Os
argumentos de Biden para dar perdão ao filho para evitar que seja preso
O
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, negou repetidamente
que iria conceder perdão ao filho Hunter por suas
condenações relacionadas à posse ilegal de arma e evasão fiscal — ou comutar
sua pena, que estava prevista para ser anunciada neste mês.
Mas,
na noite de domingo (1/12), após o Dia de Ação de Graças — em um momento em que
a atenção do povo americano estava decididamente em outro lugar—, ele anunciou
que havia mudado de ideia.
Hunter
Biden se declarou culpado das acusações de evasão fiscal em setembro, e foi
considerado culpado de ser um usuário de drogas ilegais em posse de uma arma em junho — tornando-se o primeiro filho de um presidente
em exercício a ser condenado por um crime.
Ao
anunciar sua decisão de conceder o indulto ao filho, Joe Biden afirmou que,
embora acreditasse no sistema judiciário, "a política infectou este
processo e levou a um erro judicial".
"Tem
havido uma tentativa de acabar com Hunter — que está sóbrio há cinco anos e
meio, mesmo diante de ataques implacáveis e processos judiciais seletivos”,
escreveu Joe Biden em uma declaração à imprensa anunciando sua decisão.
”Ao
tentar destruir Hunter, eles tentaram acabar comigo — e não há razão para
acreditar que isso vai parar por aqui. Já basta."
A
explicação do presidente pode parecer familiar para qualquer pessoa que tenha
ouvido Donald Trump criticar o
sistema de Justiça dos Estados Unidos nos últimos anos.
Trump,
ao sair da Casa Branca em 2021, concedeu uma série de indultos para
seus colaboradores e aliados próximos que haviam sido envolvidos nas várias
investigações criminais que o rondaram durante seu mandato.
Ao
fazer isso, ele burlou os procedimentos estabelecidos pela Casa Branca para
exercer o amplo poder do indulto presidencial. E, embora ele tenha sido
criticado por essa ação na época, houve poucas — se é que houve alguma
—consequência política.
Joe
Biden tornou-se agora o primeiro presidente dos EUA a conceder indulto ao filho
— mas não é o primeiro a perdoar um parente.
Charles
Kushner, sogro de Ivanka Trump, filha do ex-presidente, teve sua ficha limpa em
2020, depois que Donald Trump concedeu clemência a ele antes de deixar o cargo.
O
ex-presidente Bill Clinton também fez uso de seus poderes antes do fim do seu
segundo mandato, perdoando seu meio-irmão Roger, que havia sido condenado por
acusações relacionadas ao porte de cocaína em 1985, e cumprido mais de um ano
de prisão depois de se declarar culpado de conspiração para distribuir drogas.
Hunter
Biden não é, no entanto, a primeira pessoa a quem seu pai concedeu indulto
desde que assumiu o cargo.
Joe
Biden concedeu perdão até agora a outras 25 pessoas, de acordo com a rede CBS,
parceira da BBC nos EUA. A maioria delas era acusada de crimes relacionados a
drogas.
Para
efeito de comparação, Trump havia concedido 29 indultos a esta altura do seu
primeiro mandato, mas acabou deixando a Casa Branca tendo concedido um total de
143.
Após
o anúncio da decisão do pai, Hunter Biden divulgou uma declaração dizendo que
havia "admitido e assumido a responsabilidade por meus erros durante os
dias mais sombrios do meu vício" — e que não deixaria de valorizar a
clemência.
O
indulto representa o perdão legal, põe fim a qualquer punição adicional e
restaura direitos como poder votar ou concorrer a cargos públicos.
Preço
político
Eric
Holder, que foi procurador-geral durante o governo Obama, apoiou a iniciativa
de Joe Biden de conceder o indulto — dizendo praticamente que Hunter foi
injustamente visado por causa do nome do pai.
Mas
Biden também foi criticado por quebrar sua promessa e usar seu poder
presidencial para proteger o filho. O governador democrata do Colorado, Jared
Polis, divulgou rapidamente um comunicado dizendo que, embora entendesse o
desejo de Biden de ajudar o filho, isso abre um "precedente ruim" que
poderia ser usado indevidamente por presidentes posteriores.
Ele
afirmou ainda que estava "decepcionado", e que a medida
"mancharia" a reputação do presidente em fim de mandato.
Como
a carreira política de Biden está chegando ao fim, o preço que ele próprio vai
pagar por essa atitude vai ser baixo. A atenção nacional vai se voltar
rapidamente para a nova presidência de Trump.
