A luta do Pará mostra o
caminho! Enfrentar Trump e batalhar contra o arcabouço fiscal
O ano de 2025 mal começou e estamos diante de uma
dinâmica situação internacional. A entrada do reacionário Donald Trump no
governo dos Estados Unidos, com seu expansionismo imperialista xenófobo, marca
uma tentativa de interromper a dinâmica de decadência da hegemonia
norte-americana buscando medidas proativas para retomar o protagonismo diante
dos principais acontecimentos internacionais. Isso ocorre em meio a todas as
disputas nas quais China e Rússia, como Estados capitalistas, buscam se
postular como alternativas a esta hegemonia, defendendo um multilateralismo do
capital como saída para os conflitos internacionais. Neste contexto, também
vimos o cessar fogo na Faixa de Gaza, que depois de um enorme massacre de
palestinos que contou com o apoio do Partido Democrata, expressou uma
correlação de forças na qual a resistência de um povo se fez valer e o sionismo
se viu debilitado estrategicamente.
Estes elementos da situação internacional renovam por
completo a necessidade de uma esquerda revolucionária que levante bem alto as
bandeiras do anti-imperialismo, batalhando por uma unidade latino-americana e
ao lado dos trabalhadores, imigrantes e povo pobre dos Estados Unidos contra as
políticas de Trump que visam perseguir, deportar e prender os imigrantes. Diante
disso, mais uma vez vemos nos setores populares e da classe trabalhadora uma
renovada resistência às políticas de Trump: dessa vez são os professores e
trabalhadores da saúde que assumem a dianteira para se negar a seguir as
orientações trumpistas de deportação dos alunos e pacientes, convertendo-se em
verdadeiros tribunos do povo para defender as crianças, jovens e famílias
imigrantes. Também são convocadas manifestações contra os ataques históricos
aos direitos das pessoas trans, nos quais Trump nega sua existência e retira o
direito a terapias, medicação e outras conquistas básicas.
Por isso é preciso uma enorme campanha internacional
contra a política anti-imigrante do governo Trump lutando pela unidade da
classe trabalhadora e dos imigrantes para que tenham plenos direitos. A esse
serviço, estão as organizações que compõem a Fração Trotskista - Quarta
Internacional, em primeiro lugar nos EUA, colocando centro nessas batalhas
junto aos imigrantes contra Trump como parte da luta do Left Voice pela
construção de uma alternativa revolucionária no coração do imperialismo, bem
como na América Latina, onde nos posicionamos na linha de frente contra toda a
ofensiva trumpista, como na batalha de nossos companheiros do PTS na Argentina
com Myriam Bregman, Nicolas Del Caño, Alejandro Vilca e Christian Castillo,
deputados nacionais, contra as políticas nefasta do trumpista Javier Milei. Mas
também em outros continentes, como no recente congresso do Révolution Permanente, que postulou como
tarefa de primeira ordem da esquerda revolucionária o enfrentamento à
“internacional reacionária” que se expressa em diversos países. Diante do
combate reacionário de Trump a todos os jovens que saíram a lutar pelo povo
palestino, com objetivo declarado de puní-los e deportá-los, e da conivência
das potências imperialistas com o genocídio na Palestina, faremos uma grande
campanha em defesa de Anasse Kazib, filho de imigrantes marroquinos e porta-voz
do Revolution Permanente, e de outro camarada nosso que estão sendo perseguidos
pelo imperialismo francês por se pronunciar em defesa do povo palestino.
<><> O
exemplo do Pará: seguir o caminho da luta para derrotar o arcabouço fiscal e os
capitalistas
A luta do Pará se converteu em um importante exemplo de
luta nacional. Com uma forte ocupação indígena e quilombola na Secretaria de
Educação em Belém, com cortes de rodovia e a fundamental aliança com
professores, estamos vendo um processo novo que está dobrando os políticos
tradicionais que são parte da Frente Ampla, como é o caso de Helder Barbalho do
MDB. Vale ressaltar que o Secretário de Educação é ninguém menos que Rossieli
Soares, responsável pela implementação do Novo Ensino Médio nacionalmente, que
expressa um ataque neoliberal contra a educação. Este processo de luta ainda
está em curso e já é possível ver algumas direções burocráticas atuando a favor
do governo ao tentar desmobilizar a potente unidade entre trabalhadores e povos
originários, mas a firmeza política do movimento nos permite tirar lições de
qual caminho é preciso seguir nacionalmente.
