Brasil e Emirados Árabes Unidos debatem
acordo de livre comércio com o Mercosul
Representantes do
Brasil e dos Emirados Árabes Unidos reuniram-se nesta quinta-feira (24), em
paralelo às atividades principais do G20, para avançar nas negociações sobre
uma área de livre comércio entre Mercosul e o país do Oriente Médio.
De acordo com o
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o
secretário-executivo da pasta, Márcio Elias Rosa, recepcionou o ministro do
Comércio Exterior dos Emirados Árabes Unidos, Thani bin Ahmed Al, e destacou o
momento propício para a realização de novos investimentos na América do Sul,
especialmente no Brasil.
O ministério afirmou
ainda que as discussões "têm progredido de maneira célere", mas
depende de consenso em temas-chave, como regras de origem e barreiras técnicas
ao comércio.
"Tais questões
serão tratadas na próxima rodada de negociações em Montevidéu, marcada para a
próxima semana", informou o MDIC.
A primeira rodada de
discussões ocorreu em julho, em Assunção, no Paraguai, quando os países
acordaram os termos de referência para a negociação e estabeleceram as bases
para as discussões.
O acordo volta a
avançar mais de duas décadas depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva à Liga Árabe e quase duas décadas depois da assinatura do marco de
cooperação Mercosul-Conselho de Cooperação do Golfo.
Em 2023, os Emirados
Árabes Unidos foram o 28º maior destino de produtos brasileiros e, no primeiro
semestre de 2024, avançaram para a 13ª posição. De janeiro a junho, as
exportações brasileiras para o país árabe subiram 74% em comparação com o mesmo
período de 2023.
Em 2023, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva visitou o país árabe em duas ocasiões: em abril,
encontrou-se com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, o sheik Mohamed bin
Zayed al-Nahyan, e em dezembro participou da Conferência das Nações Unidas sobre
as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), em Dubai.
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Ministério da Agricultura aproveita expansão do BRICS para abrir mercados, diz
secretário Luis Rua
Ministério da
Agricultura do Brasil capitaliza com a expansão do BRICS em busca de novos
mercados. O secretário de Relações Internacionais da pasta, Luis Rua, se reuniu
com ministra russa durante a Cúpula do BRICS em Kazan e revelou os detalhes com
exclusividade à Sputnik Brasil.
Nesta quinta-feira
(24), o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da
Agricultura do Brasil se reuniu com a ministra da Agricultura da Rússia, Oksana
Lut. A reunião se deu às margens da Cúpula de Chefes de Estado do BRICS,
celebrada na cidade russa de Kazan.
Recém-empossado no
cargo, Luis Rua possui ampla experiência no setor privado, em particular na
área de proteína animal. O novo secretário foi imbuído da missão de abrir novos
mercados internacionais para os produtos agrícolas brasileiros.
"O Brasil já
abriu, desde o início do governo do presidente Lula, 265 novos mercados. Isso é
um recorde", disse Rua à Sputnik Brasil. "Dentre os principais
objetivos que o ministro Carlos Favaro me passou, logo que eu cheguei à
Secretaria de Comércio e Relações Internacionais, foi justamente manter esse
trabalho de abertura e ampliação de mercados."
Segundo ele, a
abertura de novos mercados vai "gerando oportunidades para os nossos
produtores, gerando renda e também empregos no nosso país". Na Rússia,
recentes avanços foram feitos na área de ovos, amêndoas de cacau e erva-mate.
"Temos uma
relação muito antiga e cada vez mais profícua com a Federação da Rússia.
Durante a nossa reunião com a ministra Oksana Lut, tratamos de temas relevantes
como a certificação eletrônica para a proteína animal, troca de habilitações e
acordos na parte de pesquisa agrícola", relatou Rua. "Temos uma série
de avanços positivos com a Rússia nesses últimos anos."
Apesar das conquistas,
o Brasil já não é o principal fornecedor de carnes para a Rússia, posição que
ocupou até meados de 2017. A Rússia investiu em programas de substituição de
importação em áreas como carne suína, diminuindo, portanto, as suas compras do
Brasil. O secretário, no entanto, acredita que ainda há espaço para a carne
brasileira na Rússia.
