Moro posa de vitima e vê revanchismo de Lula e falha técnica em decisão
de Toffoli sobre Odebrecht
Ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, o
senador Sergio Moro (União Brasil-PR) disse que o presidente Lula (PT) estimula
um revanchismo contra quem o investigou e, com isso, tenta reescrever a
história.
Em entrevista à reportagem, ele comentou a nova
ofensiva contra a Lava Jato. Entre as medidas recentes mais simbólicas, está a
anulação das provas obtidas no acordo de leniência da Odebrecht, por decisão do
ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), no último dia 6.
"Existem alguns erros técnicos. Por exemplo,
há uma afirmação de que a prova não teria sido obtida por cooperação jurídica
internacional, [mas foi] baseada numa informação falsa prestada pelo Ministério
da Justiça", afirmou o senador.
Além disso, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça)
afirmou na semana passada que investigará magistrados que atuaram na Lava Jato,
entre eles Moro.
"As ações do governo Lula são direcionadas
nesse sentido, punir quem se levantou não contra o PT, mas contra a corrupção,
e por outro lado criar as condições para que nunca mais o PT possa ser
investigado."
Moro foi responsável pela Lava Jato no Paraná até
2018, quando deixou a magistratura para virar ministro de Jair Bolsonaro.
Em 2021, sua atuação nos casos de Lula foi
declarada parcial pelo Supremo, que também anulou a sentença expedida contra o
hoje presidente. A medida ocorreu após a Lava Jato ter sua credibilidade
abalada com a divulgação de conversas entre o então juiz e procuradores, que
mostraram colaboração nos processos.
DECISÃO SOBRE A ODEBRECHT
A gente respeita as decisões judiciais. Um recurso
foi apresentado. Existem alguns erros técnicos —por exemplo, há uma afirmação
de que a prova não teria sido obtida por cooperação jurídica internacional,
[mas foi] baseada numa informação falsa prestada pelo Ministério da Justiça. E
depois o próprio ministério informou que houve, sim, a cooperação. Esses
elementos de prova, a contabilidade da Odebrecht foi fornecida pela própria
empresa, não existe nenhum indicativo de que teria havido alguma adulteração.
De todo modo, o que eu vejo é que existe um
revanchismo, estimulado pelo governo Lula, e que acaba afetando todas as
instituições, e que [Lula] quer reescrever a história. O Lula não se conforma
de ter sido condenado em três instâncias por corrupção e ter sido preso com
autorização do Supremo Tribunal Federal. Ele quer, à moda stalinista,
reescrever essa parte da história e gera esse clima de ataques a agentes que
trabalharam na Operação Lava Jato.
INVESTIGAÇÃO CONTRA PROCURADORES, MAGISTRADOS E
POLICIAIS DA LAVA JATO
Estamos entrando num caminho bastante perigoso que
é o risco à independência da magistratura e do Ministério Público. Isso é um
passo perigoso ao enfraquecimento da nossa democracia. A ameaça de sanção acaba
tendo um efeito intimidatório sobre toda a magistratura. Quem vai ter coragem
de investigar casos de corrupção ou proferir sentenças condenatórias contra
casos de corrupção num cenário de retaliação promovida pelo governo Lula?
As ações do governo Lula são direcionadas neste
sentido: punir quem se levantou não contra o PT, mas contra a corrupção, e por
outro lado criar as condições para que nunca mais o PT possa ser investigado.
REESCREVER A HISTÓRIA
Não vão conseguir reescrever a história porque os
fatos são inegáveis. A Petrobras recuperou R$ 6 bilhões por conta da Lava Jato.
Então não há como negar que a Petrobras foi saqueada. Hoje há um
desmantelamento do combate à corrupção e dos mecanismos preventivos, como o
relaxamento da Lei das Estatais que permitiu a volta do loteamento político
partidário sem limites dos cargos nas estatais.
USO DE DADOS ANTES DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
O acordo de leniência foi amplamente favorável ao
Brasil, implicou, no caso da Odebrecht, numa devolução de mais de R$ 3 bilhões.
