Luís
Nassif: Como Tarcísio de Freitas se enredou no caso Banco Master
O
cunhado de Daniel Vorcaro (dono do Master), Fabiano Zettel, foi o maior doador
pessoa física da campanha de Tarcísio (R$ 2 milhões)...
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Resumo da notícia
1-
Privatização da EMAE: Venda controversa para Fundo Phoenix FIP, envolvendo
Nelson Tanure, com investimentos suspeitos e revenda à Sabesp.
2-
Aplicação financeira questionável: EMAE investe R$ 160 milhões em CDBs do Banco
Master, ligado a doador de campanha do governador.
3-
Dúvidas e conflitos: Falta de transparência na aplicação, possíveis conflitos
de interesse e perguntas sobre critérios técnicos e escolha do banco.
Acompanhe
a cronologia.
1. As dúvidas na privatização
• Conforme o artigo “EMAE e o golpe das
privatizações de Tarcísio de Freitas” o golpe das privatizações segue um modelo
em três atos.
• Blindagem ideológica
A mídia
reforça a narrativa de que empresas estatais são ineficientes, enquanto
privatizações são sinônimo de modernização e progresso. Essa construção
simbólica prepara o terreno para a aceitação pública da venda de ativos
estratégicos.
• Arquitetura financeira sofisticada
O
controle das empresas é adquirido com uma fração do capital total, por meio de
estruturas como fundos de investimento, debêntures e garantias cruzadas. O caso
da EMAE é emblemático: o Fundo Phoenix FIP comprou 30% da empresa por R$ 1
bilhão, usando ações da Ambipar como garantia — ações que, segundo a CVM, foram
artificialmente valorizadas.
• Rapinagem sobre o caixa e os ativos
Após
assumir o controle, os novos gestores priorizam distribuição de dividendos,
desmonte de ativos ou investimentos em empresas do próprio grupo, em detrimento
da qualidade dos serviços. A EMAE, por exemplo, investiu R$ 250 milhões em
títulos da Light S.A., empresa ligada a Nelson Tanure, e emprestou R$ 10
milhões à Milos Participações, também associada a ele.
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O roteiro EMAE-Banco Master
1. O governo Tarcísio de Freitas privatiza a
Emae, vendendo o controle ao Fundo Phoenix FIP, cujo investidor de referência é
Nelson Tanure. Valor: algo em torno de R$ 1,0–1,04 bilhão.
2. Já privatizada e sob gestão vinculada ao
Phoenix/Tanure, a Emae aplica R$ 160 milhões em CDBs de um banco do
conglomerado Master em 30/9/2025.
3. Na sequência, em 7/10/2025, depois de ter
comprometido 5,88% do caixa da Emae com o Master, Tanure revende a empresa para
a Sabesp por cerca de R$ 1,13 bilhão.
4. Pouco mais de um mês depois, em
18/11/2025 o conglomerado Master (Banco Master, Letsbank) foi colocado em
liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Ou seja, Tanure conseguiu vender a
Emae sem registrar o prejuízo futuro com a liquidação do Banco Master.
5. O cunhado de Daniel Vorcaro (dono do
Master), Fabiano Zettel, foi o maior doador pessoa física da campanha de
Tarcísio (R$ 2 milhões).
São
muitas as dúvidas sobre essa aplicação no Master.
• Quem autorizou a aplicação?
• Onde estão as atas do conselho?
• Houve análise formal de risco?
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Critérios técnicos
• A EMAE respeitou:
o Limites de risco por emissor?
o Política interna de rating mínimo?
o Limite de concentração bancária?
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Conflito de interesses
• Aplicação em banco ligado a familiar de
grande doador do governador = coincidência?
• O banco foi escolhido por taxa,
relacionamento ou pressão política?
• BANCO MASTER: golpe revela falhas
sistêmicas em regulação e controle do setor financeiro. Por Caio de Freitas e
Wanessa Celina
As
autoridades ainda investigam a extensão e quem se envolveu nas fraudes no grupo
Master, do banqueiro Daniel Vorcaro, estimadas em ao menos R$12 bilhões,
segundo o diretor da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues. Mas já se sabe
quem vai pagar a conta: o Fundo Garantidor de Crédito, uma entidade
independente que mantém a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, dando
“garantia de créditos contra instituições” bancárias no país.
Mais
conhecido por sua sigla, o FGC foi criado em novembro de 1995 e, pelas regras
atuais, cobre perdas de no máximo R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em depósitos, ou
investimentos que estejam em contas correntes, poupanças e aplicações variadas,
como CDB, LCI e LCA nas instituições que participam do Fundo.
No caso
do banco Master, o que deveria servir como garantia pode ter se voltado contra
o próprio FGC graças a brechas regulatórias e a más práticas de agentes no
sistema financeiro. É o que avalia a advogada e doutora em Direito pela PUC-SP
Lucía Ferrés Zakia, que pesquisa a regulação do mercado mobiliário e de
capitais.
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Por que isso importa?
