Bepe Damasco: O repulsivo general Heleno e a formação dos militares
Não lembro de ter assistido durante as muitas CPIs
que acompanhei pela TV um comportamento tão grosseiro e mal educado por parte
de um depoente, como o protagonizado pelo general Augusto Heleno.
Não que esperasse uma postura civilizada por parte
de um troglodita do calibre do general. Mas, ao responder com palavrões à
inquirição feita pela relatora da CPI, senadora Eliziane Gama, ele revelou todo
seu desprezo pelas instituições democráticas, além de flagrante misoginia.
Antes, já ameaçara processar um deputado e
"mandá-lo para a cadeia" e, transpirando homofobia por todos os
poros, insistiu em tratar como senhor a deputada trans Duda Salabert. Sem falar
que acabou vendo ruir sua mentira sobre a desimportância do tenente-coronel
Mauro Cid, com o vídeo apresentado pelo deputado Rogério Correia.
Quem dera, no entanto, que o general Heleno fosse
exceção entre os oficiais generais, e no oficialato das três forças, em geral.
Existem militares legalistas e profissionais. A desgraça para o país é que eles
são minoritários.
O endosso ao governo neofascista de Bolsonaro, no
qual ocuparam mais de 3 mil cargos, e a participação de muitos deles na trama
golpista que se seguiu à vitória de Lula, incluindo o apoio político e
logístico à horda de fascistas que acamparam em frente aos quartéis e de lá
saíram para tentar consumar o golpe, em 8 de janeiro, expõem de forma alarmante
para o país a falta de compromisso democrático de boa parte dos fardados.
Não custa lembrar ainda que a tentativa de
descredibilizar as urnas eletrônicas contou com forte apoio da caserna.
Se é verdade que a maioria dos comandantes se negou
a aderir ao golpe proposto por Bolsonaro, também pairam dúvidas sobre a real
motivação para a negativa. Não teria sido pelo "tabajarismo" gritante
dos planos de Bolsonaro?
O fato é que, com mais verniz e sem exibir a
carranca de fascista juramentado de um Heleno da vida, muitos militares de alta
patente comungam das ideias totalitárias de Heleno, ainda que não as expressem
publicamente.
É impossível não remeter a questão à raiz, ou seja,
à grade curricular dos cursos de formação dos nossos militares.
Se isso não mudar, e o governo Lula deve ser
cobrado para que atue com esse objetivo, a democracia seguirá vivendo sob
constante ameaça dos que se acham "o poder moderador da República."
Em vez da anacrônica doutrina de segurança
nacional, direitos humanos.
No lugar de antipetismo (versão moderna do
anticomunismo), respeito à pluralidade política da sociedade.
Ao invés de politização e busca de inimigos
internos, foco na missão constitucional de patrulhamento de fronteiras e
segurança nacional.
Em vez de preconceitos de toda ordem, cátedras
sobre a importância da diversidade, ensinamentos antirracistas e de combate ao
machismo e à homofobia.
Se nos bancos escolares dos cursos militares os
alunos tiverem acesso a esses conceitos iluministas, republicanos e
civilizatórios, aí sim o Brasil poderá contar no futuro com forças armadas
sintonizadas com os anseios da nação brasileira.
Ø General Heleno, um dos retratos do desgoverno. Por André Barroso
Entre as pessoas que apoiam o Bolsonarismo, estão
iletrados, raivosos, milicianos, fazendeiros desmatadores, neoliberais,
fascistas e principalmente adoradores do golpe militar de 1964. Geralmente,
esta última camada é composta por senhores de idade e aqueles mais novos que
apoiam o AI-5 e intervenção militar. Esse saudosismo com a ditadura militar,
que governou com mãos sujas de sangue, mostra que essa sombra não vai se acabar
em 20 anos, mas se renova com líderes da extrema direita tal qual Bolsonaro,
Trump, Giorgia Meloni, Adrzej Duda, Viktor Orbán, Jimmie Akesson e mais
recentemente, Javier Milei.
Um desses filhotes da ditadura, da qual Brizola
costumava bradar em debates, foi do atual general Augusto Heleno. Durante
a ditadura militar trabalhou como ajudante de ordens de Sylvio Frota, tal qual
o atual Cid com Jair Bolsonaro. Sylvio Frota era da considerada linha dura do
exército, apoiando a tortura e contra o Gal. Ernesto Geisel, que estava levando
a abertura ao país com a do Brasil. Tentaram dar um golpe dentro do golpe
militar. Acabou exonerado com Frota. Seu aprendizado foi no período mais negro
da história. Não à toa que seu amigo Bolsonaro exalta a figura de Ustra como
herói nacional. General Augusto Heleno liderou a operação "Punho de
Ferro" no bairro de Cité Soleil em Porto Príncipe, no Haiti. Essa operação
foi considerado por grupos de direitos humanos a um massacre demais de 70
inocentes entre mulheres e crianças, onde através da WikiLeaks foram
descobertos que foram disparados 22 mil tiros.
A muito já se sabe com áudios, vídeos, laudos de
testemunhas, de que o general que estava comungando efetivamente de estratégias
para a todo custo impedir a posse de Lula. Tentaram com plano A e plano B, sem
sucesso. Desta vez, todo conhecimento junto aos militares da ditadura militar
não foi páreo frente à democracia. Todas as tentativas torpes conjuradas por
ele, Bolsonaro, Cid e a cúpula militar, não foi para frente. Apesar de bolsonaristas,
os chefes do Exército (a maior frente) e da aeronáutica serem contrários,
lembrando que a aeronáutica, através do comandante tenente-brigadeiro do ar
Carlos Baptista Junior, teve em sua pasta o escândalo mais grave, foi do
tráfego internacional de drogas, no avião presidencial. Apenas o comandante da
marinha topou participar do golpe. Todos relataram que Bolsonaro se reuniu com
eles fora da agenda pelo menos 10 vezes, para insistir no golpe.
