sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Caos na política francesa é reflexo de uma Europa cada vez mais incompetente, notam analistas

Desde 5 de setembro, o Michel Barnier (Republicanos) é o primeiro-ministro da França. A escolha de Macron chocou todos que esperavam um premiê representativo das últimas eleições legislativas. Especialistas, no entanto, destacam que a bagunça da Quinta República Francesa é um sintoma de uma Europa cada vez mais perdida com o seu lugar no mundo.

No início de junho, o presidente da França, Emmanuel Macron, dissolveu a Assembleia Nacional, câmara baixa do parlamento francês, e convocou novas eleições para o final daquele mês.

Para o chefe de Estado, seria sua chance de ir para o embate direto com o Reagrupamento Nacional, partido de direita nacionalista da França liderado por Marine Le Pen, que venceu as eleições francesas para o Parlamento Europeu.

Após dois turnos eleitorais, o partido macronista Ensemble (Juntos) fez uma aliança com a coalização de esquerda Nova Frente Popular, liderada por Jean-Luc Mélenchon. Como resultado, ambos os partidos conseguiram a vitória sobre o Reagrupamento Nacional, mas nenhum obteve maioria decisiva.

Como resultado do pleito, o Legislativo se encontrou em situação de paralisia, já que Gabriel Attal, o antigo primeiro-ministro, não mais representava os deputados eleitos, porém tampouco os legisladores chegavam a um acordo sobre quem deveria liderá-los.

O que essa confusão parlamentar significa para a França e Europa foi tema do episódio desta quarta-feira (23) do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

<><> Caos à francesa

A Quinta República Francesa possui um sistema de governo semipresidencialista no qual cabe ao presidente liderar o país em temas de defesa e política externa, enquanto o primeiro-ministro é encarregado das políticas internas e econômicas. A divisão, contudo, é um costume adquirido pela Quinta República e não está explícita na Constituição.

Também cabe ao presidente nomear o premiê, que deve ser aceito pela Assembleia Nacional. Isso dá ao chefe de Estado meios para direcionar, em parte, a política exercida pelo chefe de governo.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni; o chanceler alemão, Olaf Scholz; o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel; o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Rishi Sunak; o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o presidente dos EUA, Joe Biden; o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida; e o presidente francês, Emmanuel

Foi o que fez Macron ao nomear Michel Barnier, do partido de direita Republicanos, o mesmo do ex-presidente Nicolas Sarkozy, para exercer o cargo frente a um parlamento que se inclina à esquerda.

Em entrevista ao Mundioka, Luiz Domingos, mestre em ciência política e professor da Escola Jurídica do Centro Universitário Internacional Uninter, usou justamente essa falta de maioria clara da Nova Frente Popular na Assembleia Nacional para criar um governo de centro-direita.

"É uma tentativa de sintonia com essa nova tendência que se fortalece na Europa", afirmou Domingos. "E também de apontar para o ajuste fiscal que vem sendo cobrado pela União Europeia."

"Por mais que haja muitas críticas em relação a isso, ele tenta uma inserção nesse ambiente novo das forças políticas na Europa."

De certa maneira, a iniciativa do presidente é incoerente, ressaltou o professor da Uninter. "Ele foi enfático ao dissolver o Parlamento e em falar que a França não ia se dobrar ao extremismo de direita, e agora ele acena para esse grupo."

<><> Como está a França, está a Europa

Bruno Garcia, historiador e pesquisador da Universidade Nova de Lisboa, destacou ao podcast que Macron não tem como intuito montar um governo com um plano para a França, mas sim garantir a governabilidade. "É muito complicado para a situação da França hoje pensar em alguma coisa um pouco mais ambiciosa do que isso."

"O risco de ingovernabilidade é real. E é alguma coisa que não está restrita especificamente à França, mas também a outros países da Europa."