Mas
Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia, nos
EUA, adverte que, embora a medida "não importe muito" para o público,
provavelmente vai causar problemas significativos para os democratas.
"Isso
não tem implicações para Joe Biden, ele está com 82 anos e certamente não vai
se candidatar a mais nada", afirmou Sabato à Radio 4, da BBC.
"Mas
torna mais difícil para o partido, o Partido Democrata, criticar Donald Trump
pela legião de indultos que estará chegando com seu segundo mandato."
"E,
é claro, desta vez ele já se comprometeu a perdoar um grande número de
insurgentes de 6 de janeiro de 2021, as pessoas que invadiram o Capitólio e
feriram vários policiais", acrescentou.
O
fato é que as regras que regem o indulto presidencial — ou, pelo menos, os
processos e as diretrizes estabelecidas que haviam orientado seu uso — parecem
ter sido alteradas de forma essencial e permanente. Em tese, haveria poucos
motivos para alguém reclamar, não importa de que lado do espectro político
esteja.
Após
o anúncio do indulto, Trump criticou a medida, classificando-a como um
"abuso e erro judicial", enquanto alguns republicanos chamaram Joe
Biden de "mentiroso".
A
equipe de Trump afirmou ainda que o presidente eleito consertaria o sistema de
Justiça dos EUA e restabeleceria o devido processo em seu segundo mandato.
É
algo para se ter em mente quando Trump retornar ao cargo, já que se espera que
ele use novamente seu poder de indulto para ajudar aliados que foram
processados durante a presidência de Biden — e para libertar muitos de seus
apoiadores que foram condenados durante a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
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Entenda a discussão
nos Brics para substituir o dólar e por que Trump fez ameaças
O
presidente eleito dos Estados Unidos, Donald
Trump, causou alvoroço na comunidade
internacional no fim de semana ao ameaçar com uma tarifa de 100% produtos dos países do grupo dos Brics caso eles substituam o dólar norte-americano por outra
moeda em suas transações.
A
discussão dentro dos Brics, de fato, existe e tem no presidente do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, um de seus maiores
entusiastas.
Entenda
abaixo o que significaria substituir o dólar nas negociações dentro dos Brics e
por que Trump é tão contrário a essa ideia. Os pontos que a reportagem vai
abordar são:
- Quem são os Brics?
- Peso econômico e demográfico
- O papel do dólar no comércio global
- Por que os Brics querem reduzir a dependência do dólar?
- Lula também defende substituição do dólar
- A reação de Donald Trump
- Iniciativas dos Brics até aqui
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Quem são os Brics?
O
grupo dos Brics foi fundado em 2006 e reunia, na época: Brasil, Rússia, Índia e
China. Na fundação, se chamava apenas "Bric", "tijolo", em
inglês, e derivava da inicial do nome de cada país membro. O termo havia sido
cunhado cinco anos antes pelo economista britânico Jim O´Neil, que entendia que
esses países emergentes seriam os pilares (tijolos) da economia mundial em no
máximo cinquenta anos.
Posteriormente,
a África do Sul entrou para o Brics, e a letra "S" foi adicionada.
Lula presidia o Brasil na época da criação do grupo e sempre foi defensor dessa
aliança estratégica entre os maiores países emergentes para obter mais espaço
na economia mundial e dos órgãos de governança global, dominados pelas
potências ocidentais.
Em
2023, o grupo foi ampliado com a entrada de outros seis países: Irã, Arábia
Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
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Peso econômico e demográfico
Alguns
dados para evidenciar o tamanho dos Brics na economia mundial são:
- Representam 46% da população mundial.
- O PIB combinado dos membros do grupo ultrapassa o das
potências ocidentais, segundo as projeções do Fundo Monetário
Internacional.
- Economias do bloco incluem a China (2ª maior do mundo),
Índia (7ª), Brasil (9ª) e Rússia (11ª).
Isso
não significa, a princípio, que os Brics juntos são mais poderosos que as
potências tradicionais. Isso porque suas economias ainda são emergentes, ainda
há muita pobreza dentro de seus países e seus poderios bélicos ainda não
superam o dos países mais desenvolvidos.
Também
há o fato de que os Brics não são um grupo coeso, nem politicamente nem
culturalmente. Basta ver o pouco que, por exemplo, Brasil e Rússia compartilham
como ideais para a democracia, o comércio ou a geopolítica mundiais.
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O papel do dólar no comércio global
Desde
o Acordo de Bretton Woods, em 1944, o dólar tornou-se a moeda-padrão no
comércio internacional. Sua aceitação universal e a ligação com instituições
financeiras globais solidificaram sua posição como referência mundial.
