Como
uso do celular pode arruinar seu relacionamento
Todos
nós sabemos que o uso frequente do celular prejudica as relações pessoais, mas
isso não nos impede de recorrer ao aparelho várias vezes por dia.
É assim
que o phubbing (expressão em inglês para o ato de involuntariamente ignorar
alguém em favor do celular) se infiltra em situações cotidianas.
A
prática pode fazer com que parceiros se sintam ignorados e, no caso de pais,
pode afetar crianças, do enfraquecimento de vínculos com as crianças mais novas
à queda de autoestima entre as mais velhas.
Mas em
vez de culpar a falta de autocontrole, focar o uso intencional do aparelho pode
ser mais eficaz, afirma a psicóloga Kaitlyn Regehr, professora associada da
University College London, no Reino Unido.
A cada
vez que for usar o aparelho, explique à outra pessoa o motivo de estar fazendo
isso e, ao terminar, guarde o celular e retome a conversa.
A
recomendação parece básica, mas Regehr afirma ao programa Woman's Hour
("Hora da Mulher", em tradução livre), da BBC, que essa pequena
mudança ajuda a ajustar comportamentos, já que muita gente checa mensagens,
desliza notificações ou "dá só uma olhada rápida" sem se dar conta.
O
importante é ser transparente. Portanto, se aparecer uma mensagem que você
precisa checar, diga à pessoa ou pessoas com quem você está: "Só preciso
responder isso; depois volto a prestar atenção".
Ao
descrever a ação — "preciso ver o horário do trem" ou "estou
respondendo minha mãe" —, se interrompe o hábito automático e sinaliza
para a pessoa ao seu lado que ela ainda é importante.
"Isso
impede que o outro se sinta ignorado", diz Regehr.
"E
te mantém responsável, porque reduz a chance de se perder em outros aplicativos
ou em rolagens intermináveis."
Fazer
isso também pode ajudar a melhorar seus relacionamentos.
Outra
pesquisa reforça o impacto dessas ações. A psicóloga Claire Hart, professora
associada da University of Southampton, no Reino Unido, ouviu 196 pessoas sobre
relações e uso do celular.
Segundo
ela, quanto mais alguém sente que está sendo alvo de phubbing, pior tende a ser
sua relação.
"Nem
todos reagem da mesma forma", afirma. "Depende da personalidade, mas,
quando alguém se sente ignorado, isso pode gerar reação."
O
parceiro então pega o próprio celular, e a dinâmica vira um ciclo no qual cada
um se sente rejeitado ou menos valorizado do que o que aparece na tela.
Cada
episódio de phubbing interrompe a conexão. Depois de abandonar um momento
compartilhado para olhar o aparelho, pode levar tempo até retomar o que estava
acontecendo antes.
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O que acontece no seu cérebro quando você usa o celular
Nossos
cérebros buscam naturalmente ser recompensados. Temos certos centros neurais
que reagem ao prazer — ao sexo, às drogas, a ganhar dinheiro em um cassino —, e
esperam que isso se repita várias vezes.
Isso é
conhecido como sistema ou circuito de recompensa do cérebro, e é exatamente o
mesmo mecanismo pelo qual uma pessoa se torna dependente de uma substância como
o álcool.
Mas há
outra parte do cérebro que luta contra esses impulsos de busca por prazer e
recompensa imediata: o córtex pré-frontal.
É a
região do cérebro responsável por fazer você tomar decisões menos impulsivas e
mais equilibradas — aquela que faz você, por exemplo, parar de rolar a tela,
levantar do sofá e decidir arrumar a casa ou praticar exercício físico.
O que
acontece com muita gente é que "a parte lógica do nosso cérebro que
controla os nossos impulsos não está fazendo a sua parte, ou pelo menos não tão
bem quanto poderia, está sobrecarregada pela busca por prazer", afirma
Éilish Duke, professora de Psicologia na Universidade Leeds Beckett, no Reino
Unido.
