Hugo
Albuquerque: A Alemanha agoniza sob a sombra da Ucrânia
Com
eleições previstas para setembro do ano que vem, a Alemanha vive em compasso de
espera para um voto de confiança do parlamento em breve – o que pode antecipar
as eleições para fevereiro de 2025. Há pouco, o ministro das Finanças,
Christian Lindner, do Partido Liberal-Democrata, foi demitido, desmanchando a
coalizão semáforo – que unia o vermelho dos social-democratas, o amarelo dos
liberais-democratas e o verde.
A
disputa orçamentária que serviu como pretexto para a demissão de Christian
Lindner, no entanto, deriva de um cenário onde a economia alemã dá mostras de
crise severa. A razão é o fato da explosão do preço da energia para o país,
causada pela intervenção da Otan contra a Rússia na Ucrânia, ter esgotado a
poderosa indústria alemã, levando a uma gradual queda na atividade econômica.
Com quase três anos de conflito, a Alemanha dá poucas mostras de como reverter
o quadro.
Com
menos crescimento econômico, mais inflação e um enorme gasto determinado pela
ajuda econômica à Ucrânia, Berlim tem pouco a fazer. Até as pedrinhas na rua
sabiam que a expansão da Otan até a Ucrânia levaria a uma crise bélica com a
Rússia, abalando o vantajoso comércio que Berlim tinha com Moscou. Essa
possibilidade foi, inclusive, mais um benefício que ingleses e franceses viam
no confronto.
Uma
guerra curta, com a vitória ocidental e uma possível queda do regime de
Vladimir Putin levaria a um caos temporário, mas poderia trazer ganhos para a
Alemanha – ou, ao menos, não seria um pedágio tão caro para o governo liderado
pelo social-democrata Olaf Scholz. No entanto, o prolongamento do conflito e a
vantagem russa numa guerra de atrito jogou o prejuízo econômico para o outro
lado do mar Negro.
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Demissões e cortes no grande capital
A
história da Alemanha Unificada se confunde com a das suas grandes corporações.
Não há momento, de democracia parlamentar ou autoritarismo, em que o
capitalismo alemão não gire em torno de gigantes setoriais e seu jogo com o
Estado – que hoje subsume sindicatos e movimentos populares em sua estrutura
institucional. Mesmo o nazismo não foi um capítulo de estatização, mas de
avanço dessas corporações, inclusive em uma economia de guerra.
Os
últimos resultados da indústria alemã são descritos como um crash formidável. Ainda que seja impossível negar o papel dos custos causados
pela guerra na Ucrânia, a mídia global busca emplacar uma narrativa sinofóbica:
seria a indústria automobilística chinesa a destruir a Volkswagen ou a
Mercedes. Em parte é sim, mas inclusive porque os chineses têm sua demanda
energética assegurada, inclusive pelos russos.
Repassar
os cortes para o trabalho, cortando subsídios para a agricultura – para, assim,
aumentar a oferta de mão de obra – e praticando demissões em massas se torna o
caminho mais fácil para as corporações alemãs. O governo social-democrata, com
seus históricos vínculos sindicais, se torna a bola de vez e o alvo do grande
capital local. É preciso um governo que avance no arrocho.
Depois
de eleições estaduais que mostraram, recentemente, um periclitante avanço da
extrema direita, no plano federal, no entanto, os democratas cristãos surgem à
frente nas sondagens. Os alemães foram convencidos a combater a Rússia, o que
não foi muito difícil, mas isso não quer dizer que eles simplesmente não possam
culpar o governo de Olaf Scholz pelo desastre econômico – e nem sempre veem uma
ligação entre as duas coisas.
Scholz,
assim como Joe Biden nos Estados Unidos, sempre buscou maquiar os custos e
efeitos reais da guerra – inclusive para ter apoio popular na guerra santa
contra Vladimir Putin. Evidentemente, isso foi a guerra santa da administração
Biden, mas para Olaf Scholz foi um desastre que tirou a Alemanha de uma
situação confortável, mas que não poderia ser evitada, sob pena de desviar de
compromissos constitutivos do país.
Entre
a salvação econômica e a sujeição estratégica aos Estados Unidos – ainda mais
sob governo democrata, que é simpático ao establishment alemão e europeu – é
óbvio que prevaleceu o segundo item. Joe Biden, então, se tornou uma espécie de
flautista de Hamelin suicida, e Olaf Scholz uma das crianças que foram
hipnotizadas, ao final da trama, pelo mágico, até desaparecerem nas montanhas.
