sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Servidor denuncia rachadinha de Nunes e relata esquema com ex-cunhado de Marcola

Um servidor municipal de carreira de São Paulo denunciou à Fórum que Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito paulistano e candidato à reeleição, supostamente praticaria o crime de peculato, conhecido como “rachadinha”, mesmo antes de assumir o comando da cidade. Ele citou detalhes ainda de como funcionaria um suposto esquema irregular em contratos emergenciais milionários na Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), cujo chefe de gabinete é Eduardo Olivatto, alvo de matérias jornalísticas de vários veículos de imprensa por ser ex-cunhado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, a maior organização criminosa do Brasil e que opera em pelo menos 24 países.

A denúncia, segundo o próprio autor, será apresentada à Polícia Federal nos próximos dias, incluindo todo o arcabouço probatório que ele afirma possuir.

Na entrevista exclusiva à Fórum, o funcionário público, que apresentou seu vínculo com a administração municipal, mas pediu para não ter a identidade revelada, afirmou que Nunes sempre teve muita influência na SIURB, desde o período em que o prefeito Bruno Covas ainda era vivo, e de quem o atual gestor era vice. Nas palavras do denunciante, o candidato do MDB que busca um novo mandato no Palácio do Anhangabaú “oferecia cargos” para algumas pessoas para que “devolvessem parte dos vencimentos” dos supostos indicados, ou então nomeava colaboradores que nunca exerceram função alguma na prefeitura, a quem chamou de “fantasmas”.

“Quando foi assumido pela turma do Ricardo [Nunes], a SIURB fez parte da negociação do apoio do MDB à Prefeitura de São Paulo, na eleição do Bruno [Covas], [a pasta] é a única secretaria que o prefeito tem domínio total, inclusive ele já oferecia cargos em troca de rachadinha para pessoas que ele precisava colocar na campanha, ou funcionário fantasma, [para que] devolvesse parte do salário”, acusa o servidor.

Na denúncia, o funcionário da Prefeitura de São Paulo deu pormenores de como operaria um suposto esquema criminoso em contratos emergenciais celebrados entre a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) e empresas prestadoras de serviço. Ele começou falando sobre a entrada de Eduardo Olivatto para o cargo de chefe de gabinete da referida secretaria e de como ele teria colocado gente de seu convívio, com a anuência de Nunes, para tocar os trabalhos na pasta.

“Foi após a chegada do Eduardo [Olivatto] que a gente percebeu um aumento significativo e muito grande nesses contratos emergenciais. O departamento se chamava Licitações e Contratos, tinha a parte de cadastro, licitação e contrato. Tudo no mesmo departamento. Eles tiraram, separaram o Departamento de Licitações e Contratos e trancaram a Licitações, montaram um time onde quem é o chefe de tudo isso é o chefe de gabinete, e ele trouxe pessoas da confiança dele e também usou pessoas que já estavam lá”, relata.

“O Eduardo [Olivatto] é o chefe de gabinete, né. É ele que contrata, ele que demite, e coordena o esquema todo. Bom, o Eduardo tem uma pessoa de confiança dele, que é o braço direito dele, que é uma mulher que se chama Mônica Pessoa. Ela tem uma função administrativa, né, dentro da secretaria, e uma função de operar também o esquema deles. A Mônica ajuda nessas questões junto às construtoras e todas as empresas que estão lá dentro. Ela cuida da parte administrativa dentro da secretaria com a ajuda da Milena [Borges Moreira Gobatti, do Departamento de Administração e Finanças], e aí colocaram a Adriana [Siano Boggio Biazzi], a atual secretária-adjunta, que já é uma engenheira de carreira, mas ela veio da SP Obras, quando o o outro secretário-adjunto que não compactuava com essas ações saiu, e aí colocaram na SP Obras um rapaz do MDB, chamado Bruno Gabriel [Mesquita]”, explica o entrevistado.

O denunciante, conforme o relato à reportagem, diz que houve até mudanças na estrutura de funcionários da SIURB para que o “esquema” apontado por ele seguisse funcionando sem problemas.

“E aí tinha a chefe do Departamento de Licitações num primeiro momento que se chama Lilian, ela já estava lá quando eles chegaram e eles apenas mantiveram. Fizeram um acordo com ela na época, e ela estava operando junto com eles. Mas como ela não demonstrou jeito para a coisa, eles trocaram e trouxeram essa pessoa de nome Sidneia [Maria Correia Leite], da Zona Sul”, aponta o servidor.

O funcionário municipal falou ainda a respeito do que, segundo ele, seria de conhecimento público dentro da Prefeitura de São Paulo sobre a relação de Nunes e Olivatto, que não seria nova, conforme suas palavras.