Em meio a essa ameaça à estabilidade francesa, Macron surge como mediador, uma vez que não defende nenhuma pauta própria. "É quase como o menor risco para qualquer lado", define Garcia.

Equilibrar as forças internas, contudo, não é suficiente para que Macron se justifique no poder pelos próximos anos. O impasse no parlamento francês é grande, e nenhuma proposta de interesse nacional consegue andar.

Para suplantar essa perda de popularidade devido à crise interna, Macron tenta angariar apoio doméstico ao se posicionar como "principal liderança da União Europeia [UE] em um momento delicado", explicita o historiador.

Recentemente, Macron apareceu em um programa de debates alemão cujo tema era o lugar da UE em um futuro multilateral. A premissa, que por si só causaria temor nos líderes europeus do passado, foi completamente aceita pelo presidente francês.

"Ora, se existe um futuro multilateral que é aceito pela União Europeia, isso também é uma forma implícita de a União Europeia aceitar certo papel menor na política internacional", decreta Garcia.

Desde a desindustrialização da Europa, nos anos 1970 e 1980, o continente passa por um processo de declínio não só econômico e geopolítico, mas de suas próprias lideranças políticas. "Uma geração muito fraca, muito medíocre", diz o especialista.

Alemanha, Holanda, França, Portugal, Suécia e muitos outros são países que Garcia aponta como possuindo um equilíbrio "muito precário" em seus governos.

"São lideranças pouco convincentes, muito pouco bem informadas e sendo servidas por funcionários de Estado de enorme incompetência."

Nesse cenário, a Europa precisa urgentemente "repensar qual é o lugar dela no que diz respeito à política externa, uma vez que o continente perdeu seu lugar dentro das cadeias logísticas de valor com a ascensão da China como protagonista do desenvolvimento tecnológico; perdeu sua relação com a Rússia, na qual sua capacidade produtiva era dependente da energia barata; e, por fim, perdeu sua capacidade de exercer uma política externa autônoma com a proximidade com os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"O impasse é muito grande", crava Garcia.

¨      Político francês destaca fracasso do Ocidente em isolar Rússia e apela à saída de Paris da OTAN

Florian Philippot, líder do partido francês Patriotas, comentando na rede social X a cúpula do BRICS em Kazan, disse que a tentativa do Ocidente de isolar a Rússia falhou e apelou a Paris a se retirar da OTAN, a fim de recuperar sua independência.

"Trinta e seis líderes mundiais. Uma boa parte da população mundial. Secretário-geral da ONU. Não, com certeza, 'o Ocidente' teve sucesso: a Rússia está completamente isolada!", comentou ironicamente Philippot, acompanhando a postagem com um vídeo dos chefes das delegações do BRICS na cúpula.

Ele lamentou que a França continue sua guerra contra "a maioria da humanidade" quando deveria ter restaurado sua independência da OTAN, da UE e de todas as estruturas "ligadas a Washington". Philippot recomendou que Paris deixe essas associações para tomar o caminho da paz e do diálogo.

<><> Cúpula do BRICS em Kazan

O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro deste ano. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o Brasil.

O ano começou com a entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, começou em 22 de outubro e termina hoje (24).

A cúpula é o evento final da presidência russa na associação, e é realizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a segurança.

¨      Alemanha perdeu chances de influenciar o acordo na Ucrânia, diz especialista

O governo alemão, devido à sua incompetência, perdeu completamente todas as oportunidades de influenciar positivamente a solução do conflito na Ucrânia, disse à Sputnik o ex-copresidente do Gabinete Internacional Permanente para a Paz Reiner Braun.

Segundo ele, as autoridades alemãs fizeram com que "ninguém mais as estivesse levando a sério".

Braun disse que a Alemanha já não faz esforços diplomáticos para alcançar negociações de paz.

