quinta-feira, 30 de março de 2023

Bolsonaro: de fraque, com o fundo aparecendo

Das diversas canções memoráveis que compuseram juntos, João Bosco e Aldir Blanc têm um samba delicioso que narra os planos de um personagem irreverente sobre como pretende sair vestido para o carnaval do ano 2000, na virada do milênio. E ele, então resolve ir assim: “Eu vou de fraque sabendo que o fundo tá aparecendo”. Era a forma como o personagem pretendia fazer troça com a formalidade. Para o traje a rigor, a bunda de fora.

O ex-presidente Jair Bolsonaro retorna ao Brasil depois do autoexílio nos Estados Unidos disposto a tentar inverter o sentido da intenção do personagem do samba de João e Aldir. No caso, ele deixa o fundo aparecendo para que ninguém perceba o seu traje a rigor. E tome chinelo, camisa pirata de time de futebol, caneta Bic e pão com leite condensado para esconder o Rolex cravejado de diamantes.

A descoberta de um terceiro pacote de joias presenteadas pelos árabes demonstra como o Bolsonaro simplório construído desde a campanha de 2018 tem muito de farsa. Longe dos espaços públicos, vai ficando cada vez mais evidente que o ouro de alto quilate tem preferência sobre o plástico transparente da caneta Bic.

Desde o início, Bolsonaro tratou de ir construindo a imagem de alguém que desprezava as formalidades. O capitão grosseirão era moldado à imagem do brasileiro comum. Que ficava se imaginando na mesma condição de presidente e concluindo que, muito provavelmente, iria da mesma forma ficar sem jeito, pouco à vontade com os rapapés da vida pública na Esplanada dos Ministérios.

Então, a primeira coletiva era dada atrás de uma mesa improvisada, formada por uma prancha de surf em cima de um cavalete. Quando era óbvio que Bolsonaro conseguiria, caso quisesse, um púlpito de verdade. O pão com leite condensado era servido sobre uma mesa sem toalha. Mais adiante, Bolsonaro despacharia com seus ministros calçado de chinelo e vestido de bermuda e camisa pirata de time de futebol. O termo de posse assinado com uma caneta barata. O almoço no milionário Fórum Econômico de Davos, na Suíça, num self service.

As reportagens feitas pelo jornal Estado de S. Paulo que desnudaram a história das joias dadas de presentes pelo governo da Arábia Saudita demonstram que talvez não fosse assim tão genuíno esse desprendimento material.

Bolsonaro tentara fazer passar de maneira irregular pela alfândega três milionários conjuntos de joias. Conseguiu fazer passar um conjunto masculino que estava sob sua posse e foi devolvido na semana passada, avaliado em R$ 400 mil. Só devolveu o conjunto porque se descobriu que um segundo estojo, avaliado em nada menos que R$ 16,5 milhões, tinha ficado retido na Receita do Aeroporto de Guarulhos, descoberto dentro da mochila de um então assessor do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.

Agora, descobre-se a existência de um terceiro conjunto de joias, com um relógio da marca suíça Rolex cravejado de diamantes. Relógio que também estava com Bolsonaro. E que nada indica que ele tivesse a intenção de devolver a ver incorporado ao patrimônio da União.

Bolsonaro retorna ao Brasil. E o PL aposta na sua liderança para reforçar fraquezas e contradições do atual governo Lula. Mas o problema do PL é tentar disfarçar nessa tarefa as fraquezas e contradições do próprio Bolsonaro. Como já contamos aqui, o PL inclusive encomendou uma pesquisa para saber até que ponto a população descobriu a existência do fraque e parou de prestar atenção no fundo aparecendo. A manutenção do truque é fundamental para os planos do partido de Valdemar Costa Neto.

 

Ø  EM QUATRO ANOS, BOLSONARO E EQUIPE FIZERAM 150 VIAGENS À ARÁBIA SAUDITA

 

Nos últimos quatro anos de governo, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) ou representantes de sua equipe presidencial fizeram 150 viagens para a Arábia Saudita. O país dos Emirados Árabes está no centro da confusão das jóias recebidas por Bolsonaro, e que foram mantidas pelo ex-presidente de forma irregular.

A frequência com que Bolsonaro e sua equipe visitaram o país acendeu o alerta entre os partidos de oposição a Bolsonaro no Congresso, que pedem novas investigações sobre o caso das jóias. No final da manhã desta terça-feira (28), o senador Humberto Costa (PT-PE), ingressou com um pedido de investigação junto ao Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de Contas da União, em relação a um terceiro pacote de jóias que Bolsonaro recebeu do governo da Arábia Saudita.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente recebeu uma caixa com um relógio Rolex, uma caneta Chopard, abotoaduras, anel e uma masbaha — espécie de rosário para a religião islâmica. Os presentes somam mais de R$ 500 mil e ficaram com o ex-presidente mesmo após o fim de seu mandato.

 “Solicita-se que esse Digno Ministério Público avalie apurar as reais razões de tão constantes deslocamentos oficiais, e se, ao final de cada uma dessas visitas, a comitiva ou o ex-presidente receberam objetos valiosos, e se assim for, a que título foram recebidos”, solicitou o senador.

Bolsonaro teria recebido a caixa após um almoço com o rei saudita Salman Bin Abdulaziz Al Saud, em outubro de 2019. Ao retornar ao Brasil, o presidente teria ordenado que os itens fossem guardados no acervo privado da Presidência. Os itens permaneceram lá até junho de 2022, quando um formulário foi apresentado para que os presentes fossem “encaminhados ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro”.

As joias estavam sob posse da comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em outubro de 2021. Na sexta-feira da semana passada (24), a defesa de Bolsonaro atendeu a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) e devolveu parte dos presentes. O terceiro pacote de jóias não foi devolvido.

 

Ø  TERCEIRO CONJUNTO RECEBIDO CONTINHA ROLEX E JOIAS, AFIRMA JORNAL

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu um terceiro conjunto de joias do governo da Arábia Saudita. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente recebeu uma caixa com um relógio Rolex, uma caneta Chopard, abotoaduras, anel e uma masbaha — espécie de rosário para a religião islâmica. Os presentes podem somar mais de R$ 500 mil e ficaram com o ex-presidente mesmo após o fim de seu mandato.

Bolsonaro teria recebido a caixa após um almoço com o rei saudita Salman Bin Abdulaziz Al Saud, em outubro de 2019. Ao retornar ao Brasil, o presidente teria ordenado que os itens fossem guardados no acervo privado da Presidência. Os itens permaneceram lá até junho de 2022, quando um formulário foi apresentado para que os presentes fossem “encaminhados ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro”.

Segundo o Estadão, os presentes recebidos diretamente pelo ex-presidente seguem em sua posse. Bolsonaro recebeu outros dois presentes do governo da Arábia Saudita. Um deles, estimado em R$ 400 mil, entrou no país sem passar pela alfândega e foi incorporado ao acervo do ex-presidente, em novembro do ano passado.

As joias estavam sob posse da comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em outubro de 2021. Na sexta-feira da semana passada (24), a defesa de Bolsonaro atendeu a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) e devolveu os presentes.

A comitiva também tentou entrar no país com um conjunto de joias avaliado em R$ 16,5 milhões, que seriam destinadas a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os itens foram apreendidos pela Receita Federal após um assessor do ministério tentar entrar no país sem declarar os itens.

Bolsonaro tentou reaver as joias apreendidas em ao menos quatro oportunidades, sendo a última no dia 28 de dezembro de 2022, no apagar das luzes de seu mandato. O sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva utilizou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir ao aeroporto de Guarulhos (SP) para tentar recuperar as joias, sem sucesso.

 

Ø  ALEXANDRE DE MORAES IDENTIFICA PRESOS PAGOS PARA PARTICIPAR DE ATOS GOLPISTAS

 

Na manhã desta segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, recebeu deputados distritais da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para estabelecer uma parceria com a CPI que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro. Na reunião com parlamentares, o ministro contou que parte dos envolvidos na depredação às sedes dos três poderes estava recebendo dinheiro para estar na manifestação.

“Ele falou que muita gente foi instrumentalizada, utilizada e financiada para estar nos atos golpistas do dia 8. Tivemos por exemplo 50 pessoas que estavam em situação de rua ou de vulnerabilidade, que foram levadas e pagas para participar no 8 de janeiro. A maior parte era de São Paulo, mas muita gente também era de Santa Catarina”, narrou o deputado distrital Fábio Félix (Psol), titular da CPI que participou da reunião com o ministro.

·         Hoteis como rota de fuga

A informação repassada por Moraes de que havia fornecimento de dinheiro a uma parcela dos presos coincide com parte dos depoimentos colhidos nos trabalhos da CPI. O colegiado já havia recebido o relato de que muitos dos manifestantes acampados em frente ao quartel-general do Exército estavam, na realidade, hospedados em hotéis, que inclusive serviram de rota de fuga durante os conflitos com a polícia em 12 de dezembro.

O colegiado também já havia apurado que muitos dos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro foram à manifestação preparados para um cenário de violência: os policiais que estavam no local identificaram manifestantes portando estilingues, máscaras de gás, fogos de artifício e bolas de gude, utilizadas para derrubar cavalos ou policiais em corrida.

Fábio Félix conta que o STF já conseguiu localizar os financiadores intermediários por trás dos atos golpistas, e que a atual prioridade dos investigadores é identificar os grandes financiadores, objetivo comum com a CPI. Os dois poderes também buscam identificar como os manifestantes conseguiram chegar até a Esplanada dos Ministérios. “A decisão preliminar do planejamento era de que a esplanada estaria fechada. Essa é uma pergunta que os inquéritos fazem, mas também uma pergunta que a CPI precisa fazer para chegar aos responsáveis, pela omissão, pelos equívocos no planejamento”, afirmou o deputado.

·         Acampamentos criminosos

Os parlamentares também conversaram com o ministro sobre o acampamento montado pelos manifestantes, desde a data do segundo turno das eleições de 2022, em frente ao quartel-general do Exército, onde exigiam um golpe militar para anular o resultado do pleito. Localizado em um bairro de jurisdição da força terrestre, o acampamento durou até o dia 8, recebendo proteção militar ao longo desse período.

Fábio Félix conta que o entendimento de Alexandre de Moraes é de que a própria manifestação em forma de acampamento em defesa de um golpe de Estado já violava o Código Penal. “Foi importante ele dizer que as manifestações antidemocráticas em frente aos quartéis generais já eram atribuídas e caracterizadas como criminosas. E muitos dos que estavam em frente aos quartéis pedindo um golpe militar estavam sim cometendo um crime”, contou o parlamentar.

·         Forças Armadas

No dia 8 de janeiro, o até então comandante do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), tenente-coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, foi filmado dentro do Palácio do Planalto tentando impedir os policiais militares que desocupavam o prédio de prender os invasores que depredavam o prédio. Mais tarde, o próprio ex-comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, utilizou sua tropa para impedir a entrada de policiais no Setor Militar Urbano, para onde fugiam os golpistas.

Os indícios de apoio por parte do Exército aos ataques são um dos pontos que a CPI busca investigar. Félix conta que Moraes também pretende aprofundar nessa questão. “O STF também está investigando a omissão ou prevaricação do BGP”, anunciou. O Plenário do Supremo já concluiu que os processos referentes a militares envolvidos no dia serão conduzidos por Moraes, e não pelo Superior Tribunal Militar (STM).

 

Fonte: Congresso em Foco

 

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