Teste simples de equilíbrio pode indicar
como está seu envelhecimento; entenda
O tempo que uma pessoa
consegue ficar em pé, em uma só perna, pode ser uma forma de medir o impacto do
envelhecimento, segundo uma nova pesquisa realizada pela Mayo Clinic,
organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos dos Estados Unidos.
O estudo foi publicado nesta quarta-feira (23) na revista científica PLOS One.
O bom equilíbrio, a
força muscular e a marcha eficiente são fatores que contribuem para um
envelhecimento saudável, com maior independência e mais bem-estar na terceira
idade. Observar mudanças nesses aspectos pode ajudar clínicos a desenvolverem
programas que garantem mais longevidade e saúde.
De acordo com o
estudo, ficar mais tempo em pé em uma só perna pode ser mais eficaz para medir
o envelhecimento do que mudanças na força ou na marcha da perna. Além disso, é
uma estratégia que pode treinar o equilíbrio sem a necessidade de equipamentos
especiais.
Para chegar à
conclusão, o estudo contou com 40 participantes saudáveis e independentes, com
mais de 50 anos, que realizaram testes de caminhada, equilíbrio, força de
preensão e força do joelho. Metade deles tinha menos de 65 anos; a outra metade
tinha 65 anos ou mais.
Nos testes de
equilíbrio, os participantes ficaram em plataformas de força em diferentes
situações: em ambas as pernas com os olhos abertos, em ambas as pernas com os
olhos fechados, na perna não dominante com os olhos abertos e na perna
dominante com os olhos abertos. Nos testes em uma perna, os participantes
podiam posicionar a outra perna onde quisessem. Os testes duraram 30 segundos
cada.
Ficar em uma perna —
especificamente na perna não dominante — mostrou o maior índice de declínio com
a idade.
“O equilíbrio é uma
medida de saúde porque reflete o quão bem os sistemas do corpo estão
trabalhando em conjunto”, explica Kenton Kaufman, autor sênior do estudo e
diretor do Laboratório de Análise de Movimento da Mayo Clinic, à CNN. “Um bom
equilíbrio permite realizar as atividades diárias sem medo de quedas. Isso leva
a uma melhora na qualidade de vida e ao envelhecimento saudável”, acrescenta.
• Falta de equilíbrio é principal causa de
lesões e quedas em idosos
Quedas acidentais são
a principal causa de lesões entre adultos com 65 anos ou mais. A maioria das
quedas em adultos mais velhos resulta de uma perda de equilíbrio.
Segundo Kaufman, a
perda de equilíbrio é comum em idosos por diferentes fatores. Alguns exemplos
podem incluir efeitos colaterais de medicamentos, problemas cardíacos ou
condições cerebrais e do sistema nervoso, como acidente vascular cerebral
(AVC), demência, doença de Parkinson e ataxia.
Exercícios como ficar
em uma só perna, proposto pelo estudo, pode ajudar o corpo a coordenar as
respostas musculares e vestibulares para manter a estabilidade, segundo o
especialista. “Se você consegue manter essa posição por 30 segundos, é um bom
sinal de um equilíbrio forte”, afirma.
Segundo o pesquisador,
dos três fatores analisados pelo estudo (equilíbrio, marcha e força), o
equilíbrio em uma só perna apresentou o declínio mais rápido.
“O declínio na duração
em que uma pessoa pode ficar em uma perna não foi estudado adequadamente no
contexto do envelhecimento. De acordo com o conhecimento dos pesquisadores,
essa comparação é a primeira desse tipo dentro da população idosa”, afirma.
Na visão de Kaufman,
essa medida é importante porque não requer expertise especializada, ferramentas
ou técnicas avançadas. As pessoas podem testar-se ficando em uma perna – não é
necessário equipamento especial, apenas um cronômetro (lembre-se, se você consegue
ficar em uma perna por 30 segundos, você está indo bem).
O estudo sugere que o
tempo em que você consegue ficar em uma perna é uma medida confiável de
envelhecimento tanto para homens quanto para mulheres idosos.
• O que os outros testes do estudo
mostraram?
Para avaliar outros
fatores de envelhecimento, como a marcha e a força, os pesquisadores realizaram
mais dois testes. No primeiro, eles usaram um dispositivo personalizado para
medir a força de preensão dos participantes. No segundo, a força do joelho foi
testada enquanto os participantes estavam em posição sentada. Eles foram
instruídos a estender o joelho com a maior força possível.
Tanto os testes de
força de preensão quanto os de força do joelho foram realizados no lado
dominante. A força de preensão e a força do joelho apresentaram declínios
significativos por década, mas não tanto quanto o equilíbrio, segundo os
pesquisadores.
A força de preensão
diminuiu a uma taxa mais rápida que a do joelho, sendo um melhor indicador de
envelhecimento do que outras medidas de força. No teste de marcha, os
participantes caminharam para frente e para trás em uma passarela plana de 8
metros no seu próprio ritmo e velocidade.
Já os parâmetros da
marcha não mudaram com a idade. “Isso não foi um resultado surpreendente, já
que os participantes caminharam no seu ritmo normal, e não na velocidade
máxima”, diz Kaufman.
Não houve declínios
relacionados à idade nos testes de força específicos por sexo. Isso indica que
a força de preensão e a força do joelho dos participantes diminuíram a uma taxa
semelhante. Os pesquisadores não identificaram diferenças entre os sexos nos
testes de marcha e equilíbrio, o que sugere que homens e mulheres foram
igualmente afetados pela idade.
