Tunísia: perfil do
país que deu o pontapé inicial da Primavera Árabe
Localizada
no norte da África, no caminho de rotas vitais para a navegação no
Mediterrâneo, a Tunísia é historicamente um ator importante no comércio
mundial. A antiga cidade de Cartago, às beiras do lago Tunis, foi um dos
centros de comércio mais importantes da Antiguidade.
Essa
localização estratégica, por outro lado, despertou a cobiça de romanos, árabes,
turcos otomanos e franceses, que tentaram estabelecer o seu controle sobre a
região.
O
domínio colonial francês terminou em 1956. Por três décadas, o país foi
governado por Habib Bourguiba, inicialmente como primeiro-ministro e depois
presidente tunisiano. Ele promoveu ideias seculares, das quais a mais
importante foi a emancipação das mulheres.
Para
padrões árabes, a Tunísia é um país liberal em relação à participação feminina
na sociedade. A economia é mais próspera que a dos vizinhos. A maior parte da
mão-de-obra é empregada na e no turismo. Mesmo assim, o país não conseguiu
superar desafios históricos como a pobreza e subdesenvolvimento. Tampouco
conseguiu resolver as tensões políticas opondo o secularismo e islamismo.
No
fim de 2010, manifestantes saíram às ruas em massa pedindo a renúncia do
presidente Zine al-Abidine Ben Ali, em protesto contra a situação econômica, a
repressão política e a corrupção. Ben Ali deixou o cargo em 2011 e se tornou o
primeiro líder a cair sob a onda de protestos conhecida como a Primavera Árabe,
que abalou países no Oriente Médio e Norte da África.
A
onda de protestos teve início exatamente na Tunísia após a autoimolação do
verdureiro Mohamed Bouazizi resolveu atear fogo em seu próprio corpo depois de
tentar reaver seus produtos que tinham sido confiscados por autoridades. Ele se
sentiu humilhado pela ação de policiais que não só mantiveram o confisco como
também agrediram Bouazizi.
A
atitude extrema do verdureiro comoveu a população que reagiu em sua defesa
amplificando os protestos e forçando a renúncia do governo. A onda de
manifestações se alastrou pela região deflagrando o que ficou conhecido como
Primavera Árabe causando a derrubada de diversos governos autoritários.
Apesar
de uma transição pacífica, as tensões entre grupos islâmicos e seculares não
desapareceram. Em março de 2015, militantes de um grupo afiliado ao
autoproclamado Estado Islâmico invadiram o Museu Nacional Bardo, em Tunis,
matando 21 pessoas - a maioria, turistas estrangeiros. Em junho, um militante
islâmico realizou um tiroteio em massa no resort turístico de Port El Kantaoui,
próximo à cidade de Sousse, matando 39 pessoas.
FATOS
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República da Tunísia
Capital:
Tunis
• População11,5 milhões
• Área164 mil quilômetros quadrados
• Principal línguaÁrabe (oficial), francês
• Principal religiãoIslamismo
• Expectativa de vida(2020): 77 anos (79
para mulheres e 75 para homens)
• MoedaDinar tunisiano
Fonte:
ONU, Banco Mundial
LÍDERES
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Presidente: Kais Saied
O
professor de direito aposentado Kais Saied foi eleito em outubro de 2019 com
uma grande vantagem sobre o magnata da mídia Nabil Karoui.
Eleito
aos 61 anos, ele fez uma campanha voltada para os jovens, apelando para o tema
da corrupção.
Seu
predecessor, Beji Caid Essebsi, foi o primeiro presidente da Tunísia a ser
escolhido em eleições consideradas livres, em 2014, e morreu no cargo aos 92
anos cinco anos depois.
Saied
é conhecido por posições conservadoras em temas como homossexualidade, direitos
da mulher e pena de morte - punição suspensa no país desde 1994.
Em
julho de 2021, Saied demitiu o primeiro-ministro, suspendeu o Parlamento e
assumiu poderes de emergência em resposta a protestos contra o governo.
Uma
nova proposta de constituição que aumenta os poderes do presidente e reduz os
do parlamento, proposta por Saied, foi aprovada em referendo em junho de 2022.
Pelas
circunstâncias, os críticos qualificaram a medida como um golpe.
