Rituais como Natal
e Ano Novo são segredo para relações duradouras, diz pesquisador de Harvard
Nossas vidas são
marcadas por rituais - como os que praticamos durante as festas do fim do ano.
Michael Norton,
professor de administração da Harvard Business School, passou anos estudando
pessoas e os comportamentos que moldam seus
pensamentos, sentimentos e relações.
O esforço culminou
no seu mais recente livro The Ritual Effect: From Habit to Ritual, Harness
the Surprising Power of Everyday Actions ("O Efeito Ritual: Do Hábito
ao Ritual, Domine o Surpreendente Poder das Ações Cotidianas", em tradução
livre).
Ele conversou com o
jornalista David Robson sobre as diferenças entre rituais e hábitos, e o poder
que ambos têm de fortalecer nossas relações com
amigos, parentes, colegas e pares românticos.
LEIA A ENTREVISTA:
·
O
que inspirou você a investigar rituais?
Michael
Norton: Há cerca de 10 anos, eu escrevi um livro junto com Elizabeth Dunn
[da Universidade de British Columbia] sobre dinheiro e felicidade. E a ideia
daquele livro era mostrar como coisas pequenas que você consegue fazer com 5
dólares ou 5 libras podem fazer uma diferença na sua felicidade. E comecei a
pensar sobre outras coisas na nossa vida cotidiana que podem ter impacto na
nossa felicidade. Uma coisa que sempre aparecia eram os rituais diários das
pessoas.
·
Algumas
pessoas podem achar que são racionais demais para terem rituais.
Norton: Com
certeza, existem "céticos em rituais" e eu certamente era um desses
antes de começar a estudá-los, porque eles parecem um pouco sentimentais. Mas
todos nós passamos por eles em algum ponto da vida. Eles são tão onipresentes
nas nossas vidas — do que fazemos na manhã a cerimônias de formatura e
casamento. Não conseguimos fugir deles.
·
Qual
a diferença entre um ritual e um hábito?
Norton: Um
ritual é uma sequência de ações que tem significado para você. Hábitos são
importantes, mas não têm o mesmo impacto emocional que os rituais.
Podemos perguntar a
uma pessoa o que ela faz de manhã, e eles responderiam que tomam café e lêem o
jornal, mas eles não se importam muito com essas ações. Mas alguma outra pessoa
pode fazer isso em horários bem específicos do dia, e se você pedir a ela que
mude, ela vai ficar chateada. Isso é um ritual.
·
Você
estudou milhares de rituais de pessoas. O que se destacou?
Norton: Quando
comecei pesquisando rituais, achei que estaria estudando grandes eventos, como
casamentos, funerais e formaturas — esses grandes momentos. Mas os que
realmente se destacaram foram os pequenos eventos idiossincráticos que as
pessoas criam para si próprias.
Quando estávamos
estudando perdas, uma mulher disse que lavava o carro de seu falecido marido
todo fim de semana, exatamente como ele fazia. E isso revela tanta coisa sobre
seu marido, e porque ela está fazendo isso, e o que importava para ele e como
ela se importa com ele. Você pode ir a um lava-jato — isso não é algo muito
grande por si só. Mas claramente, para ela, ela estava honrando algo
importante.
Outra coisa que eu
adoro é um casal que disse que, antes de comer, eles batem seus talheres. Para
mim, isso é marcante, porque talheres são chatos — nós os usamos literalmente
para colocar coisas na boca — mas eles pegaram essas coisas chatas, que nem
damos bola mais, e com esses pequenos "brindes" os transformam em
algo que é um reflexão. Eles fazem isso há anos, e continuarão fazendo por
anos. O ato mais pequeno tem um grande significado.
·
Por
que evoluímos com esse comportamento? Quais são os benefícios dos rituais?