• Operação Compliance Zero da PF que
identifica títulos falsos no sistema financeiro prendeu o banqueiro Daniel
Vorcaro em novembro
• O banqueiro também foi convocado a
comparecer à CPI do INSS para Vorcaro explicar as operações do Master em
créditos consignados a aposentados e pensionistas
“O
mercado sabia que um banco pequeno como o Master prometer rendimentos de 140%
em certas aplicações era irreal, sinal de títulos podres, mas porque indicava
esse tipo de produto? Porque havia um ‘seguro’ – o FGC, que virou ‘lastro’ para
a venda, sem limites, de produtos financeiros ruins, contanto que ficassem
dentro do teto do FGC”, disse Ferrés à Agência Pública.
Títulos
podres são ativos ou operações financeiras de alto risco de inadimplência,
emitidos, na maioria das vezes, por empresas com classificação de crédito
baixa, ou em dificuldades financeiras, ou recuperação judicial. Por
apresentarem alto risco, costumam oferecer juros altos e se apresentam como
empréstimos, financiamentos ou aplicações.
Para a
pesquisadora, as fraudes bilionárias no Master são fruto de problemas
sistêmicos na regulação do mercado, onde “consultores, assessores de
investimento, corretoras e muitos outros descumprem seus deveres fiduciários de
avaliar, de fato, se produtos financeiros são rígidos ou não, se são confiáveis
ou não”.
“As
pessoas vendem um produto podre, mas com garantia do FGC, que foi criado para
mitigar riscos sistêmicos, mas virou uma espécie de seguro para vender produtos
podres […] grande parte da fraude no Master foi um golpe contra o FGC”, afirmou
Ferrés.
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As digitais de auditorias e agências de avaliação de risco no caso Master
Também
ouvido pela Pública, o ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco
Mundial Carlos Primo Braga destacou o fato do grupo Master ter obtido
avaliações positivas de auditorias fiscais e agências de avaliação respeitadas
no mercado financeiro.
“Sinceramente
não sei como foi o diálogo entre as agências e auditorias com o Master, mas
certamente elas tiveram acesso não apenas aos balanços, como também houve
diálogos com o banco. Mas, sinceramente, não tenho dúvida que elas devem ter
tido – ou ainda estão tendo – reuniões internas para discutir como vão explicar
suas avaliações, até porque isso traz impactos sobre a imagem delas próprias”,
disse Braga, que também é professor associado na Fundação Dom Cabral.
O
ex-diretor do Banco Mundial ressaltou ainda que a intervenção do FGC no banco
Master trará consequências relevantes aos cofres do Fundo, mas não abalará por
completo o sistema financeiro.
“Do
ponto de vista do sistema financeiro, o Master é uma instituição pequena, com
menos de 1% dos ativos totais nas instituições em funcionamento, um dos motivos
pelos quais sua liquidação não traz um risco sistêmico”, disse.
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Uma história de liquidações, falências e rombos
Inicialmente,
o atual diretor-executivo do FGC, Daniel Lima, disse em entrevista à rede Times
Brasil que o Fundo calcula usar algo em torno de R$ 41 bilhões na liquidação do
banco Master, o que não prejudicaria a saúde financeira da entidade. Ainda
assim, estima-se que este será o maior resgate da história do FGC, como
reportado pelo portal CNN Brasil.
À
Pública, o ex-diretor do Banco Mundial destacou que o FGC tem aproximadamente
R$ 160 bilhões em caixa – valor suficiente para cobrir o rombo inicialmente
previsto.
“No fim
das contas, todos nós vamos pagar um pouquinho desta conta porque o FGC vai ter
de recuperar os recursos gastos e, como são bancos privados que o financiam,
eles naturalmente vão se organizar em termos de como ‘dividir’ essa conta com
seus clientes e credores. Ainda assim, não vejo sinais de uma crise sistêmica
até o momento”, disse Braga.
Criado
em novembro de 1995, o FGC ganhou fama três anos depois, na liquidação do
antigo Banco Bamerindus, em 1998.
Por
determinação do Banco Central, o FGC cobriu pouco mais da metade dos R$ 97
milhões perdidos à época com o fechamento do banco, como mostram seus balanços
oficiais. Se ocorresse hoje, a liquidação do Bamerindus teria custado o
equivalente a R$ 441,5 milhões aos cofres do FGC, segundo cálculo do Banco
Central.
Mais
recentemente, em 2023, o FGC interveio em duas instituições financeiras – a BRK
e a Portocred – a mando do Banco Central, graças à má gestão e ao
descumprimento de normas regulatórias. O FGC calcula que as dívidas equivalem a
R$ 1,7 bilhão, lesando cerca de 54 mil credores das duas instituições.
Menos
de três meses depois, o Fundo Garantidor divulgou que já tinha pagado R$ 1,65
bilhão, quase a totalidade do valor do rombo deixado pelas duas instituições,
segundo o Infomoney.
<><> Quem cuida da liquidação do grupo Master
Como
informa o Diário Oficial da União, desde o último dia 18 de novembro o auditor
aposentado do Banco Central (BC) Eduardo Félix Bianchini se tornou o liquidante
do Banco Master.
