A Amazônia se prepara para a guerra
O governo Lula lança nesta segunda-feira, 2, o
Plano Amazônia: Segurança e Soberania, com o objetivo de ampliar as ações de
repressão ao narcotráfico, garimpo ilegal e crimes ambientais, como o
desmatamento e a poluição de rios, que dominam o cenário da região amazônica. A
iniciativa, que prevê investimentos de R$ 2 bilhões em equipamentos e
infraestrutura para melhorar o alcance das forças de segurança brasileiras,
deverá transformar a área numa verdadeira praça de guerra contra o crime
organizado.
O governo brasileiro pretende trabalhar, também, em
parceria com países vizinhos, já que todos eles vivem problemas semelhantes com
o aumento da criminalidade nos limites da floresta.
O trabalho será coordenado pelo ministro Flávio
Dino (Justiça e Segurança Pública) e contará com recursos do BNDES. O
Ministério da Defesa, por meio das Forças Armadas, também participará das
ações.
Nos próximos meses, serão construídas 34 novas
bases de segurança integrada, onde agentes das polícias Federal, Rodoviária
Federal e dos estados envolvidos trabalharão juntos. Os espaços serão abertos
em terra e nos rios que cortam a região. Dessas, seis serão fluviais.
As ações serão realizadas nos estados que compõem a
Amazônia Legal:
• Acre,
• Amapá,
• Amazonas,
• Maranhão,
• Mato Grosso,
• Pará,
• Roraima,
• Rondônia,
• Tocantins.
Parte desses estados também possui extensas áreas
de fronteira com países produtores de entorpecentes, como Colômbia, Venezuela e
Bolívia. O objetivo é reduzir os índices de criminalidade, considerados
proporcionalmente os maiores do País.
Para isso, o governo deve investir em ações
diplomáticas com os governos amazônicos, para que o combate realizado no Brasil
se estenda também ao outro lado das respectivas fronteiras.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
mostram que a taxa de homicídios na região é de 30,9 por 100 mil habitantes,
bem acima da registrada no restante do Brasil, com 22,3 por 100 mil.
Os números também mostram que um terço das cidades
mais violentas do País está na Amazônia. Para o governo, o aumento do garimpo
ilegal, do desmatamento e do narcotráfico são os principais fatores que
influenciam o inchaço dos números.
As bases prometidas pelo governo devem receber
helicópteros, carros e barcos blindados. A ideia é intensificar a fiscalização
nessas áreas, mapeando a atuação de grupos criminosos.
Serão criados cinco órgãos, responsáveis pela
coordenação dos trabalhos, Comitê Gestor, Comissão Técnica, Centro de
Cooperação Policial Internacional da Amazônia e Comitês Estratégicos Estaduais.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma
que o trabalho também tem como objetivo proteger o Meio Ambiente. Nesta semana,
o secretário executivo da pasta, Ricardo Capelli, participou de um evento com
integrantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em que falou
sobre o Plano Amazônia.
“Temos os desafios de fazer as políticas dos
estados atuarem de forma articulada para enfrentar o crime que está cada vez
mais organizado. Esse tipo de banditismo não reconhece fronteiras geopolíticas.
A gente enfrenta o crime na Amazônia no lado brasileiro e ele espraia para o
país vizinho”, disse.
Para garantir a efetividade das ações na região
vizinha, o governo estuda ampliar a faixa de atuação das Forças Armadas em 100
quilômetros mais próxima das fronteiras. A ideia é sufocar as atividades
ilegais na região, com o auxílio das forças de segurança dos países vizinhos.
A questão ambiental é uma das principais vitrines
da política externa do governo Lula. O petista tenta de todas as formas
encontrar um modo de agir para reduzir os índices de desmatamento na região,
que subiram de forma vertiginosa na última década.
A eficácia dessa ação poderia ajudar o Brasil a
receber mais investimentos externos não só na Amazônia, mas em outras partes do
País. Dessa forma, o Plano Amazônia poderia contribuir para o sucesso da
política petista, caso o trabalho demonstre resultados práticos.
Esses recursos são necessários para financiar a
continuidade do plano do governo. Isso porque Lula pretende usar os recursos do
Fundo Amazônia, que conta com recursos da Noruega e Alemanha, para captar
doações ainda maiores para a preservação ambiental, de forma a fomentar as
ações de fiscalização da floresta. Além da polícia, outros órgãos ligados à
área ambiental, como o Ibama, devem participar do trabalho nos próximos anos.
>>>> COMO O DINHEIRO SERÁ INVESTIDO
Plano de combate a crimes nos estados da Amazônia
Legal terá construção de bases e compra de lanchas e carros blindados
• 7 estados beneficiados
• Construção de 34 bases integradas para forças de
segurança
• Compra de carros blindados
• Compra de lanchas blindadas
• Compra de helicópteros
• Compra de armamentos
• Auxílio das polícias locais
• Atuação conjunta da PF, PRF e Forças Armadas
<<<< Apoio dos estados
Para que o plano saia do papel e seja eficiente,
será necessário que os estados da região se comprometam com o combate ao crime
e com as ações propostas pelo governo federal.
Embora tenha a maioria de governadores favoráveis
ao seu governo, Lula precisará lidar com alguns que lhe fazem oposição aberta e
que apoiavam Jair Bolsonaro, além de trabalhar com os interesses de grupos que
atuam em práticas ilegais, mas possuem forte influência sobre a política
regional, como grileiros e desmatadores, por exemplo.
Na avaliação do ministro Flávio Dino, o trabalho na
Amazônia é um desafio nacional. ”Combater o narcogarimpo e o narcotráfico é
proteger o Brasil. É fazer com que o País combata o desmatamento. Para isso,
estamos implementando, em Manaus, 34 novas bases na Amazônia brasileira e dois
centros, um de cooperação policial internacional e o outro de operações
ambientais”, disse Dino.
“São projetos importantes do Governo e que reforçam
a política que está sendo implantada pelo governador Wilson Lima (AM) que,
desde 2021, vem valorizando ainda mais as forças de segurança”, defendeu o
vice-governador do Amazonas, Tadeu de Souza, em entrevista no dia do lançamento
do programa aos governos estaduais, em julho deste ano.
Apesar do plano ambicioso, porém, Dino ainda
precisa resolver a própria situação, já que é um dos cotados para assumir a
vaga aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria de Rosa Weber.
Com
seca extrema, rio Amazonas deve baixar históricos 8 metros em setembro
Enquanto o sul ainda sofre com intensas chuvas e
alagamentos, o norte do país enfrenta seca cada vez mais severa. Até esta
quarta-feira (27), o rio Amazonas já havia baixado 7,35 metros. Nos últimos 20
anos, a média de vazão foi de 4,38 metros. Em alguns tributários, como o lago e
o rio Tefé, a água praticamente secou. Em outros pontos, o que resta está tão
quente que peixes e mamíferos estão morrendo.
A medição do nível do rio Amazonas é realizada há
décadas pelo Porto de Manaus, na região de confluência do Rio Negro com o
Solimões. Ao longo dos últimos 15 dias, o rio tem baixado cerca de 30 cm diariamente.
“A gente tem alguns dias até o final do mês. Com mais alguns dias a 30 cm por
dia, a gente vai bater 8 metros de descida do rio no mesmo mês, o que é
absurdamente alto”, diz o professor do Programa de Pós-graduação em Biologia de
Água Doce e Pesca Interior do Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), Jansen
Zuanon.
Segundo ele, uma seca tão intensa desafia qualquer
capacidade de planejamento, tanto do ponto de vista das pessoas, quanto da
flora e fauna, que não têm tempo para se adaptar.
“O rio descer tanto e tão rápido coloca em xeque
não só a biologia do sistema, mas também as pessoas, os sistemas sociais ao
longo dos rios da amazônia”, diz ele.
• Impactos
múltiplos
Na região de Tefé, o lago de mesmo nome que serve
de via de transporte e fonte de alimento para as populações ribeirinhas e
extrativistas está praticamente seco.