A Odebrecht se comprometeu a colaborar. A Odebrecht entregou as provas
voluntariamente por conta do acordo. Para essa entrega voluntária é
absolutamente desnecessária a cooperação jurídica internacional. Paralelamente,
por cooperação jurídica internacional, foi obtida uma cópia dessa contabilidade
com as autoridades suíças.
Não significa que o que consta na contabilidade [da
empresa] deve ser tido por verdadeiro. Têm que ser colhidas outras provas para
gerar uma condenação criminal. Mas uma coisa é discutir isso no campo da
validade e outra coisa é a questão da credibilidade da prova. Nós respeitamos a
decisão do ministro, mas há um equívoco técnico em misturar as duas coisas.
VALIDADE DAS PROVAS
O próprio Supremo Tribunal Federal foi quem
homologou por decisão da ministra Cármen Lúcia os 77 acordos de colaboração
premiada com os executivos da Odebrecht. Então, essa prova também foi obtida
por outros meios, depoimentos e outros elementos que esses indivíduos
forneceram. Tem que ser analisado em cada caso concreto. Outros países estão
utilizando essas provas, como Peru e Colômbia. Na América Latina, normalmente o
caso Lava Jato é chamado caso Odebrecht.
EFEITO NAS CONDENAÇÕES DA LAVA JATO
Não tenho como avaliar isso para os casos
concretos, específicos. Houve muitas condenações na Operação Lava Jato. Uma
parte decorrente do acordo da Odebrecht. Outras partes totalmente
independentes. Então tem que fazer uma análise caso a caso.
PRECEDENTE CONTRA INDEPENDÊNCIA DA MAGISTRATURA
Quando se abrem precedentes e se vulnera a garantia
da independência da magistratura com base em premissas falsas, nada impede que,
com a mudança dos ventos no futuro, os próprios algozes acabem sendo
eventualmente afetados por esse enfraquecimento, e aqui me refiro ao governo
Lula mais uma vez.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA ENCONTROU ACORDO COM SUÍÇA
APÓS DECISÃO DO STF
Eu não posso afirmar, sem ter evidências, de que
foi algo deliberado. Eu atribuo à incompetência, a uma falha.
PRISÃO DO LULA CITADA POR TOFFOLI COMO 'UM DOS
MAIORES ERROS JUDICIÁRIOS'
A prisão do Lula foi determinada somente após a
condenação em segunda instância. Nunca houve uma prisão preventiva do
ex-presidente. Foi uma condenação confirmada pelo TRF (Tribunal Regional
Federal da 4ª Região), teve habeas corpus negado pelo STJ (Superior Tribunal de
Justiça) e pelo STF.
INVESTIGAÇÃO NO CNJ
Eu não vi a decisão ainda [expedida após uma
inspeção na Vara Federal que reportou ter havido uma 'gestão caótica']. Estou
esperando se vou ser notificado ou não, estou um tanto quanto curioso para ver
essa decisão porque eu não sou mais juiz, não tenho nenhum vínculo com o
Judiciário e, portanto, não estou sujeito ao poder disciplinar do CNJ. Aliás, a
sanção mais grave prevista contra um magistrado é a aposentadoria compulsória,
e enfim não faz nenhum sentido. De todo modo, eu tenho absoluta tranquilidade
do trabalho que foi feito na Operação Lava Jato.
AVALIAÇÃO DO MINISTRO FLÁVIO DINO (JUSTIÇA)
Hoje se vê um Ministério da Justiça focado em
pautas que não interessam à população. Há, por exemplo, uma crise de segurança
na Bahia e o governo parece paralisado. Nós vimos, no 8 de janeiro, a Força
Nacional inoperante, e [ela] poderia ter sido utilizada para prevenir as
invasões. Até o momento não temos uma política de segurança pública e isso dá
azo a esse tipo de avaliação de que o foco do ministério e do próprio governo
Lula é a perseguição a adversário dos políticos.
FAVORITOS AO STF
Eu não comentarei nenhuma indicação antes de ela
ser concretizada. Lula disse que não vai levar em consideração critérios de
gênero ou de raça ou de diversidade. O que se lê por trás dessa afirmação? Um
desgosto, uma decepção do Lula com a anterior nomeação do ministro Joaquim
Barbosa, que, ao contrário de ser subserviente, foi um juiz altivo e mostrou
independência na condução do caso do mensalão. Para o Lula, isso é um erro,
porque ele queria um escravo, e não um juiz.