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Uma volta ao passado
Os
alemães parecem esperar, em um primeiro momento, que a velha democracia cristã
restabeleça a estabilidade estagnada do longo governo de Angela Merkel. Não
falta na esquerda quem, inclusive, insista na ideia que com Merkel teria sido
diferente – muito embora a ex-premiê insista em apoiar o que o governo Olaf
Scholz fez na Ucrânia, tentando renegar seu passado e afirmar seu papel
pacificador com a Rússia como dissimulação.
Hoje,
no entanto, os democratas cristãos da Alemanha têm um outro líder: Friedrich
Merz, advogado e lobista do trilionário fundo de capitais Black Rock, que foi
um concorrente à direita de Merkel pelo poder na Democracia Cristã. Derrotado e
isolado por Merkel, Friedrich Merz se retirou brevemente da política eleitoral,
continuando, entretanto, como um grilo falante de crítica à direita dos
governos de Merkel.
O
processo de ascensão de Friedrich Merz foi, no entanto, um acidente. Principal
assessor econômico de Edmundo Stoibel em 2002, ele perdeu terreno com a
liderança de Merkel, só retornando para tentar disputar a liderança do partido
no contexto de aposentadoria dela. Perdeu para a sucessora designada de Merkel,
Annegret Kramp-Karrenbauer, que depois cairia em desgraça, mas perdeu a
indicação para as eleições de 2021 para Armin Laschet.
Após
a vitória social-democrata em 2021, Friedrich Merz tentou e, finalmente,
conseguiu a liderança do partido. Mas dificilmente gostaria de assumir o poder
em um país devorado por uma guerra que ele, igualmente, aceitou de maneira
bovina – mesmo que tenha buscado assumir uma linha crítica até os primeiros
meses de 2022, quando Kramp-Karrenbauer fazia ameaças nucleares à Rússia.
As
posições de Friedrich Merz são de defesa mais enfática do neoliberalismo e,
ainda, uma crítica à política de refugiados e imigração. Nos anos Merkel, ele
disse que sua correligionária foi fraca com Donald Trump, em seu primeiro
mandato como presidente americano. Hoje, Friedrich Merz busca um acordo com o Trump. A mesma coisa se pode dizer sobre a expansão
da Otan para a Ucrânia, sobre a qual ele foi contra até dar um giro de 180
graus no começo de 2022.
A
aposta em Friedrich Merz parece ser o derradeiro suspiro do hiperpoderoso
establishment político alemão. Depois dele, os eleitores tenderão a olhar com
mais carinho para os extremos do espectro, seja o socialismo linha-dura de uma
Sahra Wagenknecht ou a extrema direita da Alternativa pela Alemanha (AfD, em
alemão) – que está rachada ao meio por suas duas grandes linhas.
Nada
indica que Friedrich Merz poderá salvar a Alemanha, uma vez que dificilmente
fará algo fora da linha da Otan e, por essa razão, não vai poder emendar a
relação com os russos. Mesmo que Friedrich Merz tente, os compromissos do
presidente russo Vladimir Putin com seus aliados chineses vão fazer da Europa a
segunda opção. De resto, fica a enésima lição da incapacidade de liberais, e da
linha moderada da social-democracia fazerem frente a essa crise global.
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General alemão sublinha situação 'crítica para os EUA' na zona da operação
militar especial
O
plano dos EUA para enfraquecer a Rússia não funcionou e a situação das Forças
Armadas da Ucrânia está se deteriorando constantemente, apesar das entregas de
armas ocidentais, declarou o general alemão Harald Kujat, ex-chefe do comitê
militar da OTAN em entrevista ao canal de YouTube Flavio von Witzleben.
"A
situação militar é crítica e piora a cada dia, apesar de, desde o início do
conflito, termos fornecido à Ucrânia as armas mais modernas e dado apoio
financeiro", enfatizou o general.
De
acordo com o ex-chefe do comitê da OTAN, os EUA estabeleceram seu objetivo de
enfraquecer a Rússia, mas agora há frustração em Washington devido ao fracasso
desses planos.
"A
frustração é causada pelo fato de que os planos dos EUA para enfraquecer um
segundo rival geopolítico, além da China, política, econômica e militarmente
não funcionaram", concluiu Kujat.
Moscou
alertou repetidamente que a OTAN está "brincando com o fogo" ao
fornecer armas à Ucrânia, e que os comboios estrangeiros com armas seriam um
"alvo legítimo" para o seu exército assim que atravessassem a
fronteira.