Norton: Você
pode imaginar que quando faz um ritual, você sente a mesma coisa sempre, mas
eles têm efeitos diferentes em campos diferentes. Parece que usamos os rituais
para produzir emoções que queremos ter em certas situações. Se estamos em um
bar bebendo e brindamos com nossos copos, estamos usando o ritual para nos
unirmos como grupo, para amplificar essa experiência. Mas não faríamos a mesma
coisa em um funeral, em que estamos buscando paz.
Mesmo no campo do
esporte, alguns atletas usam rituais para se energizarem, e outros os usam para
se acalmarem. Pode ser exatamente a mesma coisa que estão fazendo, e estão
fazendo com intuitos opostos — dependendo do que estão buscando naquele
momento.
·
Qual
é o papel dos rituais de família durante a temporada de fim de ano?
Norton: Nós
temos uma imagem do que um feriado de Ação de Graças ou Natal será, mas se você
mergulhar nele, cada família faz do seu próprio jeito. Pode ser que nosso avô
goste de comer tortas natalinas, e isso foi incorporado ao nosso ritual.
Ter rituais
familiares é um grande fator para prever se você ainda vai se reunir com sua
família nesta época do ano: é um sinal muito forte de como você se sente sobre
eles.
Eu ensino na
graduação e geralmente os alunos não viajam para casa no Dia de Ação de Graças,
então eles podem acabar passando esse feriado com amigos. Quando voltam, eu
pergunto como foi — e quase todos sempre dizem que seus amigos fizeram tudo
errado. É porque cada família define como deveriam ser os rituais.
·
O
que sabemos sobre a importância de rituais em relacionamentos românticos?
Norton: Você
pode perguntar aos casais: vocês têm rituais? E quão feliz vocês são em seu
relacionamento? E existe uma ligação muito forte. Pessoas que dizem "temos
uma coisinha que nós fazemos" tendem a relatar maior satisfação no relacionamento.
Quando um
relacionamento acaba, as pessoas podem se relacionar com outras, mas elas não
têm o direito de reciclar os seus rituais! Se você perguntar "quão
revoltado você está que seu ex vai casar?", ninguém gosta, mas a ideia de
que alguém reutilizar alguma frase bonitinha [do relacionamento anterior], isso
é considerado uma grande violação do nosso relacionamento. Você consegue
perceber o quão importante essas coisas pequenas são em estabelecer elos entre
nós.
Eu imagino que
também não seria muito lisonjeiro para o novo parceiro descobrir que o ritual
do casal era algo que você compartilhava com outras pessoas.
Eu achava
exatamente isso, mas desde que publiquei o livro, descobri que há dois grupos
de pessoas. O grupo maior é como você e eu, que diz que ficaria brabo se
descobrisse que [rituais] são reciclados. Mas existe um pequeno grupo de
pessoas que dizem que — se descobrissem que [os rituais] são reciclados, isso é
um sinal definitivo de que o parceiro superou o ex.
Existe uma certa
lógica nisso, eu suponho.
Se eu me recuso a
ir a um restaurante que era importante no meu relacionamento anterior, pode ser
porque ainda estou apaixonado por aquela pessoa, mas se eu vou lá com meu novo
parceiro, talvez seja como um exorcismo, e isso mostra que realmente superei
meu ex.
·
E
quanto a nossos colegas? O quão importante são os rituais no local de trabalho?
Norton: Quando
eu falo com empresas sobre rituais, o item número um na lista dos chefes é:
"você pode nos sugerir um ritual para alegrar nossos funcionários e
aumentar a sua produtividade?"
E a primeira coisa
que os funcionários fazem é torcer o nariz.
É uma distinção
importante, porque quando perguntamos às equipes [sobre seus rituais], elas
raramente lembram de algo que foi imposto. O que elas relatam são os que elas
próprias inventaram, como rituais de almoço, rituais de aniversário e coisas
desse tipo.
E se você tem um
ritual com sua equipe, você provavelmente vai encontrar mais sentido no
trabalho que você realiza com essa equipe.
Fonte: BBC Future
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