terça-feira, 9 de dezembro de 2025


 

Silas Malafaia crítica “amadorismo da direita” após ‘candidatura’ de Flávio Bolsonaro

O pastor de extrema direita Silas Malafaia foi às redes sociais atacar a decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, preso pela tentativa de golpe, de escolher seu filho e senador, Flávio Bolsonaro, para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito nas pesquisas, nas eleições de 2026.

"O amadorismo da direita faz a esquerda dar gargalhadas", escreveu Malafaia na rede X, em uma indireta a políticos da extrema direita. "Não estou falando nem contra e nem a favor de ninguém. Somente isto", emendou.

Mais cedo, Flávio disse que foi escolhido por Jair Bolsonaro como o candidato para enfrentar o presidente Lula. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse à Reuters que o senador lhe comunicou que foi escolhido por Jair Bolsonaro.

        Candidatura natimorta: para o Centrão, Flávio não levará plano presidencial até o fim

Lideranças do Centrão mantêm a preferência pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como nome competitivo para a disputa presidencial de 2026, mesmo após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciar que foi escolhido pelo pai, Jair Bolsonaro (PL), para sucedê-lo politicamente, informa a Folha de São Paulo.

Dirigentes das principais siglas do bloco entendem que o governador teria maior capacidade de unificar partidos como PL, PP, Republicanos, União Brasil e PSD em torno de uma candidatura capaz de enfrentar o presidente Lula (PT). Já Flávio, avaliam esses interlocutores, não dispõe da mesma força política e dificilmente consolidará apoio amplo.

Para políticos do Centrão, caso o filho mais velho de Bolsonaro concorra ao Planalto, o efeito imediato seria a fragmentação ainda maior da direita, que já conta com nomes postos como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR). Um dirigente do bloco, em caráter reservado, afirmou que “dificilmente Flávio vai conseguir o apoio de todos os partidos”, destacando que levantamentos internos apontam melhor desempenho de Tarcísio, enquanto membros da família Bolsonaro enfrentam rejeição elevada.

Aliados do governador relatam que ele resiste à ideia de enfrentar Lula em meio às tensões no campo bolsonarista e só aceitaria disputar se houvesse unidade plena. A leitura de parte da classe política é que o movimento de Flávio representa mais uma estratégia de sobrevivência do que uma candidatura sólida — especialmente agora que seu pai cumpre pena em regime fechado por tentativa de golpe de Estado e permanece inelegível.

A antecipação do anúncio também é vista como fator que fragiliza o senador, tornando-o mais exposto a ataques e à lembrança de episódios como o caso da rachadinha, cujas provas foram anuladas pelo STF em 2021. Aliados de Flávio dizem que ele passou a acreditar que está na mira do ministro Alexandre de Moraes após convocar vigília em defesa do ex-presidente — ato citado na ordem de prisão.

Sem mencionar nomes, Antônio Rueda, presidente da federação União Brasil–PP, criticou a polarização, sugerindo que a indicação de alguém da família Bolsonaro poderia intensificar divisões. “Os últimos acontecimentos apenas reforçam o que sempre defendemos: em 2026, não será a polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério, responsável e voltado para os reais interesses do povo brasileiro”, declarou.

Ronaldo Caiado reafirmou sua pré-candidatura: “Ele tem o direito de buscar viabilizar a candidatura do senador Flávio Bolsonaro. Da minha parte, sigo pré-candidato a presidente e estou convicto de que no próximo ano vamos tirar o PT do poder e devolver o Brasil aos brasileiros”, afirmou.

Romeu Zema também apoiou o movimento do senador. “Quando anunciei minha pré-candidatura ao presidente Bolsonaro ele foi claro: múltiplas candidaturas no primeiro turno ajudam a somar forças no segundo. Então, faz todo sentido o Flávio apresentar seu nome à Presidência. É justo e democrático”, escreveu nas redes.

        A despeito de Flávio, Tarcísio será o candidato “aperol” da Faria Lima. Por Denise Assis

Os que pensam que com o anúncio “oficial” do nome de Flávio Bolsonaro para disputar as eleições presidenciais de 2026 a parada da direita está decidida, enganam-se. Nada faz o cenário político mais indefinido como o nome posto.

Flávio Bolsonaro atende ao núcleo bolsonarista raiz, talvez a uma parcela dos votos de cabresto urbano, como a dos evangélicos, mas isso redunda no máximo em 25 a 30% do eleitorado, como têm demonstrado as pesquisas, que conservam o nome de Jair nas consultas exatamente para não perder de vista esse bocado de eleitores.

Flávio é claudicante, monossilábico, tem carisma zero e seu único trunfo é falar em nome do pai. Preso na Polícia Federal ou em domiciliar, a influência de Jair Bolsonaro já não é tão levada em conta assim. A menos que, em casa, concedida a domiciliar, Alexandre de Moraes amoleça o coração e volte a permitir a verdadeira romaria de políticos que com ele articulou durante todo o tempo em que cumpriu a “preventiva”, na pérgula da piscina. Sozinho, sendo levado aos comícios numa efígie de papelão (olha a chuva!!!), ele é apenas isso: uma imagem que sob sol e chuva vai se esmaecendo.

Pelo visto, o pai já o perdoou pelo plano de fuga tabajara que o jogou mais rápido na prisão definitiva, ao chamar uma vigília para viabilizar a provável escapulida. É assim, o 01, meio atabalhoado e visivelmente inseguro. A ponto de em agosto de 2016, ao disputar com a deputada Jandira Feghali (PC do B) o cargo de prefeito do Rio, ter tido uma descarga intestinal, depois de uma daquelas saraivadas que só a deputada sabe dar, com um jorro de argumentos que o nocauteou. Flávio Bolsonaro desmaiou. No palco. Diante do eleitorado perplexo. Daqui por diante, vai ter vida difícil. Ou se esquiva dos debates ou vai de fraldão.

Para se ter uma ideia do quanto o nome de Flávio Bolsonaro é improvável além das touceiras bolsonaristas, basta dar uma olhada na movimentação da bolsa de valores. O índice Ibovespa, que não parava de subir, batendo recordes seguidos, hoje estacionou e o dólar, até aqui em queda, subiu como um foguete, parecendo demonstrar que “ele não!”.

É público e sabido que a Faria Lima conta com Tarcísio de Freitas, a quem já ungiram com o título de pré-candidato. Primeiro porque com um terno azul royal bem cortado, ele não faz feio nos salões. Ignoram, como fizeram em 2018, que torcem por um postulante ao cargo máximo, adepto da matança do seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, das escolas militarizadas, e do slogan de Bolsonaro: “o povo armado jamais será escravizado”. Os mesmos que lá naquela eleição, acharam que Jair poderia ser domado por Paulo Guedes, (para eles, o verdadeiro timoneiro daquele mandato), tamparam o nariz e mergulharam nas urnas com o 22, agora fingem não perceber nada disso. E, muito menos, que o time de Tarcísio é o mesmo – militares fora, pois estão todos presos -, de Jair. No momento, o que podem fazer é pressionar para que ele aceite a incumbência, se descolando da “família”.

O nome de Flávio Bolsonaro também não é unanimidade no Centrão. Vai provocar um racha. A seu lado, talvez fiquem o senador Rogério Marinho, o também senador Girão, Damares Alvez e outros desse naipe, mas é de se esperar que o Centrão tradicional da política, aquele que vem de longe, com pele de raposa, não vai engolir essa. Os que têm trânsito no mercado financeiro certamente vão aguardar o anúncio da dissidência: Tarcísio. Há os que apostam que ele dirá um sonoro não, porque “não quer trair Jair”. (Ora! Foi traído por ele! Ou a escolha de Flávio não é uma traição?). E está com a vitória praticamente garantida em seu estado.

A esta altura, o governador paulista é a boia onde se agarram os amigos da jornalista que procura um candidato “tranquilinho” para chamar de seu. Tarcísio Freitas com ou sem boné do MAGA, será compelido a aceitar – sob pena de não ter quem invista na sua campanha para o governo de São Paulo, onde a força da grana ergue e destrói – o posto à corrida para a presidência. Fadada ao fracasso? Talvez, mas é onde os “farias limes” poderão desaguar seus votos, sem ter que apostar, mais uma vez, na radicalização dos Bolsonaro.

Tarcísio é o candidato “aperol” que as viúvas do PSDB sonharam para 2026. Porque, de verdade, ele não será a aposta para a próxima. Tarcísio será testado nas urnas, para criar casca para 2030. Aguardem. As urnas terão seu nome.

        A direita desafia o vacilão Tarcísio de Freitas. Por Moisés Mendes

Tarcísio de Freitas é o Neymar da extrema direita. Sempre sente algum desconforto diante de momentos decisivos. Encolheu-se depois das barbeiragens dos ataques a Alexandre de Moraes e das batidas da Polícia Federal na Faria Lima, vacilou diante da base raiz do bolsonarismo e do próprio Bolsonaro e deixou claro que tem medo de enfrentar Lula.

Mas a velha direita e o novo fascismo, mesmo sabendo das suas fraquezas, sabem também que hoje só ele poderia desafiar Lula. Como deixam bem claro agora, nos recados enviados aos jornais, que Flávio é o coelho correndo na frente para que outros mais fortes, se existirem, corram atrás.

E o único corredor, como aposta de Valdemar, Ciro e Kassab; da Faria Lima-PCC; da velha Fiesp, ressuscitada por Skaf; de desmatadores, jornalões, garimpeiros, milicianos e de manés à espera da anistia – o único, apesar de estar sempre com um problema no joelho, é Tarcísio.

Ninguém levou a sério que Michelle estivesse desafiando Bolsonaro e os enteados para se habilitar à candidatura à Presidência em 2026. Michelle não sobreviveria sem Bolsonaro e sem os garotos.

Ninguém leva a sério Zema e Caiado, que são tartarugas capazes de subir apenas em cercas regionais. E poucos demonstraram até agora que Ratinho Júnior é, de fato, uma alternativa competitiva. Ratinho foi esquecido, como estratégia ou como demonstração de que é inexpressivo como nome nacional.

E Flávio não prospera sem a confiança e o suporte do centrão. É previsível que aumentem as pressões de todos os lados para que Tarcísio tome mais Coca-Cola, crie coragem e seja o homem que a direita quer. Antes, é preciso combinar com os russos.

A Polícia Federal começa a fechar o cerco em torno de Cláudio Castro no Rio e terá que fazer o mesmo em São Paulo, onde, há muito tempo, apareceram as pontas dos fios que conectam o crime organizado ao poder econômico e político — e não só na Faria Lima.

Além disso, na média das pesquisas antigas e recentes, Tarcísio não se apresenta, como seus admiradores gostariam, como o nome forte da direita para 2026. Em muitas sondagens, fica atrás de Michelle e nunca teve performance que pudesse ameaçar Lula.

Mas não há outra saída hoje. Flávio aguenta alguns meses fazendo onda, ganha exposição para a campanha ao Senado no Rio e, na hora certa, comete o gesto de grandeza de renunciar à missão que o pai e Deus lhe entregaram.

E Tarcísio, o extremista moderado que vacila, será empurrado à força para o jogo, em lance pessoal de alto risco, porque tem reeleição assegurada em São Paulo. Se perder para Lula, fica fragilizado e sem mandato e sem imunidades políticas por quatro anos, o que hoje, com mudanças constantes de cenários, é quase uma eternidade.

O que se tem até agora, como apoio categórico a Flávio, são as manifestações de Carluxo (“Eu só sei que meu pai decidiu e a gente vai apoiar. E é por aí”), Valdemar Costa Neto (“Bolsonaro falou, está falado”), Michelle (“Que o Senhor te dê sabedoria”), Mario Frias e os dois Eduardos, o Bolsonaro e o Pazuello.

O resto manda recados sem fontes aos jornalistas amigos e espera para medir o fôlego do coelho, que poderá ter atrás dele também a Polícia Federal. Flávio é um dos grandões impunes do fascismo, e sua indicação pelo pai não deixa de ser uma afronta à leniência do sistema de Justiça.

(Até a conclusão deste texto, Tarcísio de Freitas, que deveria ter sido a primeira voz a dizer que Bolsonaro está certo ao ungir o filho, permanecia calado. Tarcísio pode ter sentido uma fisgada no posterior da coxa direita).

        Oliveiros Marques: A tese das múltiplas candidaturas

A indicação de Flávio Bolsonaro para representar a família na disputa presidencial do próximo ano alimenta a tese, entre alguns próceres da direita brasileira, de que se trata de um movimento estratégico: pulverizar os votos desse campo em diversas candidaturas no primeiro turno para, depois, reunificá-los em torno de quem avançar à segunda volta. É uma tese curiosa, engenhosa até. Mas, ainda assim, uma tese - e, a meu ver, condenada a não encontrar respaldo na vida real.

Para além de fortalecer o PL e assegurar a Valdemar da Costa Neto um fundo partidário - menor que o atual, mas ainda robusto o suficiente para seguir irrigando projetos futuros -, essa estratégia tende a pavimentar um caminho menos acidentado para a candidatura governista de Lula. Não significa, claro, que a vitória de Lula esteja dada. Nada disso. Mas a fragmentação da representação da direita a enfraquece estruturalmente.

As eleições do ano que vem apontam para uma disputa de rejeições. Cerca de 80% do eleitorado já se encontra blocado e assim permanecerá até o momento do voto. Na metade desse contingente que se sente representado pela direita - e sim, eles existem, e são muitos -, a divisão entre diversas candidaturas tende a desidratar a força individual de cada uma, concentrando o rescaldo em uma única opção, que, arrisco dizer, será aquela que carregar o sobrenome Bolsonaro.

Seria isso suficiente para vencer? Eis o ponto frágil da tese. A resposta é não. Seria suficiente para levar ao segundo turno, possivelmente à frente de outros nomes do mesmo campo. Mas isso depende de haver segundo turno - e é justamente aqui que, com a divisão da direita, abre-se a possibilidade de que ele simplesmente não aconteça.

Siga comigo. Durante boa parte da campanha, as candidaturas da direita e extrema-direita precisariam travar uma disputa interna para convencer o próprio eleitorado de qual delas é mais competitiva e mais fiel ao espírito do campo conservador. Esse movimento, por si só, criaria fissuras, ressentimentos e um consumo enorme de tempo - o ativo precioso em uma campanha eleitoral.

E, enquanto esse bloco inteiro estivesse ocupado em se provar para dentro, Lula estaria livre para dialogar diretamente com os 20% do eleitorado que se encontram realmente em disputa, aqueles que podem migrar entre polos e que decidem eleições. Em uma campanha, tempo é mais valioso que dinheiro - e a vantagem competitiva de falar a esse eleitorado, sem distrações internas, é gigantesca.

É por isso que não acredito na tese das múltiplas candidaturas à direita. No fim do processo, esse campo tenderá à convergência em torno de um nome. Hoje, se tivesse que apostar, colocaria algumas fichas na candidatura do filho Flávio. E, nesse cenário, Caiado, Leite, Zema e Ratinho recolheriam os flaps, ajustando rota para disputar o Senado, aguardar outra janela eleitoral ou simplesmente concluir seus mandatos - deixando de lado as urnas em 2026.

 

Fonte: Brasil 247


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