Entenda porque
“taxação de super ricos” de Haddad é uma falácia
Como
explicamos aqui o anúncio do pacote fiscal foi apresentado de forma diluída em
meio a uma suposta “maior reforma da renda da nossa história”, visando assim
facilitar a aceitação do ajuste fiscal que irá atingir brutalmente as camadas
populares, com os cortes em benefícios sociais como Bolsa Família, Benefício de
Prestação Continuada (BPC), Abono Salarial e limitação do reajuste anual do
salario mínimo. Dentre as medidas demagógicas apresentadas pelo ministro está a
alteração das alíquotas do Imposto de Renda (IR). No pronunciamento, Haddad
prometeu ampliação da faixa de isenção do imposto para quem recebe até R$5 mil
mensais e aumentar a arrecadação de quem recebe mais de R$50 mil. Em suas
palavras “quem tem renda superior a R$50 mil por mês, pagará um pouco mais”.
Primeiro
é preciso dizer que a dita “reforma da renda” e a ampliação da faixa de isenção
do IR entraria em vigor apenas em 2026, tendo ainda de tramitar pelo Congresso,
com grandes chances de ser barrada, servindo por ora apenas ao propósito
inicial de mitigar o impacto da opinião pública sobre o anúncio do ajuste
fiscal, que deve atingir mais de 70% da população pelos próximos 6 anos. Vale
lembrar também, que mesmo sendo aprovada no congresso, ainda há a chance de ser
derrubada posteriormente pelo STF, uma vez que, devido ao Arcabouço Fiscal,
pode ser considerada inconstitucional.
Ainda
assim, no dia seguinte ao pronunciamento, defensores do governo propagavam o
ajuste fiscal como uma ação de “justiça social”, enaltecendo a “taxação dos
super ricos” e a “reforma tributária”.
O
mercado internacional, por sua vez, vociferou nas bolsas de valores aumentando
o valor do dólar e cobrando que o ajuste fiscal se restringisse a sua real
natureza, atender os interesses do mercado financeiro e ao pagamento da dívida
pública. A reação escandalosa destes capitalistas, não se admira, são alertas
para que o governo Lula não saia da risca do Arcabouço Fiscal, tal como lhes
fora prometido.
Porém,
é preciso dizer, que esse escândalo dos milionários e mega empresários,
nacionais e internacionais, em nada é atestado de que está ocorrendo de fato
uma taxação das grandes fortunas. Chamar as mudanças das alíquotas para quem
recebe mais de R$50 mil de “taxação de super ricos” ou de “grandes fortunas” é
uma completa falácia demagógica, intencionalmente confusa, mas que pode ser
comprovada pelo próprio Haddad.
Ao
ser questionado na coletiva de imprensa sobre como seria esta nova alíquota a
resposta do ministro da fazenda foi:
“Pessoas
que têm renda e hoje *não pagam imposto*, uma renda superior a 50 mil reais por
mês, ou seja, 600 mil reais por ano, elas vão passar a pagar *o mínimo*. O que
significa isso? (...) ela [a pessoa] vai somar o que ela recebeu, a receita, e
vai calcular 10% desse valor que ela recebeu, de todas as rubricas. Vamos supor
que ela tenha uma receita anual de 1 milhão de reais, ou 600 mil reais pra
pegar o começo da escadinha. Aí ela vai fazer a pergunta: ‘eu paguei 60 mil de
Imposto de Renda? Não, eu paguei 35 mil’. Então eu vou ter que recolher 25 mil
pra completar os 60. O mesmo vale para a pessoa que ganhou 1 milhão. Agora
suponha que ela ganha 600 mil reais e ela pagou 80 mil de Imposto de Renda, aí
ela não é atingida pela medida”. [grifo nosso]
Ou
seja, o que de fato foi anunciado não é aumentar a alíquota das pessoas que
recebem mais de R$600 mil por ano, nem R$1 milhão, nem de nenhum milionário,
super rico ou grandes fortunas, nem se quer “um pouco mais” como foi anunciado
no pronunciamento em rede nacional. Quem recebe acima de R$50 mil, independente
do valor que seja, seguirá na faixa de alíquota atual de 27,5%, porém sendo
obrigados a pagar apenas um *mínimo* de 10%(!).
Isso
mesmo, a medida anunciada no pacote fiscal estabelece um *mínimo* de 10%, uma
vez que existem inúmeros meios para que empresários e super ricos adquiram
isenção de IR, de tal forma que nunca se alcança os 27,5% estipulado em lei. Ou
seja, a “reforma da renda” anunciada por Haddad nem sequer obriga super ricos,
milionários e capitalistas a pagarem alíquota atualmente vigente e ainda
autoriza que estes sigam pagando alíquotas menores do que deveriam, através de
recursos de isenção de impostos. Pesquisas estimam que, nos casos de cargas e
tributos pagos por empresas para acionistas, quem ganha acima de R$1 milhão já
paga cerca de apenas 10%. Desta forma nada muda do que já ocorre na prática
para acionistas, por exemplo.