• Exercício físico sozinho reverte fatores
de envelhecimento precoce na obesidade
A obesidade promove
uma inflamação crônica e de baixo grau que deixa o sistema imune em constante
alerta, gerando uma sucessão de falsos alarmes para o sistema de defesa do
organismo e, por consequência, o envelhecimento prematuro das células imunes.
Esse fenômeno, denominado por cientistas como imunossenescência precoce,
contribui para uma maior incidência de doenças infecciosas ou mesmo
crônico-degenerativas, como diabetes, aterosclerose e outras condições
cardiovasculares.
Além dos níveis
constantes de inflamação, a obesidade também pode desencadear alterações
metabólicas, sobretudo associadas a moléculas de gordura (lipídios), outro
mecanismo comprovadamente envolvido no desenvolvimento do diabetes tipo 2 e de
outras doenças crônicas não transmissíveis.
Estudos realizados por
pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com apoio da
FAPESP, mostraram que um protocolo de treinamento físico de 16 semanas –
combinando musculação e exercício aeróbico – foi capaz de reverter os dois
problemas associados à obesidade.
“Além de reduzir a
circunferência abdominal, aumentar a força e a massa magra, o protocolo de
treinamento sozinho, ou seja, sem o controle da alimentação ou de dietas, atuou
na reversão do processo de envelhecimento precoce das células imunes e das
alterações no metabolismo lipídico, servindo, portanto, como um tratamento não
farmacológico para dois fatores extremamente associados ao desenvolvimento de
doenças crônicas. São resultados importantes e que mostram, mais uma vez, o
papel-chave do músculo como órgão endócrino”, afirma Claudia Cavaglieri,
coordenadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício (Fisex) da Faculdade de
Educação Física da Unicamp.
Como explica a
pesquisadora, a reversão só é possível porque o tecido muscular em atividade
libera substâncias, conhecidas como miocinas ou exerquinas, que atuam em
diferentes mecanismos por todo o organismo. “O músculo tem um papel endócrino
importante. O treinamento combinado muda a composição corporal, gera perda de
gordura visceral e ganho de massa magra, melhorando o metabolismo lipídico e a
função mitocondrial [das organelas que produzem energia para as células], bem
como reduzindo a inflamação e, consequentemente, promovendo melhora nos
marcadores de saúde”, comenta.
Nos casos de
obesidade, a mitocôndria não consegue transformar gordura em moléculas de
energia (reação química conhecida como fosforilar). “Com o treinamento, a
mitocôndria passa a fosforilar gordura. Então, o indivíduo acaba gastando
gordura para gerar energia e isso melhora a condição metabólica lipídica do
organismo como um todo e contribui para a perda de peso”, explica.
Nos estudos do grupo,
os pesquisadores avaliaram também marcadores associados à imunossenescência e
ao metabolismo lipídico em uma mesma coorte, formada por 167 indivíduos
divididos em três grupos: obesos, obesos com diabetes tipo 2 e indivíduos
saudáveis, sem comorbidades. Os participantes dos estudos tinham entre 40 e 60
anos.
Em um trabalho
conduzido durante o pós-doutorado de Diego Trevisan Brunelli, os pesquisadores
verificaram, nas células do sistema imunológico (linfócitos T), a expressão de
marcadores de expressão gênica de inflamação que estão envolvidos no processo
de envelhecimento precoce, bem como marcadores de envelhecimento celular.
Em outro estudo fruto
do projeto de doutorado de Renata Garbellini Duft, sob supervisãode Julian
Griffin, do Imperial College of London, no Reino Unido, foram utilizadas
técnicas de lipidômica, que identificam e quantificam o conjunto de lipídios
(moléculas de gordura) no sangue e em amostras do tecido adiposo dos
voluntários (lipidoma).
Vale destacar que os
lipídios desempenham papéis vitais nas membranas celulares, atuando como
reservas de energia, fornecendo suporte estrutural, como precursores de
hormônios, transportando vitaminas e permitindo a sinalização celular. No
entanto, na obesidade ocorre a desregulação do metabolismo lipídico, levando ao
acúmulo de gordura corporal e à deposição anormal de lipídios no fígado.
“Ao medirmos os
marcadores de expressão gênica relacionados à imunossenescência, verificamos
que, embora houvesse muita semelhança entre os índices apresentados pelos
participantes obesos e obesos com diabetes, o resultado era completamente
diferente dos indivíduos magros e sem comorbidades. Essa semelhança entre
obesos e obesos diabéticos se deu, provavelmente, pelo fato de todos os
participantes diabéticos estarem sob tratamento medicamentoso”, explica
Cavaglieri.
Os marcadores de
imunossenescência, no entanto, voltaram parcialmente aos níveis ideais após as
16 semanas de treinamento. No período, os participantes realizaram três sessões
semanais de uma hora de treinamento, que envolvia meia hora de musculação e meia
hora de corrida, caminhada ou pedalada em bicicleta ergométrica.
A pesquisadora
ressalta que a relação entre a obesidade e os dois fatores estudados forma um
círculo vicioso. “Quanto mais obesidade, maior liberação de gorduras no sangue,
maior a inflamação e, consequentemente, maior é o risco do desenvolvimento de
doenças crônicas não transmissíveis”, afirma a pesquisadora à Agência FAPESP.
“Mas o exercício
físico consegue reverter essa situação. Trata-se de um protocolo simples, que
tem sido testado em diferentes populações e é recomendado pelas principais
sociedades médicas. Mostramos, no entanto, que, além de ganhos estéticos, o
treinamento reverte dois processos de grande relevância para a saúde e que
estão relacionados com a obesidade”, sublinha.
Fonte: CNN Brasil
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