sábado, 26 de outubro de 2024

Brasil e Emirados Árabes Unidos debatem acordo de livre comércio com o Mercosul

Representantes do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos reuniram-se nesta quinta-feira (24), em paralelo às atividades principais do G20, para avançar nas negociações sobre uma área de livre comércio entre Mercosul e o país do Oriente Médio.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o secretário-executivo da pasta, Márcio Elias Rosa, recepcionou o ministro do Comércio Exterior dos Emirados Árabes Unidos, Thani bin Ahmed Al, e destacou o momento propício para a realização de novos investimentos na América do Sul, especialmente no Brasil.

O ministério afirmou ainda que as discussões "têm progredido de maneira célere", mas depende de consenso em temas-chave, como regras de origem e barreiras técnicas ao comércio.

"Tais questões serão tratadas na próxima rodada de negociações em Montevidéu, marcada para a próxima semana", informou o MDIC.

A primeira rodada de discussões ocorreu em julho, em Assunção, no Paraguai, quando os países acordaram os termos de referência para a negociação e estabeleceram as bases para as discussões.

O acordo volta a avançar mais de duas décadas depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Liga Árabe e quase duas décadas depois da assinatura do marco de cooperação Mercosul-Conselho de Cooperação do Golfo.

Em 2023, os Emirados Árabes Unidos foram o 28º maior destino de produtos brasileiros e, no primeiro semestre de 2024, avançaram para a 13ª posição. De janeiro a junho, as exportações brasileiras para o país árabe subiram 74% em comparação com o mesmo período de 2023.

Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o país árabe em duas ocasiões: em abril, encontrou-se com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, o sheik Mohamed bin Zayed al-Nahyan, e em dezembro participou da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), em Dubai.

<><> Ministério da Agricultura aproveita expansão do BRICS para abrir mercados, diz secretário Luis Rua

Ministério da Agricultura do Brasil capitaliza com a expansão do BRICS em busca de novos mercados. O secretário de Relações Internacionais da pasta, Luis Rua, se reuniu com ministra russa durante a Cúpula do BRICS em Kazan e revelou os detalhes com exclusividade à Sputnik Brasil.

Nesta quinta-feira (24), o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura do Brasil se reuniu com a ministra da Agricultura da Rússia, Oksana Lut. A reunião se deu às margens da Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, celebrada na cidade russa de Kazan.

Recém-empossado no cargo, Luis Rua possui ampla experiência no setor privado, em particular na área de proteína animal. O novo secretário foi imbuído da missão de abrir novos mercados internacionais para os produtos agrícolas brasileiros.

"O Brasil já abriu, desde o início do governo do presidente Lula, 265 novos mercados. Isso é um recorde", disse Rua à Sputnik Brasil. "Dentre os principais objetivos que o ministro Carlos Favaro me passou, logo que eu cheguei à Secretaria de Comércio e Relações Internacionais, foi justamente manter esse trabalho de abertura e ampliação de mercados."

Segundo ele, a abertura de novos mercados vai "gerando oportunidades para os nossos produtores, gerando renda e também empregos no nosso país". Na Rússia, recentes avanços foram feitos na área de ovos, amêndoas de cacau e erva-mate.

"Temos uma relação muito antiga e cada vez mais profícua com a Federação da Rússia. Durante a nossa reunião com a ministra Oksana Lut, tratamos de temas relevantes como a certificação eletrônica para a proteína animal, troca de habilitações e acordos na parte de pesquisa agrícola", relatou Rua. "Temos uma série de avanços positivos com a Rússia nesses últimos anos."

Apesar das conquistas, o Brasil já não é o principal fornecedor de carnes para a Rússia, posição que ocupou até meados de 2017. A Rússia investiu em programas de substituição de importação em áreas como carne suína, diminuindo, portanto, as suas compras do Brasil. O secretário, no entanto, acredita que ainda há espaço para a carne brasileira na Rússia.

