Estresse crônico acelera progressão do
câncer colorretal, sugere estudo
Uma nova pesquisa
mostra que o estresse crônico pode perturbar o equilíbrio da microbiota
intestinal e acelerar a progressão do câncer colorretal. O trabalho foi
apresentado no congresso da United European Gastrology (UEG Week), que
aconteceu neste mês em Viena, na Áustria.
Segundo o estudo, o
estresse crônico aumentou o crescimento do tumor e, além disso, reduziu as
bactérias intestinais benéficas, particularmente o gênero Lactobacillus,
essencial para uma resposta imunológica saudável contra o câncer.
O câncer colorretal,
também conhecido como câncer de intestino, abrange os tumores que se iniciam no
intestino grosso, chamado cólon, e no reto. No Brasil, são estimados 45.630
casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Entre os principais
fatores de risco estão idade (igual ou acima dos 50 anos), sedentarismo,
sobrepeso e obesidade, alimentação pobre em frutas e outros alimentos que
contenham fibras.
De acordo com Qing Li,
autor principal do estudo, os pesquisadores utilizaram um coquetel de
antibióticos (vancomicina, ampicilina, neomicina e metronidazol) para erradicar
a microbiota intestinal, seguido de transplante de microbiota fecal. O objetivo
era investigar a relação entre a microbiota intestinal e o estresse crônico na
progressão do câncer colorretal.
“A progressão do
câncer colorretal relacionada ao estresse pode ser atribuída a uma redução nas
bactérias intestinais benéficas, pois isso enfraquece a resposta imunológica do
corpo contra o câncer. O Lactobacillus, sendo sensível à vancomicina e à ampicilina,
foi esgotado nos grupos de controle e estresse pelo coquetel de antibióticos.
Essa depleção destaca seu papel crucial na manutenção da saúde intestinal e sua
potencial associação com a progressão do CRC sob estresse crônico”, explica Li.
Para compreender como
as bactérias do gênero Lactobacillus influenciam nos níveis de células T CD8+ —
responsáveis por um papel importante na imunidade contra tumores no corpo — e
na progressão do câncer colorretal, os pesquisadores suplementaram camundongos
em estresse crônico com Lactobacillus. Eles observaram uma redução na formação
de tumores.
“Por meio da análise
fecal, descobrimos que o Lactobacillus plantarum (L. plantarum) regulava
especificamente o metabolismo do ácido biliar e aumentava a função das células
T CD8+. Isso indica como o Lactobacillus pode aumentar a imunidade
antitumoral”, explica Li.
As descobertas sugerem
que o potencial de terapias baseadas em Lactobacillus para o tratamento de
pacientes, especialmente os afetados pelo estresse crônico, pode ser promissor.
“Combinar medicamentos
antitumorais tradicionais com suplementação de L. plantarum pode ser uma
estratégia terapêutica viável para pacientes com CRC relacionado ao estresse”,
afirma Li.
Como próximos passos,
os pesquisadores planejam coletar amostras fecais e tumorais de pacientes com
câncer colorretal para analisar mudanças na microbiota intestinal entre
indivíduos com e sem estresse crônico.
“Nosso objetivo é
verificar se L. plantarum é significativamente reduzido em pacientes com CCR
estressados e explorar sua relação com células imunes antitumorais”, relata o
pesquisador.
• 18 dúvidas sobre como prevenir,
identificar e tratar o câncer colorretal
Cada vez mais
frequente em adultos jovens, o câncer colorretal (também chamado de câncer de
intestino) deve acometer quase 46 mil pessoas até 2025 no Brasil, segundo as
estimativas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca). De início
silencioso, como acontece com a maioria dos tumores, a doença costuma se
manifestar com alterações nos hábitos intestinais, presença de sangue nas
fezes, dores abdominais e alterações no formato das fezes, que ficam mais finas
ou alongadas.
Um dos maiores
desafios é diagnosticar a doença cedo, para que o tratamento possa ser
curativo. O Inca preconiza o início do rastreamento em pessoas acima dos 50
anos, por meio do exame de sangue oculto nas fezes e, em caso positivo, deve
ser feita a colonoscopia. Mas, diante do crescente aumento de casos, várias
sociedades médicas – entre elas a Sociedade Brasileira de Coloproctologia –
passaram a recomendar a realização da colonoscopia para todos os adultos com
mais de 45 anos, mesmo sem sintomas.
