sábado, 26 de outubro de 2024

Xavier Villar: ‘Necropolítica na Palestina. A máquina de morte sionista’

“Para além da eliminação imediata das vidas palestinas, a necropolítica israelense opera num contexto temporal mais amplo, naturalizando o extermínio, a expropriação, a dominação e a exploração. Isto resulta na criação de condições para uma morte lenta, através da fome induzida, da destruição sistemática do sistema de saúde em Gaza e da imposição de mortes prematuras. Além disso, são impostas condições ainda piores do que a morte, como a tortura brutal, que aprofundam o sofrimento dos palestinos”.

<><> Eis o artigo.

Uma das formas de analisar a situação na Palestina é com a ajuda do conceito de necropolítica, cunhado pelo teórico camaronês Achille Mbembe.

Num ensaio de 2003 e no seu livro Políticas da inimizade (N-1 Edições, 2021), de 2016, Mbembe descreve a formação de “mundos de morte”: espaços em que milhares de pessoas são submetidas a condições que lhes conferem o estatuto de “mortos em vida”.

Outra forma de explicar o conceito de necropolítica é a de um poder que tem a capacidade de matar através de uma série de medidas excepcionalmente brutais impostas aos palestinos e, agora, também aos libaneses.

Para além da eliminação imediata das vidas palestinas, a necropolítica israelense opera num contexto temporal mais amplo, naturalizando o extermínio, a expropriação, a dominação e a exploração. Isto resulta na criação de condições para uma morte lenta, através da fome induzida, da destruição sistemática do sistema de saúde em Gaza e da imposição de mortes prematuras. Além disso, são impostas condições ainda piores do que a morte, como a tortura brutal, que aprofundam o sofrimento dos palestinos.

Isto se traduz em viver em constante antecipação da morte, ou daquilo que se definiu como condições piores que a morte. O indivíduo colonizado vive esperando a degradação, a humilhação e o assassinato. O sujeito colonizado é caracterizado por essa condição de ser um morto em vida, conforme definido por Mbembe: um ser despojado da soberania sobre o próprio corpo e a vida. Esta vida é vivenciada como habitar uma câmara de tortura, dando à existência uma sensação avassaladora de ser pior que a morte. Da mesma forma, ser colonizado envolve viver em constante antecipação da possibilidade de que o próprio corpo seja violado ou subjugado por outro, pelo colonizador.

Esta política de morte não se dirige apenas aos palestinos vivos (e agora aos libaneses), mas mesmo os mortos estão sujeitos a esta visão que lhes nega a possibilidade de morrer devido à construção prévia que os despoja da sua humanidade e, portanto, da capacidade de morrer como humanos.

Existem centenas de testemunhos que indicam que os mortos palestinos são enterrados às pressas, sem ritos fúnebres adequados, muitas vezes em valas comuns. Nem mesmo os corpos enterrados foram poupados, pois as forças israelenses destruíram cemitérios, desenterraram sepulturas e até confiscaram corpos. Episódios semelhantes ocorreram em alguns equipamentos hospitalares, onde foram sequestrados corpos de pacientes falecidos.

A necropolítica dita quem vive e quem morre, procurando administrar as populações criando as condições de vida e de morte. Nesse sentido, os mortos também são “administrados” e divididos entre aqueles humanos o suficiente para morrer e aqueles que, como observado, não podem morrer de forma “normal”. A desumanização é tão extrema que “[é] como se a detenção da morte – negar que alguém morra ou fazer com que não morra – se tornasse um ato de desumanização [em si]: os palestinos nem sequer são suficientemente humanos para morrer”.

Evidentemente, a necropolítica baseia-se numa hierarquização da humanidade, característica do colonialismo, que diferencia entre aqueles que são considerados humanos e aqueles que são definidos como não-humanos ou insuficientemente humanos. Neste sentido, todos os genocídios são caracterizados porque os primeiros sinais da sua implementação aparecem na linguagem. As declarações de políticos sionistas no ano passado exemplificam este uso desumanizador do discurso: a categoria de “selvagem” é facilmente substituída por termos igualmente desumanizadores como “subumano”, “baratas”, “manifestação cancerígena”, “parasitas” ou “animais humanos”.

A política da morte, que Achille Mbembe definiu na sua obra, baseia-se na capacidade de decidir quais populações são completamente descartáveis. No caso do sionismo, o seu colonialismo de assentamento baseia-se na combinação de supremacismo branco (entendido como ideologia), fantasia da violência e sistema capitalista.

Esta rede de morte não visa apenas a eliminação física da população designada como descartável, mas também procura criar uma população que vive em constante estado de estresse e enfraquecimento, o que, dentro da fantasia sionista, impediria a sua resistência à opressão. Portanto, a necropolítica abrange também a ocupação mental e psicológica.