Depois de 2 anos de governo Lula com uma Frente Ampla
começamos a ver os primeiros sinais de esgotamento dessa política e de crise do
que viemos definindo como um “lulismo senil em um regime degradado”. Ou seja,
os debates no PT sobre a crise sucessória e a queda de popularidade de Lula
compõem um retrato que tem como base o aceleramento da experiência com o
governo Lula, uma experiência que traz conclusões pela direita e pela esquerda.
A decisão do governo Lula de no último ano renovar o Teto de Gastos de Temer
com um arcabouço fiscal reafirmou a política neoliberal e de administração
capitalista que já era clara desde a composição de seu governo: com empresários
e burgueses de todo o tipo. Esta decisão combinada à manutenção de toda a obra
econômica do golpe institucional, ou seja, as reformas da previdência,
trabalhista, do Ensino Médio e a lei da terceirização irrestrita compõem a base
de um governo que, na prática, está aliado a setores da extrema direita em
distintos níveis, bem como com os capitalistas. Desde a participação em
Ministérios do governo com figuras de partidos como o Republicanos, de
Tarcísio, até as alianças eleitorais que o PT fez nas eleições com o partido de
Bolsonaro, além do apoio junto ao PL a figuras reacionárias do Centrão na
Câmara dos Deputados e no Senado.
Agora, neste momento, o PT tenta aparecer como quem
quer “buscar mais comunicação” com a população e reconstituir uma certa fratura
com setores populares e da classe trabalhadora mais precarizada que vem
sofrendo com os altos preços dos alimentos, em especial no Nordeste do país.
Mas profere essas palavras mantendo todas as medidas que destroem a vida da
nossa classe, especialmente dos terceirizados e dos trabalhadores que enfrentam
as jornadas 6x1 e inclusive 10x1, como denunciamos no
Esquerda Diário.
Enquanto isso, as direções petistas e governistas paralisam a ação dos
sindicatos de massas, da CUT, da CTB e dos movimentos sociais, não só
paralisando as ações contra as medidas de ajuste do governo federal, mas também
a luta contra os ataques de governadores e prefeitos da direita, como Tarcísio
de Freitas e Ricardo Nunes em São Paulo. Não devemos ter nenhuma trégua neste
momento e colocar no centro da nossa batalha o enfrentamento ao Arcabouço
Fiscal, que sufoca a vida do povo, e também de todas as medidas de ajuste
fiscal que o governo veio anunciando de forma “parcelada”. Para isso, lutas
como a do Pará, mas também dos terceirizados da Petrobrás são exemplos para
pensar a unidade da nossa classe para impor que as burocracias sindicais rompam
a subordinação com o governo Lula e organizem a luta da nossa classe.
<><> O
aceleramento da experiência com os governos do PT pode dar espaço a novos
processos políticos e de luta
Um aprofundamento da experiência com os governos do PT
e em particular com o atual governo Lula poderia dar lugar ao surgimento de
novos processos de luta que se coloquem a enfrentar as privatizações nos
estados, sustentadas pela Frente Ampla, mas também processos políticos que dêem
vazão a um questionamento mais de fundo ao governo Lula. Durante os dois
últimos anos, o governo Lula buscou se apoiar na ilusão de amplos setores sobre
a possibilidade de que seu governo enfrentasse a extrema direita de alguma
maneira. Entretanto, o que vimos nos últimos 2 anos foi não somente uma
política de conciliação que evidentemente fortaleceu a extrema direita, mas a
administração do decadente capitalismo brasileiro mediante todo o tipo de
pactos e unidades com os setores mais reacionários da política brasileira, como
também o judiciário que renovou seu autoritarismo neste regime degradado. Um
governo que mantém seu compromisso com a burguesia para pagar o roubo da dívida
pública e seguir mantendo os lucros capitalistas. Com a entrada de Trump no
governo dos Estados Unidos, essa correlação de forças fica ainda mais em aberto
e o discurso do medo da extrema direita no Brasil será utilizado para impedir o
desenvolvimento de qualquer alternativa à esquerda do PT.
