terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Fernando Boscardin: Uma Reflexão sobre a Eleição de Trump -  A Busca pela Hegemonia Americana

Após décadas frequentando os Estados Unidos e residindo permanentemente aqui há seis anos, venho me dedicando ao estudo do Direito e, este ano, recebi a cidadania americana. Embora minha experiência ainda seja modesta, é significativa, especialmente porque consegui me integrar no sistema. Com base nessa vivência, proponho uma reflexão sobre o motivo pelo qual, apesar de tudo, os americanos elegeram Donald Trump.

Em uma palavra: hegemonia.

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Não, não foi a inflação, embora eu tenha sentido seus efeitos. Esse aspecto foi secundário, já que a inflação já havia se manifestado durante o governo Trump. Também não foi a falta de empregos — o país experimenta um verdadeiro boom econômico, com a menor taxa de desemprego da sua história.

Acredito que a percepção entre os eleitores é clara, embora não elaborada mentalmente no sentido de compreender que se motivaram por isso: os Estados Unidos perderam sua hegemonia mundial. Anteriormente, tudo passava por aqui; a cultura, a economia, as inovações tecnológicas e o poder político dependiam fortemente do país. No entanto, há anos essa dinâmica começou a mudar, e uma liderança frágil, exacerbada por características cognitivas do presidente Biden, contribuiu para essa sensação de deslize. Claro que há componentes menos nobres como racismo e xenofobia como motivação de muitos que culpam a imigração como a origem de seus males culturais e perda dos “verdadeiros valores” americanos. Miscigenação incomoda.

Trump prometeu resgatar esse protagonismo com seus slogans “America First” e “Make America Great Again”. Ele propôs um retorno à influência decisiva que os EUA tinham no cenário global, do jeito Trump, mas a ideia final é essa.

O americano é, em essência, um ser que acredita em seu papel de líder global. Existe uma forte crença cultural de que os EUA devem e podem liderar, fazendo acontecer, posicionando-se como o centro de tudo. Essa visão, no entanto, gera distorções, que vão desde o desconhecimento de fatos históricos básicos – e de geografia básica porque não lhes interessa muito o mundo fora daqui para o cidadão médio – até uma postura de autoconfiança que frequentemente beira a arrogância. E às vezes é mesmo.

Insuflados por essa ideia de recuperar sua influência, os eleitores encontraram “inimigos” a quem culpam pela desintegração dos valores nacionais e pela perda de protagonismo, como os imigrantes e a chamada cultura “woke”.

Trump, de certa forma, promete um retorno aos anos 1950 – uma época pós-guerra em que prevalecia a figura do homem branco, da família tradicional e dos valores que caracterizavam a cultura americana daquela época, incorporando até mesmo elementos do macartismo. Esse ideal ignora a pluralidade e a liberdade que, apesar de suas complexidades, são características reconhecidas da sociedade americana contemporânea.

Essa análise, baseada em conversas com muitos americanos com quem convivo, revela que muitos podem não admitir abertamente, mas a percepção de declínio do “Império Americano” – semelhante ao que ocorreu com Roma – é uma realidade com a qual lidam. A crença é de que Trump poderia ser a figura capaz de corrigir o que muitos entendem como um desvio do caminho correto. E como já demonstrou a história, os americanos frequentemente não hesitam em adotar medidas drásticas para se impor — às vezes disfarçando seus métodos, mas com Trump, a transparência de suas intenções se tornou mais evidente.

Assim, é necessário compreender a profundidade das emoções e preocupações que levam os eleitores a apoiar líderes como Trump. Eles buscaram, acima de tudo, restaurar uma sensação de poder e controle em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Já Trump, claro, usará este sentimento para suas questões particulares também. De poder. Basta ver as indicações para saber que estão dispostos a tudo. Vamos ver como a sociedade reagirá.

 

¨      Trump ameaça a autonomia do Brics, a estabilidade econômica e a paz global. Por José Reinaldo Carvalho

A declaração do presidente eleito dos Estados Unidos neste sábado (30), exigindo que os países membros do Brics renunciem à criação de uma moeda conjunta ou deixem de tomar outras iniciativas em busca de alternativas ao dólar, é uma demonstração desesperada para impor pela força o princípio imperialista “A América em primeiro lugar”. Ameaçar um grupo de nações soberanas com tarifas comerciais de 100% é não apenas um ataque à autonomia desses países na condução de suas políticas econômicas, mas também uma ameaça que redundará em instabilidade, caos econômico e agravamento das tensões geopolíticas, que podem redundar em conflitos de outra natureza.  

