PT vê tendência lava-jatista em interina e pressiona Lula a acelerar
escolha de PGR
A subprocuradora Elizeta Ramos assumiu
interinamente a PGR (Procuradoria-Geral da República) na quarta-feira (27) sob
desconfiança de uma ala do governo Lula (PT) que a vê como lava-jatista e sem
saber por quanto tempo ficará no cargo.
Aliados citam esse fato para pressionar Lula a
escolher rapidamente quem será o sucessor de Augusto Aras no comando do MPF
(Ministério Público Federal).
O petista, porém, afirmou nesta semana não ter
pressa em fazer a indicação. Enquanto isso, a vice-presidente do Conselho
Superior da instituição ficará temporariamente no posto.
Elizeta ingressou na Procuradoria em 1989. Em 2009,
foi promovida a subprocuradora-geral da República.
Nos bastidores, tenta desfazer a imagem de lava-jatista
e lembra que teve uma atuação firme contra a PRF (Polícia Rodoviária Federal)
ao pedir explicações da corporação sobre os bloqueios em rodovias após a
vitória de Lula nas eleições de 2022.
Ela coordena colegiado na estrutura da Procuradoria
responsável pelo controle externo da atividade policial e foi um dos três
signatários do pedido de apuração contra Silvinei Vasques, o ex-diretor da PRF
investigado por suspeita de uso político da corporação contra Lula no ano
passado.
Essa é uma das credenciais que ela costuma
apresentar para afirmar que não é uma defensora intransigente da Operação Lava
Jato, como uma ala do PT tem afirmado. Também usa esse argumento para sinalizar
que terá uma atuação equilibrada e sem risco de cometer exageros contra o Executivo.
A tese petista contra ela decorre, entre outros
episódios, do fato de Elizeta ter assinado uma nota em apoio à nomeação do
então juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL).
O texto foi assinado em 2018 por mais de 150
procuradores e exaltava os feitos do ex-magistrado, que foi o principal algoz
de Lula e do PT no Judiciário. O documento afirmava ainda que Moro teve um
"extraordinário desprendimento pessoal, em benefício do Brasil e dos
interesses da sociedade" à frente da operação.
Outro movimento de Elizeta que é apontado por
aliados de Lula como preocupante foi a abertura de uma sindicância para apurar
a ida da então braço direito de Aras, a subprocuradora Lindôra Araújo, a
Curitiba para se reunir com integrantes da Lava Jato.
À época, ela era corregedora e instaurou apuração
para analisar uma acusação da operação de que Lindôra teria tentado copiar
dados sigilosos de investigações da Lava Jato de maneira ilegal.
Por outro lado, a procuradora-geral interina teve
uma atuação contrária à operação quando instaurou procedimento para investigar
negociação dos procuradores de Curitiba com autoridades estrangeiras.
Até o momento, ela promoveu apenas uma mudança nos
principais cargos da PGR em relação à equipe montada por Aras.
A subprocuradora Ana Borges Coelho do Santos
assumirá a vice-procuradora-geral no lugar de Lindôra Araújo, que se
notabilizou pela proximidade nos bastidores com a família Bolsonaro.
Elizeta não deve ser efetivada no cargo. Lula ainda
não definiu quem indicará para o posto.
Os dois nomes mais fortes na disputa até o momento
são os de Paulo Gonet Branco e Antonio Carlos Bigonha. O primeiro é apoiado
pelos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do STF, e é o atual
vice-procurador-geral eleitoral.
O segundo, por sua vez, é subprocurador-geral e tem
relação próxima com uma ala do PT. O indicado ainda precisará passar por
sabatina no Senado.
Nesta quinta-feira (28), Elizeta participou da
solenidade da posse de Luís Roberto Barroso na presidência do Supremo,
dividindo a bancada do plenário com as demais as autoridades, incluindo Lula.
Ele fez um breve discurso, reafirmando o papel do MPF.
"Senhor presidente [Barroso], conte com uma
atuação socialmente efetiva do Ministério Público –que se traduz no combate a
crimes que extraem recursos que deveriam se destinar à educação, saúde e
segurança", afirmou.