PEDIDO DE CASSAÇÃO CONTRA O SENADOR
Essa história da cassação é mais boato, zum zum
zum, do que qualquer outra coisa. Nós respeitamos a Justiça Eleitoral,
diferentemente da presidente do PT [Gleisi Hoffmann] e vamos aguardar com
serenidade o julgamento tanto pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) como pelo
TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
FORÇAS ARMADAS
A gente vê uma ofensiva do governo Lula contra as Forças
Armadas. É evidente que as Forças Armadas não participaram de nenhum golpe.
Causa às vezes surpresa quando a gente vê lideranças do PT atacando generais,
almirantes, brigadeiros da cúpula das Forças Armadas. O governo Lula segue um
caminho muito perigoso, buscando enfraquecer as Forças Armadas, talvez com o
intuito de controlá-las.
*
RAIO-X | SERGIO MORO, 51
Senador filiado à União Brasil, foi juiz na
Operação Lava Jato e condenou Lula em primeira instância no processo que levou
o petista à prisão. Abriu mão da magistratura para ser ministro da Justiça de
Bolsonaro e deixou a pasta após 16 meses. Moro foi declarado parcial pelo STF
em sua atuação nos processos de Lula e teve suas decisões anuladas.
CNJ
vai investigar Sergio Moro por destinação de R$ 2,1 bilhões à Petrobras
O ministro Luís Felipe Salomão, corregedor nacional
de Justiça, determinou a abertura de um procedimento administrativo disciplinar
para investigar a conduta do ex-juiz Sergio Moro e da juíza Gabriela Hardt na
destinação de dinheiro para a Petrobras sem critérios objetivos.
Segundo ele, os magistrados "violaram
reiteradamente os deveres de transparência, de prudência, de imparcialidade e
de diligência do cargo ao promoveram o repasse de R$ 2.132.709.160,96" à
estatal.
Também será alvo de PAD o desembargador João Pedro
Gebran Neto, que atuou nos processos da "lava jato" em segunda
instância.
Além dessas providências, Salomão também convocou
uma audiência de conciliação com Eduardo Appio, que assumiu a 13ª Vara Federal
de Curitiba este ano e foi afastado por manobras da ala lavajatista do TRF-4.
Segundo a jornalista Monica Bergamo, da Folha de
S.Paulo, a decisão de Salomão se baseia em um relatório preliminar da correição
realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na 13ª Vara Federal de
Curitiba e na 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
A notícia informa que Salomão cita trecho da
correição em sua decisão: "Em período compreendido entre o ano de 2015 e o
ano de 2019, na cidade de Curitiba, Paraná, o então juiz federal Sergio
Fernando Moro e a juíza federal substituta Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal
de Curitiba, em atendimento aos interesses do então procurador da república
Deltan Dallagnol, de procuradores da república da denominada força-tarefa da
Lava Jato e de representantes da Petrobras, violaram reiteradamente os deveres
de transparência, de prudência, de imparcialidade e de diligência do cargo ao
promoveram o repasse de R$ 2.132.709.160,96" à estatal, "atribuindo a
essa companhia a posição de vítima, conscientes de que a Petrobras estava sob
investigação por autoridades americanas desde novembro de 2014, por conduta
ilícita da empresa nos Estados Unidos da América."
"Durante a operação titulada Lava Jato, foi
adotado pelo então juiz federal Sergio Fernando Moro, juntamente com
integrantes da força-tarefa que se formou para executar aquela operação,
critério de destinação dos valores decorrentes dos acordos de colaboração e de
leniência absolutamente distante do critério legal de decretação de perda",
afirma o corregedor Nacional de Justiça, também de acordo com a Folha.
Por fim, Salomão afirma que, apesar de Moro não ser
mais juiz, a jurisprudência do CNJ busca impedir que magistrados deixem a
carreira para se livrar de eventuais punições administrativas, e que o senador
responsia a cerca de 20 PADs quando abandonou a toga.
