sábado, 30 de setembro de 2023

Ter mais condicionamento físico é associado a menor risco de câncer

Manter em dia o condicionamento físico ajuda a combater e prevenir diversas doenças, como hipertensão e obesidade. Agora, cientistas da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, descobriram que o hábito pode ter mais uma vantagem: auxiliar na prevenção contra cânceres. Conforme o estudo — publicado, nesta terça-feira (15/08), na revista British Journal of Sports Medicine —, ter uma boa aptidão cardiorrespiratória quando se é jovem está associada a um risco até 42% menor de desenvolver nove tipos de tumores malignos mais tarde na vida. Entre eles, de intestino e de pulmão.

Segundo o artigo, a aptidão cardiorrespiratória está relacionada à capacidade de uma pessoa de fazer exercícios aeróbicos, como correr, nadar e andar de bicicleta, e até mesmo atividades cotidianas mais intensas, subir escadas, por exemplo, por períodos mais longos. Apesar de se saber que essa característica está associada a riscos menores de certos tipos de câncer, poucos estudos grandes e de longo prazo foram publicados antes do ensaio descrito no British Journal.

Para o trabalho, os cientistas utilizaram dados de suecos disponibilizados até o fim de 2019. O material cobria informações médicas de recrutas que iniciaram o serviço militar no país, entre 1968 e 2005. Ao ingressarem na força quando tinham entre 16 e 25 anos, os militares foram submetidos a uma bateria padrão de avaliações. Altura, peso, índice de massa corpórea (IMC), pressão arterial, força muscular e aptidão cardiorrespiratória fizeram parte dos dados colhidos.

A análise incluiu mais de 1 milhão de homens, dos quais 84.117 (7%) desenvolveram câncer em pelo menos uma parte do corpo durante um período médio de monitoramento de 33 anos. Dos participantes, 365.874 participantes mostravam baixo nível de aptidão cardiorrespiratória, 519.652 tinham nível moderado, e 340.952, alto.

Considerando o baixo nível de condicionamento físico no recrutamento, uma maior aptidão cardiorrespiratória foi associada a menor vulnerabilidade de surgimento de tipos específicos de tumor maligno: câncer de pulmão (42%), de fígado (40%), no esôfago (39%), no estômago (21%), renal (20%), de cabeça e pescoço (19%), no intestino (18%), no pâncreas (12%) e no reto (5%).

"Esse estudo mostra que uma maior aptidão em homens jovens saudáveis está associada a um menor risco de desenvolver nove de 18 cânceres específicos, com as taxas de risco clinicamente mais relevantes no trato gastrointestinal", enfatizam os autores do artigo. "Esses resultados podem ser usados na formulação de políticas de saúde pública, fortalecendo o incentivo para a promoção de intervenções voltadas para o aumento da aptidão cardiorrespiratória na juventude", indicam.

Renata Costa Cangussú, oncologista e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia (SBO), sublinha que a capacidade cardiorrespiratória reduz o risco de câncer de várias maneiras. "Primeiro, exercícios regulares e um bom condicionamento físico podem ajudar a controlar o peso corporal, que é importante, pois o excesso de peso está relacionado ao maior risco de pelo menos 18 tipos de câncer. Além disso, a atividade física frequente ajuda a reduzir a inflamação crônica no corpo, fatores contribuintes para o desenvolvimento da doença."

Ainda conforme a especialista, a aptidão física também melhora a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos, que auxiliam no reparo celular e no funcionamento adequado do sistema imunológico, responsável por identificar e destruir células cancerígenas em estágios iniciais. "Então, a capacidade cardiorrespiratória obtida mediante atividade física regular contribui para um ambiente corporal menos propício ao desenvolvimento das células cancerígenas e também ajuda a fortalecer as defesas naturais do organismo contra o câncer", enfatiza.

•        Rastreamento

No entanto, os pesquisadores relatam que uma maior aptidão cardiorrespiratória também foi associada a um risco aumentado de 7% de câncer de próstata, e chances elevadas em 31% de ocorrência de tumor na pele. A forma de rastreamento das duas doenças pode explicar esses fenômenos, sugerem.

Gisah Guilgen, oncologista e associada da SBO, fortalece a hipótese para o risco de câncer de pele. "Esses pacientes, provavelmente, estiveram mais expostos à luz solar, fizeram atividades físicas externas, corrida, bicicleta, remo", lista. "Muitas vezes, as pessoas, principalmente os homens, não se protegem adequadamente. Então, é sempre bom lembrar que, ao fazer atividade física externa, tem que se proteger do Sol, que é um fator cancerígeno."

Em relação aos índices aumentados de câncer de próstata, uma das causas pode estar ligada à quantidade de consultas médicas. "Talvez, os pacientes que tenham mais aptidão cardiorrespiratória iam ao médico com mais frequência. Essa poderia ser uma hipótese. Não vejo como o fato de fazer mais atividade física possa levar a um câncer de próstata", cogita Guilgen.

Apesar dos resultados encontrados, os especialistas sublinham que se trata de uma observação de associação entre aptidão física e cânceres, não de causa e efeito. Outro limitador é a falta de dados sobre mais fatores de risco, como dieta, consumo de álcool e tabagismo. Além disso, a equipe não pôde acompanhar as mudanças na aptidão cardiorrespiratória ao longo do tempo ou coletar informações genéticas dos participantes.

Todavia, o grupo sublinha que os resultados estão alinhados com as diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia Clínica sobre exercícios durante o tratamento do câncer. "Os exercícios são tão importantes que hoje fazem parte de recomendações das principais instituições de combate ao câncer, a americana, a europeia e, claro, a brasileira. Inclusive, dentro da SBOC, estamos criando guidelines específicos sobre o assunto", completa Guilgen, que não participou do estudo.

