sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Teste simples de equilíbrio pode indicar como está seu envelhecimento; entenda

O tempo que uma pessoa consegue ficar em pé, em uma só perna, pode ser uma forma de medir o impacto do envelhecimento, segundo uma nova pesquisa realizada pela Mayo Clinic, organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos dos Estados Unidos. O estudo foi publicado nesta quarta-feira (23) na revista científica PLOS One.

O bom equilíbrio, a força muscular e a marcha eficiente são fatores que contribuem para um envelhecimento saudável, com maior independência e mais bem-estar na terceira idade. Observar mudanças nesses aspectos pode ajudar clínicos a desenvolverem programas que garantem mais longevidade e saúde.

De acordo com o estudo, ficar mais tempo em pé em uma só perna pode ser mais eficaz para medir o envelhecimento do que mudanças na força ou na marcha da perna. Além disso, é uma estratégia que pode treinar o equilíbrio sem a necessidade de equipamentos especiais.

Para chegar à conclusão, o estudo contou com 40 participantes saudáveis e independentes, com mais de 50 anos, que realizaram testes de caminhada, equilíbrio, força de preensão e força do joelho. Metade deles tinha menos de 65 anos; a outra metade tinha 65 anos ou mais.

Nos testes de equilíbrio, os participantes ficaram em plataformas de força em diferentes situações: em ambas as pernas com os olhos abertos, em ambas as pernas com os olhos fechados, na perna não dominante com os olhos abertos e na perna dominante com os olhos abertos. Nos testes em uma perna, os participantes podiam posicionar a outra perna onde quisessem. Os testes duraram 30 segundos cada.

Ficar em uma perna — especificamente na perna não dominante — mostrou o maior índice de declínio com a idade.

“O equilíbrio é uma medida de saúde porque reflete o quão bem os sistemas do corpo estão trabalhando em conjunto”, explica Kenton Kaufman, autor sênior do estudo e diretor do Laboratório de Análise de Movimento da Mayo Clinic, à CNN. “Um bom equilíbrio permite realizar as atividades diárias sem medo de quedas. Isso leva a uma melhora na qualidade de vida e ao envelhecimento saudável”, acrescenta.

•        Falta de equilíbrio é principal causa de lesões e quedas em idosos

Quedas acidentais são a principal causa de lesões entre adultos com 65 anos ou mais. A maioria das quedas em adultos mais velhos resulta de uma perda de equilíbrio.

Segundo Kaufman, a perda de equilíbrio é comum em idosos por diferentes fatores. Alguns exemplos podem incluir efeitos colaterais de medicamentos, problemas cardíacos ou condições cerebrais e do sistema nervoso, como acidente vascular cerebral (AVC), demência, doença de Parkinson e ataxia.

Exercícios como ficar em uma só perna, proposto pelo estudo, pode ajudar o corpo a coordenar as respostas musculares e vestibulares para manter a estabilidade, segundo o especialista. “Se você consegue manter essa posição por 30 segundos, é um bom sinal de um equilíbrio forte”, afirma.

Segundo o pesquisador, dos três fatores analisados pelo estudo (equilíbrio, marcha e força), o equilíbrio em uma só perna apresentou o declínio mais rápido.

“O declínio na duração em que uma pessoa pode ficar em uma perna não foi estudado adequadamente no contexto do envelhecimento. De acordo com o conhecimento dos pesquisadores, essa comparação é a primeira desse tipo dentro da população idosa”, afirma.

Na visão de Kaufman, essa medida é importante porque não requer expertise especializada, ferramentas ou técnicas avançadas. As pessoas podem testar-se ficando em uma perna – não é necessário equipamento especial, apenas um cronômetro (lembre-se, se você consegue ficar em uma perna por 30 segundos, você está indo bem).

O estudo sugere que o tempo em que você consegue ficar em uma perna é uma medida confiável de envelhecimento tanto para homens quanto para mulheres idosos.

•        O que os outros testes do estudo mostraram?

Para avaliar outros fatores de envelhecimento, como a marcha e a força, os pesquisadores realizaram mais dois testes. No primeiro, eles usaram um dispositivo personalizado para medir a força de preensão dos participantes. No segundo, a força do joelho foi testada enquanto os participantes estavam em posição sentada. Eles foram instruídos a estender o joelho com a maior força possível.

Tanto os testes de força de preensão quanto os de força do joelho foram realizados no lado dominante. A força de preensão e a força do joelho apresentaram declínios significativos por década, mas não tanto quanto o equilíbrio, segundo os pesquisadores.

A força de preensão diminuiu a uma taxa mais rápida que a do joelho, sendo um melhor indicador de envelhecimento do que outras medidas de força. No teste de marcha, os participantes caminharam para frente e para trás em uma passarela plana de 8 metros no seu próprio ritmo e velocidade.

Já os parâmetros da marcha não mudaram com a idade. “Isso não foi um resultado surpreendente, já que os participantes caminharam no seu ritmo normal, e não na velocidade máxima”, diz Kaufman.

Não houve declínios relacionados à idade nos testes de força específicos por sexo. Isso indica que a força de preensão e a força do joelho dos participantes diminuíram a uma taxa semelhante. Os pesquisadores não identificaram diferenças entre os sexos nos testes de marcha e equilíbrio, o que sugere que homens e mulheres foram igualmente afetados pela idade.

