Ex-relator da ONU
revela 8 maneiras de investigar o Nord Stream apesar de negativa do CSNU
O
fracasso da resolução sino-russa no Conselho de Segurança das Nações Unidas
(CSNU) para estabelecer uma investigação internacional sobre os ataques ao Nord
Stream não é o fim do caminho, e Moscou tem mais de meia dúzia de caminhos para
abordar o assunto, diz o ex-relator da ONU e especialista veterano em direito
internacional, Alfred de Zayas.
Moscou
expressou confiança nesta terça-feira (28) de que a verdade sobre as explosões
no gasoduto Nord Stream (Corrente do Norte) acabaria sendo revelada, apesar do
fracasso no CSNU em adotar uma resolução sino-russa exigindo uma investigação
internacional formal sobre a sabotagem.
"Qualquer
tribunal condenaria os EUA com base nas informações disponíveis hoje, 'a
fortiori' na ausência de qualquer evidência confiável em contrário. Nos Estados
Unidos, qualquer grande júri consideraria que as evidências já em domínio
público são suficientes para indiciar o suspeito pelo crime e abrir um processo
criminal formal", disse Zayas à Sputnik.
A
resolução recebeu apoio da Rússia, China e Brasil. Os EUA, o Reino Unido, a
França e os membros rotativos do Conselho de Segurança – Albânia, Gabão, Gana,
Malta, Moçambique, Emirados Árabes Unidos, Suíça, Equador e Japão – se
abstiveram. O vice-representante permanente russo na ONU, Dmitry Polyansky,
disse à Sputnik que a resolução fracassou devido à "grande pressão"
do Ocidente.
Seymour
Hersh, o jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer cuja reportagem bombástica
revelou que mergulhadores da Marinha dos EUA auxiliados pelos militares
noruegueses foram os responsáveis pela destruição dos gasodutos, disse que não
estava nem um pouco surpreso com o fracasso da resolução. "O que mais você
achou que eles fariam? Se eles fizessem qualquer outra coisa, isso seria
notícia", disse Hersh à Sputnik.
Zayas
caracterizou a reportagem de Hersh como "completa, coerente e crível à
primeira vista" e disse que suas investigações "constituem uma base
sólida para iniciar uma investigação internacional independente, que exigiria o
consentimento dos países cuja soberania territorial se estende sobre a área
onde as explosões ocorreu, ou seja, Suécia e Dinamarca".
Infelizmente,
disse o especialista jurídico, a Suécia até agora se opôs ao assunto e não
compartilhou as descobertas de sua própria investigação com a ONU. "O
silêncio da Suécia só pode ser interpretado como um encobrimento, porque as
consequências de revelar a prova da violação dos Estados Unidos da soberania
sueca e dinamarquesa e a violação colossal do direito internacional e das leis
da guerra teriam explodido a Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN]
da mesma forma que os EUA explodiram os gasodutos", suspeita Zayas.
O
especialista enfatizou que, para ser crível, qualquer investigação dos nórdicos
sobre os ataques do Nord Stream vai ter que ser aberta a todas as partes
interessadas, incluindo a Rússia. Caso contrário, "tendo em mente que
todos os três países se uniram contra a Rússia, o grande perigo é que suas
investigações possam ser um encobrimento" dos crimes cometidos.
• As 8 ferramentas à disposição da Rússia
Felizmente,
diz Zayas, há uma série de caminhos que a Rússia e outros países podem seguir
em nível internacional.
Para
começar, os países poderiam recorrer ao Artigo 19 do Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, que dá a todas as pessoas o direito de acessar
informações e de buscar e transmitir informações de todos os tipos,
especialmente quando as informações retidas dizem respeito a atos criminosos
como o terrorismo.
Em
segundo lugar, Zayas observa, porque o CSNU falhou em estabelecer uma Comissão
Internacional de Inquérito, ou Missão de Apuração de Fatos — ferramentas para
examinar possíveis violações graves do direito internacional humanitário e dos
direitos humanos — a Assembleia Geral pode fazê-lo. "A Assembleia Geral
deve ir além da mera condenação da sabotagem do Nord Stream e adotar uma
resolução sob o Artigo 96 da Carta da ONU solicitando um parecer consultivo da
Corte Internacional de Justiça sobre a questão das consequências legais da
explosão dos gasodutos, em especial as responsabilidades cíveis e penais
envolvidas", explicou o advogado.
Em
terceiro lugar, o especialista jurídico diz que, uma vez que as explosões do
Nord Stream se enquadram na definição de terrorismo internacional, elas estão
sob a alçada do Escritório de Drogas e Crime da ONU em Viena, que deve conduzir
sua própria investigação.
Em
quarto lugar, Zayas argumenta, uma investigação poderia ser iniciada pelo
escritório do Programa Ambiental da ONU em Nairóbi, uma vez que seu alcance se
estende à investigação dos impactos ecológicos adversos que as explosões podem
ter causado na pesca no mar Báltico.