Segundo
o Kremlin, a política ocidental de fornecer armas à Ucrânia não contribui para
eventuais negociações entre Rússia e Ucrânia e provocam um efeito muito
negativo.
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Parlamentares
franceses se articulam para derrubar premiê
O
primeiro-ministro da França, Michel Barnier,
corre o risco de ser derrubado nesta semana pelo parlamento francês, após
ter tentado passar seu orçamento para 2025 sem o aval do Legislativo, nesta
segunda-feira (02/12).
Sem
maioria no parlamento, Barnier usou poderes do Executivo para forçar a
aprovação de um controverso orçamento, o que desencadeou a reação da oposição.
A esquerda apresentou uma moção de desconfiança, encampada também pela
ultradireita de Marine Le Pen. Juntas,
elas têm votos o suficiente para mobilizar uma derrocada do governo.
A
decisão ocorre no momento em que a França enfrenta uma fragmentada Assembleia
Nacional após as eleições antecipadas de junho, que não deixaram nenhum partido
ou coalizão com maioria.
O
premiê justificou o uso do controverso dispositivo 49.3 da
Constituição, que dispensa a votação parlamentar para aprovar uma lei,
prometendo estabilidade em um momento de profundas divisões políticas no país.
A prerrogativa, no entanto, tem um custo – o premiê fica exposto a moções de
desconfiança.
Em
tom solene para anunciar a aprovação do orçamento da Segurança Social, Barnier
apelou à responsabilidade dos grupos políticos neste "momento-chave".
O
partido de ultradireita Reunião Nacional, de Le Pen, e o partido de esquerda
França Insubmissa, afirmaram que preparam a votação que pode derrubar Barnier
para esta quarta-feira (04/12).
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O que pode acontecer
O
presidente Emmanuel Macron nomeou Barnier em
5 de de setembro para dirigir o Executivo francês e lidar com um rombo cada vez maior nas
contas públicas.
No
entanto, seu pacote de austeridades, com 40 bilhões de euros em cortes e 20
bilhões de euros em aumentos de impostos, foi amplamente criticado, aumentando
as tensões na câmara baixa francesa.
Se
a moção de desconfiança for bem-sucedida, Macron permanecerá presidente, mas
precisará nomear um novo primeiro-ministro para conduzir a assembleia. A
incerteza ameaça aprofundar os problemas econômicos da França e reverberar por
toda a zona do euro, de acordo com analistas de mercado.
Se
for deposto, ele se tornará o primeiro-ministro com o mandato mais curto da
França desde a 2ª Guerra Mundial, e o segundo a ser destituído por uma moção de
censura, depois de Georges Pompidou, em 1962.
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Negociações
Marine
Le Pen acusou Barnier de ignorar as demandas de seu partido nas negociações
sobre o orçamento. "Todos devem assumir suas responsabilidades",
disse.
Barnier
cedeu em três das quatro "linhas vermelhas" traçadas pela líder da
extrema-direita: eliminou um imposto sobre a eletricidade, cortou a ajuda
médica a imigrantes ilegais e manteve subsídios a vários medicamentos.
No
entanto, recusou uma última imposição – o adiamento do aumento das pensões pro
meio ano para conter a inflação.
A
essa altura, Barnier já tinha tomado a decisão de avançar sem votação
parlamentar, mesmo que isso colocasse o seu governo sob risco de uma moção de
censura.
A
porta-voz do partido de esquerda França Insubmissa, Mathilde Panot, anunciou a
apresentação da moção de censura e, através das redes sociais, a Reunião
Nacional, de Le Pen, anunciou que a irá apoiar.
O
orçamento, composto por dois projetos de lei (da Segurança Social e do Estado)
tem de ser aprovado até ao final do ano.
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Belarus 'emana
multipolaridade' e tem tudo para ser um grande parceiro do BRICS, afirma
analista
Belarus
foi oficialmente reconhecido como um país parceiro do BRICS, status que permite
a Minsk participar permanentemente de sessões especiais e reuniões do grupo,
além de convocar autoridades para discussões sobre comércio internacional e
outros temas.
O
presidente belarusso, Aleksandr Lukashenko, afirmou que o BRICS é um pilar da
multipolaridade, mencionando o crescente número de países que veem a
organização como uma esperança para uma ordem mundial justa.
Em
entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, João Cláudio Pitillo,
professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas
(Nucleas), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica o que o
país tem a ganhar ao se tornar parceiro do BRICS e o que pode oferecer ao
grupo.