Transações
comerciais entre países, incluindo membros do Brics, tradicionalmente envolvem
a conversão de moedas locais para o dólar.
Só
que essa dependência gera vulnerabilidade às flutuações do dólar e à política
monetária dos Estados Unidos, impactando economias emergentes.
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Por que os Brics querem reduzir a dependência do dólar?
Um
dos motivos é justamente a vulnerabilidade em caso de oscilações na política
monetária dos Estados. O país vem sendo estável economicamente há várias
décadas, o que torna remoto o risco a curto prazo de as transações em dólar
virarem um problema para os emergentes.
Mas
há outros motivos — especialmente geopolíticos — pelos quais os Brics estão
discutindo a substituição.
Um
deles foi exclusão de bancos russos do sistema SWIFT, após o país presidido
por Vladimir Putin ter
invadido a Ucrânia, há 2 anos e 11 meses. Essa foi uma das sanções sofridas
pela Rússia desde então.
- 🔍O SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial
Telecommunication) é um sistema de mensagens global utilizado por
instituições financeiras para realizar transações financeiras de maneira
segura e padronizada
Excluída
do SWIFT, a Rússia passou a reivindicar transações em outras moedas, que não o
dólar, para não ficar muito dependente do sistema internacional e não ver suas
transações minguarem.
A
China, grande parceira comercial da Rússia, tem se aproveitado para incentivar
as negociações em sua moeda local, o yuan, como forma de fortalecer sua
economia.
No
ano passado, quando a Argentina enfrentava um agravamento de sua crise
financeira que já se arrasta há anos, a China financiou o país sulamericano em yuan. A Argentina estava com dificuldade de obter fundos em
organismos internacionais.
Para
a China, portanto, uma maior influência do yuan em relação ao dólar é um passo
crucial em seu objetivo de ultrapassar os Estados Unidos como maior economia do
mundo.
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Lula também defende substituição do dólar
Lula
é um dos principais defensores, dentro dos Brics, da adoção de moeda
alternativa.
"O
bloco deve avançar na construção de um sistema financeiro menos dependente do
dólar, fortalecendo o Novo Banco de Desenvolvimento e a cooperação econômica
entre seus membros", disse ele durante a cúpulas dos Brics no mês passado,
realizada em Kazan, na Rússia.
Ano
passado, na China, ao lado do presidente Xi Jinping, Lula já havia defendido enfaticamente a medida.
“Por
que não podemos usar nossas próprias moedas no comércio entre os Brics? Quem
decidiu que o dólar seria a moeda universal? É hora de fazer as coisas de forma
diferente”, questionou.
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A reação de Donald Trump
É
nesse contexto que entra a fala de Trump, postada por ele em uma rede social:
“Exigimos
que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics, nem apoiar
qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano. Caso contrário,
sofrerão tarifas de 100% e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa
economia norte-americana.”
Ele
também chamou a ideia de substituir o dólar de “absurda” e afirmou: “Eles podem
procurar outro ‘otário’. Não há nenhuma chance dos Brics substituírem o dólar
americano no comércio internacional.”
Essa
declaração combina com as ideias de protecionismo que Trump vem defendendo
desde a campanha eleitoral. Ele quer elevar tarifas para produtos de fora dos
EUA que sejam vendidos no país.
Ele
já declarou que, ao tomar posse, em janeiro, vai impor:
- Tarifas de 25% sobre produtos do México e Canadá.
- Tarifas adicionais de 10% sobre importações chinesas, como
resposta ao tráfico de fentanil.
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Iniciativas dos Brics até aqui
Rússia
e China têm liderado lideram o uso de moedas nacionais em transações
bilaterais, como forma de minimizar os efeitos das sanções ocidentais.
Além
disso, no ano passado, o Banco Central do Brasil firmou um memorando de
entendimentos com o Banco Central da China para facilitar transações comerciais
diretas entre o real e o yuan, sem a necessidade de conversão para o dólar
americano. Essa medida visa agilizar e reduzir os custos das operações
comerciais entre os dois países.
O
Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), chamado de Banco dos Brics, financia
projetos em moedas locais, reduzindo a dependência de instituições ocidentais,
como o FMI e o Banco Mundial.
Mas
a substituição do dólar nas transações do bloco ou a criação de uma moeda
própria dos Brics ainda não é uma perspectiva no curto prazo.
Fonte:
BBC News Mundo/g1
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