"O Brasil trabalha de maneira complementar à produção russa. No setor de bovinos, por exemplo, incrementamos o nosso volume no ano passado", considerou Rua. "A Rússia tem programa de autossuficiência, isso faz parte e a gente respeita. Mas se em qualquer momento a Rússia precisar de carne de frango, suína, bovina, pescados e ovos, ela sabe que poderá contar com esse parceiro histórico e confiável que é o Brasil."

O comércio bilateral entre Rússia e Brasil cresceu de forma significativa nos últimos anos. As importações brasileiras de fertilizantes russos garantiram novo impulso às relações comerciais entre os países. No entanto, em 2023, o Brasil acumulou déficit de R$ 7,9 bilhões em suas trocas com a Rússia.

"Esse foi justamente um dos temas que eu tratei com a ministra [da Agricultura da Rússia, Oksana Lut], de ampliar as possibilidades de comércio. Nossas pautas de exportação ainda são concentradas em trigo, do lado russo, e na soja, do lado brasileiro. A ideia é que possamos pulverizar esse comércio, criando novas oportunidades tanto para os exportadores russos, quanto brasileiros", disse Rua.

O encontro entre os representantes dos ministérios da Agricultura da Rússia e do Brasil ocorreu às margens da Cúpula do BRICS, da qual o secretário Luis Rua também participou.

Durante seu discurso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, notou o potencial do BRICS ampliado na área de produção de grãos. Nesse contexto, Putin propôs a criação de uma bolsa de cereais do bloco, em substituição à Bolsa de Chicago, que atualmente define os preços internacionais desses produtos essenciais à segurança alimentar global.

"Precisamos avançar na compreensão dessa bolsa de cereais, mas o Brasil a priori não é contra nenhuma medida, pelo contrário. O Brasil apoia medidas que possam facilitar eventualmente o comércio entre os países-membros do BRICS [....], afinal, assim como a Rússia, o Brasil é um grande exportador", explicou Ria. "Então, todas as medidas que visam de alguma maneira facilitar o comércio, o Brasil avaliará com muito carinho."

A expectativa desta quinta-feira (24) é pelo anúncio da nova categoria de países parceiros do BRICS, que ampliará o escopo do bloco ainda mais. Segundo Rua, o Brasil soube explorar bem o potencial da primeira onda de expansão do bloco, que uniu aos membros originais Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul os parceiros Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita.

"O Ministério da Agricultura já tem feito algo muito positivo nessa linha: com as 11 novas adidâncias que abriremos até o final do ano de 2024, o Brasil possuirá adidos agrícolas em todos os dez países-membros do BRICS. E nós sabemos que, aonde tem adido as coisas andam de forma bastante fluida", comemorou Rua.

Segundo ele, a cooperação no BRICS é "uma via de mão dupla, de tanto o Brasil poder exportar mais produtos para esses países, como esses países também aproveitarem as oportunidades do mercado brasileiro".

Nesta quinta-feira (24), os líderes dos países do BRICS estão reunidos com países convidados no formato BRICS+/Outreach. A reunião conta com delegações de 36 países e a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da presidente do Banco do BRICS, Dilma Rousseff.

¨      Argentina e EUA acordam troca de informação privilegiada sobre lítio, mirando China, diz analista

Um acordo assinado pelo governo argentino com os EUA compromete o país sul-americano a fornecer às empresas estadunidenses informações privilegiadas sobre projetos de lítio, afirmou à Sputnik nesta quinta-feira (24) o analista Jorge Elbaum.

Desde que a Argentina decidiu explorar suas vastas reservas de lítio, a China tem sido um dos principais interessados em investir no setor, com projetos de extração e instalação de plantas de carbonato de lítio nas províncias de Jujuy, Salta e Catamarca.

Um levantamento feito em 2024 pela Bolsa de Comércio de Rosário revelou que o gigante asiático tem planos de investimento que somam US$ 3,383 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões), em sete projetos com diferentes graus de avanço.