Não
se trata de “taxação de grandes fortunas”, mas sim a continuidade da
desigualdade tributária e desoneração dos empresários e capitalistas. Fato é
que no Brasil os milionários pagam proporcionalmente menos impostos do que a
classe média, sendo que o grupo de 0,2% mais ricos é o que proporcionalmente
menos paga de impostos. Da mesma forma que, quem ganha R$8 milhões por ano, ou
R$666 mil mensais, (0,01% mais rico da população brasileira) paga uma alíquota
média de apenas 12,9%, o mesmo percentual de um trabalhador que recebe R$6 mil
por mês. Mesmo que a “reforma da renda” do governo Lula seja aprovada na câmara
e no senado, nada disto irá mudar.
Outro
meio de revelar a falácia de chamar este pacote fiscal e a “reforma da renda”
de “justiça social” e “taxação das grandes fortunas” é a pesquisa da Tax
Justice Network que revela que o Brasil poderia arrecadar em torno de R$260
bilhões por ano somente com a aprovação de um imposto sobre as grandes
fortunas, com alíquotas de míseros 1,7% a 3,5% sobre bens materiais e fundos
bancários.
Enquanto
isto, o pacote fiscal de Haddad está cortando na carne de pessoas de baixa
renda, idosos, pessoas com deficiência (PCDs) que recebem até ¼ de salário
mínimo, para economizar R$70 bilhões em dois anos. Assim, as reações do mercado
financeiro em nada atestam qualquer tipo de justiça social, ou real taxação de
grandes fortunas. Ademais, todo o ajuste fiscal servirá para enriquecer os
banqueiros e super milionários internacionais donos da dívida pública, através
do Arcabouço Fiscal.
Por
fim, o intuito desta medida demagógica em meio ao pronunciamento serviu ao
propósito de, momentaneamente, disfarçar o enorme ajuste fiscal que recairá
sobre os mais pobres. Dos R$327 bilhões, mais da metade (R$171,9 bilhões), será
cortado de gastos com benefícios sociais, como Bolsa Família, BPC e Abono
Salarial, além de restringir o aumento do salário mínimo em, no máximo, 2,5%.
Soma-se a isto R$42 bilhões que sairão dos recursos do Fundeb destinados às
escolas de período integral.
O
capital financeiro quer se apossar de cada centavo que puder tirar da classe
trabalhadora. Para a burguesia e grandes capitalistas, nossas aposentadorias e
a previdência social são uma fonte de lucro para seu acionistas, a dívida
pública é seu mecanismo de investimento e o Arcabouço Fiscal é o compromisso do
governo de conciliação de classes de Lula de que seguirá redirecionando os
recursos públicos para os bolsos desses empresários.
"Eequilíbrio
fiscal” e o “crescimento sustentável” são os lemas da frente ampla, proferidos
pela boca de Haddad, que exigem a espoliação e destruição sistemática da vida
da classe trabalhadora e das pessoas mais pobres. Para que as contas da burguesia
e do capital financeiro fechem no verde, as nossas devem fechar no vermelho. O
pacote de austeridade fiscal do Haddad é a continuidade do despejo da crise
internacional capitalista nas costas da classe trabalhadora, e nada mais.
A
disparidade tributária histórica e absurda que se mantém no Brasil não será
corrigida em conciliação com "os mercados" e o capital financeiro. A
luta por uma efetiva taxação progressiva das grandes fortunas, que possa
colocar esse dinheiro a serviço dos interesses da maioria das população,
precisa também ser pela revogação do Arcabouço Fiscal. Essas batalhas tem que
ser travadas em enfrentamento direto com os grandes capitalistas, a partir da
força da classe trabalhadora organizada.
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Taxação dos mais ricos vai compensar rombo com nova isenção do IR, projeta
Haddad
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem declarado que a isenção do Imposto de
Renda para quem recebe até R$ 5 mil não vai provocar rombo nas contas públicas.
O motivo é que virá acompanhada de uma taxação para quem ganha mais de R$ 50
mil.
Ambas
as medidas fazem parte do pacote que será enviado pelo governo federal ao
Congresso, centrado no corte de gastos. Haddad espera economizar mais de R$
71,9 bilhões até 2026 e R$ 327 bilhões até 2030 com o conjunto.
A
isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil foi uma das principais promessas de
campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Até
o momento, ela contempla aqueles que ganham até dois salários mínimos, o
equivalente a R$ 2.824.
Além
disso, a proposta prevê uma tributação menor para quem tem renda de até R$ 7,5
mil. Segundo o Ministério da Fazenda, a medida vai contemplar, ao todo, 26
milhões de pessoas e terá um impacto de R$ 35 bilhões.
