quarta-feira, 29 de março de 2023

Bahia tem menos de dois médicos para cada mil habitantes, revela pesquisa

Todas as vezes que Clara Correia, 24, precisava percorrer de ônibus os 220 quilômetros que separam Ibicoara, onde mora, e Vitória da Conquista, local em que recebe atendimento médico, sua condição de saúde piorava. A cidade é a mais próxima em que a jovem consegue atendimento para a epidermólise bolhosa, doença genética rara. A falta de profissionais é responsável pelo êxodo de baianos que viajam em busca de atendimento especializado. Prova disso é que a Bahia possui menos de dois médicos para cada mil habitantes, a 7º pior proporção do país. 

Os dados são da pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB). As informações do levantamento revelam um cenário já conhecido na Bahia: quem mora no interior e precisa de atendimento que vá além da clínica geral, percorre um longo caminho para conseguir agendar consultas e fazer exames. 

Dos 27,3 mil médicos que atuam no estado, 15,3 mil trabalham em Salvador, 821 na Região Metropolitana de Salvador e 11 mil no interior do estado. Apesar de 40% dos profissionais estarem espalhados fora da capital, a maior parte deles são “generalistas”, ou seja, não possuem especialização em nenhuma das 55 áreas reconhecidas pela Comissão Mista de Especialidades (CME).

Se considerarmos a quantidade de especialistas, a proporção cai de 1,83 para 0,96 médico a cada mil habitantes no estado. Entre as especialidades, a Bahia possui 16 cirurgiões para cada 100 mil habitantes e 8,8 anestesiologistas para o mesmo número de pessoas. 

A falta de um profissional de saúde que conhecesse a doença genética que Clara Correia é portadora, provocou uma verdadeira confusão entre os familiares. Logo que nasceu, a menina precisou ficar uma semana internada no hospital e sua doença só foi descoberta por acaso meses depois. “Meu irmão mais velho teve uma reação alérgica e minha mãe levou ele em uma consulta em Vitória da Conquista. Eu acabei indo junto e o médico fez o diagnóstico”, conta a jovem que é formada em Serviço Social. 

A epidermólise bolhosa é uma condição que provoca bolhas e lesões na pele. Por isso, quando a família encontrou o médico especialista em Vitória da Conquista, as viagens de ônibus se tornaram um verdadeiro tormento para a jovem. “O ônibus balançava muito e minha pele ficava com mais feridas. Eu chegava muitas vezes com a pele sangrando”, relata. Atualmente, a gestão municipal de Ibicoara disponibiliza um carro da prefeitura para que Clara seja levada ao médico na outra cidade. 

A jovem mora em Capão da Volta, zona rural de Ibicoara, e não é a única da família a buscar atendimento médico fora da cidade. “Minha mãe possui nódulos nas mamas e também precisa viajar até Vitória da Conquista para fazer os exames e ter consultas”, conta. Entre as especialidades buscadas pela família no outro município estão mastologista, nutricionista e dermatologista. 

“Fazemos os acompanhamentos médicos na rede particular porque se for esperar a rede pública, a gente morre antes de fazer os exames”, desabafa.

Clara precisa passar pela consulta com seu dermatologista ao menos duas vezes ao ano, mas quando as lesões ficam mais profundas, o período diminui para a cada três meses. Por sorte, a jovem possui familiares que moram em Vitória da Conquista e, quando não faz bate e volta, dorme por lá. 

·         A Bahia no Brasil

No Nordeste, a Bahia  só ganha no ranking regional da proporção entre médicos e número de habitantes para o Piauí e  Maranhão, ficando abaixo dos demais estados da região. No país,  Distrito Federal aparece no topo, com mais de cinco médicos (5,53) para a mesma quantidade de pessoas. Em seguida, estão Rio de Janeiro (3,77) e São Paulo (3,5). O Pará é o  último, com proporção de 1,18.

O Ministério da Saúde foi perguntado sobre a quantidade de médicos por habitantes considerada satisfatória pelo Governo Federal, mas não respondeu. Porém, o Pacto Nacional pela Saúde indica que o país utiliza como referência a proporção encontrada no Reino Unido, que é de 2,7 médicos por mil habitantes. 

A pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023, que analisou o período de junho de 2022, revela que a média nacional era de 2,41 no ano passado. A desigualdade regional também fica evidente no levantamento: enquanto o Norte (1,45)  e o Nordeste (1,93), ficam abaixo da média, as outras regiões a superam. O Sudeste, por exemplo, apresenta 3,39 médicos por mil habitantes. 

Para Marcos Sampaio, presidente do Conselho Estadual de Saúde da Bahia (CES-BA), os números evidenciam o vazio assistencial enfrentado pela população. “O cenário é um reflexo da política de saúde centralizada. Todos os equipamentos de saúde estão na capital e Salvador concentra os maiores centros de referência. As maiores cidades também oferecem os maiores salários aos profissionais”, analisa. 

Para que a situação seja contornada, não basta apenas colocar médicos para atenderem em cidades do interior do estado, é preciso que uma série de investimentos seja aplicada.

“É preciso ter equipamentos mais robustos nas regiões, não adianta colocar os médicos se eles não tiverem rede de apoio para desenvolverem suas áreas”, defende o presidente do Conselho. 

O número total de médicos atuantes na Bahia seria o suficiente para atender as necessidades do estado, de acordo com Otávio Marambaia, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). O problema é justamente a concentração de profissionais em poucas regiões.  

“É um número que atenderia as necessidades da Bahia se houvesse uma melhor distribuição e políticas de assentamento dos médicos em locais mais distantes”, pontua. 

Otávio Marambaia acredita que o aumento no número de cursos de medicina espalhados pelo estado deve favorecer a dispersão dos profissionais. Nos últimos 13 anos,  251.362 novos médicos passaram a atuar no Brasil, reflexo direto da abertura de cursos e de vagas de graduação em medicina, de acordo com a pesquisa. 

·         A caminho da capital

A rotina de Sabrina Sena Costa, de 37 anos, mudou radicalmente quando descobriu um câncer de tireóide, em junho do ano passado.  A moradora de Mairi, no centro-norte baiano, deu início às viagens para Salvador, que ocorrem ao menos uma vez por mês desde então. Enquanto conversava com a reportagem na noite de segunda-feira (27), arrumava sua mala para fazer percorrer os quase 300 quilômetros que separam sua cidade de origem e a capital baiana. 

“Aqui na minha cidade e na maior parte do interior, não há recursos para tal procedimento e precisamos viajar”, conta Sabrina, que vem a Salvador para sessões de iodoterapia no hospital Aristides Maltez. Ela recebe ajuda de custo para alimentação a cada viagem e faz o trajeto em um ônibus da prefeitura, ambos são essenciais para que Sabrina dê continuidade ao tratamento, que continua após a cirurgia realizada em novembro. 

“É tudo muito cansativo porque eu não consigo dormir na estrada. Mas sou muito grata ao Sistema Único de Saúde (SUS), sem ele, não sei como conseguiria o tratamento”, afirma. Quando não volta para Mairi no mesmo dia da consulta, Sabrina passa a noite na casa de familiares em Salvador. 

Enquanto a capital é um polo de atração para pacientes de diversas regiões do estado, a Região Metropolitana de Salvador (RMS), que compreende 13 municípios, possui 821 médicos. O quantitativo representa uma proporção de 0,76 profissionais a cada mil habitantes. Presidente do Cremeb, Otávio Marambaia avalia que a proximidade com a capital precisa ser levada em consideração. “Muitas cidades próximas a Salvador são assistidas por médicos que residem na capital e que atuam nas duas áreas”, alerta. 

·         Médicos da Bahia possuem a pior remuneração do Brasil, segundo pesquisa

O levantamento Demografia Médica no Brasil 2023 chama atenção para outro fator importante para entender a forma com que os atendimentos estão concentrados na Bahia: a remuneração. Os profissionais da Bahia possuem a menor renda média mensal de todo o país, no valor de R$25 mil - abaixo da média nacional, de R$32 mil.

