CRISE ENTRE CÂMARA
E SENADO ADIA PLANOS DE VOTAÇÃO DO GOVERNO
A
crise instalada entre os presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur
Lira (PP-AL) em relação ao trâmite das medidas provisórias (MPs) levou o
governo a adiar os planos de votação no Congresso Nacional. Sem acerto, o
governo trabalha agora para que as medidas provisórias sejam votadas só em
junho. São pelo menos 60 dias a mais do que os planos iniciais do governo.
Há
ainda outras mudanças, já que nem todas as medidas provisórias serão votadas no
prazo regimental obrigatório. Na briga entre Lira e Pacheco, foi o governo Lula
que precisou recuar.
“Temos
de reorganizar o calendário de votações no Congresso Nacional. Queremos um
calendário até o final de junho para a
votação de MPs”, disse Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais,
responsável por anunciar os recuos do governo nesta quarta-feira (29).
A
preocupação do governo está sobretudo em medidas consideradas prioridades, como
é o caso da MP que prevê a criação do novo Bolsa Família, de R$ 600. Ainda que
o valor já tenha sido depositado nas contas das famílias beneficiadas, é
preciso que o Congresso Nacional sacramente a medida em até 120 dias, a fim de
que não perca a validade. Ainda há tempo para isso, já que a MP vence só em 30
de abril. Mas, com o impasse entre os comandantes dos parlamentos, uma derrota
do governo antes mesmo de a MP ser colocada em votação não é descartada.
Lira
e Pacheco, responsáveis por colocar as medidas provisórias em votação, estão
longe de um entendimento. Tido como
aliado por alguns governistas, Lira informou que só abre mão do rito
alternativo defendido por ele para a tramitação de medidas provisórias (MPs) se
os deputados forem maioria, nem que isso signifique a possibilidade da perda de
validade de alguns textos considerados prioritários para o governo.
O
próprio Lira fez o aviso. Para aceitar o rito das comissões mistas para análise
das medidas, determinada por Pacheco, ele quer que os deputados sejam maioria
absoluta nos colegiados, levando em consideração a proporcionalidade das duas
Casas. Ele usou como exemplo a Comissão Mista de Orçamento, que hoje tem 30
deputados e dez senadores.
“A única possibilidade de a Câmara admitir
negociar, aceitar uma comissão mista, é que ela cumpra o rito de outras
comissões temáticas cumprem. Por exemplo, na CMO são 30 deputados e dez senadores”, disse
Lira.
Pacheco,
em reunião com Lula nesta terça-feira (28), colocou como inaceitável a proposta
de Lira. Entre os parlamentares, Câmara e Senado se dividem em apoio aos seus
presidentes. O governo, diante das incertezas, já começa a preparar a
possibilidade de transformar algumas das medidas provisórias em projeto de lei.
Dessa forma, haveria mais prazo para o debate dentro do Parlamento.
“Vamos
esperar a decisão do Parlamento e vamos conseguir instalar a comissão mista.
Mas se tiver alternativa para transformar em lei, vamos fazer isso. O governo
trabalha para aprovar o que precisa. Vamos trabalhar neste calendário até final
de junho para aprovar tudo que queremos aprovar”, garantiu Padilha.
BLOCÃO NA CÂMARA É REAÇÃO AOS
SUPERPODERES DE LIRA. CONHEÇA OS BASTIDORES
Há
duas semanas, o ministro de Relações Institucionais da Presidência, Alexandre
Padilha, procurou o líder da Maioria no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), para
um pedido de ajuda. Padilha reconhecia: “Caímos numa armadilha com relação a
Arthur Lira. Precisamos fazer alguma coisa”. Essa conversa é a origem das
articulações que levaram à formalização do bloco que une o MDB, o PSD, o
Podemos, o Republicanos e o PSC. O bloco se torna a maior bancada da Câmara,
com 142 deputados. E é uma reação direta aos superpoderes do presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL).
A
criação do bloco está relacionada à briga entre Lira e o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em torno do rito de tramitação das medidas provisórias
(MPs). Ao forçar a mão para manter a tramitação acordada durante a pandemia de
covid-19, dispensando a formação das comissões mistas de deputados e senadores,
Lira concentrava o poder na Câmara. E vinha valendo-se da força de comando que
tem sobre o Centrão para impor a sua vontade.