“O Eduardo é da época, e conheceu o Ricardo Nunes na subprefeitura, não sei, de alguma subprefeitura da Zona Sul, onde ele trabalhava. Então, ele já conhecia o Ricardo, porque o Ricardo opera bastante na Zona Sul e há muitos anos, inclusive em relação às creches, é muito sabido por todos isso, né... O Eduardo foi colocado, nomeado por ele para estar lá fazendo esse trabalho, porque o secretário é mais a parte técnica. Eduardo, ele se coloca como quem faz a parte administrativa, mas na verdade ele está fazendo negócios ali dentro”, diz.

O suposto esquema, afirma o denunciante, teria começado a dar na vista porque, segundo ele, até os funcionários da SIURB passaram a não ter mais acesso pelo sistema de processamento de dados da Prefeitura de São Paulo aos contratos emergenciais, que teriam passado a ter acesso restrito apenas dos servidores de confiança de Olivatto.

“Em determinada época eles cortaram o acesso dos funcionários a esses contratos. Apenas esses contratos, só os emergenciais, somente eles tinham acesso a esses contratos, nem pessoas do próprio departamento, que não estavam no esquema, não tinham acesso”, relata.

Por fim, o servidor que faz a denúncia à Fórum diz que para não deixar o caixa da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras com dinheiro no fim do ano, ocorreria um suposto aumento dos contratos emergenciais que seriam “contratos superfaturados”.

“A gente percebia a movimentação deles lá, uma certa tensão no final de ano para poder zerar todo o caixa ali muito rapidamente no último dia do ano, que se poderia fazer uma publicação, né, no Diário Oficial. Muito dinheiro era mandado para SP. Obras e em SP obras foram nomeadas muitas pessoas com esse aumento significativo aí que chamou a atenção de todos. É uma prática de contratos superfaturados”, diz ainda o funcionário público.

<><> Prefeitura rebate, cita “ilações” e aponta “objetivos eleitorais espúrios”

A reportagem da Fórum entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para obter uma resposta frente às acusações feitas pelo servidor municipal ao prefeito Ricardo Nunes e ao chefe de gabinete da SIURB, Eduardo Olivatto. A assessoria de imprensa da administração paulistana afirmou que as denúncias seriam “ilações anônimas” que teriam “objetivos eleitorais espúrios” a quatro dias do segundo turno das eleições. Veja a resposta na íntegra:

“A Prefeitura de São Paulo repudia a apresentação de ilações anônimas e sem nenhuma comprovação de suposta ‘denúncia’ a quatro dias das eleições em segundo turno. É lamentável que um veículo de comunicação que deveria se dedicar à verdade dos fatos acolha tentativa desesperada de fazer jogo eleitoral irresponsável. Sem nenhum registro em órgãos de controle interno ou externo, trata-se de iniciativa criminosa com objetivos eleitorais espúrios.”

<><> Citados foram procurados pela Fórum

Os servidores citados pelo denunciante à reportagem da Fórum foram todos procurados, exceto Mônica Pessoa, que não pode ser localizada, tampouco identificada em relação à sua função oficial dentro da SIURB. Milena Borges Moreira Gobatti, chefe do Departamento de Administração e Finanças da pasta, disse que “deve estar havendo algum equívoco”, pois “não tem qualquer poder de decisão ou ingerência nas contratações de obras, colocando-se à disposição para sanar quaisquer dúvidas que porventura restem, em benefício da transparência e do compromisso com a verdade”.

Já Sidneia Maria Correia Leite, chefe do Departamento de Projetos, foi procurada pelo seu e-mail institucional da SIURB, ainda na quarta-feira (23), mas ainda não retornou o contato. O espaço segue aberto para a funcionária pública responder à acusação.

No caso de Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da SIURB, e Adriana Siano Boggio Biazzi, secretária-adjunta da pasta, por não terem divulgados os seus contatos, foram acionados via assessoria de imprensa da SIURB, que até o encerramento da matéria ainda não havia encaminhado uma resposta à Fórum, embora tenha respondido aos contatos comprometendo-se em fazê-lo. O espaço igualmente segue aberto para manifestações dos citados. Sobre Gabriel Bruno Mesquita, que teve o nome mencionado numa das falas do denunciante, como não houve qualquer acusação contra ele, apenas uma referência circunstancial, seu posicionamento não foi solicitado.

<><> Rachadinha e esquema com ex-cunhado de Marcola é "mais um escândalo de Nunes", diz Luna Zarattini

A vereadora reeleita Luna Zaratini (PT-SP) classificou como "mais um escândalo" do "balcão de negócios" montado por Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo a denúncia feita por um servidor sobre um esquema de rachadinha e a relação do prefeito bolsonarista com o cunhado do ex-líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que foi divulgada pela Fórum nesta quinta-feira (24).