Outro aspecto fundamental da necropolítica é o que alguns especialistas chamam de “necroeconomia”. Isto é, a morte e as condições piores que a morte não só não se opõem ao mercado, senão que são complementares. Um exemplo claro desta relação entre a criação de populações destinadas à morte e o capitalismo é o projeto de construção de assentamentos em terras colonizadas pelo sionismo, ou a repetida narrativa de que Israel “fez o deserto florescer” para desenvolver uma indústria agroalimentar destinada à exportação, tudo baseado na ocupação, na eliminação e na opressão dos palestinos.

O complexo de morte que caracteriza a necropolítica se dá através da constante racialização de populações destinadas a viver em condições piores que a morte ou a sofrer uma morte prematura. Ao falar de “raça”, não se refere a fenótipos ou biologia, mas a uma tecnologia de gestão da diferença humana cujo objetivo principal é a produção, reprodução e manutenção da supremacia branca, tanto a nível local como global.

Tudo isto ajuda a compreender que a resistência à opressão colonial sionista não é apenas uma luta para evitar a eliminação física, mas também uma batalha para recuperar a soberania sobre os corpos e a capacidade de reumanização diante da brutalidade sionista, que só oferece a morte.

Politicamente, a resistência à necropolítica sionista implica imaginar novamente um mundo alternativo, no qual aqueles colonizados e brutalizados pela ocupação possam criar formas alternativas de ser, fazer e viver no mundo.

 

¨      Como Israel tenta destruir a rede financeira do Hezbollah

A campanha militar de Israel contra o Hezbollah, grupo libanês apoiado pelo Irã, voltou-se para um novo alvo esta semana: a infraestrutura financeira da milícia.

No domingo (20/10), Israel bombardeou Beirute e outras partes do Líbano que, segundo Tel Aviv, seriam filiais da Associação Al-Qard Al-Hasan (AQAH), banco ligado ao Hezbollah.

No dia seguinte, em uma mensagem em vídeo divulgada na internet, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, fez uma série de alegações sobre o financiamento do Hezbollah e o motivo dos ataques.

Ele acusou o Hezbollah de ter explorado a "profunda crise financeira" do Líbano nos últimos anos em benefício próprio e disse que a rede financeira do grupo é alimentada por duas fontes principais: o Irã e o próprio povo libanês.

Sem apresentar provas, Hagari também alegou que o Hezbollah armazena "centenas de milhões de dólares" em um bunker debaixo de um hospital no centro de Beirute.

·        O que é o Al-Qard Al-Hasan?

Ex-conselheiro sênior da Casa Branca quando o assunto é lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, David Asher participou de campanhas anteriores do governo americano contra o financiamento do Hezbollah. Em conversa com a DW, ele descreve a AQAH como "não um banco no sentido convencional", mas "uma associação de poupança e empréstimo".

A entidade tem um papel fundamental no Líbano para o Hezbollah, segundo Jonathan Lord, diretor do Programa de Segurança do Oriente Médio no think tank Center for a New American Security.

"Eles fornecem serviços financeiros", explica Lord à DW. "Tem sido uma vantagem competitiva estratégica para o Hezbollah no Líbano, porque o setor bancário tradicional, particularmente nos últimos anos, tornou-se muito complicado e desafiador devido à corrupção do Líbano e aos amplos problemas bancários e econômicos."

O AQAH foi criado em 1983 e estima-se que tenha cerca de 30 ramificações. O banco é popular em áreas onde o apoio ao Hezbollah é tradicionalmente mais forte, mas cresceu desde o colapso parcial do sistema bancário libanês tradicional, na esteira da crise financeira que arrasou o país em 2019.

A instituição não é regulada pelo Banco Central libanês, nem é parte do sistema bancário internacional. Maior organização de microcrédito do país, atua com um registro de associação de caridade, fazendo empréstimos sem cobrança de juros, conforme preconiza o islã. Por ser considerado um braço econômico do Hezbollah, está sob sanções americanas desde 2007.

<><> Como o Hezbollah se financia?

Segundo Hagari, do Exército israelense, as duas principais fontes de renda do grupo são o regime do Irã e, no caso do povo libanês, os serviços financeiros e sociais providos pelo banco Al-Qard Al-Hasan.

Mas o ex-conselheiro da Casa Branca David Asher afirma que o banco "é apenas uma parte da equação".

Ele explica que uma parte importante da função do AQAH para o Hezbollah é pagar os "membros da base" da milícia e oferecer vários tipos de serviços sociais e financeiros ao público. Mas destaca que o Hezbollah também usa o sistema bancário libanês convencional e que a riqueza do grupo está distribuída de várias formas.

Asher calcula que o orçamento do grupo gire em torno de 12 bilhões e 15 bilhões de dólares anuais (R$ 68 bilhões e R$ 85 bilhões).