Para Marcos Sampaio, é preciso que o estado valorize os profissionais que atendem na rede pública de saúde, especialmente no interior. “Temos que priorizar um plano de carreira e salários no SUS para equilibrar os rendimentos dos profissionais da capital e do interior. Também é preciso ter estímulo para cursos de especialização nos municípios baianos”, analisa. 

O Distrito Federal, além de ser a região com maior quantitativo de médicos proporcional ao número de habitantes, é a localidade em que se paga melhor. A média por lá é de R$37,3 mil. As conclusões do estudo foram feitas a partir da Declaração Anual do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF). 

Procurada, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que o governo empenha esforços contínuos para assegurar a descentralização da saúde através do Programa Mais Médicos e das 25 Policlínicas Regionais de Saúde. “Contemplando 408 municípios, as policlínicas assistem mais de 13,9 milhões de habitantes”, pontuou. 

Já o Ministério da Saúde revelou que prevê a abertura de 15 mil vagas para profissionais em áreas de maior necessidade do Brasil, através do Programa Mais Médicos.

 

Ø  Além de maternidade, antigo Hospital Salvador terá emergência e leitos de UTI

 

O antigo Hospital Salvador não vai apenas abrigar uma maternidade. A previsão é de que a unidade seja voltada para um atendimento mais amplo à criança e também atenda às mulheres.

Segundo o prefeito Bruno Reis, já houve um acordo com os proprietários do antigo hospital e, nesta quarta-feira (29), será assinado o decreto de desapropriação do espaço. "Amanhã vamos baixar um decreto desapropriando [o terreno]. Foi fechado um acordo com os proprietários do Hospital Salvador, e vamos apresentar à cidade o projeto", disse o prefeito.

"Vamos ter a implantação de um hospital para criança, com emergência, maternidade, leitos de UTI, cirurgias eletivas para as mulheres. Vamos recuperar ele todo para entregar à cidade", explicou Reis.

·         Desapropriação

O decreto com a desapropriação foi publicado no dia 22 deste mês. O espaço tem área total superior a 4,1 mil metros².

A efetivação da desapropriação deverá ser feita pela Secretaria Municipal da Fazenda, conforme o decreto divulgado na última terça-feira (21). "Em caso de efetivação da desapropriação por via judicial, fica autorizada a Procuradoria Geral do Município – PGMS, para em nome do expropriante, mover ação competente, podendo, na petição inicial ou no curso do respectivo processo, solicitar a aplicação do regime de urgência, nos termos da Legislação Federal, que regula para fim de obtenção da imissão na posse do bem declarado de utilidade pública", diz a publicação.

Atualmente, o prédio, que funcionou como ponto exclusivo para tratamento da covid-19 até 2021, está em total estado de abandono e foi utilizado por usuários de drogas. O cenário é de teto desabado, lixo, resto de material hospitalar e janelas vandalizadas. Roubos constantes também são relatados no local. Em 2022, o prédio chegou a ser alvo de incêndio duas vezes. O Hospital Salvador foi desativado em 2018.

 

Ø  Hospital Santa Izabel ganha novo Centro de Prevenção e Tratamento da Obesidade 

 

Um ambiente acolhedor adaptado para atender o paciente em qualquer grau de obesidade. Focado na prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, o novo Centro de Prevenção e Tratamento de Obesidade instalado no Hospital Santa Izabel (HSI), em Salvador, é mais uma estrutura inovadora que o paciente passa a contar no caminho para a perda de peso e melhoria da qualidade de vida e saúde. 

“Conseguimos reunir no nosso Centro de Prevenção e Tratamento de Obesidade, uma equipe médica e multidisciplinar especializada e com larga experiência no tratamento do paciente obeso. Todo seu acompanhamento será baseado em linhas de cuidados bem definidas e os pacientes terão suas necessidades de atendimento monitoradas e coordenadas com apoio de uma enfermeira e concierges”, explica o diretor técnico assistencial do HSI, José Ricardo Madureira. 

Toda estrutura física foi pensada considerando as necessidades do paciente, com consultórios amplos e mobiliários adequados ao atendimento, assim como a disponibilidade toda uma equipe integrada por endocrinologistas, cirurgiões bariátricos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. 