Duke
diz que a primeira coisa que precisamos entender é que o impulso de pegar o
celular e acionar a tela, que desencadeia a rolagem, é automático.
Não
temos consciência disso porque construímos esse hábito ao longo do tempo — como
fechar a porta ao sair de casa, por exemplo.
"Em
uma pesquisa que fizemos há alguns anos, descobrimos que os participantes
achavam que verificavam seus telefones a cada 18 minutos, mas quando usamos
gravadores de tela, percebemos que, na verdade, eles verificavam (o celular)
com muito mais frequência."
Segundo
a professora Ariane Ling, do departamento de psiquiatria do NYU Langone Health
(EUA) , o hábito da rolagem de tela pode ser explicado pelo comportamento
natural dos seres humanos, mas é agravado por fatores ambientais.
Ling
explica que o ser humano está programado para querer saber o que está
acontecendo. É por isso que lemos as notícias ou, por exemplo, paramos para
olhar quando há um acidente na estrada. É algo que faz parte do desenvolvimento
evolutivo que nos permitiu sobreviver.
E nosso
celular foi projetado para nos alimentar continuamente com informações que nos
interessam. É um casamento perfeito.
Segundo
Duke, o que acontece quando rolamos a tela do celular é que entramos em um
estado de fluxo.
O
conceito de fluxo em psicologia se refere a um estado mental em que a
dificuldade da tarefa que uma pessoa está realizando se ajusta muito bem ao
nível de atenção e habilidade que ela tem para oferecer naquele determinado
momento.
Aplicativos
como o TikTok, em que o algoritmo muda constantemente e oferece coisas novas
especialmente direcionadas a você, alimentam diretamente este estado de fluxo.
"Eles
absorvem toda a sua atenção, e você entra em uma fase de distorção do tempo em
que não percebe que duas horas se passaram, e você está sentado com a mão
dormente, e perdeu todo esse tempo vendo vídeos de cachorrinhos",
acrescenta Duke.
• 7 dicas para uma relação mais saudável
com seu celular. Por Paul Levy
Quanto
tempo você passa em frente às telas todos os dias?
Um
estudo indica que uma pessoa passa, em média, cerca de sete horas por dia em
telas conectadas à internet. E este número será ainda maior se o seu trabalho
exigir basicamente o uso de um computador.
A
maioria de nós usa excessivamente os aparelhos digitais e passa muito tempo
trabalhando ou se distraindo em telefones celulares, tablets, laptops ou mesmo
óculos de realidade virtual.
Somos
acusados de ser dependentes da tecnologia e frequentemente alertados sobre os
riscos à nossa saúde física e mental.
Um
importante paradoxo neste ponto é que costumamos nos refugiar no mundo digital
para escapar das tensões do mundo físico. Mas acabamos simplesmente
colecionando outros tipos de estresse físico e digital pelo caminho.
Como
pai, fiquei preocupado, há alguns anos, com os efeitos da minha vida digital
sobre meu trabalho e minha família.
Fiz
algumas pesquisas por conta própria, alterei minha forma de usar os aparelhos e
cheguei a escrever um livro sobre os perigos do que chamo de "inferno
digital".
Mas foi
apenas nos últimos anos que surgiram estudos de longo prazo a este respeito.
Esses
estudos reunidos formam um conjunto de conhecimentos significativo e cada vez
maior. Com eles, fica difícil ignorar que o excesso de tecnologia pode causar
problemas para nós, seres humanos.
É
preciso esclarecer que os aparelhos digitais oferecem benefícios
significativos, como a conexão, educação e entretenimento. O perigo aparece
quando o uso excessivo se torna prejudicial à saúde.
Do
ponto de vista pessoal, cansaço visual, dores no pescoço, sono de má qualidade,
estresse, lesões por esforço repetitivo de todos os tipos e prejuízos ao
funcionamento das mãos são apenas alguns dos sintomas que observei ao longo dos
anos, causados pelo meu uso excessivo de telas e aparelhos. E as pesquisas
indicam que estou longe de ser um caso isolado.
