Ter mais condicionamento físico é associado a menor risco de câncer
Manter em dia o condicionamento físico ajuda a
combater e prevenir diversas doenças, como hipertensão e obesidade. Agora,
cientistas da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, descobriram que o hábito
pode ter mais uma vantagem: auxiliar na prevenção contra cânceres. Conforme o
estudo — publicado, nesta terça-feira (15/08), na revista British Journal of
Sports Medicine —, ter uma boa aptidão cardiorrespiratória quando se é jovem
está associada a um risco até 42% menor de desenvolver nove tipos de tumores
malignos mais tarde na vida. Entre eles, de intestino e de pulmão.
Segundo o artigo, a aptidão cardiorrespiratória
está relacionada à capacidade de uma pessoa de fazer exercícios aeróbicos, como
correr, nadar e andar de bicicleta, e até mesmo atividades cotidianas mais
intensas, subir escadas, por exemplo, por períodos mais longos. Apesar de se
saber que essa característica está associada a riscos menores de certos tipos
de câncer, poucos estudos grandes e de longo prazo foram publicados antes do
ensaio descrito no British Journal.
Para o trabalho, os cientistas utilizaram dados de
suecos disponibilizados até o fim de 2019. O material cobria informações
médicas de recrutas que iniciaram o serviço militar no país, entre 1968 e 2005.
Ao ingressarem na força quando tinham entre 16 e 25 anos, os militares foram
submetidos a uma bateria padrão de avaliações. Altura, peso, índice de massa
corpórea (IMC), pressão arterial, força muscular e aptidão cardiorrespiratória
fizeram parte dos dados colhidos.
A análise incluiu mais de 1 milhão de homens, dos
quais 84.117 (7%) desenvolveram câncer em pelo menos uma parte do corpo durante
um período médio de monitoramento de 33 anos. Dos participantes, 365.874
participantes mostravam baixo nível de aptidão cardiorrespiratória, 519.652
tinham nível moderado, e 340.952, alto.
Considerando o baixo nível de condicionamento
físico no recrutamento, uma maior aptidão cardiorrespiratória foi associada a
menor vulnerabilidade de surgimento de tipos específicos de tumor maligno:
câncer de pulmão (42%), de fígado (40%), no esôfago (39%), no estômago (21%),
renal (20%), de cabeça e pescoço (19%), no intestino (18%), no pâncreas (12%) e
no reto (5%).
"Esse estudo mostra que uma maior aptidão em
homens jovens saudáveis está associada a um menor risco de desenvolver nove de
18 cânceres específicos, com as taxas de risco clinicamente mais relevantes no
trato gastrointestinal", enfatizam os autores do artigo. "Esses
resultados podem ser usados na formulação de políticas de saúde pública,
fortalecendo o incentivo para a promoção de intervenções voltadas para o
aumento da aptidão cardiorrespiratória na juventude", indicam.
Renata Costa Cangussú, oncologista e membro da
Sociedade Brasileira de Oncologia (SBO), sublinha que a capacidade
cardiorrespiratória reduz o risco de câncer de várias maneiras. "Primeiro,
exercícios regulares e um bom condicionamento físico podem ajudar a controlar o
peso corporal, que é importante, pois o excesso de peso está relacionado ao maior
risco de pelo menos 18 tipos de câncer. Além disso, a atividade física
frequente ajuda a reduzir a inflamação crônica no corpo, fatores contribuintes
para o desenvolvimento da doença."
Ainda conforme a especialista, a aptidão física
também melhora a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos, que auxiliam
no reparo celular e no funcionamento adequado do sistema imunológico,
responsável por identificar e destruir células cancerígenas em estágios
iniciais. "Então, a capacidade cardiorrespiratória obtida mediante
atividade física regular contribui para um ambiente corporal menos propício ao
desenvolvimento das células cancerígenas e também ajuda a fortalecer as defesas
naturais do organismo contra o câncer", enfatiza.
• Rastreamento
No entanto, os pesquisadores relatam que uma maior
aptidão cardiorrespiratória também foi associada a um risco aumentado de 7% de
câncer de próstata, e chances elevadas em 31% de ocorrência de tumor na pele. A
forma de rastreamento das duas doenças pode explicar esses fenômenos, sugerem.
Gisah Guilgen, oncologista e associada da SBO,
fortalece a hipótese para o risco de câncer de pele. "Esses pacientes,
provavelmente, estiveram mais expostos à luz solar, fizeram atividades físicas
externas, corrida, bicicleta, remo", lista. "Muitas vezes, as
pessoas, principalmente os homens, não se protegem adequadamente. Então, é
sempre bom lembrar que, ao fazer atividade física externa, tem que se proteger
do Sol, que é um fator cancerígeno."
Em relação aos índices aumentados de câncer de
próstata, uma das causas pode estar ligada à quantidade de consultas médicas.
"Talvez, os pacientes que tenham mais aptidão cardiorrespiratória iam ao
médico com mais frequência. Essa poderia ser uma hipótese. Não vejo como o fato
de fazer mais atividade física possa levar a um câncer de próstata",
cogita Guilgen.
Apesar dos resultados encontrados, os especialistas
sublinham que se trata de uma observação de associação entre aptidão física e
cânceres, não de causa e efeito. Outro limitador é a falta de dados sobre mais
fatores de risco, como dieta, consumo de álcool e tabagismo. Além disso, a
equipe não pôde acompanhar as mudanças na aptidão cardiorrespiratória ao longo
do tempo ou coletar informações genéticas dos participantes.
Todavia, o grupo sublinha que os resultados estão
alinhados com as diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia Clínica sobre
exercícios durante o tratamento do câncer. "Os exercícios são tão
importantes que hoje fazem parte de recomendações das principais instituições
de combate ao câncer, a americana, a europeia e, claro, a brasileira.
Inclusive, dentro da SBOC, estamos criando guidelines específicos sobre o
assunto", completa Guilgen, que não participou do estudo.
Pesquisadores
revelam "momento ideal" para a prática de atividades físicas
Manhã, tarde ou noite? Muitas vezes o tempo para
praticar atividades físicas depende mais da agenda de trabalho do que uma
simples escolha por tempo livre. Um estudo britânico, contudo, alerta que a
escolha do "turno" para praticar exercícios pode ajudar na manutenção
da saúde.
Segundo um estudo, publicado em 18 de fevereiro na
revista Nature Communications, foram examinadas a relação entre exercício,
tempo de exercício e risco geral de morte e morte por causas específica, em que
foram avaliadas informações demográficas e de saúde de 92 mil pessoas, por um
banco de dados biomédico do Reino Unido. O exercício no meio da tarde foi
associado ao menor risco de morte por doença cardíaca em comparação com os
exercícios matinais e noturnos.
Para fazer a pesquisa, os cientistas dividiram
participantes em quatro grupos conforme o horário dos exercícios e entregaram
acelerômetros para medir quando e com que intensidade se exercitavam durante um
período de sete dias:
>>> As divisões foram:
• Manhã,
das 5h às 11h
• Tarde,
das 11h às 17h
• Noite,
das 17h à meia-noite
• Um
grupo "misto" que não mostrou preferência de horário e se exercitava
em diferentes horários ao longo da semana.
Os pesquisadores analisaram os registros de
mortalidade após vários anos e acompanharam 3.088 (3,4%) dos participantes
morreram ao longo do estudo, desses, 1.076 (1,2%) morreram de doenças cardíacas
e 1.872 (2,2%) morreram de câncer.
No relatório foi visto que as pessoas que se
exercitavam no meio da tarde tinham um risco menor de morte, tanto em geral
quanto por doenças cardíacas, em comparação com quem se exercitava à noite e
pela manhã. As pessoas que praticavam exercício "mistos" (ou seja,
que não tinham horários fixos de treino) tiveram os resultados
"positivos" das pessoas que só se exercitavam pela tarde.
