sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Trudeau é pressionado para tornar públicos documentos secretos sobre nazistas refugiados no Canadá

Um grupo de ativismo judaico fez um apelo ao governo do Canadá para a liberação de relatórios sobre os criminosos de guerra nazistas que se refugiaram no país.

As informações foram divulgadas pelo site Ottawa Citizen na quarta-feira (27).

O governo da época não publicou a segunda parte dos documentos, que foram produzidos em 1986, e censurou grande parte dos trechos divulgados.

Mais de 600 páginas dos documentos, obtidos em partes pela mídia e por organizações sociais através de uma legislação de acesso à informação do país norte-americano, haviam sido redigidas.

O ministro da Imigração, Marc Miller, afirmou na quarta que o governo poderia analisar novamente se os documentos devem ser divulgados.

"O país tem uma história realmente sombria com os nazistas no Canadá", disse Miller enquanto se dirigia à reunião semanal do partido Liberal. "Houve um ponto na nossa história em que era mais fácil entrar como nazista do que como judeu. Acho que é uma história com a qual temos que nos reconciliar", disse o ministro.

Canadá foi único país a aceitar 'banalidade do mal' como defesa

Especialista em crimes de guerra nazistas na Europa Oriental, o diretor do escritório de Israel do Centro Simon Wiesenthal, Efraim Zuroff, afirmou à rede de televisão canadense CBC que já fez pedidos ao governo canadense sobre 252 indivíduos refugiados no país que têm suspeita de serem participantes ou colaboradores do Exército nazista.

Segundo Zuroff, apenas um de todos os nomes identificados pela organização foi acusado judicialmente.

Zuroff afirma ainda que, após a publicação dos relatórios na década de 1980, o código criminal canadense foi alterado para facilitar a investigação de criminosos de guerra nazistas.

Muito desse trabalho, no entanto, foi interrompido abruptamente após o julgamento de Imre Finta, antigo comandante de polícia húngaro acusado de organizar a deportação de mais de 8 mil judeus para campos de extermínio nazistas. Finta foi inocentado sob a defesa de que ele estava apenas seguindo ordens de seu superior.

Segundo Zuroff, os tribunais canadenses foram os únicos do mundo a aceitar esse veredito, e, consequentemente, ninguém mais foi processado.

·         Mais de 2 mil nazistas abrigados no Canadá

Reportagem publicada em 2020 na revista militar Esprit de Corps mostra que o Canadá abrigou mais de 2 mil nazistas após o fim da Segunda Guerra Mundial, parte deles egressos da 14ª Divisão de Granadeiros da SS, o exército paramilitar do Partido Nazista.

Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a Primeira Divisão Ucraniana foi incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS e organizada exclusivamente para combater soviéticos. Composta por voluntários, muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados úteis para tentar conquistar autonomia ante Moscou. Essa divisão foi acusada de praticar diversos crimes de guerra.

Foi na Primeira Divisão Ucraniana que o soldado nazista Yaroslav Hunka lutou em prol de Adolf Hitler. Ele foi ovacionado pelo Parlamento canadense, pelo primeiro-ministro, Justin Trudeau, e pelo presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, na semana passada. A cena se tornou um escândalo de repercussão mundial.

Os aplausos derrubaram o presidente do Parlamento, que renunciou ao cargo nesta semana.

Embora Trudeau tenha pedido desculpas pela homenagem, Zelensky, por sua vez, calou-se: não se pronunciou e tampouco pediu desculpas pelo ato.

<><> Nazista no parlamento: para embaixador, Canadá 'certamente' vai arrastar processo e evitar punição

Pedidos de desculpas, críticas e muitas controvérsias. A homenagem ao nazista ucraniano Yaroslav Hunka, de 98 anos, durante visita do presidente Vladimir Zelensky ao Canadá gerou declarações negativas dentro e fora do país. Mas, até agora, nenhuma medida concreta foi tomada contra o veterano militar.

Por conta disso, o embaixador russo no país, Oleg Stepanov, disse à Sputnik nesta quinta-feira (28) que vai questionar as autoridades canadenses sobre uma reação legal à homenagem feita pelo Parlamento do Canadá ao nazista. "Hoje vou perguntar publicamente às autoridades canadenses sobre o futuro desse Hunka", disse.

A autoridade russa lembrou ainda que o mundo sabe que Yaroslav Hunka é um cidadão canadense e vive no país. Porém, nenhuma medida concreta foi tomada diante dos crimes e assassinatos cometidos no passado pelo nazista ucraniano.