Se
algum desses sintomas descrever você (ou alguém que você conheça) ou você
simplesmente sente que passa tempo demais da sua vida em frente a uma tela,
talvez meus conselhos sobre como recuperar o controle da tecnologia possam ser
úteis.
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1. Habitue-se a se afastar conscientemente dos aparelhos digitais
Mantenha
os aparelhos fora do seu ângulo de visão e guarde-os quando não estiver usando,
especialmente à noite.
Compre
um despertador (para não usar o alarme do seu celular) e retire os aparelhos do
seu quarto. Você irá dormir melhor sem rolar a tela tarde da noite.
Abandone
o hábito de assistir à TV com o celular ao lado. Concentre-se em apenas uma
tarefa de cada vez, sem se distrair com mais uma tela.
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2. Defina limites de tempo em frente às telas
Tempo
demais em frente às telas pode causar dores de cabeça.
Use a
tecnologia de forma consciente e empregue funções como notas de voz, que
permitem que você siga atualizado nas suas comunicações sem olhar para a tela
por muito tempo.
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3. Impeça as distrações digitais
As
interrupções constantes podem causar estresse físico e mental.
Desligue
os alertas e notificações quando quiser se concentrar plenamente em uma tarefa.
E mantenha seu celular fora da mesa.
Pesquisas
indicam que manter o celular por perto, mesmo se ele não estiver tocando nem
vibrando (e até com o aparelho desligado), pode prejudicar seu desempenho.
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4. Programe tempo apropriado fora do ambiente digital
A
sobrecarga digital causa depressão e ansiedade. Por isso, é importante sair do
mundo digital por algum tempo.
Caminhe
em meio à natureza, leia um livro, saia para andar de bicicleta – qualquer
atividade que afaste você das telas temporariamente.
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5. Facilite a visualização das telas
O uso
excessivo de telas pode forçar os olhos e prejudicar a sua visão.
Não se
concentre em telas minúsculas para fazer o seu trabalho, quando ele puder ser
feito melhor em um computador, com tela maior.
Reduza
a luz azul dos aparelhos e utilize todas as outras características de
acessibilidade que possam ser úteis. Comece controlando o brilho da tela e
tenha cuidado para que o volume não rompa os seus tímpanos.
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6. Assuma o controle do caos da sobrecarga de informações
Organize
seu celular, computador e tablet para poder usá-los com mais eficiência. E
alguns aplicativos realmente ajudam a tomar as rédeas da sua vida e do trabalho
com mais calma e eficiência.
Aplicativos
de rastreamento do tempo avaliam quanto tempo que você passa (desperdiça)
olhando para a tela – prepare-se para ficar horrorizado!
Nós
retomamos o controle dos nossos aparelhos digitais quando ficamos mais
proativos no seu uso.
>>>
7. Sente-se adequadamente durante suas atividades digitais
Relaxar
a postura ao mexer no celular ou se curvar em frente ao laptop irá machucar o
seu pescoço e suas costas. Sente-se em posição ereta, faça alongamentos
regularmente e exercite-se com frequência – sem o celular.
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Seja o dono da sua vida digital
Estas
sete orientações devem ajudar você a recuperar a sensação de controle sobre sua
vida digital.
Para
mim, é tudo questão de dormir e acordar melhor, deixando meu telefone no andar
de baixo. É questão de planejar o tempo dedicado ao ambiente digital e momentos
específicos em que o celular não tem lugar no que estou fazendo.
E
também é questão de aproveitar esses milagres da tecnologia de forma mais
satisfatória e empregá-los mais conscientemente.
Gosto
de pensar em mim como dono da minha vida digital – e não como mais uma vítima
da tecnologia.
Fonte:
BBC News/The Conversation

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