“Tenho 30 anos e nunca tinha visto uma seca nesta
proporção. A gente estava acostumado, no final de setembro, início de outubro,
as águas do rio subirem, mas vemos hoje um verão mais intenso, uma seca mais
intensa, e isso tem mudado toda a dinâmica das comunidades”, diz o extrativista
Huéferson Falcão do Santos, morador de uma comunidade tradicional da Floresta
Nacional de Tefé.
Segundo ele, além da falta de acesso ao centro
urbano e comunidades maiores, onde os serviços de saúde, educação e
supermercados estão situados, a seca também tem afetado os modos de vida das
comunidades, que têm na pesca uma das principais fontes de alimentação.
“Uma viagem que durava 3 horas, agora dura o dia
inteiro, isso arrastando a canoa na lama, tendo em vista que o lago secou.
Estamos navegando praticamente em lama. A seca atinge a comunidade diretamente,
porque estamos sem ter onde pescar. A pouca água que tem, está barrenta,
lamacenta, quente e com falta de oxigênio”, explicou o extrativista. Na região,
já foram registradas a morte de um peixe-boi, alguns botos e centenas de
peixes.
Muitos quilômetros abaixo do rio Tefé, já no
município de Manacapuru, o aumento da temperatura da água também já matou ao
menos dois botos e centenas de peixes, como mostra um vídeo compartilhado na
plataforma X (ex-twitter), nesta quarta-feira (27).
• Pedido
de socorro
Na região amazônica, um conjunto de fatores faz com
que os rios naturalmente subam e desçam a cada ano em um determinado ritmo. Em
anos de El Niño – fenômeno que chegou no país a partir do início do segundo
semestre e deve se estender ao longo de todo próximo ano – os períodos de seca
tendem a ser mais severos.
Mas somente o El Niño não explica a situação atual
no norte do país, diz o professor do INPA Jansen Zuanon. Segundo ele, o
aquecimento das águas dos oceanos Atlântico e Pacífico também tem contribuído.
Elas são diretamente responsáveis por parte da precipitação sobre a Amazônia.
“O El Niño está ocorrendo simultaneamente ao
aquecimento dos oceanos Pacífico e Atlântico tropical e isso está fazendo com
que a seca seja especialmente forte. Olhando em retrospectiva, nos últimos 30
anos a gente teve 8 ou 9 dos maiores recordes de cheia e seca nos rios amazônicos,
o que indica que essa tendência de eventos extremos tem se acentuado muito e
muito rapidamente. O que a gente esperava de resultado de mudanças climáticas
para 20, 30 anos já ocorrendo agora. É inegável que o padrão mudou”, explica.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet), a estação de controle de Tefé registrou apenas 47,7 mm de chuva
durante todo mês de setembro (até dia 27). A média histórica para o mês nesta
região é de 115,7 mm de precipitação.
Diante deste quadro, na última semana, um grupo de
cerca de 70 pesquisadores em meio ambiente, sociedade, recursos hídricos e
mudanças climáticas enviou uma carta ao Legislativo do estado do Amazonas
pedindo providências para prevenir e mitigar os iminentes impactos climáticos
deste ano sobre as populações locais.
“Ressaltamos a real necessidade de afrontar o
problema a partir de agora, através da mobilização de recursos financeiros,
equipes técnicas e equipamentos para atender, especialmente, as populações
rurais remotas da Amazônia (indígenas e não-indígenas), as quais estão sob
maior risco de padecer de doenças, desnutrição e perdas em seus meios de vida”,
diz a carta, endereçada à Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e
Tradicionais Câmara dos Deputados.
Para Huéferson Falcão do Santos, a adoção de tais
medidas é urgente. “Estamos na maior bacia hidrográfica do mundo e passando por
uma escassez de água. Nós dependemos do rio para navegar, para sobreviver, para
manter as relações sociais, mas estamos com tudo parado. Nosso principal lago
secou”, diz.
Fonte: IstoÉ/((o))eco
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