Em
quinto lugar, propõe a apresentação de uma chamada "queixa
interestatal" sob o Artigo 41 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos, dizendo que violações dos Artigos 1, 2, 6, 19 e 26 do documento
podem ser argumentadas.
Em
sexto lugar, o advogado diz que o Conselho de Direitos Humanos da ONU poderia
estabelecer uma Missão de Apuração de Fatos para investigar "os impactos
adversos sobre os direitos humanos na região e no mundo" das explosões do
Nord Stream, "como de fato, o ataque ao fornecimento de energia tem consequências
generalizadas, especialmente para o gozo dos direitos econômicos e
sociais".
Em
sétimo lugar, há os Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos –
especialistas independentes em direitos humanos com mandato para relatar e
aconselhar sobre questões de direitos humanos, que têm seus próprios caminhos
para investigar os ataques do Nord Stream. "Certamente cabe a três
relatores – o relator sobre Terrorismo, o relator sobre o Direito à Verdade,
Justiça e Reparação e o relator sobre Liberdade de Opinião e Expressão"
investigar, sugeriu Zayas.
Finalmente,
o especialista justifica que a Rússia e outros países poderiam argumentar que
os ataques do Nord Stream constituem uma violação da Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). "E mesmo que os EUA nunca tenham
ratificado [o tratado], nada impede que o Secretariado da CNUDM estabeleça um
grupo de trabalho para estudar as implicações da sabotagem de gasodutos
submarinos", explicou.
• 'Padrão duplo'
Zayas
enfatizou que o fracasso do CSNU em condenar a sabotagem terrorista do Nord
Stream da mesma forma que condenou os ataques terroristas de 11 de setembro em
2001 sinaliza "a aplicação de padrão duplo".
"O
silêncio da ONU em relação à sabotagem terrorista do Nord Stream é tão
ensurdecedor quanto seu silêncio em relação aos 40 laboratórios biológicos dos
EUA na Ucrânia", disse o advogado.
Felizmente,
Zayas argumenta, a pressão sobre os EUA está aumentando, principalmente por
causa da hostilidade comprovada das autoridades norte-americanas à infraestrutura
de gasodutos russos muito antes de ela ser destruída.
"Certamente
foi descuido de Joe Biden ter ameaçado que, se a Rússia invadisse a Ucrânia, o
Nord Stream não existiria mais. Isso foi repetido por funcionários do
Departamento de Estado. Além disso, os EUA já haviam feito tudo ao seu alcance
para frustrar a conclusão do Nord Stream 2, como evidenciado pelas medidas
coercitivas unilaterais ilegais impostas a empresas em todo o mundo para
intimidar empresas como a holandesa-suíça Allseas e uma seguradora suíça com
penalidades colossais. Tais ações eram ilegais, constituíam interferência nos
assuntos internos dos Estados e aplicação extraterritorial ilegal das leis dos
EUA, mas o mundo de alguma forma as tolerou. Ainda assim, elas contribuem para
o crescente dossiê legal contra os EUA", concluiu Zayas.
Decisão do CSNU sobre Nord Stream
pretende 'isolar o discurso da Rússia', opina analista
O
Conselho de Segurança das Nações Unidas rejeitou o projeto da Rússia de
instalar uma comissão para investigar as explosões nos gasodutos Nord Stream
(Corrente do Norte). Esta decisão, no entanto, apenas mostra a clara influência
dos Estados Unidos na comunidade internacional, disse um analista à Sputnik.
Só
a Rússia, a China e o Brasil votaram a favor do projeto do Kremlin, enquanto os
restantes 12 membros do Conselho se abstiveram.
O
fato não é estranho se tiver em conta que, desde o início da operação militar
russa, este órgão internacional vota contra qualquer resolução que não esteja
alinhada com os interesses da Casa Branca, assegura Carlos Manuel López Alvarado,
especialista em relações internacionais da Universidade Nacional Autônoma do
México (UNAM).
"[A
decisão do Conselho] é uma questão diplomática e política orquestrada para
tentar isolar o discurso da Rússia, país que na realidade só está reivindicando
sua segurança nacional", afirmou o especialista, acrescentando que, embora
a decisão não surpreenda, é "lamentável".
"Não
deve surpreender ninguém [...] Os Estados Unidos e seus aliados se comportaram
de maneira moralista e padecem do mesmo que criticam", disse.
Embora
nenhum dos Estados-membros tenha votado contra a investigação das explosões nos
Nord Stream 1 e 2, ocorridas em setembro passado, a verdade é que, com isto,
Washington está apenas a tentar ficar bem e a delegar a responsabilidade aos
seus parceiros europeus.
"Os
Estados Unidos, com esta abstenção, decidem simplesmente delegar a
responsabilidade de dar o voto de veto aos demais aliados, mas a realidade é
que uma abstenção desse número de membros [12] também pode ser interpretada
como uma rejeição", indicou.