A presença chinesa, no entanto, pode ser reduzida em função do acordo assinado entre o governo de Javier Milei e o Departamento de Estado dos EUA, que, entre outras coisas, compromete a Argentina a fornecer informações privilegiadas sobre licitações e projetos relacionados à exploração de lítio.

A obrigação argentina está contemplada no "Memorando de Cooperação para a Governança, Investimento e Segurança das Cadeias de Suprimento em Nível Mundial", documento assinado em agosto pela chanceler argentina, Diana Mondino, e um representante do Departamento de Estado, cujos detalhes foram revelados apenas neste mês.

Segundo o meio argentino El Destape, no documento o governo argentino expressa sua "intenção de fornecer informações aos Estados Unidos sobre potenciais licitações e projetos no país assim que essas informações se tornem disponíveis".

O mesmo documento indica a vontade do governo nacional de convencer os governos provinciais — que, de acordo com a Constituição argentina, são os verdadeiros proprietários dos recursos subterrâneos — a seguir o mesmo procedimento, "para garantir que as empresas sediadas nos Estados Unidos e os parceiros da Associação para a Segurança dos Minerais tenham tempo suficiente para participar".

A assinatura do memorando faz parte da adesão da Argentina à Aliança para a Segurança dos Minerais Críticos, um acordo promovido pelos EUA que inclui outros 14 países, entre eles Austrália, Canadá, França, Reino Unido, Índia, Japão e a própria União Europeia.

O acordo abrange a cooperação "em toda a cadeia de valor, desde a mineração, extração e recuperação secundária até o processamento, refino e, finalmente, a reciclagem" tanto do lítio quanto de outros minerais, como cobalto, níquel, manganês, grafite, cobre e terras-raras.

Em entrevista à Sputnik, o doutor em ciências econômicas e analista geopolítico argentino Jorge Elbaum definiu o acordo como um "mecanismo de disciplina" para manter a China sob controle em um campo estratégico:

"Essa aliança ainda tem um duplo objetivo: por um lado, se antecipar à possibilidade de que a China consiga acesso a esses minerais e terras-raras, e, por outro lado, manter a América Latina em seu 'quintal'", acrescentou o analista.

Elbaum destacou que a inclusão da Argentina nesse acordo é importante porque o país sul-americano, junto com o Chile e a Bolívia, faz parte do Triângulo do Lítio, uma região que concentra cerca de 50% das reservas mundiais do mineral e na qual a China, por meio de grandes investimentos, conseguiu se posicionar de forma significativa nos últimos anos.

Para os EUA, enfatizou Elbaum, o lítio "é um material imprescindível" na "guerra dos microprocessadores" e na nanotecnologia que coloca Washington e Pequim em confronto.

Além disso, acessar novas reservas de lítio pode permitir que os EUA avancem na indústria de veículos elétricos, um campo em que tanto o país norte-americano quanto a Europa estão em desvantagem em relação à China.

"Qualquer ação que os EUA possam tomar para limitar a emergência da China como a primeira economia mundial é fundamental para Washington, seja impedindo o acesso chinês a matérias-primas ou cadeias de valor ou cortando os laços de cooperação com diversos países, como é o caso da Argentina", alertou.

O conteúdo do memorando foi revelado poucas semanas após o presidente Milei reconhecer a China como "um parceiro comercial muito interessante", cuja única exigência era "que não os incomodassem". Além disso, o presidente está preparando uma viagem oficial à China para janeiro de 2025.

Elbaum considerou que o conteúdo do documento representa um "golpe" nas relações entre Argentina e China.

Ele afirmou que esse tipo de gesto pode ser negativo para os investimentos chineses na Argentina e repercutirá no vínculo entre os dois países, em um momento em que o governo de Milei ainda depende do swap de moedas facilitado pela China para "alavancar as reservas da Argentina".

"Embora o swap tenha sido renovado, à medida que o governo continue com políticas de associação para privar a China de determinados acessos, isso obviamente limitará os vínculos com Pequim e também com o BRICS em geral", analisou Elbaum.