A representante do Ministério Público disse ainda
que a instituição zela pelas garantias expressas na lei, "visto que não
nos cabe outra submissão a não ser aos preceitos constitucionais e aos demais
dispositivos legais".
A PGR sob Aras foi reiteradamente cobrada a agir
contra abusos de Bolsonaro e contra a resposta do ex-presidente à pandemia da
Covid-19.
Aras dedicou os últimos meses no cargo a defender
sua gestão, encerrada na última terça (26), e tentar apagar a imagem,
amplamente difundida, de que ele foi tolerante com líderes políticos e com os
arroubos golpistas do ex-mandatário e aliados.
Campanha
por mulher negra no STF se intensifica, e professores da UnB defendem indicação
de baiana
Durante o discurso de posse do novo presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, nesta quinta-feira (28),
uma das passagens mais aplaudidas foi o momento em que o ministro se
comprometeu a aumentar a participação de mulheres nos tribunais. Barroso havia
elogiado o Judiciário brasileiro, segundo ele, um dos mais independentes e
produtivos do mundo, mas disse que é preciso melhorar, principalmente
estabelecendo critérios de promoção na magistratura que levem em conta a
paridade de gênero.
O novo presidente do STF tem se mostrado, nas
últimas semanas, um dos maiores entusiastas da indicação de uma mulher negra
para a vaga que será deixada pela ministra Rosa Weber, que se aposentará na
próxima segunda (2). Segundo o site Metrópoles, parceiro do Bahia Notícias, em
um jantar na semana retrasada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Barroso teria defendido a indicação de uma jurista negra como nova ministra do
Supremo. Barroso inclusive tem duas juízes auxiliares em sua equipe que são
negras: Adriana Cruz, escolhida para ser a secretária-geral do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), e Flávia Martins, indicada pelo ministro para ser a
ouvidora do STF durante sua gestão como presidente.
Além das manifestações já feitas pelos ministros
Barroso, Rosa Weber e Cármen Lúcia, a reivindicação pela indicação de uma
mulher negra no STF vem se intensificando nas últimas semanas no Brasil e no
exterior. A campanha "Ministra Negra no STF" espalhou cartazes pela
Índia, no início de setembro, onde o presidente Lula participava da reunião do
G20. Um vídeo com a defesa da indicação também foi transmitido na Times Square,
em Nova Iorque, produzido pela Instituto Defesa da População Negra (IDPN), em
conjunto com a Coalizão Negra por direitos, que abrange mais de 250
organizações.
A campanha se intensificou principalmente após o
presidente Lula ter afirmado que não levará em conta “questão de gênero ou de
cor” na hora de fazer sua escolha para o STF. Na última quarta-feira (27), foi
realizado um ato em frente ao Ministério da Saúde, pela Coalizão Negra por
Direitos, para que uma mulher negra seja a indicada para substituir a ministra
Rosa Weber.
Os movimentos de organizações e entidades de defesa
da população negra apontam alguns nomes de juristas e advogadas que poderiam
ser indicadas por Lula ao STF, por contarem com um currículo extenso de
atuação, especialização e formação acadêmica na área do direito e na defesa dos
direitos humanos. Nomes como Aline Ramos Moreira, Edilene Lobo, Vera Lúcia
Santana Araújo, Lívia Vaz, Simone Henriquez e Manuellita Hermes Rosa Oliveira
são citados como de mulheres negras que alcançaram êxito em suas atividades
profissionais e acadêmicas, e que estariam plenamente aptas a assumir uma cadeira
na Suprema Corte.
A baiana Manuellita Hermes, formada em Direito pela
UFBA, atualmente é coordenadora-geral de Assuntos Judiciais e Administrativos
da Consultoria Jurídica do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, e
atua também como coordenadora do Grupo de Trabalho de Igualdade Racial do
Comitê de Diversidade da Advocacia-Geral da União. Manuellita já havia sido
defendida como indicada em uma moção de apoio dos professores da UFBA, e nesta
semana, foi a vez dos docentes e discentes de Direito da Universidade de
Brasília (UnB) divulgarem uma carta pública em apoio à indicação da procuradora
e professora baiana ao STF.