"O governo alemão perdeu completamente todas as chances reais de intervir no processo de paz na Ucrânia. A Alemanha desistiu da diplomacia, de influenciar as negociações e, como em outras questões de política internacional, vai acabar estando

Isso se aplica especialmente ao Ministério das Relações Exteriores do país, à sua chefe, Annalena Baerbock, que Braun considera uma belicista, e ao chanceler Olaf Scholz e seu círculo próximo.

"É, de fato, uma prova da total incompetência da Alemanha, porque a política alemã sempre tentou encontrar um equilíbrio e levar em conta diferentes interesses. Esse tempo já passou completamente", acrescentou.

De acordo com o especialista, o movimento pacifista alemão precisa chegar a um consenso suprapolítico sobre a necessidade de iniciativas para resolver o conflito na Ucrânia e impedir a instalação de mísseis norte-americanos na Alemanha.

Anteriormente, a mídia italiana que Scholz estava preparando um plano para uma solução pacífica da crise ucraniana, citando uma fonte parlamentar na Alemanha.

De acordo com as informações, esse plano teria incluído uma possibilidade de concessões territoriais à Rússia.

Em 14 de junho, o presidente russo Vladimir Putin indicou os seguintes pré-requisitos para a solução do conflito ucraniano:

# Retirada completa do Exército ucraniano das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL) e das regiões de Zaporozhie e Kherson;

# Reconhecimento das realidades territoriais consagradas na Constituição russa;

# Status neutro, não alinhado e não nuclear da Ucrânia;

# Desmilitarização e desnazificação da Ucrânia;

# Garantia dos direitos, liberdades e interesses dos cidadãos ucranianos de língua russa;

# Cancelamento de todas as sanções antirrussas.

¨      Político da Austrália Ocidental rebate pressão de premiê: 'Raiva infantil'

Após sua poderosa entrevista com a Sputnik, o empresário e membro do Conselho Municipal de Port Hedland na Austrália, Adrian McRae foi instado a renunciar pelo premiê da Austrália Ocidental, Roger Cook, em uma tentativa desesperada de silenciá-lo.

"No início desta semana, antes que o premiê soubesse que eu estava na Rússia, ele sugeriu que todo o Conselho Municipal de Port Hedland deveria voltar a 'tricotar' quando exigimos que ele nos mostrasse evidências de que as vacinas contra a COVID-19 eram seguras [...]. Então, em vez de agir como um verdadeiro líder, [...] ele me ataca pessoalmente", disse McRae à Sputnik, explicando o "desprezo" de Cook por ele e "todos os conselheiros da Austrália Ocidental".

Na quarta-feira (23), o premiê pediu a renúncia de McRae, rotulando-o de "um constrangimento" após sua entrevista com a Sputnik, informou a ABC. Na entrevista, o empresário criticou a mídia australiana e ocidental pela cobertura tendenciosa da Rússia e desafiou a narrativa que retrata Moscou como inimiga.

McRae alertou que a liberdade de expressão está ameaçada no Ocidente, enquanto os países do BRICS ainda oferecem esperança para sua proteção. Como observador na eleição presidencial russa de 2024, McRae elogiou a transparência do processo, atraindo fortes críticas da mídia australiana.

"O premiê está usando o bicho-papão da Rússia para tentar arruinar meu caráter na esperança de que as pessoas se esqueçam das perguntas importantes que todo o meu conselho fez a ele sobre a contaminação da vacina de mRNA. Ele está desviando o assunto da melhor maneira possível e fazendo papel de bobo no processo", disse McRae à Sputnik, explicando por que Cook se esforçou tanto para difamá-lo.

Apesar das tentativas desesperadas do premiê de suprimir o membro do conselho, McRae continua sendo uma voz forte contra a censura ocidental e a corrupção política, com a Sputnik entregando a verdade sem censura que o Ocidente teme.