Visto dessa forma, o especialista apontou que a decisão de assinar esse acordo só pode ser explicada por uma "sujeição ideológica absoluta" a Washington por parte da política externa e comercial argentina.

¨      Após cúpula do BRICS, UE não deve dar lições a outras partes do mundo, diz chefe do Conselho Europeu

O chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu que a União Europeia (UE) pare de dar lições ao mundo e demonstre mais respeito pelos países em desenvolvimento se quer conter a influência da Rússia e da China após a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan.

Michel, chefe do mais alto órgão político da UE, composto pelos líderes dos Estados-membros do bloco, deu uma entrevista ao jornal britânico Financial Times, antes de deixar seu cargo no final de novembro.

O principal foco da entrevista foi a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, realizada de 22 a 24 de outubro com a participação de 41 países de todo o mundo, além da Rússia.

"A participação de nações parceiras da UE em uma cúpula na Rússia, organizada por Vladimir Putin, é uma mensagem para que Bruxelas pare de 'dar lições' a outras partes do mundo", disse Michel.

A UE precisa demonstrar mais respeito pelos países em desenvolvimento com os quais o bloco assinou acordos de cooperação estratégica, comercial e política, acredita o presidente do Conselho Europeu.

Em sua opinião, é necessário agir dessa forma se a UE quiser combater os esforços da Rússia e da China para expandir sua influência na América Latina, na África e no Sudeste Asiático.

Ele ressaltou que os países do bloco europeu não se esforçam para entender por que as visões do mundo não ocidental diferem das deles.

"Quando vocês, europeus, vêm ao meu país [...] deixam lições. Quando os chineses vêm, eles deixam infraestrutura", lembrou Michel as palavras que um líder africano lhes disse.

Michel aconselhou a UE a adotar uma nova abordagem para se relacionar com esses países.

<><> Cúpula em Kazan culminou presidência russa

O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o Brasil.

O ano começou com a entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, foi realizada de 22 a 24 de outubro.

O Brasil foi representado pelo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, pois o chefe de Estado Lula da Silva teve que cancelar sua viagem um dia antes devido a um acidente doméstico.

A cúpula foi o evento final da presidência russa da associação, e foi realizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a segurança.

¨      'Ocidente coletivo tem se autoisolado e se condenado à irrelevância', diz analista

O analista de relações internacionais Gilbert Doctorow, em entrevista à Sputnik, elogiou a postura firme do presidente russo Vladimir Putin na recente cúpula do BRICS, destacando a crescente influência da Rússia no cenário global apesar dos esforços ocidentais para isolar o país.

Doctorow apontou que o sucesso da cúpula, que reuniu países que representam quase a metade da população mundial, demonstra a forte postura global da Rússia e o fracasso das sanções anti-russas.

"Por causa dos convidados importantes, com mais de 25 chefes de governo, tem sido impossível para os principais meios de comunicação do Ocidente ignorar o BRICS e a Rússia", disse Doctorow, observando como isso mina a narrativa do suposto isolamento da Rússia.

O analista alegou ainda como a Rússia aproveitou sua presidência do BRICS para promover objetivos inovadores, como estabelecer bolsas de commodities e um grupo de resseguro, posicionando o país como um líder construtivo.

Doctorow enfatizou que esses avanços enviam uma mensagem clara: "A Rússia não está isolada; pelo contrário, o Ocidente coletivo se autoisolou e se condenou à irrelevância."

"A mensagem do BRICS sobre um mundo multipolar, com respeito pela soberania e culturas únicas de cada nação, certamente terá impacto na percepção pelos europeus da Rússia e de si mesmos", acrescentou Doctorow, enfatizando o significado a longo prazo do BRICS na formação da política global.

O analista também previu que a crise da Ucrânia terminará em 2025, independentemente do resultado das eleições presidenciais dos EUA.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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