Os
ataques ocorreram simultaneamente em 26 de setembro de 2022 nos dois gasodutos
russo-alemães que transportavam gás natural russo para a Europa – o Nord Stream
1 e o Nord Stream 2.
Recentemente,
Seymour Hersh, jornalista e autor da investigação sobre o envolvimento dos EUA
nas explosões do gasoduto, disse que o chefe do governo alemão Olaf Scholz tem
apoiado as tentativas de Washington de encobrir informações sobre a sabotagem
do gasoduto Nord Stream desde o outono europeu.
Conselho
da ONU está atolado
López
Alvarado afirma que a Organização das Nações Unidas (ONU) é uma instituição que
foi intimidada pela obstinação dos Estados Unidos de impor sua hegemonia em
diferentes partes do mundo.
"As
Nações Unidas viram-se atoladas numa obstinação por parte do governo dos
Estados Unidos por não perder a batuta. Não esqueçamos que Washington é o maior
contribuinte econômico das Nações Unidas", diz o especialista da UNAM.
"A
dependência é fundamental: se os Estados Unidos fizeram algo bem, foi tornar o
mundo dependente das finanças americanas", sentencia.
Ele
sugere também que a narrativa de que Washington não está por trás do que
aconteceu nos Nord Stream 1 e 2 é absurda.
"[Os
EUA] buscam preservar sua narrativa. Esta ideia de que [os ataques] foram pró-ucranianos
e que [Washington] não participou é absurda. Seymour Hersh disse abertamente:
os Estados Unidos pretendem desconectar a Europa Ocidental da Rússia",
garante.
• Voto do Brasil mostra um fator de
mudança
Um
dos três países que votaram a favor do projeto russo foi uma nação
latino-americana: o Brasil, um fato que, segundo o especialista em temas
globais, marca uma clara tendência regional que aposta mais no multilateralismo
que na hegemonia única da Casa Branca.
"Sim,
marca uma tendência clara que estamos vendo, que estamos experimentando, com a
chegada de governos progressistas à região [latino-americana] que,
naturalmente, exigem uma saída para o conflito [...] A chegada de Lula ao
Brasil representa um alívio porque os três países mais importantes da região:
México, Argentina e Brasil estão orientados para uma mesma visão sobre os
assuntos globais", assinala.
Se
o projeto de Moscou tivesse sido aprovado, o secretário-geral das Nações
Unidas, António Guterres, iria liderar as investigações sobre estes fatos que,
a meio ano de distância, não foram esclarecidos.
Rússia: Dinamarca, Suécia e Alemanha
terão que informar ONU sobre sabotagem no Nord Stream
A
Dinamarca, a Suécia e a Alemanha terão que informar a ONU sobre os resultados
das suas investigações sobre as circunstâncias da sabotagem dos gasodutos
russos Nord Stream, escreveu no Telegram Dmitry Polyansky, vice-embaixador da
Rússia nas Nações Unidas.
Ontem
(27) o Conselho de Segurança da ONU não adotou um projeto de resolução russo
que pedia a criação de uma comissão internacional sob auspícios da ONU para investigar
a sabotagem no gasoduto. A favor votaram apenas a Rússia, a China e o Brasil,
os outros membros do Conselho de Segurança se abstiveram.
Entretanto,
os coautores do projeto de resolução, além da Rússia, foram a China, Belarus,
República Popular Democrática da Coreia, Síria, Eritreia, Nicarágua e
Venezuela.
"Tenho
a certeza que voltaremos a este tema no Conselho de Segurança e, em geral,
graças aos nossos esforços com os chineses, ele tem todas as chances de
firmemente "se instalar" no Conselho de Segurança. Copenhague,
Estocolmo e Berlim agora terão mais dificuldade de fingir que tudo está indo
bem – eles terão, de uma forma ou de outra, de dar explicações ao Conselho de
Segurança sobre o progresso de sua investigação", escreveu o diplomata.
Polyansky
apontou que a Rússia não tinha ilusões de que os países ocidentais no Conselho
de Segurança deixariam passar o projeto de resolução russo.
"Uma
investigação internacional justa deste crime importante é um pesadelo para os
EUA e seus satélites, que prevalecem no Conselho de Segurança. Mas, mesmo
assim, nenhum deles se atreveu a votar 'contra'", observou.
Por
sua vez, Vasily Nebenzya, o embaixador russo na ONU, questionou o seu homólogo
dos EUA como a Rússia deve interpretar a admissão do presidente dos EUA Joe
Biden de que o gasoduto seria destruído, feita alguns meses antes da explosão
ocorrer. "O [representante] americano simplesmente permaneceu em silêncio
e seu silêncio foi mais eloquente do que qualquer confissão", concluiu
Polyansky.
Os
ataques ocorreram em 26 de setembro de 2022 nos dois gasodutos russo-alemães
que transportavam gás natural russo para a Europa – o Nord Stream 1 e o Nord
Stream 2.
Fonte:
Sputnik Brasil
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