Pitillo
afirma que Belarus é uma grande concorrente a estar no BRICS por ter uma
política externa que "emana multipolaridade".
"É
um país que tem um governo de grande estabilidade, é um país que tem um índice
de desenvolvimento humano muito elevado e tem uma economia que é planificada,
mesmo com a presença do capital privado", afirma.
Ele
destaca que o país tem a oferecer ao BRICS o conhecimento na produção de
implementos agrícolas, fertilizantes, máquinas agrícolas, grandes máquinas para
transporte e tratores, caminhões.
"Sem
dizer que Belarus também é uma grande produtora de alimentos. A agricultura em
Belarus é uma coisa muito forte, é uma agricultura de larga escala. Então todos
os países do BRICS poderão agora ter acesso a esse maquinário agrícola de
maneira mais barata."
Para
além da economia, ele destaca que Belarus pode oferecer expertise aos países do
BRICS na garantia de bem-estar social.
"É
um dos países com o maior índice de desenvolvimento humano, é um dos países com
o menor número de pobreza, é um dos países mais seguros do planeta, com
educação e saúde públicas quase 100% gratuitas."
Ele
frisa que o Brasil, como integrante do BRICS, poderia aproveitar a oportunidade
para se aproximar de Belarus, ressaltando que os países têm "muito a
aprender e muito a ensinar" um ao outro.
"Eu
acredito que o Brasil deveria criar, se ainda não existe, não só uma câmara de
comércio, mas uma comissão de aproximação, de sondagem, uma comissão que fosse
a Belarus entender todas as potencialidades […], e que, também ao inverso, que
essa comissão a nível bilateral pudesse estudar o Brasil e isso realmente
avançar, não só na área de comércio, mas também na área de educação, na área de
cultura, na área de saúde."
Questionado
sobre o porquê de alguns países que são ex-repúblicas soviéticas, como Belarus,
terem uma boa relação com a Rússia, uma das potências do BRICS, enquanto
outros, como a Ucrânia, se distanciaram, Pitillo afirma que o fim da União
Soviética foi traumático para todos e para algumas das ex-repúblicas
representou "a subida ao poder de grupos extremamente reacionários que
viram o poder cair no seu colo e rapidamente foram assessorados pela
OTAN".
"A
partir dali [da ascensão de grupos reacionários], você tinha que criar todo um
movimento cultural, político e social de mentira para falsificar a história da
formação da União Soviética, para que aqueles países nunca mais pudessem ousar
querer refundá-la. Então países como Lituânia, Estônia, Letônia, Armênia,
Polônia, Ucrânia, nesses locais a OTAN investiu muito", explica.
Ele
acrescenta que, somado a isso, foi iniciado nesses países um processo de
desmantelamento do bem-estar social priorizado na era da União Soviética,
abrindo espaço para a miséria e a pobreza.
"E
essas pessoas que vão ser os novos pobres — porque a União Soviética tinha
erradicado isso —, eles vão ser alienados e vão ser achatados pela exploração
dessa nova sociedade capitalista que surge na periferia da Europa."
Em
contraponto, países como Belarus, que conseguiram preservar o bem-estar social,
tiveram um rumo diferente.
"Os
países que tiveram maior clareza desse processo tentaram segurar os seus
estados de bem-estar social. A Rússia, em certa parte, Belarus e alguns países
ali da Ásia Central. Alguns países ali tentaram manter os setores de saúde, uns
a área de educação minimamente. Mas essa turma que estava mais próxima do
Ocidente pulverizou tudo isso e criou no seu seio esses setores extremamente
reacionários. Reabilitaram o fascismo, porque a antítese à União Soviética era
o fascismo."
Pitillo
afirma ainda que Belarus é um país onde governo e povo estão em consonância,
onde o capital privado não anda desenfreado e onde a vontade popular tem um
poder muito grande, o que habilita a estar no BRICS e ser um grande parceiro de
todos no grupo, inclusive o Brasil.
"E
Belarus eu acho que tende a ganhar [ao ser parceiro do BRICS], porque vai ter
uma janela de oportunidades com esses vários países do BRICS, com seus
diferentes matizes econômicos, produtivos e comerciais, e o fato de a gente
estar limando o dólar da nossa cadeia comercial. Isso é um processo que ainda
vai ser longo, a gente não consegue se livrar do dólar do dia para a noite. Ele
está aí há 80 anos e não vai sair em oito dias, mas eu acho que Belarus tem
muito a ganhar", afirma.
Fonte:
A Terra é Redonda/DW Brasil/Sputnik Brasil
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