A participação de Heleno na tentativa de golpe é
grande. Considerando declarações de que não aceitaria a subida de Lula ao
planalto, já temos diversas declarações pela imprensa e através de vídeos de
apoiadores, onde sempre incitava em qualquer turba que houvesse um levante
popular. Ele fez parte de um grupo de Whatsapp, o Notícias Brasil, de militares
da ativa e da reserva no qual discutiam ações golpistas, para impedir a posse
do presidente Lula. Hoje, tentou diminuir a importância de Mauro Cid em
reuniões, assim como ele tenta se proteger se declarando um democrata. Mesmo
seu histórico de vida dizer ao contrário. E mesmo não respondendo as perguntas
mais difíceis e respondendo aos seus colegas de extrema direita, sendo
transfóbico, sendo truculento em diversos momentos.
Foi pego em contradição em algumas falas. E queria
evitar esse constrangimento não comparecendo a CPI, mas graças ao ministro
Cristiano Zanin, do STF, foi obrigado a depor. Os militares nesse momento estão
preocupados com o que pode respingar de negativo com todas as provas
demonstradas de participação direta no golpe de Estado. Desta vez, o general
Heleno, que está na reserva, não escapa de ser apontado pela CPI como um dos
mentores do oito de janeiro.
A história do Brasil é repleta de golpes de Estado
condenáveis. Desta vez, a democracia dá uma prova de que ainda vale a pena
acreditar em um futuro melhor. A história já me deixara para trás, só que desta
vez, fascistas não passarão!
Ø Lula já constrói barricadas antigolpe. Por Eduardo Guimarães
Estudo do Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap), a cargo da cientista política Lilian Sendretti, dá conta
de que o Brasil registrou mais manifestações de extrema direita nos dois meses
após a eleição do presidente Lula que nos quatro terríveis anos anteriores.
A ocorrência e a ferocidade dos agressores da
normalidade institucional e democrática da Nação veio num crescendo entre 2018
e o 8 de janeiro de 2023. Foram registradas 1.666 manifestações entre novembro
de 2022 e o dia 8 de janeiro deste ano. Entre 2018 e 2021, foram 1.548 ao todo.
Enquanto isso, Insatisfação da base aliada no
Senado -- Casa em que o governo tem mais força -- ameaça votações
de interesse governista. Primeiro sinal de alerta foi o placar na análise do PL
do Carf, quando a matéria foi aprovada por 34 votos em vez dos 40 esperados
A situação na Câmara dos Deputados é
incomparavelmente pior. A federação de Lula elegeu 80 deputados. Outros
partidos da coligação de 10 legendas que apoiaram o presidente, somados com o
PDT, obtiveram 59 vagas.
Ou seja: a base de apoio direta de Lula eleita na
Câmara em 2022 foi de míseros 138 deputados. Detalhe: a Câmara tem 513
cadeiras.
Mais uma vez, o povo elegeu um governo de esquerda
que não tem força nem para barrar um golpe parlamentar, à exemplo do que
ocorreu com Dilma Rousseff.
Lula tem condições melhores que Dilma para
resistir. Político experiente, trata de atrair apoios dando aos opositores
participação em seu governo, mas ao custo de uma oposição de esquerda que
começa a se formar porque esta acha que se tiver o miolo do filé vai continuar
governando por quatro anos e aprovando tudo o que quiser...
Dado o estado de tensão política do país, hoje,
ainda mais com a ofensiva judicial contra a extrema-direita e a provável prisão
do cabeça do 8 de janeiro, os reacionários estão radicalizados ao ponto de
ebulição. Só cargos e verbas ainda impedem intentona golpista-parlamentar
contra o governo.
Com a parcela mais romântica e irrealista da
esquerda viajando cada vez mais fundo na maionese e a reduzida base parlamentar
acordada tentando atrair apoios para um projeto que já se mostra de grande
futuro, se o atual governo não for derrubado ainda se poderá sonhar com a
sobrevivência desse tão necessário projeto de Nação.
Mas tudo isso é muito frágil. A mídia já se
radicaliza e aproveita a ausência de neurônios do lado esquerdo para instigá-lo
contra Lula. Todos os ataques feitos pela mão canhota do espectro político por
nomeações para cargos vitais como o de PGR ou de ministro do Supremo ou contra
alianças com a direita para acalmar seu ímpeto golpista, são incentivados pela
mídia que explora a necessidade imperiosa de Lula fazer tais acordos.
Sabedor de que a burrice de uns e a má-fé de outros
tendem a se intensificar, Lula já apela à construção de uma barreira contra a
ofensiva golpista que, no mínimo, seguramente pode sobrevir. Apela, então, ao
único poder que pode conter um Legislativo infectado pelo.
Lula está nomeando para o STF os seus mais
confiáveis homens do mundo jurídico e na PGR escrutina o Ministério Público do
Brasil em busca de alguém que pense com a própria cabeça e resista às pressões
corporativas que permeiam tão poderosa e imprevisível instituição. Sabedor de
que a burrice de uns e a má-fé de outros tendem a se intensificar, Lula já
apela à construção de uma barreira contra a ofensiva golpista que, no mínimo,
seguramente pode sobrevir. Apela, então, ao único poder que pode conter um
Legislativo infectado pelo fascismo.
Terá que enfrentar a fúria da esquerda e da
direita, que não hesitarão em sabotá-lo. Uns, por não entenderem a real
situação política do governo federal; outros, por entenderem bem demais essa
situação perigosa e que tanto ameaça àqueles que não mais podem esperar.
Fonte: Brasil 247
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