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Primeira-Ministra: Najla Bouden
Najla
Bouden Romdhane tomou posse em outubro de 2021 como a primeira mulher a ocupar
o cargo de primeira-ministra não apenas na Túnisia, mas em todo o mundo árabe.
Ela
é geóloga com doutorado na escola Mines Tech - PSL, em Paris, e professora
universitária. Seu pai também foi professor universitário e seus irmãos e irmãs
são todos cientistas.
Ao
longo de sua breve carreira política, Bouden ocupou cargos no Ministério do
Ensino Superior e Investigação Científica do país.
Em
2016, ela foi responsável por gerenciar um programa do Banco Mundial para
reformar e modernizar o ensino universitário no país.
MÍDIA
Desde
os protestos que culminaram na sua versão da Primavera Árabe - conhecida
localmente como a Revolução de Jasmim - a mídia tunisiana goza de maior
liberdade.
As
redes sociais desempenharam um papel fundamental na revolta. Além de prover um
meio para a articulação de grupos de oposição, também permitiram uma maior
comunicação com o mundo externo, através do compartilhamento imediato de
informações sobre os eventos em tempo real.
RELAÇÕES
COM O BRASIL
O
Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência da Tunísia, em
1956. A Embaixada permanente foi aberta em 1961. Uma série de visitas de alto
nível ocorreram a partir do início dos anos 2000, quando a diplomacia
brasileira diversificava suas relações e incrementava os contatos com países da
África, incluindo a região ao norte do Saara (Magreb).
Por
iniciativa de Luiz Inácio Lula da Silva, os países da América do Sul e do mundo
árabe passaram a ter um mecanismo de cooperação e articulação política. Dilma
Rousseff e o então presidente tunisiano, Moncef Marzouki, se reuniram às
margens da Cúpula América do Sul-Países Árabes realizada em Lima em janeiro de
2012.
Brasil
e Tunísia mantêm uma agenda de cooperação bilateral diversificada, que abrange
áreas como o desenvolvimento social, segurança alimentar, educação, meio
ambiente e recursos florestais. Está em curso um programa de cooperação técnica
com o objetivo de desenvolver e melhorar o valor das plantações de eucalipto na
Tunísia.
LINHA
DO TEMPO
Datas
importantes na história da Tunísia:
Cerca
de 1100 a.C. - Fenícios colonizam a costa norte-africana. A cidade de Cartago,
às margens do lago Tunis, torna-se uma potência naval.
146
AC - Romanos destroem Cartago.
600s
- Árabes conquistam o território que compreende a Tunísia atual.
909
- Tribos berberes conquistam a região.
1600s
- A Tunísia se torna parte do império otomano turco, porém consegue manter um
alto grau de autonomia.
1881
- Tropas francesas ocupam Tunis. Em 1883, a Tunísia vira um protetorado francês,
com o governo em Paris controlando seus assuntos econômicos e estrangeiros.
1956
- Independência. Habib Bourguiba vira primeiro-ministro, a monarquia é abolida
e a Tunísia se torna uma república no ano seguinte.
1987
- Primeiro-ministro Zine El Abidine Ben Ali orquestra a queda de Bourguiba, que
é declarado mentalmente incapaz de governar. Ben Ali toma o poder.
2011
- "Revolução de Jasmin". Ben Ali deixa o país após uma onda de
protestos contra a pobreza, corrupção e repressão política. É a primeira mudança
de governo da chamada "Primavera Árabe".
2014
- Parlamento aprova uma nova constituição após a queda de Ben Ali, três anos
antes.
2015
- Ataque ao Museu Nacional Bardo em por um militante islâmico deixa 21 mortos
em março.
2015
- Tiroteiro em massa no resort turístico de Port El Kantaoui, próximo à cidade
de Sousse, deixa 39 mortos. Governo anuncia o fechamento de algumas mesquitas
por radicalismo.
2019
- Professor de direito aposentado Kais Saied vence as eleições presidenciais
com uma plataforma anti-corrupção.
2021
- Saied demite o primeiro-ministro Hichem Mechichi, suspende parlamento e
assume poderes de emergência em resposta a protestos contra o governo.
2022
- Uma nova proposta de constituição que aumenta os poderes do presidente e
reduz os do parlamento, proposta por Saied, é aprovada em referendo em junho.
Críticos qualificam a medida como tentativa de golpe.
Fonte:
BBC News Mundo
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