"O Brasil
trabalha de maneira complementar à produção russa. No setor de bovinos, por
exemplo, incrementamos o nosso volume no ano passado", considerou Rua.
"A Rússia tem programa de autossuficiência, isso faz parte e a gente
respeita. Mas se em qualquer momento a Rússia precisar de carne de frango,
suína, bovina, pescados e ovos, ela sabe que poderá contar com esse parceiro
histórico e confiável que é o Brasil."
O comércio bilateral
entre Rússia e Brasil cresceu de forma significativa nos últimos anos. As
importações brasileiras de fertilizantes russos garantiram novo impulso às
relações comerciais entre os países. No entanto, em 2023, o Brasil acumulou
déficit de R$ 7,9 bilhões em suas trocas com a Rússia.
"Esse foi
justamente um dos temas que eu tratei com a ministra [da Agricultura da Rússia,
Oksana Lut], de ampliar as possibilidades de comércio. Nossas pautas de
exportação ainda são concentradas em trigo, do lado russo, e na soja, do lado
brasileiro. A ideia é que possamos pulverizar esse comércio, criando novas
oportunidades tanto para os exportadores russos, quanto brasileiros",
disse Rua.
O encontro entre os
representantes dos ministérios da Agricultura da Rússia e do Brasil ocorreu às
margens da Cúpula do BRICS, da qual o secretário Luis Rua também participou.
Durante seu discurso,
o presidente da Rússia, Vladimir Putin, notou o potencial do BRICS ampliado na
área de produção de grãos. Nesse contexto, Putin propôs a criação de uma bolsa
de cereais do bloco, em substituição à Bolsa de Chicago, que atualmente define
os preços internacionais desses produtos essenciais à segurança alimentar
global.
"Precisamos
avançar na compreensão dessa bolsa de cereais, mas o Brasil a priori não é
contra nenhuma medida, pelo contrário. O Brasil apoia medidas que possam
facilitar eventualmente o comércio entre os países-membros do BRICS [....],
afinal, assim como a Rússia, o Brasil é um grande exportador", explicou
Ria. "Então, todas as medidas que visam de alguma maneira facilitar o
comércio, o Brasil avaliará com muito carinho."
A expectativa desta
quinta-feira (24) é pelo anúncio da nova categoria de países parceiros do
BRICS, que ampliará o escopo do bloco ainda mais. Segundo Rua, o Brasil soube
explorar bem o potencial da primeira onda de expansão do bloco, que uniu aos
membros originais Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul os parceiros
Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita.
"O Ministério da
Agricultura já tem feito algo muito positivo nessa linha: com as 11 novas
adidâncias que abriremos até o final do ano de 2024, o Brasil possuirá adidos
agrícolas em todos os dez países-membros do BRICS. E nós sabemos que, aonde tem
adido as coisas andam de forma bastante fluida", comemorou Rua.
Segundo ele, a
cooperação no BRICS é "uma via de mão dupla, de tanto o Brasil poder
exportar mais produtos para esses países, como esses países também aproveitarem
as oportunidades do mercado brasileiro".
Nesta quinta-feira
(24), os líderes dos países do BRICS estão reunidos com países convidados no
formato BRICS+/Outreach. A reunião conta com delegações de 36 países e a
presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da presidente do Banco
do BRICS, Dilma Rousseff.
¨ Argentina e EUA acordam troca de informação privilegiada sobre
lítio, mirando China, diz analista
Um acordo assinado
pelo governo argentino com os EUA compromete o país sul-americano a fornecer às
empresas estadunidenses informações privilegiadas sobre projetos de lítio,
afirmou à Sputnik nesta quinta-feira (24) o analista Jorge Elbaum.
Desde que a Argentina
decidiu explorar suas vastas reservas de lítio, a China tem sido um dos
principais interessados em investir no setor, com projetos de extração e
instalação de plantas de carbonato de lítio nas províncias de Jujuy, Salta e
Catamarca.
Um levantamento feito
em 2024 pela Bolsa de Comércio de Rosário revelou que o gigante asiático tem
planos de investimento que somam US$ 3,383 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões),
em sete projetos com diferentes graus de avanço.