A
conversa entre Padilha e Renan deu o primeiro passo da reação. “Eu tenho a
questão de ordem sobre o rito de tramitação. Se vocês apoiarem, podemos fazer
Rodrigo Pacheco decidir sobre ela”, disse Renan. Ele se referia à questão de
ordem feita por ele e pelo líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), que
questionava a manutenção do rito usado na pandemia.
No
auge da pandemia, Câmara e Senado estavam se reunindo de maneira virtual. Para
facilitar a tramitação das medidas provisórias, foi feito um acordo que
dispensava a formação das comissões, levando a apreciação diretamente para os
plenários das duas Casas. Na prática, porém, isso significou que a Câmara ficou
segurando as MPs até a última hora, deixando ao Senado somente a tarefa de
ratificá-las, já que modificá-las poderia significar fazer as medidas
caducarem.
Com
o retorno do ritmo normal do Congresso, Rodrigo Pacheco quis retornar ao rito
normal com as comissões. Até porque esse é o rito previsto na Constituição. Mas
Lira reagiu. A questão de ordem fez Pacheco, então, decidir pelo retorno do rito
normal. Mas Lira continuou reagindo. Estabeleceu que votaria somente as MPs de
maior urgência (que criam os ministérios e o novo formato do governo, e recriam
o Bolsa-Família e o Minha Casa, Minha Vida). O restante o governo teria de
refazer como projeto de lei.
A
reação de Lira mostrava que ele não estava disposto a ceder. Essa conclusão
precipitou a formação do bloco. A criação de uma bancada maior que poder de
Arthur Lira parecia a única forma de reequilibrar o jogo na Câmara.
• Tudo em silêncio
No
segundo passo da manobra, a estratégia saiu das mãos de Renan e passou para as
mãos dos presidentes do PSD, Gilberto Kassab, do MDB, Baleia Rossi, do
Republicanos, Marcos Pereira, e do Podemos, Renata Abreu.
A
estratégia de formação do Blocão começou a ser amadurecida desde o final da
semana passada e no início desta semana. Os líderes dos partidos envolvidos
combinaram que tudo deveria evoluir no maior silêncio possível. A recomendação
era que mesmo conversas pelo Twitter fossem evitadas para que nada vazasse.
Todas as conversas tinham de ser privadas e somente entre os diretamente
envolvidos.
A
ideia de criar um grande bloco, que naquele momento incluiria também o PT,
chegou a ser discutida antes do início da nova legislatura. Na ocasião, porém,
o PT evitou a formação do bloco com medo de reações fortes de Arthur Lira. Sem
muita certeza sobre o real tamanho do poder de Lira, o PT optou por apoiar a
sua reeleição para a presidência da Câmara, adiando a ideia do bloco. Lira
acabou sendo reeleito quase por unanimidade, com impressionantes 464 votos
entre os 513 deputados.
No
momento de formação das comissões, novamente adiou-se a ideia do bloco para
outra vez evitar maiores reações. As comissões são definidas de forma
proporcional. Pelo acordo, o bloco do PP e do PL teria a prerrogativa das
escolhas, já que tudo é feito de forma proporcional. Um acordo deu ao PT o
comando da principal comissão, a de Constituição e Justiça (CCJ), presidida
pelo deputado Rui Falcão (SP). O bloco poderia atrapalhar esse acordo.
Mas
o episódio das MPs levou o governo a constatar que Lira estava com poderes
demais. Queria definir o rito de tramitação das MPs, que são atribuição do
Congresso. O presidente da Câmara nem faz parte da Mesa Diretora das sessões do
Congresso, que são presididas pelo presidente do Senado e têm como vice o
primeiro vice-presidente da Câmara, que é o presidente do Republicanos, Marcos
Pereira (SP).
• Reequilíbrio e Orçamento
Como
Lira ameaçava fazer com que os líderes não indicassem deputados para as
comissões mistas das MPs, a criação do Blocão visa reequilibrar o jogo. O novo
bloco de 142 deputados torna-se a maior bancada, passando a ter mais força na
correlação, ainda que admita que alguns deputados mais oposicionistas,
especialmente no Republicanos, não sigam a orientação. O líder do bloco será o
deputado Fábio Macedo (Podemos-MA), aliado do ministro da Justiça, Flávio Dino.
O
Blocão reequilibra o jogo não apenas com relação às MPs. Como maior bancada, o
novo bloco passará a ter a maioria nas comissões temáticas, mesmo não tendo o
comando delas. Acredita-se que isso atenuará a força da oposição nas comissões
que ela comanda, como a de Segurança Pública.
E
cria especialmente um entrave para os planos futuros de Lira. Especialmente
aqueles que se referem ao que os deputados chamam de “propriedade da chave do
cofre do Orçamento”. Como maior bancada, o Blocão poderá agora vir a
reivindicar a próxima relatoria da Comissão Mista de Orçamento.
E,
se for mantido até o final do mandato de Lira, sai na frente para vir a reivindicar
a própria presidência da Câmara daqui a dois anos.
Partidos esvaziam Lira e o Centrão
Cinco
partidos de centro e de direita criaram formalmente na Câmara dos Deputados um
bloco que reúne 142 dos 513 deputados, num racha do centrão que esvazia o poder
do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Até
então integrante do trio que formava o centrão ao lado do PL de Jair Bolsonaro
e do PP de Lira, o Republicanos aderiu agora a MDB, PSD, Podemos e PSC,
formando a maior força política da Casa —MDB e PSD integram a base de apoio de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, juntos, ocupam seis ministérios.
A
movimentação tem reflexos não só no dia a dia das votações no Congresso, como
também na montagem da base de Lula e na sucessão de Lira em fevereiro de 2025.
De
acordo com parlamentares ouvidos pela Folha, o governo, que tem trabalhado até
agora em alinhamento com o presidente da Câmara, não influenciou na montagem do
bloco.
Após
a formalização da união, líderes de Republicanos, MDB, PSD e Podemos se
encontraram com o presidente da Câmara nesta quarta-feira (29) para sinalizar
que não há intenção de afronta.
Lira
postou uma foto em suas redes sociais parabenizando os partidos e afirmando que
sempre defendeu a redução dos partidos, “fortalecendo-os e dando à sociedade
confiança no nosso sistema partidário”.
A
união do Republicanos aos governistas PSD e MDB teve como objetivo formal fazer
frente às articulações de Lira para formar uma federação entre PP e União
Brasil, o que acabou não ocorrendo. Os dois partidos, porém, podem ainda formar
um bloco.
PP
e União Brasil, porém, somariam 108 deputados, ficando atrás dos 142 do novo
bloco capitaneado por MDB, PSD e Republicanos.
A
criação dessa nova força política na Câmara não significa que Lira deixa de ser
peça fundamental no Congresso. Na cadeira da presidência, ele tem o poder de
pautar matérias e influenciar na distribuição de verbas do Orçamento, tendo
ascendência inclusive sobre parlamentares do bloco recém-formado.
Além
do simbolismo político de reunir o maior contingente de cadeiras, a união dá
poder ao bloco na composição das comissões mistas (entre Câmara e Senado) que
devem ser retomadas para a análise das medidas provisórias, na Comissão de
Orçamento e no dia a dia das votações em plenário.
Alguns
integrantes do novo bloco afirmam que a união pode ser um estímulo para adesão
futura de parte do Republicanos a Lula, embora dois componentes conspirem
contra: 1) a avaliação consensual de que nenhum partido de centro e de direita
deve dar apoio fechado ao governo e 2) o fato de o partido abrigar o governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um dos nomes cotados para a disputa
presidencial de 2026.
Outra
implicação da formação do bloco, essa a longo prazo, diz respeito à sucessão de
Lira no comando da Câmara.
O
líder da União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), é considerado por vários
parlamentares como o candidato de Lira à sua sucessão.
Com
o novo bloco, ganham força outros nomes do campo do centro e da direita, como o
presidente do Republicanos e vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), e
o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).
Embora
dois anos seja tempo mais do que suficiente para bruscas mudanças na política,
se a eleição para o comando da Câmara fosse hoje, Elmar teria um apoio
potencial de cerca de 200 deputados —a soma de PP, União Brasil e o
oposicionista PL— contra 142 do candidato do novo bloco. Os cerca de 120 votos
do PT e demais partidos de esquerda, nesse caso, seriam decisivos para um dos
dois lados.
O
movimento que esvazia o poder interno de Lira ocorre ao mesmo tempo em que o
presidente da Câmara trava uma disputa com o Senado em torno da tramitação das
MPs, que são o principal mecanismo do governo para legislar —mas que precisam
ser validados pelo Congresso.
O
deputado defende um modelo que mantenha em suas mãos o poder sobre a tramitação
dessas medidas, mas o Senado quer retomar o que está previsto na Constituição:
a formação inicial de comissões compostas meio a meio por deputados e
senadores.
Lira
já cedeu em seu pleito inicial, propondo que essas comissões tenham três
deputados para cada senador, mas essa proposta de proporcionalidade deve ser
recusada pelos senadores.
O
imbróglio persiste, com potencial de estrago para os interesses do governo.
Alguns aliados de Lira dizem reservadamente que o presidente da Casa forçou a
mão nesse episódio e que agora será obrigado a ceder.
Tendo
sido eleito com uma base de partidos de esquerda que ocupam apenas um quarto
das cadeiras da Câmara, o presidente Lula buscou em um primeiro momento atrair
para a base do governo PSD, MDB e União Brasil, distribuindo três ministérios
para cada uma dessas legendas de centro e de direita.
Fruto
da fusão do DEM (ex-PFL, partido arquirrival do PT) e PSL, partido que elegeu
Bolsonaro, a União Brasil projeta-se como a sigla com potencial de ter o maior
número de dissidentes contra o Planalto.
Na
votação de quarta-feira (29), por exemplo, a sessão da Câmara foi derrubada a
pedido da própria liderança do governo por receio de derrota, já que Elmar
Nascimento, o líder da bancada da União Brasil, havia orientado os deputados a
entrar em obstrução.
Mesmo
que haja uma adesão majoritária de PSD, MDB e União, o governo terá uma base
que não é considerada folgada —para isso, precisaria de um apoio que superasse
com relativo conforto o mínimo necessário para aprovação de emendas à
constituição, que são 308 das 513 cadeiras. Por isso, Lula busca também a
adesão de dissidentes do centrão.
SEM ACORDO PARA COMISSÕES, MP DO BOLSA
FAMÍLIA É PRORROGADA
O
presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) prorrogou nesta
quinta-feira (30) o prazo de validade da medida provisória que institui o novo
Bolsa Família. O Bolsa Família e outras 15, estão paradas no Congresso diante
do impasse travado em relação ao rito de tramitação. Com a decisão, as medidas
têm validade estendida por mais 60 dias, o que amplia o respiro de votação ao
governo.
O
novo Bolsa Família determina o pagamento do subsídio de R$ 600. Ainda que o
valor já tenha sido depositado nas contas das famílias beneficiadas, é preciso
que o Congresso Nacional sacramente a medida em até 120 dias, a fim de que não
perca a validade. Por esse motivo, o novo prazo foi instituído, dando mais
flexibilidade ao Congresso.
A
criação do novo Bolsa Família é uma das principais bandeiras do governo e ficou
no centro da disputa entre Pacheco e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Sem acerto entre os
parlamentares sobre o rito de análise das propostas, o governo já trabalhava
para que as medidas provisórias fossem votadas só em junho. A prorrogação
anunciada por Pacheco dá sustentabilidade aos planos do governo.
Lira
e Pacheco, responsáveis por colocar as medidas provisórias em votação, estão
longe de um entendimento. Tido como
aliado por alguns governistas, Lira informou que só abre mão do rito
alternativo defendido por ele para a tramitação de medidas provisórias (MPs) se
os deputados forem maioria nas comissões, nem que isso signifique a
possibilidade da perda de validade de alguns textos considerados prioritários
para o governo.
O
próprio Lira fez o aviso. Para aceitar o rito das comissões mistas para análise
das medidas, determinada por Pacheco, ele quer que os deputados sejam maioria
absoluta nos colegiados, levando em consideração a proporcionalidade das duas
Casas. Ele usou como exemplo a Comissão Mista de Orçamento, que hoje tem 30
deputados e dez senadores.
Pacheco,
em reunião com Lula nesta terça-feira (28), colocou como inaceitável a proposta
de Lira. Entre os parlamentares, Câmara e Senado se dividem em apoio aos seus
presidentes.
Fonte:
Congresso em Foco/FolhaPress
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