"Todos pareceram condená-lo e meio que se desculparam por sua aparição no Parlamento. Mas qual será o próximo passo do governo canadense? Eles vão abrir, por exemplo, uma investigação sobre seus possíveis crimes contra a humanidade? Ou todos agora vão deixar esse escândalo morrer e se afastar silenciosamente?", questiona.

·         Aplaudido pelo Congresso canadense

Na última semana, o nazista ucraniano Yaroslav Hunka, que lutou por um grupo paramilitar de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, foi aplaudido de pé por todo o Legislativo canadense. A homenagem a Hunka ocorreu quando o então presidente da Câmara dos Comuns, Anthony Rota, fazia comentários antes do discurso do presidente Vladimir Zelensky.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que também estava presente, só desculpou-se publicamente na última quarta (27), após pressões de grupos judaicos e nações ao redor do mundo.

"Todos nós que estivemos nesta câmara na sexta-feira [22] lamentamos profundamente ter ficado de pé e aplaudido, embora o tenhamos feito sem saber do contexto", disse Trudeau em um breve comentário a jornalistas.

Trudeau também disse que "o Canadá lamenta profundamente" que Vladimir Zelensky tenha sido fotografado aplaudindo efusivamente Hunka. Em sua versão, essa foi uma imagem que foi explorada por supostos "propagandistas russos".

Até o momento o presidente da Ucrânia não se manifestou ou tampouco se desculpou pelos aplausos ao soldado nazista.

Extradição para a Rússia

Conforme o embaixador, a Rússia não tem ilusões quanto à perspectiva de extradição do veterano nazista ao país. Para Oleg Stepanov, o Canadá "certamente" vai arrastar o processo até a morte do ucraniano, mesmo com o pedido de extradição também realizado pela Polônia, aliada canadense na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"Infelizmente, tenho certeza que as autoridades canadenses lançarão um processo burocrático tão longo que esse homem de 98 anos deve passar silenciosamente para o outro mundo, sem reconhecer seu verdadeiro crime em nível legal. Essa é, infelizmente, a realidade do Canadá hoje", acrescenta.

O embaixador também observou que, ao longo de muitos anos, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia e a embaixada trabalham para trazer à tona os nazistas "escondidos no Canadá".

"E todos os gabinetes canadenses evitaram de todas as maneiras possíveis a interação sobre esse assunto", afirma ao citar casos como os de Vladimir Katriuk e Helmut Oberlander.

Katriuk foi um soldado de origem ucraniana que chegou a ser o segundo nazista mais procurado do mundo. Em 2015, o veterano morreu no Canadá, aos 93 anos, sem receber nenhuma punição. Helmut Oberlander era acusado de participar de um grupo nazista de extermínio e também morreu no país, em 2021, aos 97 anos.

 

Ø  Alemanha bane "seita" neonazista que doutrinava crianças

 

O governo da Alemanha baniu nesta quarta-feira (27/09) um grupo de extremistas de direita chamado Artgemeinschaft ("comunidade de espécies), que mirava na doutrinação de crianças.

No mesmo dia, a polícia realizou operações de busca e apreensão em dezenas de residências de membros da organização e outros locais, em 12 dos 16 estados alemães.

Um comunicado do Ministério do Interior informou o banimento do Artgemeinschaft, uma associação pagã neonazista e antidemocrática de cerca de 150 pessoas, e todas as suas subdivisões, de nomes como Gefährtschaften ("Eixo dos companheiros"), Gilden ("Guilda" ou "Corporação"), Freundeskreise ("Círculo de amigos"), e Familienwerk ("Obra Familiar").

"Banimos uma associação sectária, profundamente racista e antissemita" declarou em nota a ministra do Interior, Nancy Faeser. "Esse é mais um duro golpe contra o extremismo de direita e aqueles que continuam a espalhar ideologias nazistas até os dias atuais."

Faeser disse que o grupo, fundado em 1951, tentava doutrinar crianças e jovens com sua ideologia nazista e antidemocrática, sob a fachada de uma credo pseudo-religioso germânico. A associação distribuía livros infantis com conteúdo antissemita, incluindo vários títulos da época do nazismo.

Semelhanças com a ideologia nazista

O objetivo central do grupo era a preservação e promoção de um tipo de doutrina racial que se equivale ao termo "raça" na forma como era utilizado pelos nazistas. O simbolismo, as narrativas contrárias à ordem constitucional e as atividades do grupo também demonstram semelhanças com a ideologia nazista, afirma o comunicado do Ministério.

Eles ensinavam seus membros como escolher cônjuges "apropriados", dentro dos biotipos da Europa Central e do Norte, de modo a transmitir a formação genética "correta", de acordo com a ideologia racista do grupo. Pessoas de outras origens eram degradadas, segundo o Ministério do Interior.