A denúncia, segundo o próprio autor que falou à Fórum de forma anônima temendo represálias, será apresentada à Polícia Federal nos próximos dias, incluindo todo o arcabouço probatória que ele afirma possuir.

Na entrevista, o servidor paulista afirma que Nunes teria montado um esquema de rachadinha para abastecer sua campanha à reeleição e contou detalhes de como funcionaria um suposto esquema irregular em contratos emergenciais milionários na Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), cujo chefe de gabinete é Eduardo Olivatto, ex-cunhado de Marcola.

"O depoimento é muito forte e de uma pessoa que estava dentro da secretaria", diz Luna, que conta como Nunes montou um "balcão de negócios" na prefeitura que teria repassado cerca de R$ 4 bilhões em contratos emergenciais a famílias e pessoas ligadas a ele.

"A gestão Ricardo Nunes teve um aumento muito grande em contratos emergenciais, sem licitação e sem transparência nenhuma, para realização de obras. Esses contratos equivalem a R$ 4,3 bilhões. Nesses contratos a gente vê que várias empresas que ganharam estão ligadas a algumas famílias. A gente sabe, por exemplo, que algumas empresas são ligadas à família Braga, que é próxima do Ricardo Nunes, e há contratos também ligados a essa pessoa que foi citada, que é o Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da SP Obras e ex-cunhado do Marcola do PCC", contou a vereadora.

Luna afirma que a denúncia da Fórum fortalece a representação já feita pela oposição ao Tribunal de Contas do Município (TCM), que comprovou que se os mesmos contratos emergenciais fossem feitos de acordo com a lei das licitações custariam 4 vezes menos aos cofres públicos.

"A prefeitura não pode ser um balcão de negócios, tem que atender a demanda do povo, com licitação e transparência", afirmou Luna.

"Esse é mais um escândalo da gestão Ricardo Nunes, um escândalo importantíssimo para essa reta final porque tem muita coisa em risco nessa eleição", emendou a vereadora na entrevista ao Fórum Onze e Meia.

•        Mulheres contratadas para a campanha de Nunes fazem revelação surpreendente

Duas mulheres contratadas pela campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que é candidato à reeleição em São Paulo (SP), fizeram uma revelação surpreendente a Guilherme Boulos (PSOL), que disputa o segundo turno da eleição contra o mandatário municipal.

Desde segunda-feira (21), Boulos vem fazendo a "Caravana da Virada", uma intensa agenda de rua em que visita todas as regiões de São Paulo, principalmente bairros periféricos, e dorme todas as noites na casa de algum eleitor.

Em meio a um desses périplos, na tarde desta quarta-feira (23), enquanto passava pela Zona Sul, Boulos parou em uma padaria e, em frente ao estabelecimento, duas mulheres contratadas por Nunes balançavam bandeiras da campanha do atual prefeito. O candidato do PSOL, entretanto, as abordou e ouviu das trabalhadores que, apesar de estarem trabalhando para Nunes, votaram no próprio Boulos no primeiro turno da eleição.

"Trabalho é trabalho, mas no primeiro turno votei em você", disse uma das mulheres, que trocaram afagos com Boulos. "Vota na sua consciência. Bom trabalho, guerreiras. E, ó, já sabem, né?", respondeu Boulos, apontando para o adesivo do "50", seu número eleitoral, na camisa.

•        Nunes manda vice bolsonarista ironizar sabatina de Marçal, que dá invertida: "medo, coroné?"

Fugindo da sabatina proposta por Pablo Marçal (PRTB), candidato da ultradireita derrotado no primeiro turno das eleições em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) escalou seu vice, o coronel bolsonarista Mello Araújo, para ironizar o convite no perfil do ex-coach no Instagram.

Indicado por Jair Bolsonaro (PL) como condição inegociável para seu apoio a Nunes, Mello Araújo foi até a publicação em que Marçal faz o convite para o emedebista e Guilherme Boulos (PSOL), candidato de Lula, para uma sabatina.

Boulos aceitou o convite e desafiou Nunes. "Eu topo, nunca fugi de dialogar com ninguém. Será que o @prefeitoricardonunes topa? Ou vai fugir?", escreveu o psolista.

Já Mello Araújo - que, aos 53 anos, se encontra na reserva da PM desde 2019 - ironizou o convite do ex-coach.

"Está desempregado? Procurando emprego de jornalista? Vai terminar suas obras na África", disparou Mello Araújo.

No entanto, Marçal não deixou por menos e detonou o militar, que ficou conhecido por defender uma abordagem diferenciada a pessoas nos Jardins - área nobre da capital - e na periferia.

"Mello Araújo bateu o medo aí coroné? Enfrentar com arma é fácil, bora no argumento aqui", desafiou Marçal.

 

Fonte: Fórum

 

Nenhum comentário: