A Bahia e a
experiência colonial bem-sucedida
Apesar
do marco racial e das relações de trabalho de 1988, a Bahia segue o modelo mais
tradicional de submissão da raça. A vocação turística promovida pelas belezas
naturais da Bahia coloca, por si só, o forasteiro numa posição de superioridade
em relação aos nativos, quer carregando aqueles nas costas no desembarque dos
barcos que visitam ilhas paradisíacas, quer prestando os mais variados serviços
em troca de gorjeta.
É
comum ver negros carregando malas e bagagens na ladeira que dá acesso à vila de
Morro de São Paulo ou nas visitas guiadas dos turistas pelas atrações naturais.
São os ganhadores do século XXI, que também carregam no lombo as mercadorias
que abastecerão as dispensas dos hotéis, bares e outros equipamentos de
satisfação turística.
Não
duvido do potencial desenvolvimentista do turismo no estado, mesmo considerando
os conflitos legais da questão ambiental.
Apenas
destaco a qualidade dos empregos gerados com esse tipo de turismo e as
consequências para a luta antirracista na Bahia.
Além
daqueles trabalhadores avulsos (spot), um outro contingente de igualmente
negros prestam serviços nas mansões construídas em terrenos públicos nas
regiões exuberantes da Bahia, em grande parte das ilhas do baixo sul.
Já
os forasteiros, importa dizer, não são turistas. Vieram para viver na Bahia e
criam nas ilhas relações sociais tipicamente coloniais. Criam faxineiras,
domésticas, babás, jardineiros, maridos aluguel, pescadores por encomenda…
O
caso da ilha de Boipeba é típico nos caracteres que se constituirão com o
empreendimento, cuja construção foi autorizada pelo INEMA no último dia 7 de
março.
A
redução em 20% da disponibilidade da terra de Boipeba para as comunidades
locais, inclusive das praias e mangues do sul da ilha, irá impor a essas
pessoas o trabalho doméstico, ou outros a ele associados, nas mais de 60
mansões construídas pelo Condomínio Rural FAZENDA PONTA DOS CASTELHANOS.
Estas
novas relações sociais e de trabalho impostas pela transformação do meio
ambiente não levarão emancipação nem reparação ao povo negro do Baixo Sul da
Bahia. Ao contrário, irão colocá-lo, assim como fizeram com seus ancestrais,
numa relação de subalternidade dos negros pobres por brancos ricos.
Se
essa for a missão institucional do governo, três consequências distintas se
apresentarão logo em breve.
Para
os futuros proprietários, um paraíso completo: mansão grilada, aeródromo
particular, piscina, campos de golfe e serviçais do peso, da limpeza e do
cuidado de crianças.
Para
o Estado da Bahia, a missão cumprida nos acordos opacos e no fomento das ilhas
Coloniais.
Para
os quilombolas, o sonho abortado, o peso do conforto alheio, a melancolia dos
antepassados, a gorjeta e a senzala sem praia no centro da ilha de Boipeba.
Uma
experiência conhecida e bem-sucedida.
Fonte:
Por Jailton Andrade, no Brasil 247
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