A presença chinesa, no
entanto, pode ser reduzida em função do acordo assinado entre o governo de
Javier Milei e o Departamento de Estado dos EUA, que, entre outras coisas,
compromete a Argentina a fornecer informações privilegiadas sobre licitações e
projetos relacionados à exploração de lítio.
A obrigação argentina
está contemplada no "Memorando de Cooperação para a Governança,
Investimento e Segurança das Cadeias de Suprimento em Nível Mundial",
documento assinado em agosto pela chanceler argentina, Diana Mondino, e um
representante do Departamento de Estado, cujos detalhes foram revelados apenas
neste mês.
Segundo o meio
argentino El Destape, no documento o governo argentino expressa sua
"intenção de fornecer informações aos Estados Unidos sobre potenciais
licitações e projetos no país assim que essas informações se tornem
disponíveis".
O mesmo documento
indica a vontade do governo nacional de convencer os governos provinciais —
que, de acordo com a Constituição argentina, são os verdadeiros proprietários
dos recursos subterrâneos — a seguir o mesmo procedimento, "para garantir
que as empresas sediadas nos Estados Unidos e os parceiros da Associação para a
Segurança dos Minerais tenham tempo suficiente para participar".
A assinatura do
memorando faz parte da adesão da Argentina à Aliança para a Segurança dos
Minerais Críticos, um acordo promovido pelos EUA que inclui outros 14 países,
entre eles Austrália, Canadá, França, Reino Unido, Índia, Japão e a própria
União Europeia.
O acordo abrange a
cooperação "em toda a cadeia de valor, desde a mineração, extração e
recuperação secundária até o processamento, refino e, finalmente, a
reciclagem" tanto do lítio quanto de outros minerais, como cobalto,
níquel, manganês, grafite, cobre e terras-raras.
Em entrevista à
Sputnik, o doutor em ciências econômicas e analista geopolítico argentino Jorge
Elbaum definiu o acordo como um "mecanismo de disciplina" para manter
a China sob controle em um campo estratégico:
"Essa aliança
ainda tem um duplo objetivo: por um lado, se antecipar à possibilidade de que a
China consiga acesso a esses minerais e terras-raras, e, por outro lado, manter
a América Latina em seu 'quintal'", acrescentou o analista.
Elbaum destacou que a
inclusão da Argentina nesse acordo é importante porque o país sul-americano,
junto com o Chile e a Bolívia, faz parte do Triângulo do Lítio, uma região que
concentra cerca de 50% das reservas mundiais do mineral e na qual a China, por
meio de grandes investimentos, conseguiu se posicionar de forma significativa
nos últimos anos.
Para os EUA, enfatizou
Elbaum, o lítio "é um material imprescindível" na "guerra dos
microprocessadores" e na nanotecnologia que coloca Washington e Pequim em
confronto.
Além disso, acessar
novas reservas de lítio pode permitir que os EUA avancem na indústria de
veículos elétricos, um campo em que tanto o país norte-americano quanto a
Europa estão em desvantagem em relação à China.
"Qualquer ação
que os EUA possam tomar para limitar a emergência da China como a primeira
economia mundial é fundamental para Washington, seja impedindo o acesso chinês
a matérias-primas ou cadeias de valor ou cortando os laços de cooperação com
diversos países, como é o caso da Argentina", alertou.
O conteúdo do
memorando foi revelado poucas semanas após o presidente Milei reconhecer a
China como "um parceiro comercial muito interessante", cuja única
exigência era "que não os incomodassem". Além disso, o presidente
está preparando uma viagem oficial à China para janeiro de 2025.
Elbaum considerou que
o conteúdo do documento representa um "golpe" nas relações entre
Argentina e China.
Ele afirmou que esse
tipo de gesto pode ser negativo para os investimentos chineses na Argentina e
repercutirá no vínculo entre os dois países, em um momento em que o governo de
Milei ainda depende do swap de moedas facilitado pela China para "alavancar
as reservas da Argentina".
"Embora o swap
tenha sido renovado, à medida que o governo continue com políticas de
associação para privar a China de determinados acessos, isso obviamente
limitará os vínculos com Pequim e também com o BRICS em geral", analisou
Elbaum.