Por
outro lado, a proposta cria um imposto mínimo de 10% sobre aqueles que ganham
mais de R$ 50 mil mensais. Segundo a equipe econômica, são cerca de 100 mil
pessoas. Haddad pontuou que hoje, para o 1% mais rico do país, a alíquota
efetiva é de 4,2% e, para o 0,01% mais rico, de 1,75%.
“Qualquer
aumento da taxa de isenção do Imposto de Renda tem que vir acompanhado de uma
compensação. Ou seja, o projeto de lei que vai ser encaminhado pressupõe
neutralidade tributária. Não se trata de mexer com o nível da arrecadação de
impostos. Trata-se de buscar justiça tributária”, disse Haddad.
A
expectativa do governo é que as medidas sejam analisadas e aprovadas pelo
Congresso ao longo do ano de 2025 e entrem em vigor a partir de 1º de janeiro
de 2026, junto com a reforma tributária, cuja regulamentação ainda tramita no
Legislativo.
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Benefícios tributários
O
pacote do Ministério da Fazenda ainda prevê a possibilidade de vedar a criação, majoração ou prorrogação de
benefícios tributários a qualquer setor da economia.
A
possível medida seria incluída nos gatilhos do arcabouço fiscal para caso haja
déficit primário - o governo gastar mais do que arrecadar - ou redução das
despesas não-obrigatórias, como investimentos, a partir de 2025. Assim, no ano
seguinte, ficaria proibida a concessão de novos benefícios tributários.
• Governo já conta com STF
para taxar “super-ricos” se Congresso resistir
O
governo já conta, nos bastidores, com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal (STF) como fator de pressão para aprovar no Congresso Nacional o ponto
mais polêmico do pacote de medidas econômicas: a isenção de Imposto de Renda
para trabalhadores com renda de até R$ 5 mil mensais e a taxação dos
“super-ricos”.
Em
linhas gerais, a equipe econômica estima que a taxação de quem ganha acima de
R$ 50 mil mensais (R$ 600 mil por ano) compensará integralmente, em termos
orçamentários, as renúncias tributárias com o aumento da isenção de IR.
Um
dos temores do mercado, no entanto, é que só a “bondade” (a isenção do IR até
R$ 5 mil) seja aprovada pelo Congresso. E que a tributação maior dos
“super-ricos”, a parte da “maldade” na história, seja barrada ou esvaziada
durante a tramitação legislativa.
Aí
vem a “dobradinha” do Executivo com o Judiciário. O governo olha para o Supremo
Tribunal Federal (STF) como uma espécie de fiador das duas medidas
simultaneamente. Por quê?
Para
responder, é preciso lembrar a novela da desoneração da folha de pagamento, que
foi prorrogada pelo Congresso até 2027 e depois vetada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). O veto foi derrubado e instalou-se um impasse, com
os parlamentares barrando medidas compensatórias sugeridas pelo governo.
Aí
veio uma decisão do STF que mudou os rumos da discussão. O Supremo definiu que
novos gastos ou desonerações precisam ser integralmente compensados. A novela
só terminou quando a Câmara e o Senado apontaram de onde sairia dinheiro para
bancar a desoneração por mais tempo.
Para
auxiliares presidenciais, vale o mesmo raciocínio agora: se o Congresso aprovar
a “bondade” (isenção de IR até R$ 5 mil) e rejeitar a “maldade” (taxação dos
super-ricos), o governo contará com o STF para dizer que isso não pode, que
isso não dá. Que é preciso, sempre, apontar compensações para novos gastos ou
renúncias tributárias.
No
fim das contas, trata-se de o governo agir, agora, calculando com uma ajudinha
do Supremo, amanhã.
• Aumento da faixa da
isenção do IR transforma natureza de pacote fiscal de Haddad
A
isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil jogou uma
bomba nas expectativas do mercado em relação ao pacote gestado no Ministério da
Fazenda de Fernando Haddad — e a questão é matemática.
Com
a perspectiva de cortes que tenham impacto de R$ 25 bilhões e R$ 35 bilhões em
2025 e 2026, respectivamente, o contingenciamento teria impacto nulo caso a
isenção vá à frente.
A
proposta pode ter um impacto de renúncia de arrecadação de R$ 45 bilhões anual
nas contas do governo, segundo a área de políticas fiscais e estudos especiais
do Santander.
Ou
seja: ao invés de representar um alívio para as contas públicas, o pacote se
transformaria em mais um ônus para o Estado, sobreonerando as contas da União
em R$ 20 bilhões no primeiro ano e R$ 10 bilhões em 2026.
Atualmente
isenção é aplicada apenas para pessoas que tenham uma renda de até dois
salários mínimos — equivalente a R$ 2.824 por mês.
Fonte:
Esquerda Diário/O Tempo/CNN Brasil
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