“Por mais clichê que
pareça, todos os tumores diagnosticados no início podem ser curados. Portanto,
é possível curar o câncer de intestino. Por isso são tão importantes a
prevenção e a realização de colonoscopia em todas as pessoas a partir dos 45
anos, ou antes, em casos de histórico familiar ou sintomas”, afirma o
oncologista clínico Rodrigo Nogueira Fogace, do Hospital Israelita Albert
Einstein de Goiânia.
A seguir, ele responde
às principais dúvidas em relação à doença.
1 – Posso chamar
câncer colorretal de câncer de intestino?
Sim, são praticamente
sinônimos. É importante ressaltar que ele abrange os tumores que se iniciam na
parte do intestino grosso (cólon) e na porção final do intestino (reto).
2 – Quais são os
principais sintomas?
Os principais sinais
são sangramentos ao evacuar, dor abdominal, mudança do hábito intestinal
(intestino que naturalmente é preso começa a ficar solto ou vice-versa), fezes
mais finas que o normal. Anemia sem uma causa aparente também pode estar
relacionada a tumores de intestino, sendo esse um achado muito comum na prática
clínica.
3 – É verdade que ele
não apresenta sintomas na sua fase inicial?
Assim como a maioria
dos tumores, o câncer colorretal não costuma apresentar sintomas na fase
inicial. Por isso, é muito importante o rastreio, para que o diagnóstico seja
feito o mais rápido possível.
4 – Qual a média de
idade de pessoas com a doença?
A maioria dos casos
ocorre após a quinta década de vida, mais frequentemente a partir dos 60 anos.
Entretanto, o número de casos entre jovens está chamando a atenção de entidades
de saúde no mundo todo. Por isso, é possível que ocorram mudanças dessa característica
da faixa etária nas próximas décadas.
5 – É verdade que
pessoas negras têm mais risco?
É muito difícil
correlacionar a etnia com o risco de câncer no Brasil, já que a nossa população
é extremamente miscigenada. Entretanto, há fortes indícios de que
afrodescendentes são mais propensos a desenvolver câncer colorretal e em idade
mais jovem. Estudos nos Estados Unidos demonstram que cerca de um a cada 23
homens ou mulheres afro-americanos vão desenvolver câncer colorretal em algum
momento da vida.
6 – Por que é
importante observar o formato das fezes?
Por mais estranho que
pareça, o aspecto das fezes diz muito a respeito da saúde como um todo. O
formato, o odor e até a coloração podem direções quando se está investigando
alguma doença. Com relação ao câncer colorretal, como o intestino se assemelha
a um “túnel”, caso ele esteja semiobstruído por um tumor, por exemplo, o
formato das fezes pode se tornar mais fino. Essa é uma informação importante,
que sinaliza que é preciso investigar com mais profundidade a saúde intestinal
do paciente.
7 – Qual o papel da
alimentação e do consumo de ultraprocessados no desenvolvimento desse câncer?
A alimentação está
fortemente relacionada com o desenvolvimento de câncer colorretal, já que tudo
o que é consumido passa pelo intestino, podendo inflamá-lo constantemente ou
mantê-lo saudável. O consumo em excesso de produtos ultraprocessados pode aumentar
o risco de desenvolvimento da neoplasia em até 29%, o que é extremamente
elevado, quando se fala de um câncer tão frequente e agressivo.
8 – Existe algum
alimento que previna a doença?
Não há um alimento que
previne o câncer, uma vez que o desenvolvimento da doença depende de múltiplos
fatores. Entretanto, existem alguns alimentos que ajudam a reduzir o risco:
vegetais em geral, frutas e grãos ricos em fibras. É importante conscientizar a
população de que quanto mais fibras ingerirmos, menor é o risco de desenvolver
um câncer colorretal, pois as fibras funcionam como uma “escova” que reduz as
impurezas do intestino e diminui o tempo de exposição da mucosa intestinal aos
fatores cancerígenos dos alimentos.
9 – Quais são os
fatores de risco para a doença? Além de obesidade, constipação é um deles, por
exemplo?
A alimentação tem um
papel importantíssimo no desenvolvimento da doença, portanto, o consumo
excessivo de alimentos ultraprocessados, carne vermelha, fast-foods e álcool
são fatores de risco importantes. Vale citar também a questão familiar, pois
casos na família aumentam o risco de desenvolver a doença. Além disso,
diabetes, idade acima de 50 anos, sedentarismo e doenças inflamatórias
intestinais também estão relacionadas a uma maior probabilidade. Com relação à
constipação crônica, apesar de trazer uma certa preocupação, até hoje não foi
comprovado que aumenta o risco de desenvolver câncer colorretal.
10 – De que forma o
sedentarismo influencia no desenvolvimento desse câncer?