MPF
tentou adesão do TCU a acordo de leniência que criaria fundação bilionária
Diálogos entre procuradores da finada "lava
jato" apreendidos na "operação spoofing", aos quais a revista
eletrônica Consultor Jurídico teve acesso, mostram que os integrantes do
Ministério Público tentaram a adesão do Tribunal de Contas da União ao acordo
de leniência firmado pela J&F no bojo da autoapelidada "operação
Greenfield".
Nas conversas, um procurador identificado como
Paulo conta que participou — com outra
procuradora chamada Sara e Frederico Siqueira — de uma reunião com o
ex-presidente do TCU Raimundo Carreiro e a equipe técnica do tribunal.
"De início, eles expuseram que receberam com
um pouco de surpresa o ofício nosso para que eles aderissem ao acordo ou participassem
das tratativas de eventual aditamento/repactuação, mas registraram o apreço que
trabalho interinstitucional que nossa FT tem desenvolvido desde o início",
diz Paulo — os diálogos são reproduzidos nesta reportagem em sua grafia
original.
Ao relatar o encontro, o procurador deixou claros
os laços entre a autodenominada força-tarefa e a organização não governamental
Transparência Internacional, que já naquela época estava envolvida na
negociação de "contrapartidas sociais" no acordo de leniência da J&F.
"Chegando nossa vez de falar, fizemos uma
narração geral de todo o histórico do acordo de leniência e de suas principais
cláusulas, bem como explicamos a ideia dos projetos sociais como reparação
social, ideia compartilhada pela Transparência Internacional."
O pacto entre a Transparência Internacional e os
procuradores quase resultou na formação de uma fundação. A nova instituição
teria um orçamento bilionário controlado pela ONG e tarefeiros, e seria
supostamente dedicada a disseminar práticas de "combate à
corrupção". A ConJur noticiou o
caso em dezembro de 2020 e, na ocasião, o procurador-geral da República,
Augusto Aras, bloqueou um repasse de R$ 270 milhões para a fundação gestada por
MPF e TI. O arquiteto da operação seria
o conselheiro da TI e assessor informal da "lava jato" Joaquim
Falcão.
Em um memorando, foi registrada a pretensão de
destinar parte dos recursos do acordo, no valor total de R$ 10,3 bilhões, a um
projeto de investimento na prevenção e no "controle social da
corrupção". Custo dessa "campanha educativa": R$ 2,3 bilhões.
• Resistência
técnica
Conforme os diálogos, a equipe técnica do TCU se
mostrou reticente à adesão do tribunal ao arranjo dos tarefeiros. "O
Presidente do TCU mostrou-se até mais flexível à adesão, entendendo o documento
somente como um acordo para acesso à prova; a equipe técnica é que se mostrou
mais resistente. Como encaminhamento da reunião, ficaram os técnicos
capitaneados por Rafael Jardim com a missão de estudar o documento (modelo de
adesão institucional) e propor alterações que possam dar mais conforto à
participação do TCU no processo em questão", diz trecho da conversa.
Os procuradores também citam uma reportagem da
ConJur sobre a decisão do TCU que afastou cláusula de delação da JBS.
• Deltan
e mercado financeiro
Em outro trecho, o ex-chefe da "lava
jato", Deltan Dallagnol, mostra dúvida sobre aceitar um pedido de palestra
remunerada do Citibank. "Acho ruim aceitar um desses pago porque tem
chance de irmos pra cima, ou Vc acha frescura?", questionou Deltan.
Em resposta, Paulo afirmou que não sabia se a
instituição financeira estava relacionada a algum processo da "lava
jato" e que, se esse fosse o caso, era melhor não aceitar. "Bom se vc
ainda pensar em.se candidatar, receber dinheiro.de banco estrangeiro é um
prato.cheio p a gleisi te criticar" (sic), alertou o procurador, citando a
presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
O diálogo ocorreu no dia 30 de outubro de 2017.
Nele, Deltan não rebate nem concorda. Mas fica claro que o interesse do grupo
vai muito além do dever de ofício, já que trata de receber dinheiro "por
fora" e para campanha eleitoral. O procurador, como se sabe,
candidatou-se, elegeu-se mas acabou afastado.
Fonte: FolhaPress/Conjur
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