Quanto à alegação de Israel de que grande parte da riqueza do Hezbollah vem do Irã, Jonathan Lord diz que isso é inegável, e que o Hezbollah existe literalmente como uma parte da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã.

"Se você observar a ordem de batalha do Irã, eles contam o Hezbollah como um componente de sua infraestrutura de defesa nacional", sublinha Lord, acrescentando que isso torna altamente crível a alegação de Israel de que o Irã financia diretamente o Líbano com dinheiro que envia à sua embaixada no país.

Segundo Asher, outra grande fonte de riqueza para o Hezbollah vem dos lucros de crimes, como tráfico de drogas e comércio ilegal de diamantes extraídos de áreas de conflito. Ele diz haver ampla evidência de que o Hezbollah arrecada dinheiro através de redes criminosas em todo o mundo e depois lava grande parte dele com negócios supostamente legítimos, muitas vezes na Europa.

Ele estima que o Irã forneça até metade das reservas do Hezbollah, com uma grande parte dos 50% restantes vindo dos lucros de atividades criminosas ao redor do mundo.

<><> Qual é a situação da economia libanesa?

A situação econômica do Líbano tem sido rotineiramente descrita por especialistas como catastrófica desde 2019. As sanções contra o Irã levaram a uma grave crise de liquidez no Líbano naquele ano, agravada pela pandemia de covid-19 e pela explosão no porto de Beirute em 2020.

A moeda e o sistema bancário do país entraram em colapso, assim como grande parte dos seus serviços públicos. O PIB foi quase reduzido pela metade. Cerca de 1 milhão de pessoas foram deslocadas nas últimas semanas devido aos bombardeios, o que representa cerca de 20% da população total do país.

<<> Plano israelense dará certo?

Lord afirma que o objetivo declarado de Israel de atacar a infraestrutura financeira do Hezbollah sugere uma mudança em relação às campanhas anteriores.

No entanto, alerta ele, embora as forças de Tel Aviv estejam causando prejuízo evidente ao grupo, há um risco real de que o conflito se arraste e vire uma espécie de "Vietnã" para Israel.

Asher diz crer que os ataques israelenses desta semana visando o AQAH e a estrutura financeira do Hezbollah tenham eliminado "cerca de 30% a 40% da liquidez disponível" do grupo.

Por outro lado, ele pondera que o Hezbollah ainda tem muita riqueza investida no sistema financeiro libanês convencional e diz que a abordagem atual de Israel provavelmente não afetará as fontes de receita que continuam a chegar do Irã "e de suas várias atividades criminosas ao redor do mundo".

¨      Conflito Israel-Hezbollah aprofunda crise no Líbano

Em sua pequena casa de câmbio em Beirute, Farouk Khoury, de 86 anos, assiste às notícias na televisão, que mostram o agravamento do conflito entre o grupo Hezbollah e Israel . Nenhum cliente vem até loja para trocar dinheiro.

"Hoje eu tenho dinheiro, amanhã, não sei. Talvez eu feche amanhã" diz Kouri à DW, demonstrando uma incerteza cada vez maior sobre seu negócio, que se deteriorou significativamente com a recente escalada do conflito na fronteira entre o Líbano e Israel.

Enquanto ele assiste às imagens de explosões e ataques de mísseis a edifícios, Kouri aponta para o logo de sua empresa onde está gravado o ano de 1975. O mesmo ano do início da guerra civil libanesa.

O mais recente agravamento no conflito entre Israel e o Hezbollah teve início há menos de duas semanas, atingindo o apogeu com as explosões de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah, que mataram mais de 40 pessoas - na maioria combatentes do grupo, mas também, mulheres e crianças.

 Os ataques aéreos desta semana na região de Beqaa, no sul do Líbano, e em alguns subúrbios de Beirute, mataram mais de 500 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do país. 

"Eu abro cinco dias por semana. Antes da escalada [das tensões], turistas da França e de outros países costumavam vir para trocar dinheiro. Agora, ninguém mais vem", lamentou Kouri.

Perla Tatros, de 19 anos, trabalha em um pequeno café em Beirute. Ela não tem visto muitos estrangeiros no local nos últimos tempos. "Mas, não são apenas os estrangeiros, os libaneses também vêm com menos frequência ao café onde trabalho. Isso acontece não somente em razão do conflito, mas também por outros motivos que já existiam antes, como a crise econômica", explicou. 

<><> Crise além da Guerra

As dificuldades enfrentadas pelos estabelecimentos de Kouri e Tatros não ocorrem unicamente por causa dos recentes bombardeios israelenses, mas são parte da deterioração que o Líbano vem enfrentando nos últimos anos.