Ao afirmar que “qualquer país que tentar substituir o dólar deve dizer adeus aos Estados Unidos”, Trump tenta impor a primazia dos interesses dos EUA com métodos coercitivos, uma postura reveladora não só do desespero dos Estados Unidos diante da inevitável perda da supremacia do dólar, mas também uma falta de compromisso com os princípios básicos de cooperação internacional. 

O Brics, hoje ampliado, tem amadurecido discussões e tomado decisões no sentido de criar  mecanismos que os livrem gradual e persistentemente da dependência do dólar, algo que se afigura essencial para pavimentar o caminho de desenvolvimento econômico autônomo. É precisamente essa autonomia que Trump tenta tolher. A exigência para que o bloco abandone a ideia de criar uma moeda própria ou apoiar alternativas ao dólar desrespeita o direito desses países de decidirem seus rumos econômicos. Trata-se de uma clara tentativa de impedir que os países do Brics trilhem caminhos próprios no rumo da consecução de projetos de desenvolvimento nacional, para o que é indispensável criar novos mecanismos de cooperação internacional independentes dos controles exclusivistas dos Estados Unidos. 

Trump está afiando as armas para uma guerra comercial contra vários alvos: a China em priomeiro lugar, a Rússia, até mesmo seus parceiros bloco comercial (México e Canadá) e agora o Brics como um todo. Aguarda-se o que dirá sobre a União Europeia e a América Latina, para completar o quadro e aquilatar em que grau se elevará o risco de uma guerra comercial generalizada. Essa escalada, levada ao extremo, pode evoluir para conflitos armados, como a história já demonstrou. 

A guerra comercial afetará cadeias de suprimento, aumentará os custos de produção e colocará em risco a segurança alimentar e energética global. 

No âmbito do Brics, é plausível e justificável a busca de formas elevadas de cooperação, incluindo as iniciativas para criar meios de pagamento alternativos, e transacionar em moedas nacionais, fortalecendo a integração econômica do bloco. Esses meios alternativos podem e devem evoluir para a criação de uma moeda comum que venha a substituir o dólar nas transações intrabloco.

A movimentação no sentido dos meios de pagamento alternativos e da moeda comum do Brics corresponde a uma tendência objetiva e às aspirações pela independência dos países do Sul Global. 

São visíveis os sinais do fim da hegemonia do dólar na economia mundial e da construção gradual de uma nova ordem monetária, econômica e política, uma nova arquitetura financeira, livre das imposições neocolonialistas e hegemônicas dos EUA. A ordem que emergiu no pós-guerra está em franco processo de caducidade e desmoronamento. 

Esta tendência objetiva à desdolarização vem se acelerando por razões geradas pelos próprios Estados Unidos. 

O recurso arbitrário das sanções financeiras provoca generalizada insegurança e temor dos países um dia se verem privados de liquidar compromissos em dólares. 

Compõem o quadro que conduz objetivamente à busca de alternativas ao dólar os fatores internos da própria economia americana. A dívida pública dos Estados Unidos está em torno de 35 trilhões de dólares, aproximadamente 124,7% do PIB em 2024, e tem tendência de crescimento. É um problema estrutural que mina a credibilidade do país e tem implicações para a hegemonia do dólar. O crescente endividamento, aliado a disputas internas como as que se repetem anualmente sobre o teto da dívida, reduz a confiança global na solvência dos EUA. Isso estimula movimentos de desdolarização. 

A retórica imperialista de Trump choca-se com a realidade objetiva, mas não deve ser subestimada. A disposição que o futuro ocupante da Casa Branca demonstra para lutar contra tudo e todos a fim de assegurar a primazia dos interesses imperialistas dos Estados Unidos é uma ameaça a ser levada em conta. 

Por isso, não pode passar sem uma resposta contundente dos países ameaçados, inclusive o Brasil. O direito à soberania e ao desenvolvimento é inalienável, e qualquer tentativa de subjugar nações em nome de interesses unilaterais deve ser amplamente condenada e combatida. 

 

¨      Brasil evitará entrar em confronto com Trump sobre ameaça de taxação

O governo brasileiro não responderá à ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o bloco dos Brics.

O americano afirmou em rede social que aplicará tarifa de 100% sobre os países do bloco comercial caso substituam o dólar em suas transações comerciais.

A chamada desdolarização é uma das propostas do grupo de países emergentes.

A presidente do banco dos Brics, Dilma Rousseff, já classificou a utilização do dólar como uma “arma” dos Estados Unidos.

O governo brasileiro classificou, em reservado, a afirmação de Trump como mais uma provocação do presidente eleito.