Nas buscas realizadas nesta quarta-feira foram encontradas armas de fogo, coletes à prova de balas, ouro, dinheiro em espécie e material de conteúdo extremista. Faeser informou que também foram apreendidas algumas balestras e duas licenças de posse de arma foram revogadas.

Os policias recolheram ainda medalhas, bandeiras e bustos associados ao nazismo. Segundo a ministra, em torno de 700 agentes dos serviços de segurança participaram das operações.

O banimento do grupo já era preparado há mais de um ano, com base em investigações realizadas pelo Departamento de Proteção à Constituição, o serviço de inteligência responsável por conter riscos à segurança interna da Alemanha.

·         Polícia desmantelou grupo supremacista

Na semana passada, o governo alemão baniu o grupo neonazista Hammerskins Germany, realizando buscas nas residências de dezenas de membros.

O grupo, uma ramificação de uma associação extremista de direita dos Estados Unidos, teve papel central na cena neonazista europeia nos últimos anos.

O Hammerskins era conhecido pelos shows de rock de supremacia branca, divulgou o Ministério do Interior,

O grupo, com cerca de 130 membros, pretendia difundir "uma doutrina racial baseada na ideologia nazista”.

·         Polícia alemã apreende neonazista de 13 anos

A polícia realizou buscas no quarto de um adolescente suspeito de neonazismo em Colônia, no oeste da Alemanha. O jovem, que aparentemente pregava ataques contra refugiados e divulgava técnicas de produção de bombas, foi apreendido e encaminhado para uma instituição psiquiátrica. Serviços sociais acompanham o caso, que ganhou destaque na imprensa alemã por causa da idade do suspeito: apenas 13 anos.

As buscas ocorreram no fim de agosto, mas só foram confirmadas pelas autoridades na última sexta-feira (15/09), após uma reportagem da revista Der Spiegel, que apontou que o caso ilustra uma preocupação crescente de órgãos de segurança com a radicalização cada vez mais precoce de jovens e o papel de ferramentas como o Telegram e fóruns na internet na propagação de ideologias extremistas.

Por causa da sua idade, o adolescente não pode ser processado criminalmente. As autoridades ainda investigam se os pais do jovem tiveram alguma participação no processo de radicalização. A operação ocorreu no âmbito do Projeto Periscópio, uma iniciativa de investigação lançada em 2022 pelas autoridades da Renânia do Norte-Vestáfilia, estado onde fica Colônia, para detectar precocemente potenciais autores de ataques violentos.

Segundo a reportagem da revista Der Spiegel, em um canal no Telegram, o jovem explicitou desejo de atacar abrigos de refugiados, pessoas negras e judeus. No mesmo canal, ele também publicou instruções sobre como produzir bombas e se gabou de estar avançando em experimentos para construção de explosivos – aparentemente ele não teve sucesso, já que as autoridades afirmaram que não foram encontrados materiais ou traços de explosivos na sua casa.

Além de publicar material extremista, o jovem também mostrou admiração pelo extremista de direita que massacrou 51 islâmicos em duas mesquitas na Nova Zelândia, em 2019.

O grupo de Telegram do qual o jovem participava, com outras 60 pessoas, se chamava Feuerkrieg Division (Divisão de Guerra de Fogo), uma referência a uma rede neonazista que surgiu em 2018 na Estônia. Em 2020, as autoridades estonianas apreenderam o líder do grupo, que atuava principalmente na esfera online. Ele também tinha 13 anos.

Feuerkrieg Division original tem como modelo a rede neonazista internacional Atomwaffen Division, que surgiu nos EUA em 2015, em obscuros fóruns da internet e newsletters. Boa parte da ideologia dessa rede foi produzida pelo neonazista americano James Mason, autor do livro Siege (Cerco), considerado uma espécie de bíblia de movimentos terroristas fascistas.

Em 2022, centenas de policiais participaram de uma série de operações na Alemanha contra suspeitos de integrarem a rede Atomwaffen Division. Parte dos alvos foi acusada de participação em organização terrorista e de formação de associação neonazista. Quatro pessoas foram presas.

Um dos símbolos mais conhecidos da rede Atomwaffen Division ou da ideologia Siege é uma máscara que emula uma caveira, originalmente inspirada em gráficos de um jogo da série Call of Duty. O jovem que foi alvo da investigação em Colônia divulgou no Telegram fotos suas usando o acessório, uma bandana preta com a estampa de caveira desenhada, tampando boca e nariz. A máscara também é popular entre autores de massacres, inclusive no Brasil, tendo sido usada pelos autores de ataques a escolas de Suzano (SP), em 2019, e Aracruz (ES), em 2022.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Deutsche Welle

 

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