Visto dessa forma, o
especialista apontou que a decisão de assinar esse acordo só pode ser explicada
por uma "sujeição ideológica absoluta" a Washington por parte da
política externa e comercial argentina.
¨ Após cúpula do BRICS, UE não deve dar lições a outras partes do
mundo, diz chefe do Conselho Europeu
O chefe do Conselho
Europeu, Charles Michel, pediu que a União Europeia (UE) pare de dar lições ao
mundo e demonstre mais respeito pelos países em desenvolvimento se quer conter
a influência da Rússia e da China após a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan.
Michel, chefe do mais
alto órgão político da UE, composto pelos líderes dos Estados-membros do bloco,
deu uma entrevista ao jornal britânico Financial Times, antes de deixar seu
cargo no final de novembro.
O principal foco da
entrevista foi a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, realizada de 22 a 24 de outubro
com a participação de 41 países de todo o mundo, além da Rússia.
"A participação
de nações parceiras da UE em uma cúpula na Rússia, organizada por Vladimir
Putin, é uma mensagem para que Bruxelas pare de 'dar lições' a outras partes do
mundo", disse Michel.
A UE precisa
demonstrar mais respeito pelos países em desenvolvimento com os quais o bloco
assinou acordos de cooperação estratégica, comercial e política, acredita o
presidente do Conselho Europeu.
Em sua opinião, é
necessário agir dessa forma se a UE quiser combater os esforços da Rússia e da
China para expandir sua influência na América Latina, na África e no Sudeste
Asiático.
Ele ressaltou que os
países do bloco europeu não se esforçam para entender por que as visões do
mundo não ocidental diferem das deles.
"Quando vocês,
europeus, vêm ao meu país [...] deixam lições. Quando os chineses vêm, eles
deixam infraestrutura", lembrou Michel as palavras que um líder africano
lhes disse.
Michel aconselhou a UE
a adotar uma nova abordagem para se relacionar com esses países.
<><> Cúpula
em Kazan culminou presidência russa
O BRICS é uma
associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS
em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o
Brasil.
O ano começou com a
entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e
África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes
Unidos e Arábia Saudita.
A 16ª Cúpula do BRICS
em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações
internacionais, foi realizada de 22 a 24 de outubro.
O Brasil foi
representado pelo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, pois o chefe
de Estado Lula da Silva teve que cancelar sua viagem um dia antes devido a um
acidente doméstico.
A cúpula foi o evento
final da presidência russa da associação, e foi realizada sob o lema de
fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a
segurança.
¨ 'Ocidente coletivo tem se autoisolado e se condenado à
irrelevância', diz analista
O analista de relações
internacionais Gilbert Doctorow, em entrevista à Sputnik, elogiou a postura
firme do presidente russo Vladimir Putin na recente cúpula do BRICS, destacando
a crescente influência da Rússia no cenário global apesar dos esforços ocidentais
para isolar o país.
Doctorow apontou que o
sucesso da cúpula, que reuniu países que representam quase a metade da
população mundial, demonstra a forte postura global da Rússia e o fracasso das
sanções anti-russas.
"Por causa dos
convidados importantes, com mais de 25 chefes de governo, tem sido impossível
para os principais meios de comunicação do Ocidente ignorar o BRICS e a
Rússia", disse Doctorow, observando como isso mina a narrativa do suposto
isolamento da Rússia.
O analista alegou
ainda como a Rússia aproveitou sua presidência do BRICS para promover objetivos
inovadores, como estabelecer bolsas de commodities e um grupo de resseguro,
posicionando o país como um líder construtivo.
Doctorow enfatizou que
esses avanços enviam uma mensagem clara: "A Rússia não está isolada; pelo
contrário, o Ocidente coletivo se autoisolou e se condenou à
irrelevância."
"A mensagem do
BRICS sobre um mundo multipolar, com respeito pela soberania e culturas únicas
de cada nação, certamente terá impacto na percepção pelos europeus da Rússia e
de si mesmos", acrescentou Doctorow, enfatizando o significado a longo prazo
do BRICS na formação da política global.
O analista também
previu que a crise da Ucrânia terminará em 2025, independentemente do resultado
das eleições presidenciais dos EUA.
Fonte: Sputnik Brasil
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