A expectativa é de que, ao assumir a Casa Branca, Trump substitua o discurso de candidato pelo de presidente, diminuindo confrontos em redes sociais.

Além disso, integrantes da diplomacia brasileira lembram que a proposta ainda está em discussão, sem uma decisão tomada. Por isso, afirmam, a ameaça de Trump não faz sentido.

O governo brasileiro lembra que Trump já ameaçou com tarifas mais altas a China, o México, o Canadá e, agora, o Brics.

E que os arroubos declaratórios do presidente eleito precisarão ser administrados pelos potenciais mundiais ao longo dos próximos quatro anos.

Ou seja, separando o que se trata de marketing político e o que pode ser uma ameaça de risco real.

Desde janeiro deste ano, o grupo Brics tem dez membros plenos.

Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se uniram ao bloco como membros permanentes Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.

<><> Rússia e Irã excluem completamente o dólar dos acordos mútuos

O chefe do Banco Central iraniano, Mohammad Farzin, informou na segunda-feira (25) que a Rússia e o Irã concluíram o processo desdolarização nas transações financeiras entre ambos, que agora passam a ser realizadas exclusivamente por meio das moedas dos dois países.

"Celebramos um acordo cambial com a Rússia e eliminamos completamente o dólar. Agora negociamos apenas rublos e riais", disse o chefe do Banco Central do Irã.

Moscou e Teerã haviam anunciado um acordo em maio de 2022 para realizar acordos mútuos nas suas moedas.

Além disso, no final de janeiro de 2023, delegados dos Bancos Centrais de ambos os países assinaram um acordo para simplificar as transações bancárias e financeiras.

Já em meados de 2024, foi acrescentado um novo acordo, cujo objetivo era apoiar a liquidez das moedas nacionais no âmbito das transações comerciais.

Desde novembro, os cidadãos iranianos podem sacar dinheiro em rublos usando seus cartões em caixas eletrônicos na Rússia. Há também um processo de integração dos sistemas nacionais de pagamentos russo e iraniano, "Mir" e Shetab, respectivamente.

 

¨      O #47 vem aí. Por Marco Piva

O dia 20 de janeiro de 2025 será uma data emblemática. A partir desse dia, tudo pode acontecer como também nada pode acontecer. O fato é que a posse de Donald Trump já movimenta especulações pelo mundo todo sobre o que virá. O presidente eleito, chamado de #47, mexe também com os humores daquela parcela da sociedade norte-americana que votou pelos democratas e sua candidata de última hora, Kamala Harris. Muitos ativistas temem pelas suas vidas, pelas perseguições que poderão sofrer por causa do ativismo político e, por isso, já fazem planos para deixar o país.

Como não é o caso de repetir o bordão “Vai pra Cuba”, tão ao gosto do bolsonarismo raiz, o destino que se apresenta é o Brasil. Sim. O nosso país, de palmeiras onde cantava a sábia, das praias mais bonitas do mundo e de um povo acolhedor e sorridente, está na rota dessa nova leva de exilados voluntários.

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Talvez muitos desses norte-americanos não saibam que há pouco tempo, um admirador de Donald Trump tramou um golpe de estado para permanecer no poder. Não deu certo, é verdade, mas bem que tentou. Havia inclusive planos para matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Descoberta a tramoia que todos os brasileiros já imaginavam que poderia acontecer, agora o autor intelectual do plano pede anistia para pacificar o país. Bolsonaro entende que basta uma palavra de Lula e de Moraes para que tudo volte à normalidade e a turma (sic) dos golpistas possa seguir ameaçando o processo democrático sem ser molestado.

É preciso um enorme esforço de idiotice para acreditar que Bolsonaro fala sério. O mesmo presidente que zombou da dor alheia na pandemia, que gastou bilhões de reais do orçamento do Estado para tentar ganhar a eleição de 2022 e incentivou a insubordinação golpista, agora pede um passe-livre antecipado, sem que sequer tenha sido julgado.

Os ativistas democratas e da esquerda norte-americana em geral podem pensar que umas boas doses de caipirinha e aquela feijoada de sábado serão suficientes para passar tranquilos os quatro anos sabáticos que virão pela frente. Mal sabem que, antes disso, a Justiça brasileira vai precisar atuar com muita firmeza para colocar na prisão aqueles que um dia expeliram bravatas e mentiras com o objetivo de se perpetuarem no poder.

Sabemos do que Trump é capaz, mas Bolsonaro, como seu fiel discípulo, será capaz de coisa pior se continuar solto. Por isso, a palavra de ordem é uma só: Sem Anistia!

 

Fonte: Jornal GGN

 

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