"Infelizmente para o premiê [Roger Cook], tenho a verdade e a ciência do meu lado. Ele, por outro lado, não tem nada além de uma mídia prostituída moribunda e um roteirista realmente ruim. Então, não estou muito preocupado com o premiê e seus acessos de raiva infantis", disse McRae confiantemente, sem se deixar intimidar pelas ameaças do primeiro-ministro da Austrália Ocidental.

¨      Moscou entende há muito tempo quais passos Zelensky pode dar em direção à paz, diz Lavrov

A Rússia entende já há muito tempo que tipo de "passos à paz" o ucraniano Vladimir Zelensky pode dar, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, comentando as declarações de Kiev sobre a rejeição mútua de atacar a infraestrutura de energia.

Anteriormente, Zelensky disse em uma entrevista ao jornal Financial Times que a rejeição mútua de atacar instalações da infraestrutura de energia contribuiria para o fim da fase quente do conflito na Ucrânia.

"Quais passos para a paz ele tem dado e quais são os passos reais, isso já está claro para todos", disse Lavrov em comentários para o jornalista Pavel Zarubin.

Zelensky, acrescentou Lavrov, teve uma "fórmula de paz", depois um "plano de vitória", que foi, de fato, rejeitado pelo Ocidente, e agora Kiev apresentou outro plano referente a medidas a serem tomadas pela própria Ucrânia.

Segundo ele, Moscou vê essas declarações e movimentos de Zelensky como "uma história em quadrinhos não muito divertida".

Em outubro, o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, disse que quase 90% de todas instalações térmicas de energia na Ucrânia haviam sido destruídas ou danificadas.

Anteriormente, a Comissão Europeia afirmou que a Ucrânia havia perdido metade de sua infraestrutura de energia e que a população poderia ficar sem aquecimento e água no inverno europeu.

¨      UE é instada a criar órgão de inteligência para combater ameaças externas

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, solicitou a elaboração de um relatório para a construção gradual de um órgão de inteligência completo para combater melhor as ameaças de atores estrangeiros e responder com mais força à espionagem dentro de suas fronteiras.

De acordo com a Bloomberg, o novo serviço de inteligência reuniria sua própria inteligência sobre ameaças originadas além das fronteiras da União Europeia (UE) que visam o bloco como um todo e teria como objetivo evitar sobreposição com agências nacionais, ajudando a combater a espionagem direcionada à UE.

No início deste ano, von der Leyen encarregou o ex-presidente finlandês Sauli Niinisto de entregar recomendações sobre como melhorar a prontidão do bloco para enfrentar uma variedade de possíveis crises, e, segundo fontes familiarizadas com o assunto, os resultados devem ser divulgados já na próxima semana, embora o rascunho ainda está sujeito a alterações.

A UE não tem um serviço de inteligência propriamente dito, e depende exclusivamente de fontes públicas disponíveis e informações recebidas de seus Estados-membros, o que limita sua capacidade de detectar ameaças potenciais e reagir, aponta o rascunho do relatório de acordo com a apuração.

De acordo com as fontes, espera-se que Niinisto proponha expandir o mandato do Centro de Inteligência e Situação da UE para incluir coleta de inteligência, bem como aproveitar delegações diplomáticas da UE para esse propósito.

Além disso, o rascunho do relatório pede que a UE fortaleça suas defesas contra espiões hostis alinhando a estrutura legal para espionagem e atividades clandestinas ilegais em Estados-membros para evitar refúgios seguros.

Em discussões preliminares para preparar o relatório Niinisto, alguns Estados-membros observaram a importância de respeitar as diferentes responsabilidades das autoridades nacionais e das instituições da UE. No entanto, algumas capitais enfatizaram a necessidade de uma resposta no nível da união, dada a natureza transfronteiriça de algumas crises.

Ainda segundo as fontes, o relatório também pede o aprimoramento do uso de ferramentas de financiamento já disponíveis nos níveis nacional e europeu para expandir o escopo de financiamento do Banco Europeu de Investimento para o setor de defesa além do uso duplo.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: