quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Sem ações do governo estadual, PF prevê retomada da violência após fim de operação na Bahia

Integrantes da PF diretamente envolvidos na ofensiva contra facções do crime organizado na Bahia - na prática, uma intervenção federal na segurança pública do estado - temem outra onda de violência após o fim da ação em bairros de Salvador dominados pelos traficantes. Em conversas reservadas com a Satélite, delegados da PF destacados para atuar no combate ao narcotráfico da capital afirmaram que, apesar dos avanços obtidos nos últimos dias, não viram quaisquer ações do governo baiano para reforçar a segurança dessas localidades ou planos para ocupá-las através da maior oferta de serviços públicos nas áreas de educação, qualificação profissional e assistência social.

•        Noves fora, zero

"Nas reuniões diárias de avaliação, sempre nos perguntamos qual o planejamento do governo do estado e o que ele pretende fazer quando formos embora. Estamos diminuindo o poderio de cada facção nos bairros, mas a realidade continua a mesma. Até o policiamento permanece igual ao de antes", desabafou um dos delegados da PF envolvidos no cerco.

•        Sozinho na praça

Policiais federais ligados à força-tarefa montada para contra-atacar as facções do estado garantem que vêm obtendo resultados importantes na ofensiva, com prisões em série e fuga em massa de lideranças do crime organizado, mas se queixam da ausência de políticas públicas por parte do governo da Bahia para o período pós-intervenção velada. "Embora Marcelo Werner (chefe da SSP) se mostre 100% empenhado em concretizar ações efetivas para elevar a segurança nas comunidades atingidas pela criminalidade, ele e seus auxiliares estão sozinhos nessa missão", ressaltou outro delegado federal graduado.

•        Além da guerra

Em compasso simultâneo, fontes da PF ouvidas pela coluna destacaram ainda que têm lutado sem tréguas junto à cúpula da corporação e do Ministério da Justiça em Brasília para manter, pelo menos por mais três meses, a estrutura destinada a enfrentar o galope da criminalidade na Bahia. Porém, admitiram dificuldades em estender as ações por mais tempo. Sobretudo, quanto ao uso dos quatro veículos blindados, helicóptero e grupos táticos da PF enviados recentemente do Distrito Federal e do Rio de Janeiro.

 

       Com a  criminalidade em alta, governador se reúne com Dino em Brasília para discutir segurança na Bahia

 

O governador Jerônimo Rodrigues se reuniu na noite da segunda-feira (25) com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em Brasília. Os dois discutiram novas estratégias para o trabalho conjunto das forças estaduais e federais contra a crescente de violência na Bahia.

“O objetivo é consolidar uma estratégia que a gente vem trabalhando desde o início do governo Lula. Viemos fazer ajustes para melhorar cada vez mais as nossas ações de segurança pública em nosso estado. Já é possível ver, a cada dia, a Polícia Militar e a Polícia Civil da Bahia trabalhando em parceria com a Polícia Federal, e estamos traçando, a partir daqui, novas ações”, diz Jerônimo.

O ministro, que neste final de semana falou da situação grave da segurança no estado, disse que a parceria será intensificada. ”Vamos avançar nessa parceria para que a segurança pública possa ser, a cada dia, ainda mais aprimorada. É um trabalho pela Bahia e pelo Brasil”, afirmou Dino.

Dino disse que a Polícia Federal tem feito atuações conjuntas frequentes com as forças estaduais e  ”agora essa aliança está entrando numa nova fase. Nós vamos intensificar essas operações conjuntas”. Nos próximos dias, uma equipe do ministério vem ao estado para visitar técnicas, avaliando novos investimentos e ações, acrescenta.

“Vamos ampliar a destinação de recursos, de equipamentos e de tecnologia para essas ações conjuntas, e eu tenho toda a confiança de que os resultados, que já estão aparecendo, serão cada vez melhores”, afirmou o ministro.

Na reunião, Dino também disse que em outubro fará a entrega da delegacia da PF em Feira de Santana, o que vai ajudar a fortalecer o combate ao crime na região.

•        ´Desafiador´

No fim de semana, Dino falou do grave quadro da segurança na Bahia. “Nós temos conversado com o governador [Jerônimo Rodrigues], com o secretário de segurança [Marcelo Werner], para que haja um aperfeiçoamento, um aprimoramento dessas ações. É um quadro muito desafiador, muito difícil. O que nós, do governo federal, fizemos neste momento, foi fortalecer a presença da Polícia Federal para apoiar essas ações. Sobretudo, visando a pacificação. Infelizmente as organizações criminosas se fortaleceram muito nos últimos anos, aumentaram o acesso às armas em todo o Brasil, por conta de uma política errada que havia no nosso país”, disse após participar de homenagem ao padre Júlio Lancellotti, na capital paulista.

Após a morte de um policial federal no dia 15 de setembro, foi deflagrada na Bahia uma operação policial que já contabiliza ao menos nove mortes em situações apresentadas como confronto. O policial participava da Operação Fauda, conduzida pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) da Polícia Federal (PF) e da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) contra uma organização criminosa envolvida com tráfico de drogas e armas, homicídios e roubos.

Em agosto, a líder quilombola e ialorixá Mãe Bernadete, de 72 anos de idade, foi assassinada, no Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador (BA). Além da investigação pelas autoridades locais, a Polícia Federal também abriu um inquérito sobre o caso. Três homens foram presos por suspeita de participação no crime.

Dino disse que no momento o governo federal está apoiando as ações que ajudem a solucionar os casos de homicídio, como forma de tentar conter a violência no estado. “O mais importante neste instante, sem dúvida, não é propriamente a realização de julgamentos, são boas investigações, boas ações, para que a gente consiga ter uma situação estável pelo menos na Bahia. Hoje, sem dúvida é um dos maiores desafios da segurança pública no Brasil”, ressaltou.

 

Fonte: Correio

 

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