 

       Pesquisadores revelam "momento ideal" para a prática de atividades físicas

 

Manhã, tarde ou noite? Muitas vezes o tempo para praticar atividades físicas depende mais da agenda de trabalho do que uma simples escolha por tempo livre. Um estudo britânico, contudo, alerta que a escolha do "turno" para praticar exercícios pode ajudar na manutenção da saúde.

Segundo um estudo, publicado em 18 de fevereiro na revista Nature Communications, foram examinadas a relação entre exercício, tempo de exercício e risco geral de morte e morte por causas específica, em que foram avaliadas informações demográficas e de saúde de 92 mil pessoas, por um banco de dados biomédico do Reino Unido. O exercício no meio da tarde foi associado ao menor risco de morte por doença cardíaca em comparação com os exercícios matinais e noturnos.

Para fazer a pesquisa, os cientistas dividiram participantes em quatro grupos conforme o horário dos exercícios e entregaram acelerômetros para medir quando e com que intensidade se exercitavam durante um período de sete dias:

>>> As divisões foram:

•        Manhã, das 5h às 11h

•        Tarde, das 11h às 17h

•        Noite, das 17h à meia-noite

•        Um grupo "misto" que não mostrou preferência de horário e se exercitava em diferentes horários ao longo da semana.

Os pesquisadores analisaram os registros de mortalidade após vários anos e acompanharam 3.088 (3,4%) dos participantes morreram ao longo do estudo, desses, 1.076 (1,2%) morreram de doenças cardíacas e 1.872 (2,2%) morreram de câncer.

No relatório foi visto que as pessoas que se exercitavam no meio da tarde tinham um risco menor de morte, tanto em geral quanto por doenças cardíacas, em comparação com quem se exercitava à noite e pela manhã. As pessoas que praticavam exercício "mistos" (ou seja, que não tinham horários fixos de treino) tiveram os resultados "positivos" das pessoas que só se exercitavam pela tarde.

Os riscos reduzidos de morte por doenças cardíacas, foi particularmente mais alto entre homens, idosos, indivíduos menos ativos e pessoas com doenças cardíacas pré-existentes.

•        O estudo e os resultados

Em um mundo cada vez mais acelerado, a prática de atividade física é quase sempre deixada de lado em detrimento de outros compromissos. Muitos sequer tem um tempinho de sobra após um longo dia de trabalho, e menos ainda a chance de escolher um horário para treinar. Vale lembrar que, segundo especialistas, a escolha do horário é bem menos importante do que o simples realizar de uma atividade física (independente do horário).

A prática durante a tarde pode ser inviável para a maioria das pessoas, principalmente quem tem a jornada de trabalho de 8 horas ou mais. Caso você seja uma pessoa com hábitos matinais ou noturnos de exercícios, não é necessário se desesperar: o estudo aponta que atividade física a qualquer hora são melhores para a longevidade do que não se exercitar. “A atividade física moderada a intensa a qualquer hora do dia foi associada a um menor risco de morte por doenças cardíacas e câncer, e o menor risco de morte de câncer permaneceu consistente entre todos os horários de exercício”, concluem os pesquisadores.

Para entender melhor sobre o assunto, o Correio ouviu o bacharel em educação física e especialista em biomecânica aplicada ao exercício físico, Lucas Vieira. O especialista explica que o resultado do estudo considera os indivíduos que seguem um ritmo de vida normal — acordar pela manhã e dormir à noite. Assim, o horário da tarde é o momento no qual o corpo entra em equilíbrio, e fica mais apto ao exercício e aos principais benefícios. Entretanto, o especialista ressalva que apesar dos dados serem robustos, o fato da pessoa treinar à tarde não define sobre a saúde comparada com alguém que treina durante a manhã ou noite

“Tudo depende de um conjunto de variáveis de predisposições genéticas e fenótipo — ambiente no qual a pessoa vive, qualidade de sono, alimentação, prática de exercícios, estresse — que afetam diretamente a qualidade de vida do indivíduo” explica o educador físico.

Vieira reforça: independente do horário da atividade, há benefícios. Assim, é necessário que a pessoa avalie o melhor período do dia, e que tenha a disponibilidade maior de tempo para realizar a atividade, com qualidade e que aumentem os benefícios advindos da prática.

•        Então qual é o melhor horário?

Vieira é enfático sobre o tempo para a atividade física: “O melhor horário para praticar exercícios é naquela que você consegue”. O personal explica que para algumas pessoas, não é possível fazer exercícios a tarde, então, elas podem se adaptar ao melhor horário. “O exercício físico trará benefícios ao corpo humano independente do horário no qual a pessoa o faça, portanto, que ela esteja devidamente preparada para praticá-lo, com uma boa alimentação, hidratação e o aquecimento para realizar a atividade” conclui.

<<<< Dicas:

Para quem tem pouco tempo, iniciar uma atividade com 30 minuto por dia, duas vezes por semana pode ser benéfico.

•        Existem diversos exercícios que você pode fazer: musculação, caminhada, corrida, dança, luta, surfe, pedalada, andar de patins.

•        Tente encontrar algo que te gere prazer: comece com uma frequência semanal pequena e, quando isso se tornar rotineiro, além de proporcionar uma sensação de facilidade para mantê-la, continue e busque aumentar a frequência de treinos de um em um dia.

•        Analise o dia, veja qual parte dele você tem uma disponibilidade maior de tempo e utilize esse momento para cuidar da sua saúde.

•        Ah, e lembre-se que, além do exercício físico, manter-se hidratado, cuidar da alimentação e ter uma boa qualidade de sono também são tão importantes quanto para a saúde

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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