“Conscientes
e certos da importância da nomeação de uma jurista negra para a vaga da
Ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal, os docentes e discentes da
Faculdade de Direito da Universidade de Brasília manifestam seu apoio à
indicação de Manuellita Hermes ao STF. Atualmente, o STF é composto por nove
homens e apenas duas mulheres, nítido reflexo da desigualdade histórica de
acesso igualitário aos cargos mais elevados dos Poderes da República. Sendo
assim, a indicação de um novo ministro à Corte, neste momento, não traduz a
necessária ampliação da igualdade de gênero nos espaços decisórios para
concretização das premissas constitucionais de igualdade material”, afirma a
nota que é assinada por professores como Ana Cristina Botelho, Claudia Roesler,
Ela Wiecko Volkmer de Castilho, Érica Fernandes Teixeira, Evandro Piza, Juliano
Zaiden Benvindo, Lívia Gimenes Dias da Fonseca, Miguel Godoy, Welliton Caixeta
Maciel, entre outros.
Os professorese alunos de Direito da UnB afirmam,
na moção, que os acessos aos espaços de poder no Judiciário são
majoritariamente desiguais. Os docentes citam levantamento realizado pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2021, que demonstrou que apenas 12,8% dos
magistrados no Brasil são negros. Também apresentam pesquisa realizada pelo
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de 2023, que apontou que
mulheres negras são apenas 6,5% do total de membros que ingressaram nos últimos
cinco anos.
“Contudo,
não são apenas as pesquisas e dados que revelam a desigualdade de acesso
resultante da estrutura social discriminatória existente na sociedade
brasileira e no Judiciário. Os 132 anos do STF e a ausência de uma mulher negra
que ocupasse uma cadeira aponta para a necessária e essencial mudança no
cenário das instâncias superiores de Justiça no Brasil. Por tal razão, a
escolha da Ministra sucessora deve estar em plena consonância com as conquistas
promulgadas pela Constituição Federal, principalmente ao se considerar a
igualdade como objetivo fundamental e valor supremo de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceito. Este é o verdadeiro retrato da sociedade
brasileira almejado na Constituição, que deve transformar a realidade a partir
da consolidação da igualdade como princípio vivo, progressivo e cada vez mais
presente em todos os níveis institucionais e sociais”, afirmam os professores e
discentes na moção pública.
Diante do quadro de desigualdade histórica no
acesso a postos-chave do Judiciário brasileiro, os professores da Universidade
de Brasília afirmam que a indicação de uma mulher negra para a vaga que será
deixada pela ministra Rosa Weber representará um caminho democrático e progressista
rumo a paridade de gênero e a equidade racial. Para os docentes, a figura da
nova ministra do Supremo Tribunal deve trazer consigo o legado das garantias
conquistadas e a verdadeira identidade do Brasil.
Em prol de garantir esta representação da mulher
negra nos espaços institucionais, os docentes e discentes da Faculdade de
Direito da Universidade de Brasília esboçam seu apoio integral à nomeação da
baiana e soteropolitana Manuellita Hermes ao STF. Na moção de apoio, os
professores detalham o extenso currículo acadêmico e profissional da
procuradora federal, e afirmam que ela é uma profissional de excelência com
distinto e aprofundado saber jurídico, construído em instituições renomadas no
Brasil e no exterior.
“O percurso
de Manuellita Hermes como professora, pesquisadora e Procuradora Federal
evidencia sua total capacidade para suceder a ministra Rosa Weber na Corte.
Como mulher negra e nordestina, a experiência da jurista é um exponencial fator
para a progressiva concretização de direitos no exercício da jurisdição
constitucional, seja pelo seu notável saber jurídico, seja pela
representatividade que será fomentada no STF, a ensejar indiscutível qualidade
e destreza nas decisões e votos a serem proferidos. É urgente, assim, que esta
janela histórica favorável permita, pela primeira vez na história do Brasil, a
indicação de uma mulher negra ao STF para esperançar novos rumos democráticos
no Judiciário brasileiro”, conclui a moção dos professores da UnB, divulgada
nas redes sociais
Fonte: FolhaPress
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