As
três palavras que vão te ajudar a impor limites no trabalho
Dizer
"não" ao chefe parece impossível.
Seja
qual for o trabalho, todos nós preferimos causar boa impressão a decepcionar.
Mas a
ambição pode ser um terreno escorregadio: quando você percebe, o trabalho já
entrou em casa, tomou os fins de semana e ocupou o tempo com a família e os
amigos.
Especialistas
afirmam que aprender a impor limites é a melhor forma de conter essa invasão.
Uma
mudança simples na linguagem ajuda a reforçar limites, afirma a coach de
carreira Helen Tupper, cofundadora da Squiggly Careers.
Ela
recomenda trocar "eu não posso" por "eu não quero".
Dizer
"'eu não posso' abre espaço para negociação, as pessoas podem tentar
convencer você de que, na verdade, você consegue", diz Tupper.
Mas
"eu não quero" é mais definitivo e difícil de contestar.
Por
exemplo, você pode dizer "não participo de reuniões após as 17h de
quarta-feira, porque busco os meus filhos nesse horário", sugere Tupper.
A
modelo e chef de TV Lorraine Pascale afirma que não fazer isso acabou levando
ao seu esgotamento.
Além da
carreira na televisão, ela abriu uma confeitaria em Covent Garden (bairro de
Londres) e publicou uma série de livros de receitas, tudo enquanto criava a
filha.
"Eu
simplesmente não era muito boa em dizer não."
"Você
não quer desagradar ninguém, todo mundo fica te dizendo o que você deveria
estar fazendo. Então você simplesmente continua", disse ao programa The
Woman's Hour Guide to Life (A Hora da Mulher - Guia para a Vida, em tradução
livre).
Ela
acrescenta que o seu perfeccionismo, incluindo aprovar pessoalmente cada
receita de seus livros, não ajudava.
Para
Pascale, o esgotamento (burnout) se manifestou física e mentalmente, incluindo
"não querer se aproximar" de bolos.
"Foi
como uma reação de corpo inteiro; uma sensação de aperto no peito",
explica. "Eu discutia comigo mesma. Era muita autocrítica, sentia muita
culpa e muito cansaço."
A
experiência de Pascale mostra que o burnout pode afetar qualquer pessoa, em
qualquer nível, mesmo que as estatísticas indiquem maior probabilidade entre
mulheres — em parte devido às responsabilidades familiares adicionais.
Claire
Ashley, autora de The Burnout Doctor (A Médica do Burnout, em tradução livre),
escrito após vivenciar o problema ela mesma, diz que, na prática, manter uma
rotina rígida sobre o horário de término do trabalho permite que o cérebro
complete o "ciclo do estresse" e aproveite o tempo livre.
Mas a
solução real é ajustar seus objetivos à sua "capacidade atual".
"Pergunte
a si mesmo se o que você deseja alcançar é razoável, considerando seus recursos
mentais e emocionais no momento", Ashley diz.
No caso
de Pascale, isso envolveu afastar-se da cozinha e começar a fazer terapia. A
experiência a ajudou a entender que os elementos tóxicos de sua necessidade de
impressionar vinham da infância em lares adotivos.
Desde
então, Pascale começou a estudar psicologia e afirma estar "muito
melhor", retornando gradualmente à cozinha de forma mais
"intencional".
É claro
que o estresse e longas jornadas fazem parte de qualquer trabalho.
Mas as
estatísticas mostram aumento no número de trabalhadores chegando ao limite.
Pesquisas
sugerem que 9 em cada 10 trabalhadores experienciaram níveis altos ou extremos
de pressão ou estresse no último ano.
Em
2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout no Brasil — maior
número dos últimos dez anos, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), do Ministério da Previdência Social. O aumento ocorreu
principalmente durante a pandemia. De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o
Brasil passou para 421, em 2023, um crescimento de 136%.
Se
sentir estressado ou esgotado não é o mesmo que ter síndrome de burnout ou
síndrome do esgotamento profissional, embora se use muitas vezes o termo de
forma ampla.
Ashley
explica que exaustão, distanciamento e queda de desempenho são os três sintomas
definidores.
Se não
apresentarmos todos eles, ainda não há diagnóstico de burnout. Mas, claro, isso
não significa que não estejamos a caminho dele.
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'Corra a sua própria corrida'
Tupper,
da Squiggly Careers, lembra que é importante parar, celebrar e reconhecer seus
próprios sucessos, e não apenas focar na próxima tarefa.
Se
esforçar para evitar comparações com colegas também ajuda a "correr a
própria corrida", acrescenta Tupper.
É claro
que nem todos têm condições de se impor no trabalho, especialmente em ambientes
corporativos ou hierárquicos.
O
psiquiatra do NHS (sistema público de saúde do Reino Unido) e autor de
Burnout-Free Working (Trabalho Sem Esgotamento, em tradução livre), Richard
Duggins, frequentemente atende pacientes que sentem que não conseguem
estabelecer limites.
Ele os
incentiva a conversar com seus chefes, independentemente do nível hierárquico.
"A
maioria dos empregadores, mesmo os mais rígidos, escuta e faz ajustes quando
entende que prevenir o burnout beneficia a todos", diz.
Segundo
Duggins, estabelecer limites, pedir ajuda ou ajustar a carga de trabalho ou a
flexibilidade pode ajudar; mas, no fim, se o ambiente de trabalho não mudar,
precisamos fazer mudanças para nos proteger.
Valorizar
as diferentes fases da vida também pode contribuir, observa Ashley.
"É
aceitável reconhecer que alguém que trabalha meio período, ou com
responsabilidades familiares, pode não conseguir acompanhar a carga de trabalho
de um colega mais jovem."
Como
resume Pascale: "Ser ambicioso é bom. Ser ambicioso é algo bonito, mas
aprenda a dizer não com mais frequência."
Fonte:
BBC News

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