reprovação do governo entre os agentes do mercado financeiro cresceu e chegou a 90%. No último levantamento, feito em março, a reprovação era de 26%.

A mídia destacou este resultado sem mostrar que a tal pesquisa foi uma espécie de ação entre amigos.

Um restrito grupo de 105 gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro em fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro foi convidado a dar opinião sobre um governo que está fazendo de tudo para colocar os bilionários no imposto de renda.

A opinião do “mercado”, codinome dado pela mídia ao 1% da população brasileira que detém 49,5% da renda nacional, só seria diferente se os seus privilégios não estivessem sendo retirados.

Vale observar que o tal mercado também não havia gostado da proposta de isenção do pagamento de imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais.

O que os muito ricos e bilionários querem é que tudo continuasse como está, com os pobres e a classe média-baixa pagando imposto de renda e eles, com suas aplicações e dividendos milionários, isentos.

Como as seis famílias que controlam a comunicação no Brasil integram esse grupelho de privilegiados que não paga ou paga impostos irrisórios, os seus veículos de comunicação acabam sendo utilizados como porta-vozes para seus interesses.

Mesmo o governo tendo divulgado um amplo pacote envolvendo ajustes e cortes de gastos, fica evidente que a mídia não gostou da proposta.

Sabe-se que ela, como os demais privilegiados, esperava que as medidas atingissem somente os mais pobres, através da redução de verbas para programas sociais ou cortes nos recursos destinados à educação e saúde.

O mercado aguardava, inclusive, a proposta de redução dos próprios pisos constitucionais para estes dois setores.

A pressão para que Lula agisse assim foi tremenda.

Nos últimos meses a mídia não falou em outra coisa a não ser na “necessidade” de o governo cortar gastos para “ajustar” as contas públicas. Em torno desta necessidade foi feito terrorismo tamanho que alguém menos versado na área pode ter chegado a pensar que o Brasil estava à beira do precipício, com o déficit fiscal em torno de 80% do PIB.

Não foi por desconhecimento, mas por mau-caratismo mesmo, que esta média deixou de informar que, dentre as principais economias do mundo, o Brasil está longe de figurar entre as que apresentam déficits preocupantes.

A título de exemplo, a dívida pública do Japão é de 224,8% do seu PIB. A dos Estados Unidos é de 128,5%, a da Espanha é de 120,0 %, a da França é de 115,7%, a do Reino Unido, 104,5%, com o Brasil aparecendo em 29º lugar.

A dívida brasileira é em reais e a respaldá-la existem as reservas internacionais, o antigo fundo soberano, uma espécie de “poupança” nacional que o governo faz em moedas estrangeiras e que funciona como um seguro contra crises.

Atualmente estas reservas estão em US$ 370 bilhões, a maior em toda a nossa história, acumulada principalmente nos governos Lula e Dilma Rousseff.

Para uma mídia que gosta tanto de referenciar-se no que acontece nos Estados Unidos ou em países europeus, chama atenção fazer tanto alarde sobre os “riscos” do déficit brasileiro e não registrar que déficits muito maiores em outros países não merecem sequer registo na mídia. Vale dizer: não preocupam.

Também não mereceu destaque na mídia brasileira o protesto dos “marajás”, a turma dos altos salários, basicamente concentrada no Poder Judiciário tanto em âmbito federal quanto nos estados.

A Constituição de 1988 fixa como teto de salários para o funcionalismo federal o valor recebido pelo presidente da República e pelos ministros do STF, que é de R$ 44.008,52 mensais.

No entanto, entidades representativas do Judiciário e do Ministério Público manifestaram, na última quarta-feira (4), oposição à proposta de emenda constitucional que integra o pacote de cortes de gastos do governo.

Assinada pelos órgãos representativos desses setores, a manifestação sob o argumento de “alertar o governo para pedidos de aposentadoria em massa se a medida for aprovada”, quer, na prática, evitar que a maioria dos integrantes destes setores deixe de receber quantias duas, três, quatro ou mais vezes superiores ao que determina a Constituição.

Ao contrário de serem os primeiros a defender a lei, o que querem é manter privilégios a custa da falta de recursos para reajustes no salário mínimo, atualmente fixado em R$ 1.412,00.

Se o Brasil tivesse uma mídia minimamente preocupada com as condições de vida da população não seria o caso de noticiar, dia sim e outro também, que, de acordo com cálculos de entidades como o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) o salário mínimo atual deveria ser de R$ 6.606,13? E que esse valor, para 2025, deveria ser reajustado para R$ 6.802,88?

Notícias assim você não vai encontrar na mídia corporativa. No lugar delas, jornais, emissoras de TV e de rádio, além de portais de notícias dos grandes grupos de mídia não se cansam de divulgar os picos de cotação do dólar, sem mencionar que não passam de pura especulação daquele 1% contra os interesses da maioria.

Não há, do ponto de vista dos fundamentos de uma economia sólida, nada que justifique os valores que o dólar tem atingido no Brasil. Ou seja: o problema não é econômico, pois a economia está bem. A questão é política.

São razões políticas que têm mantido a taxa de juros (Selic) em patamares estratosféricos no Brasil.

Enquanto nos Estados Unidos ela é de 5% e no Japão é negativa, aqui está em 11,25% ao ano, com o presidente bolsonarista do Banco Central, Roberto Campos Neto, sonhando em elevá-la ainda mais e não movendo uma palha para conter a disparada da moeda estadunidense.

O nome disso, em bom português, é sabotagem, ou terrorismo econômico a serviço do andar de cima.

O andar de cima não gosta do governo Lula. O andar de cima e a mídia, sua porta-voz, gostavam de governos como Temer e Bolsonaro, que destruíram direitos trabalhistas, detonaram a Previdência Social e levaram milhões de brasileiros de volta à pobreza.

A propósito, não me lembro de o mercado ter protestado quando os brasileiros passaram a disputar ossos em filas na porta de açougues.

Não me lembro de protestos do mercado quando Bolsonaro deixou milhares de pessoas sem vacina contra o covid-19 ou quando autorizou que a boiada passasse sobre as leis ambientais.

No entanto, quando o governo aponta para a correção de distorções e injustiças históricas, eis que a turma do andar de cima entra em campo para atrapalhar, para minar o governo, para que tudo continue como dantes.

O absurdo assume proporções tamanhas que o jornal O Globo, da família Marinho, teve o desplante de noticiar o “sucesso” da gestão do extremista de direita na Argentina, Javier Milei, quando se sabe que em quase um ano de governo, a ser completado nesta segunda-feira (10), ele já jogou metade de sua população na pobreza.

É esse o modelo de desenvolvimento e de governo que o Globo sonha para o Brasil!

Quanto à Folha de S. Paulo, como se não bastasse trabalhar, achando que ninguém está percebendo, pela anistia aos golpistas, começando por Bolsonaro, e passar pano para as chacinas cometidas pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas e por sua polícia, a publicação superou-se ao criar o neologismo “despiorar” para referir-se os avanços de Lula na área econômica.

“Despiorar” deve ser da mesma lavra de “ditabranda”, outro neologismo criado pela Folha de S. Paulo ao tentar argumentar que a ditadura no Brasil (1964-1985) não teria sido das mais truculentas.

Será que a Folha está com saudades daqueles tempos “brandos”!?

As propostas do governo Lula para mudanças e cortes na área fiscal ainda precisam ser discutidas e votadas pelo Congresso. Mas a julgar pelo que a mídia tem dito, é de se esperar que faça de tudo para que não saiam do papel.

Seja como for, para um governo que enfrenta, simultaneamente, uma maioria parlamentar de extrema-direita avessa a qualquer medida de interesse popular, golpistas militares e civis que ainda não foram condenados e presos, um mercado que só pensa em seus privilégios e uma mídia que é porta-voz de tudo isso junto, o governo Lula tem feito milagres ao obter sucesso na economia.