Na
prática, Bianchini é responsável por sanar as contas de cinco empresas ligadas
ao grupo – Banco Master, Banco Master de Investimento, Banco Master Múltiplo
S.A., Banco Letsbank e a Master Corretora.
A
tarefa não é novidade para o auditor aposentado do Banco Central, liquidante em
ao menos outros oito processos de liquidação de bancos ocorridos no país desde
2012 – como relata o jornal O Estado de S. Paulo. Bianchini coordenou as
liquidações dos bancos BVA e Cruzeiro do Sul, em 2012 e 2015, por exemplo.
“As
tarefas imediatas do liquidante consistem, basicamente, em levantar a lista
completa de credores e investidores do Master, tentando ‘separar o joio do
trigo’, identificando os investimentos e valores legais e os separando de
valores envolvidos diretamente em fraudes”, explicou o ex-diretor do Banco
Mundial.
Braga
afirmou ainda que, historicamente, as liquidações de instituições financeiras
ocorridas no Brasil demoram algo em torno de 30 a 40 dias, referindo-se ao
prazo de análise de documentos internos e confidenciais dos grupos e envio
posterior ao FGC. Com o material consolidado em mãos, o Fundo Garantidor deve
ressarcir os clientes que têm direito em até dois dias úteis.
“Mas
temos de lembrar que o processo do banco Master envolve cerca de 1,6 milhão de
investidores, o que certamente aumenta a complexidade do processo de
liquidação. Como estamos na véspera do fim de ano, com feriados e recessos, é
razoável esperar um ressarcimento dos credores apenas em 2026”, estima Braga.
• Delação no escândalo Banco Master e BRB
pode derrubar muita gente, diz Luís Costa Pinto
O Banco
de Brasília (BRB) e o Banco Master estão no epicentro de uma crise que ameaça
desestruturar o poder político e econômico da capital federal. Uma possível
delação premiada de dois protagonistas, aliados do centrão, coloca em xeque
negócios bilionários e relações pessoais que atravessam décadas.
“Exatamente
a questão da delação está sendo comentada: uma possível delação premiada de
duas pessoas, que causa um temor profundo aqui em Brasília”, afirma o
jornalista Luis Costa Pinto, descrevendo o impacto de Paulo Henrique Costa,
ex-presidente do BRB, afastado do cargo. “Paulo Henrique Costa estava à frente
do BRB desde o início do governo Ibanês, em 2019, indicado por Ciro Nogueira.
Ele é o responsável por todas as sociedades feitas pelo BRB com o Banco
Master”.
Costa
Pinto detalha que Paulo Henrique Costa pode começar a colaborar com a Justiça.
“Enquanto ele dividir advogado com o Ibaneis [Rocha], ele não fará delação. Mas
é possível que comece a fazer acordo que leve à delação, pois perdeu respeito
no setor bancário estatal e com as carreiras de Estado do Banco Central”.
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Vorcaro solto e sob tornozeleira
O
escândalo envolve ainda Daniel Vorcaro, sócio histórico em negócios com o BRB,
que enfrentou prisão preventiva desde 18 de novembro. Ontem, a juíza federal
Solange Salgado, do TRF-1, determinou sua soltura, com uso de tornozeleira
eletrônica.
“Para a
magistrada, os crimes atribuídos ao empresário ‘não envolvem violência ou grave
ameaça à pessoa’, e não há ‘periculosidade acentuada ou risco atual à ordem
pública’ que justifique a manutenção da prisão preventiva”, registrou a
decisão.
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“Capitalismo brasiliense”
Durante
a entrevista à TV GGN, o jornalista avaliou que o BRB se consolidou como
protagonista de um modelo de “capitalismo brasiliense”, no qual o banco atua
como sócio estratégico de grandes empreendimentos urbanos, culturais e
esportivos na capital federal.
“O BRB
se associa a grupos privados para administrar concessões e equipamentos
públicos, fortalecendo um modelo de compadrio político que centraliza negócios
e decisões econômicas em Brasília. Foi sócio do grupo que assumiu o Centro de
Convenções Ulisses Guimarães, reinaugurou o Autódromo Nelson Piquet com a
Stockar, e também está envolvido na gestão de espaços como o Ibirapuera e
outros equipamentos urbanos”, diz o jornalista.
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Centrão em modo de contenção
O
centrão, por sua vez, tenta conter os danos e controlar a narrativa enquanto o
escândalo se aprofunda. “A CPI que estão tentando montar tem DNA de contenção,
não de ataque. Eles atuam em todos os setores para evitar a federalização do
BRB, determinada pelo Banco Central, que prevê intervenção especial com
possibilidade de transferência para Banco do Brasil, Caixa ou privatização”,
afirma Costa Pinto.
A CPI
do Banco Master começou a ganhar forma nesta quarta-feira (26), quando o
senador Eduardo Girão (Novo-CE) apresentou o requerimento para investigar
crimes financeiros envolvendo o banco. O documento foi assinado por 34
senadores, ultrapassando o mínimo exigido de 27 para abertura da comissão.
Segundo
Costa Pinto, “essa CPI nasce dos gestores de crise deles, é uma CPI de
contenção, não de ataque”.
Fonte:
Jornal GGN/Agencia Pública

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