 “A melhor estratégia, independentemente do tipo de tratamento - se cirúrgico ou clínico - está na mudança de estilo de vida com adoção de hábitos saudáveis. E este é o grande desafio do paciente, pois o ambiente que vivemos não contribui para um estilo de vida saudável. A equipe multi tem importante papel em auxiliá-lo nessa mudança”, ressalta. 

·         Cenário de alerta 

Segundo dados divulgados no início do mês pela Federação Mundial de Obesidade (WOF), 1 em cada 7 pessoas tem obesidade no mundo. Ainda de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2023, a projeção para 2035 é que mais da metade da população mundial (51%), cerca de 4 bilhões, será obesa ou terá sobrepeso nos próximos 12 anos. No Brasil, o cenário também preocupa, já que 41% dos adultos terão obesidade, o que entidade classifica como nível de alerta muito alto. 

A obesidade infantil é outro ponto de atenção. O levantamento aponta que o número de crianças com obesidade pode mais que dobrar até 2035, quando comprado aos níveis de 2020. Isso significa 400 milhões de crianças com quadro de obesidade. Para o Brasil, o crescimento anual projetado é de 4,4%, o que também é considerado um estado de alerta muito alto. 

“São números alarmantes, tendo em vista as comorbidades que acompanham o quadro de obesidade. Durante a pandemia o isolamento ocasionou aumento do sedentarismo e stress, dois vilões que contribuem para o crescimento da doença na população mundial, além da alimentação inadequado com o uso frequentes de fast foods. É um problema de saúde pública”, comenta ainda o diretor técnico assistencial do HSI, José Ricardo Madureira. 

São inúmeras as complicações associadas à doença, sobretudo, o risco de desenvolver diabetes, hipertensão, síndrome metabólica, apneia do sono, além de doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Mesmo antes da pandemia, a obesidade já era um problema de saúde relevante e com taxa de prevalência em crescimento, como acrescenta Madureira: 

“Tudo isso em razão de termos uma sociedade com hábitos que aumentam o risco de desenvolver a obesidade, levando aos indivíduos com uma genética mais propensa a ganhar peso. Reforço aqui, a importância de se manter uma alimentação balanceada, atividade física, pelo menos 7 a 8 horas de sono por dia, convívio social e familiar e o autoconhecimento para fazer as escolhas e definir metas mais assertivas para atingir o objetivo de manutenção de um peso ideal”. 

Quando estar acima do peso representa um risco para a saúde? Conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo. O diagnóstico é feito por meio do cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC). O IMC avalia a relação entre o peso e altura. Quanto maior o índice, maior risco de desenvolver outras doenças associadas à obesidade. 

Cirurgião geral do HSI, Erivaldo Alves, pontua que o principal alerta é para o IMC acima de 30. No cálculo do peso (kg) dividido pela altura do paciente (m) ao quadrado. Peso normal fica entre 18,5 - 24,9. Já o sobrepeso, entre 25 - 29,9. “A pandemia fez crescer também, sem dúvida, os quadros de compulsão alimentar e depressão. O paciente é considerado obeso quando o IMC é superior a 30. É uma doença que pode provocar o aparecimento ou a piora de inúmeras doenças crônicas. Por ser uma doença multifatorial e de tratamento complexo, a abordagem precisa ser multiprofissional que olhe o paciente como um todo, fundamental para o sucesso do tratamento”. 

Mudança no estilo de vida, passa por mudança de hábitos, como ressalta o médico: “Ou seja, a busca dom equilíbrio interior. E mais: precisamos olhar com mais cuidados, sobretudo, as crianças, visto que a doença já vem se desenvolvendo com uma certa frequência na infância". Para mais informações e agendamentos no Centro de Prevenção e Tratamento da Obesidade entre em contato com a Central de Marcação do HSI no telefone (71) 2203-8100 ou WhatsApp (71) 98188-3380 e também pelo site www.hospitalsantaizabel.org.br

 

Fonte: Correio

 

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