Sami Nader, economista libanês fundador do Instituto Levant para Assuntos Estratégicos em Beirute, diz que o Líbano de 2024 é bem diferente do de 2006, quando havia acontecido a última guerra aberta entre o Hezbollah e Israel.

Ele disse DW que, naquele ano, ainda fluíam até o país recursos enviados pela diáspora libanesa e advindos de países estrangeiros. Hoje em dia, o Líbano sofre com a falta de recursos para reconstruir sua economia.

Nader faz um resumo das múltiplas crises que o país atravessou nos últimos anos. Houve, primeiramente, o colapso financeiro de 2019, que resultou na destruição da poupança e uma desvalorização de 98% na libra libanesa, levando 80% da população para a pobreza. Veio então a pandemia de covid-19, que agravou ainda mais os danos na economia. E, finalmente, a megaexplosão no porto de Beirute, em 2020.

"O Hezbollah domina o país politicamente sem um governo de unidade, aprofundando as divisões sectárias, enquanto os refugiados sírios e o recente deslocamento interno pressionam a economia, a infraestrutura e o tecido social, exacerbando o desespero", acrescentou.

Ele diz que uma guerra total entre o Hezbollah e Israel, em meio a uma perspectiva real de uma invasão por terra, selará o fim definitivo da economia libanesa.

Nijme Nassour, uma farmacêutica de 24 anos, avalia que o comércio mudou bastante desde o agravamento conflito. "Os clientes estocam mais medicamentos do que antes, cinco ou seis caixas, especialmente os medicamentos para doenças crônicas. Felizmente, nosso fornecedoress têm mercadorias em estoque", afirmou à DW.

Ao ser perguntada se fecharia seu estabelecimento no caso de um agravamento no conflito, ela diz que continuará em funcionamento. "As farmácias trabalham mais durante a guerra, infelizmente."

Joseph Gharib, presidente do Sindicato de Importadores de Farmacêuticos e Proprietários de Armazéns, declarou recentemente que os estoques do país são suficientes para durar cinco meses. Contudo, o grande número de feridos e mortos está "pressionando o setor de saúde".

<><> Como o conflito mina a economia

O economista libanês Roy Badaro conta que, antes do agravamento do conflito atual, um pequeno segmento da população estava lentamente se recuperando da crise econômica. Agora, porém, as condições podem piorar significativamente.

"Os subúrbios no sul de Beirute, onde se concentra a maioria dos ataques israelenses, pagará um preço muito alto pela guerra. Mesmo se as pessoas venderem uma imagem vitoriosa, fazendo o 'V' com os dedos, isso não reflete necessariamente seus verdadeiros sentimentos", observou.

As pessoas no sul do Líbano estão em situação ainda pior. Muitas residências foram destruídas e a agricultura na região foi duramente afetada. "A confiança nos que governam o país é abaixo de zero. Então, como é possível ter uma economia, com todos esses fatores?", indagou Badaro.

A agricultura libanesa foi fortemente impactada pelo conflito. Os combates poluem o solo, expulsam os fazendeiros de suas propriedades, interrompem cadeias de abastecimento e danificam a infraestrutura, ameaçando a produção.

Em abril, o primeiro-ministro Najib Mikati relatou que 800 hectares de terra haviam sido destruídos; que 34.000 cabeças de gado morreram e que 75% dos fazendeiros locais perderam seus meios de sustento.

A emissora britânica BBC contabilizou um total de 7.491 ataques dos dois lados da fronteira desde o início do conflito, no ano passado, com Israel realizando cinco vezes mais ataques do que o Hezbollah. Tudo isso causou danos significativos à infraestrutura, incluindo abastecimento de água, eletricidade, telecomunicações e estradas, além de causar mortes entre os funcionários de manutenção e as equipes de emergência.

No sul do Líbano e em Beqaa, quase 500.000 pessoas tiveram de deixar suas residências desde a intensificação da campanha militar de Israel, afirmou o ministro libanês das Relações Exteriores, Abdallah Bou Habib. Ele diz isso se soma que cerca de outras 110.000 pessoas que já estavam desabrigadas. "O aumento dos desabrigados contribui para o desespero e a piora da situação social e econômica do país", diz Nader.

Badaro afirma que a economia libanesa compreende diferentes níveis. Há as pessoas que possuem rendimentos vindos do exterior ou pagamentos indexados no próprio país. Há, então, aqueles que ganham salários fixos e os que não possuem nenhum rendimento, que são os que sofrem enormemente agora.

Entre estes últimos, muitos são empregados do setor turístico, que foi fortemente impactado, diz Badaro. "O setor do turismo está fundamentalmente morto. A maioria das casas noturnas e restaurantes estão à beira da falência, com queda nas atividades de 50%, podendo chegar a 60% ou 70%."

 

Fonte: La Haine - tradução do Cepat/DW Brasil

 

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