Quando falamos em
fatores de risco relacionados a hábitos de vida, é muito difícil dizer o real
impacto desse fator. Entretanto, sabemos que o sedentarismo altera o
metabolismo do corpo e, muitas vezes, pessoas sedentárias têm outros fatores de
risco não saudáveis, como sobrepeso, obesidade, etilismo, entre outros. A soma
desses fatores traz uma condição “pró-inflamatória” ao corpo, o que aumenta o
risco de desenvolvimento de diversas doenças, entre elas o câncer colorretal.
11 – A colonoscopia é
a única forma de diagnosticar a doença?
A colonoscopia é a
principal forma de diagnosticar a doença, pois é através dela que é retirada
uma amostra da mucosa do intestino, que será enviada para biópsia. Há outras
formas de diagnóstico, como a cirurgia de desobstrução intestinal. Entretanto,
isso ocorre em estágios mais avançados da doença.
12 – A colonoscopia
deve ser feita por todos? A partir de qual idade e com qual frequência?
A Sociedade Brasileira
de Coloproctologia indica que o rastreamento do câncer colorretal, na população
geral, deva iniciar aos 45 anos para todas as pessoas. Nos casos em que há
histórico familiar, recomenda-se realizar o rastreio 10 anos antes da idade que
o parente tinha quando foi diagnosticado.
13 – É verdade que
tomar AAS diariamente ajuda a prevenir a doença?
Estudos recentes
demonstram uma redução do risco de câncer colorretal com o uso de ácido
acetilsalicílico (AAS, ou aspirina), principalmente em pacientes mais jovens.
Houve uma redução aproximada de 33% no aparecimento de adenomas agressivos com
o uso de AAS.
Contudo, mais estudos
são necessários para comprovar esse achado, pois quando se fala de
quimioprevenção (uso de medicamentos para reduzir o risco de uma doença), é
preciso ter certeza se o medicamento não trará outros riscos que sejam até
piores que o próprio câncer. Ainda precisamos de dados robustos apontando se
essa redução realmente se traduz em diminuição de mortes por câncer de
intestino.
14 – A presença de
pólipos no intestino indica câncer colorretal?
Não. Pólipos são
pequenas elevações da mucosa do intestino e são extremamente comuns na
população. Entretanto, alguns desses pólipos podem possuir células que tendem a
gerar um tumor no futuro. Dessa forma, deve-se sempre retirar os pólipos
durante uma colonoscopia, evitando assim que alguns deles possam acarretar um
câncer colorretal.
15 – Lesões ou úlceras
no intestino significam que a pessoa tem câncer?
Não. Úlceras no
intestino podem indicar um processo inflamatório intestinal, assim como ocorrem
aftas na mucosa da boca. Mas todas as lesões ulceradas, principalmente aquelas
com as bordas mais elevadas, devem ser biopsiadas durante uma colonoscopia.
16 – Como é feito o
tratamento?
O tratamento depende
do estágio da doença. Nas fases iniciais (estágios 1 e 2), a doença é tratada,
na maioria dos casos, exclusivamente com cirurgia. Nos casos mais avançados,
que acometem os linfonodos (núcleos de defesa do intestino), o tratamento inclui
também quimioterapia preventiva após a cirurgia.
A doença que tem
metástase (com outros órgãos atingidos, estágio 4), é geralmente tratada com
quimioterapia. Atualmente, há medicamentos biológicos que impedem a
proliferação de vasos sanguíneos, ou que impedem a formação células por
inibirem proteínas específicas do tumor. Dependendo das características
individuais dos tumores, pode ser indicada a imunoterapia, um tratamento
moderno e eficaz, mas que não funciona para todos os casos.
17 – Todas as pessoas
com câncer colorretal terão que usar bolsa de colostomia?
Não. Geralmente, a
colostomia é necessária quando o paciente necessita de uma cirurgia de
emergência, como em um caso de obstrução aguda do intestino, ou até mesmo uma
perfuração intestinal. Outras indicações são quando o tumor ocorre no reto
baixo, que é a última porção do intestino e o paciente perde o controle das
funções do esfíncter.
Vale salientar que a
colostomia é necessária para a minoria dos pacientes com câncer colorretal, e a
realização de colonoscopia preventiva reduz muito o risco de ocorrer um tumor
avançado, que necessite de uma colostomia no futuro.
18 – A doença tem
cura?
Sim. Quanto mais
precoce for realizado o diagnóstico, maior a chance de cura. Existem alguns
casos em que é possível curar pacientes metastáticos para o fígado e para os
pulmões, mas as chances são reduzidas quanto mais avançada é a doença.
Fonte: CNN Brasil
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