O PSOL, já há bastante tempo, abriu mão dessa
localização em troca de cargos e espaço no governo. Hoje em dia, o PSOL é um
braço do PT, inclusive votando medidas neoliberais de ataque a idosos e PCD´s
em situação de extrema-pobreza como o ataque ao BPC. No Pará, o PSOL serviu
como linha de transmissão do governo federal através de figuras indígenas como
Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, ao tentar controlar a luta e rebaixar as
pautas do movimento em favor de Helder Barbalho. A convicção dos povos
tradicionais em seus próprios métodos de luta e na unidade com os professores
impôs uma conquista que não poderia ser alcançada sem a desconfiança com as
negociações institucionais do PSOL, simbolizada na manutenção do movimento até
que a pauta de sua luta esteja divulgada no Diário Oficial. Neste momento, o
partido está inclusive demitindo assessores parlamentares que criticam o
governo Lula e o arcabouço fiscal. Sua tentativa é encobrir essa política
totalmente subordinada ao PT com a atuação de parlamentares que fazem denúncias
sobre os ataques dos setores da extrema direita, enquanto sustentam este
governo - votando até mesmo em aliados de Castro e do bolsonarismo na ALERJ.
Cada vez mais a lógica de “disputar o governo por dentro” se vê como uma utopia
falida: o governo já entregou tudo aos empresários e setores da burguesia que
seguem pressionando por mais e mais ajustes. Por isso, ao contrário de se
esconder em uma suposta “luta contra a extrema direita” como se propõe o PSOL,
a esquerda revolucionária precisa atuar na experiência de setores da juventude
e da classe trabalhadora com este governo, buscando levar a conclusões mais
imediatas da necessidade de construir uma política de independência de classe,
mas também retomando a tarefa histórica de superação do PT pela esquerda, o que
passa por enfrentar também as organizações que se dizem de esquerda, mas
sustentam a política neoliberal do governo.
<><> É
preciso colocar de pé uma oposição de esquerda ao governo Lula baseada na luta
de classes
Por tudo isso é fundamental se dirigir ao conjunto da
nossa classe, com um programa contra o arcabouço fiscal e os ataques, como
oposição de esquerda ao governo Lula demonstrando que seu governo não somente
fortaleceu a extrema direita com tanta conciliação, mas mantém e aprofunda toda
a obra de ataques neoliberais governando com burgueses e empresários e se
subordinando ao governo Trump, a quem desejou “um ótimo governo”, enquanto este
massacra a população imigrante e destrói os direitos das pessoas trans. As
organizações da esquerda não institucional deveriam organizar a mais forte
unidade diante das batalhas que estão em curso nesse momento, como a luta
contra a escala 6x1 que o PSOL quer transformar em seguimento meramente
eleitoral e a luta contra o arcabouço fiscal, que precisa ser um dos centros fundamentais
do enfrentamento ao governo. Uma política que também deve guiar a construção do
8 de março, dia internacional de luta das mulheres.
Diante da experiência com o governo do PT neste
terceiro ano de Frente Ampla, rebaixar-se envergonhadamente nos braços do
governo, como fazem a maioria do PSOL e correntes que falam de marxismo como o
Resistência, é um caminho sem volta já que significa subscrever, ainda mais,
toda a política neoliberal do governo. Os setores do PSOL que criticam o
governo, ainda convertidos a uma política de “governo em disputa”, terminam
também cobrindo pela esquerda essa política e por isso deveriam dar um passo
adiante na ruptura com este projeto. É fundamental que a vanguarda dos
trabalhadores e estudantes tire essas lições sobre a institucionalização da
esquerda, subordinada à política de conciliação de classes, e coloque na ordem
do dia a tarefa da construção de uma esquerda revolucionária.
Os elementos de experiência com Lula se expressaram
fortemente na greve das federais e é este o caminho que deve ser seguido, o da
luta de classes, para pensar a constituição de uma verdadeira oposição de
esquerda ao governo Lula que possa efetivamente enfrentar a extrema direita. O
exemplo das mobilizações na Argentina, com as mulheres e LGBTs à frente, contra
o governo Milei que vem fortalecido de acordos com o próprio
peronismo/kirchnerismo, e onde a existência de uma esquerda revolucionária como
o PTS é fundamental para esse combate.
Fonte: Esquerda Diário
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