Como tem ironizado o próprio Lula, talvez tudo não passe de sorte.

Se for assim, que ele tenha cada vez mais sorte.

¨      Tebet diz que Mercado quer 'afundar o país'

A ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil Simone Tebet criticou de forma veemente a avaliação do mercado financeiro sobre o governo do presidente Lula divulgada pela Quaest. 

Na pesquisa, que ouviu online 105 gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro em fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro de 29 de novembro a 3 de dezembro, 90% avaliaram de forma negativa o governo do presidente Lula.

"Eu não posso acreditar, presidente, em que numa terra em que se plantando tudo dá, tendo os maiores mananciais de água doce do mundo, tendo investimentos públicos e privados andando no Brasil, estando com a menor taxa de desemprego da história e a maior taxa de ocupação da história, tendo tirado três milhões de pessoas da extrema pobreza. Tem noção do que é isso? Gente que está tomando café da manhã, almoçando e jantando todo dia. Um governo que coloca oito milhões de pessoas tira da pobreza, tirou três milhões de jovens na condição de nem estudar nem trabalhar. Graças, inclusive, ao seu [programa] "Pé-de-meia", eu não posso acreditar que um governo bem avaliado como este, que o tal do mercado avalie em 90% o seu governo como ruim. Isto não é imparcialidade. Isso é jogar contra o país. E quem joga contra o país quer ajudar a afundar o país. E nós não vamos deixar, graças ao setor privado, ao setor do agronegócio, ao setor do comércio, da indústria, bem comandada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin."

¨      Exportações brasileiras atingem R$ 2,07 trilhões em 12 meses, novo recorde histórico

O comércio exterior do Brasil continua batendo recordes.

Segundo dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento (Mdic), o Brasil exportou US$ 341 bilhões no acumulado de 12 meses até novembro, um novo recorde histórico. Em relação ao ano anterior, que já tinha registrado recorde, o aumento foi de 1%. Em 10 anos, as exportações brasileiras cresceram 53%, e em 20 anos, 266%!

Em reais, a exportação brasileira em 12 meses correspondeu a R$ 2,07 trilhões. O câmbio usado foi o do dia 06 de dezembro, de R$ 6,08 por dólar.

O saldo comercial nos últimos 12 meses, por sua vez, totalizou US$ 79 bilhões, inferior apenas ao recorde registrado no ano passado, e portanto o segundo maior da história. Em reais, esse valor corresponderia a R$ 481 bilhões.

A corrente de comércio do Brasil, ou seja, a soma de exportações e importações, chegou a US$ 602,93 bilhões nos 12 meses terminados em novembro, que também é o maior volume da história (na verdade, igual ao de 2022), com aumento de 288% em 20 anos.

Em reais, a corrente de comércio em 12 meses equivaleu a R$ 3,67 trilhões.

¨      Comércio Brasil X Europa atinge maior valor em 10 anos

O comércio exterior brasileiro vem sendo puxado não apenas pelos países do Sul Global, embora seja, de fato, com eles que vem nosso comércio vem aumentando de maneira mais dramática. A União Europeia também está ampliando suas relações comerciais com o Brasil.

Segundo o Comexstat, o banco de dados público do Ministério do Desenvolvimento, a corrente de comércio entre Brasil e União Europeia chegou a US$ 89 bilhões no acumulado dos 11 primeiros meses do ano (jan/nov), um recorde histórico e um aumento de 5% sobre o ano anterior.

Nesse período, o Brasil exportou US$ 45 bilhões e importou US$ 42 bilhões, perfazendo um saldo positivo de US$ bilhões.

Os principais produtos importados da União Europeia são: medicamentos, maquinários e veículos.

Já os produtos brasileiros exportados para a UE são: petróleo, minério de ferro, café e ração animal.

 

Fonte: Viomundo/O Cafezinho

 

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