Os riscos reduzidos de morte por doenças cardíacas,
foi particularmente mais alto entre homens, idosos, indivíduos menos ativos e
pessoas com doenças cardíacas pré-existentes.
• O
estudo e os resultados
Em um mundo cada vez mais acelerado, a prática de
atividade física é quase sempre deixada de lado em detrimento de outros
compromissos. Muitos sequer tem um tempinho de sobra após um longo dia de
trabalho, e menos ainda a chance de escolher um horário para treinar. Vale
lembrar que, segundo especialistas, a escolha do horário é bem menos importante
do que o simples realizar de uma atividade física (independente do horário).
A prática durante a tarde pode ser inviável para a
maioria das pessoas, principalmente quem tem a jornada de trabalho de 8 horas
ou mais. Caso você seja uma pessoa com hábitos matinais ou noturnos de
exercícios, não é necessário se desesperar: o estudo aponta que atividade
física a qualquer hora são melhores para a longevidade do que não se exercitar.
“A atividade física moderada a intensa a qualquer hora do dia foi associada a
um menor risco de morte por doenças cardíacas e câncer, e o menor risco de
morte de câncer permaneceu consistente entre todos os horários de exercício”,
concluem os pesquisadores.
Para entender melhor sobre o assunto, o Correio
ouviu o bacharel em educação física e especialista em biomecânica aplicada ao
exercício físico, Lucas Vieira. O especialista explica que o resultado do
estudo considera os indivíduos que seguem um ritmo de vida normal — acordar
pela manhã e dormir à noite. Assim, o horário da tarde é o momento no qual o
corpo entra em equilíbrio, e fica mais apto ao exercício e aos principais
benefícios. Entretanto, o especialista ressalva que apesar dos dados serem
robustos, o fato da pessoa treinar à tarde não define sobre a saúde comparada
com alguém que treina durante a manhã ou noite
“Tudo depende de um conjunto de variáveis de
predisposições genéticas e fenótipo — ambiente no qual a pessoa vive, qualidade
de sono, alimentação, prática de exercícios, estresse — que afetam diretamente
a qualidade de vida do indivíduo” explica o educador físico.
Vieira reforça: independente do horário da
atividade, há benefícios. Assim, é necessário que a pessoa avalie o melhor
período do dia, e que tenha a disponibilidade maior de tempo para realizar a
atividade, com qualidade e que aumentem os benefícios advindos da prática.
• Então
qual é o melhor horário?
Vieira é enfático sobre o tempo para a atividade
física: “O melhor horário para praticar exercícios é naquela que você
consegue”. O personal explica que para algumas pessoas, não é possível fazer
exercícios a tarde, então, elas podem se adaptar ao melhor horário. “O
exercício físico trará benefícios ao corpo humano independente do horário no
qual a pessoa o faça, portanto, que ela esteja devidamente preparada para
praticá-lo, com uma boa alimentação, hidratação e o aquecimento para realizar a
atividade” conclui.
<<<< Dicas:
Para quem tem pouco tempo, iniciar uma atividade
com 30 minuto por dia, duas vezes por semana pode ser benéfico.
• Existem
diversos exercícios que você pode fazer: musculação, caminhada, corrida, dança,
luta, surfe, pedalada, andar de patins.
• Tente
encontrar algo que te gere prazer: comece com uma frequência semanal pequena e,
quando isso se tornar rotineiro, além de proporcionar uma sensação de
facilidade para mantê-la, continue e busque aumentar a frequência de treinos de
um em um dia.
• Analise
o dia, veja qual parte dele você tem uma disponibilidade maior de tempo e
utilize esse momento para cuidar da sua saúde.
• Ah, e
lembre-se que, além do exercício físico, manter-se hidratado, cuidar da
alimentação e ter uma boa qualidade de sono também são tão importantes quanto
para a saúde
Fonte: Correio Braziliense
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