terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Câncer de pulmão: 15% dos casos acontecem em não fumantes

No início de 2022, a professora aposentada Claudete Felix de Souza, 65 anos, começou a sentir dores nas costas que a impediam de dormir. Como estava se recuperando de uma infecção pelo vírus Chikungunya, achou que ainda estava com sequelas da doença. A dor, entretanto, não passou. Pouco tempo depois, ela percebeu que estava com a respiração alterada, difícil. Passou por fisioterapia e diversos médicos especialistas até que um cardiologista percebeu que os pulmões estavam com a capacidade comprometida e com líquido acumulado.

Orientada a procurar a emergência, o diagnóstico finalmente veio: câncer de pulmão. Detalhe: Claudete nunca fumou na vida.

Quando a médica da emergência falou, a gente ainda não sabia onde era o câncer. Ela não especificou. Mas a palavra câncer era muito assustadora. Ainda é muito assustadora. Me desesperei, lembra.

Claudete precisou ficar internada, passou por biópsia, encontrou um bom oncologista e deu início ao tratamento com o medicamento Tagrisso 80mg, coberto pelo plano de saúde. Atualmente, o quadro é considerado sob controle. Sempre me alimentei bem, fazia algumas atividades físicas. Não sou exemplo ou modelo de alimentação perfeita nem de atividade física perfeita. Mas sempre tive boa saúde.

É difícil ouvir que você tem uma doença tão fatal, fatídica, que tem uma denominação tão estranha quando você ouve pra si", lembrou ela.

"É importante que a pessoa tenha muita clareza de que ela tem condições de sobreviver e tem que procurar bons apoios, inclusive do ponto de vista médico. Entender que um bom médico é aquele que te olha, te vê, te busca, te trata, te acompanha. É difícil achar médico assim. Outra coisa: psicólogo. A cabeça fica mal. Me sentia muito culpada, muito triste. E procurar as pessoas que realmente importam na sua vida. Minha família me apoiou muito. Isso foi fundamental, acrescentou.

Em entrevista à Agência Brasil, o oncologista e médico pesquisador no Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Henrique Araújo, alertou que, atualmente, 15% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em pessoas como Claudete, que nunca fumaram.

O fato é que o tabagismo vem reduzindo, o consumo de tabaco vem reduzindo no mundo e no Brasil. Isso tem causado uma redução na mortalidade por câncer, inclusive câncer de pulmão. A preocupação agora começa a ser o câncer de pulmão em não fumantes.

Segundo Araújo, se considerada uma enfermidade a parte, o câncer de pulmão em não fumantes figura atualmente como a sétima maior causa de morte por câncer no mundo, perdendo para o câncer de pulmão em fumantes, de estômago, colorretal, de fígado, de mama e de esôfago.

As causas disso são pouco esclarecidas. Recentemente, a gente teve documentações mais formais sobre a relação da exposição ambiental à poluição e suas partículas associada ao surgimento de câncer de pulmão especificamente em não fumantes. A poluição tem sido colocada como a segunda principal causa de câncer de pulmão. Outras são o tabagismo de segunda mão ou tabagismo passivo.

O oncologista destaca que o câncer de pulmão em fumantes acaba vislumbrando uma possibilidade de diagnóstico mais precoce, sobretudo em razão do rastreamento preventivo feito por meio de tomografia de tórax anual a partir dos 50 anos.

E não fumantes, o índice de suspeição é muito baixo. Um paciente mais jovem, que não fuma, raramente vai pensar, nem ele nem o médico, na possibilidade de câncer de pulmão. Isso acaba levando a diagnósticos mais tardios, disse.

Esses casos têm que ser examinados por testes moleculares com sequenciamento genético, que indicam qual vai ser o sobrenome do câncer de pulmão no não fumante. A gente vai procurar mutações genéticas adquiridas, não familiares. São algumas centenas de genes que vão ajudar a guiar qual a escolha do tratamento, uma terapia inteligente, frequentemente usando comprimidos ao invés de quimioterapia oral", completou.

•        Tabagismo ainda é o principal fator causador do câncer pulmão; previna-se!

A campanha Agosto Branco tem o papel de reforçar a conscientização e prevenção contra o câncer de pulmão, que tem o tabagismo como principal causa. É interessante lembramos que há mais de 30 anos, o hábito de fumar era considerado algo bonito, elegante e social. Na TV e no cinema, as pessoas apareciam tragando cigarros ou até mesmo charutos livremente, havendo inclusive um apelo publicitário e com pouco destaque para os riscos e perigos para a saúde.

Com o passar do tempo, essa história começou a mudar, sobretudo em razão do enrijecimento da legislação sobre o tema. Em 2000, por exemplo, a Lei nº 10.167 aperfeiçoou a Lei nº 9.294/1996, proibindo a propaganda nos principais meios de comunicação (jornais, televisão, rádio, etc), que na época ficou limitada aos pontos internos de venda por meio de pôsteres, painéis e cartazes. Isso aliado às constantes recomendações de entidades de saúde diminuiu drasticamente o aparecimento do tabagismo nos meios de comunicação e produtos audiovisuais, algo que contribui para a normalização do costume.

Embora as mudanças tenham sido benéficas e extremamente importantes, o consumo de produtos derivados do tabaco e afins não desapareceu, e os efeitos deste hábito nocivo permanecem gerando problemas sérios de saúde na população, sendo o câncer de pulmão o principal deles.

Conforme os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mundialmente, o câncer de pulmão é o segundo mais incidente, com 2,2 milhões de casos novos, o que corresponde a 11,4% de todos os tipos de câncer. No Brasil, no triênio 2023-2025, são estimados 32.560 novos casos da doença, considerada a mais letal entre todos os tipos de câncer. Ainda segundo o órgão, o tabagismo é responsável por cerca de 85% dos diagnósticos.

Além do cigarro comum, os cigarros eletrônicos, mais comumente usados pelos jovens, também são um problema. Com cheiros, gostos e cores diferentes e mais atrativos, os chamados vapes têm sido uma fonte de preocupação entre os profissionais de saúde, pois atingem de forma mais rápida as vias respiratórias e pulmão.

Nesse sentido, a principal forma de prevenção para a doença é evitar o tabagismo e caso seja dependente do cigarro, buscar auxílio médico e psicológico para cessar o hábito. Também é indicado evitar o contato com fumantes, ambientes com poluição intensa e gases e toxinas poluentes. Para as pessoas que fumam e têm entre 55 e 70 anos, hoje é recomendada uma tomografia anual de baixa dose do tórax, para detectar lesões em estágios muito precoces e assim fazer o tratamento quanto antes.

 

Fonte: JB Saúde/Grupo Luta pela Vida

 

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