 

•        Exercício físico sozinho reverte fatores de envelhecimento precoce na obesidade

A obesidade promove uma inflamação crônica e de baixo grau que deixa o sistema imune em constante alerta, gerando uma sucessão de falsos alarmes para o sistema de defesa do organismo e, por consequência, o envelhecimento prematuro das células imunes. Esse fenômeno, denominado por cientistas como imunossenescência precoce, contribui para uma maior incidência de doenças infecciosas ou mesmo crônico-degenerativas, como diabetes, aterosclerose e outras condições cardiovasculares.

Além dos níveis constantes de inflamação, a obesidade também pode desencadear alterações metabólicas, sobretudo associadas a moléculas de gordura (lipídios), outro mecanismo comprovadamente envolvido no desenvolvimento do diabetes tipo 2 e de outras doenças crônicas não transmissíveis.

Estudos realizados por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com apoio da FAPESP, mostraram que um protocolo de treinamento físico de 16 semanas – combinando musculação e exercício aeróbico – foi capaz de reverter os dois problemas associados à obesidade.

“Além de reduzir a circunferência abdominal, aumentar a força e a massa magra, o protocolo de treinamento sozinho, ou seja, sem o controle da alimentação ou de dietas, atuou na reversão do processo de envelhecimento precoce das células imunes e das alterações no metabolismo lipídico, servindo, portanto, como um tratamento não farmacológico para dois fatores extremamente associados ao desenvolvimento de doenças crônicas. São resultados importantes e que mostram, mais uma vez, o papel-chave do músculo como órgão endócrino”, afirma Claudia Cavaglieri, coordenadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício (Fisex) da Faculdade de Educação Física da Unicamp.

Como explica a pesquisadora, a reversão só é possível porque o tecido muscular em atividade libera substâncias, conhecidas como miocinas ou exerquinas, que atuam em diferentes mecanismos por todo o organismo. “O músculo tem um papel endócrino importante. O treinamento combinado muda a composição corporal, gera perda de gordura visceral e ganho de massa magra, melhorando o metabolismo lipídico e a função mitocondrial [das organelas que produzem energia para as células], bem como reduzindo a inflamação e, consequentemente, promovendo melhora nos marcadores de saúde”, comenta.

Nos casos de obesidade, a mitocôndria não consegue transformar gordura em moléculas de energia (reação química conhecida como fosforilar). “Com o treinamento, a mitocôndria passa a fosforilar gordura. Então, o indivíduo acaba gastando gordura para gerar energia e isso melhora a condição metabólica lipídica do organismo como um todo e contribui para a perda de peso”, explica.

Nos estudos do grupo, os pesquisadores avaliaram também marcadores associados à imunossenescência e ao metabolismo lipídico em uma mesma coorte, formada por 167 indivíduos divididos em três grupos: obesos, obesos com diabetes tipo 2 e indivíduos saudáveis, sem comorbidades. Os participantes dos estudos tinham entre 40 e 60 anos.

Em um trabalho conduzido durante o pós-doutorado de Diego Trevisan Brunelli, os pesquisadores verificaram, nas células do sistema imunológico (linfócitos T), a expressão de marcadores de expressão gênica de inflamação que estão envolvidos no processo de envelhecimento precoce, bem como marcadores de envelhecimento celular.

Em outro estudo fruto do projeto de doutorado de Renata Garbellini Duft, sob supervisãode Julian Griffin, do Imperial College of London, no Reino Unido, foram utilizadas técnicas de lipidômica, que identificam e quantificam o conjunto de lipídios (moléculas de gordura) no sangue e em amostras do tecido adiposo dos voluntários (lipidoma).

Vale destacar que os lipídios desempenham papéis vitais nas membranas celulares, atuando como reservas de energia, fornecendo suporte estrutural, como precursores de hormônios, transportando vitaminas e permitindo a sinalização celular. No entanto, na obesidade ocorre a desregulação do metabolismo lipídico, levando ao acúmulo de gordura corporal e à deposição anormal de lipídios no fígado.

“Ao medirmos os marcadores de expressão gênica relacionados à imunossenescência, verificamos que, embora houvesse muita semelhança entre os índices apresentados pelos participantes obesos e obesos com diabetes, o resultado era completamente diferente dos indivíduos magros e sem comorbidades. Essa semelhança entre obesos e obesos diabéticos se deu, provavelmente, pelo fato de todos os participantes diabéticos estarem sob tratamento medicamentoso”, explica Cavaglieri.

Os marcadores de imunossenescência, no entanto, voltaram parcialmente aos níveis ideais após as 16 semanas de treinamento. No período, os participantes realizaram três sessões semanais de uma hora de treinamento, que envolvia meia hora de musculação e meia hora de corrida, caminhada ou pedalada em bicicleta ergométrica.

A pesquisadora ressalta que a relação entre a obesidade e os dois fatores estudados forma um círculo vicioso. “Quanto mais obesidade, maior liberação de gorduras no sangue, maior a inflamação e, consequentemente, maior é o risco do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis”, afirma a pesquisadora à Agência FAPESP.

“Mas o exercício físico consegue reverter essa situação. Trata-se de um protocolo simples, que tem sido testado em diferentes populações e é recomendado pelas principais sociedades médicas. Mostramos, no entanto, que, além de ganhos estéticos, o treinamento reverte dois processos de grande relevância para a saúde e que estão relacionados com a obesidade”, sublinha.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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