Sarah Bennett: Por
que a morte da Princesa Diana gerou tantas teorias da conspiração
Diana, princesa de
Gales, morreu há 25 anos após um acidente de carro no túnel da Pont de l'Alma
em Paris. Sua morte atraiu ampla atenção da mídia e levou a uma onda de comoção
global. Grande parte da reação do público era crítica à família real britânica
pelo que muitos consideraram uma resposta insensível à morte súbita da
ex-mulher de Charles, o príncipe de Gales e primeiro na linha de sucessão da
rainha Elizabeth 2ª.
Acontecimentos
inesperados, como mortes e acidentes, são terreno fértil para teorias da
conspiração porque elas permitem às pessoas darem sentido ao caos buscando
evidências, coincidências e alguém para culpar.
Mortes de
celebridades inspiraram um gênero inteiro de teorias da conspiração.
Principalmente a morte da princesa Diana. As teorias conspiratórias sobre a
morte dela podem se debruçar sobre detalhes específicos e diferentes das
circunstâncias em torno da colisão fatal, mas muitos chegam à mesma conclusão
(sem comprovação) de que ela foi assassinada pela família real ou por
autoridades britânica.
Eu estudo teorias
conspiratórias para descobrir por que as pessoas acreditam nelas. Uma das
questões que levanto é sobre a linguagem das teorias conspiratórias sobre
mortes de celebridades, e por que elas são tão persuasivas.
Teorias da
conspiração empoderam as pessoas, permitem que elas se tornem detetives por
conta própria. Esses "detetives" chegam aos casos já com suas
próprias conclusões. Em mortes de celebridades, essas conclusões geralmente
afirmam que o assassinato foi cometido por alguém que aparentemente se
beneficia da morte.
Uma investigação
oficial, como a Operação Paget, que foi aberta pela polícia britânica para
apurar teorias conspiratórias sobre a morte de Diana, se pergunta o que
aconteceu. Os detetives conspiratórios, por outro lado, se perguntam cui bono
(quem se beneficia).
·
Intriga
no palácio
A base de muitas
teorias conspiratórias é conhecida como pensamento teleológico, que, grosso
modo, é quando alguém atribui função ou significado a ocorrências ou
inconsistências. Para teorias conspiratórias, isso significa que não há espaço
para sistemas imperfeitos, erros humanos ou coincidências aleatórias.
As circunstâncias
da morte de Diana eram confusas e caóticas pouco depois da colisão naquele 31
de agosto de 1997, principalmente por causas de erros humanos e outros
problemas. E por anos, pessoas ligadas a essas teorias da conspiração
levantaram questões como "Por que a ambulância demorou tanto tempo para
chegar ao hospital?", "Por que as equipes de resgate limparam o túnel
tão rapidamente?" e "Por que as câmeras de segurança do local não
estavam funcionando?".
Uma mente preparada
para procurar conspiração dirá que foram ações deliberadas para piorar a
condição de saúde de Diana ou esconder provas de um assassinato. A realidade,
como costuma acontecer com as teorias da conspiração, é mais trivial. A
conclusão do Operação Paget, com base em todas as evidências disponíveis, foi
que a morte de Diana foi resultado de um trágico acidente - e não de uma
conspiração.
Quando faltam
provas irrefutáveis, a especulação pode ocupar esse espaço. Por exemplo,
Mohammed Al-Fayed, pai de Dodi (namorado de Diana que também morreu no
acidente) acusou publicamente a família real de assassinato. Essa acusação
levou à Operação Paget, que refutou as alegações, mas, no entanto, não acalmou
os teóricos da conspiração que desconfiam de qualquer forma de informação
oficial.
Os teóricos da
conspiração usam diferentes tipos de evidências, incluindo as chamadas
"premonições" e "previsões psíquicas". Alguns afirmam que
Diana previu sua própria morte, com base na publicação de uma suposta carta que
ela teria escrito para seu ex-mordomo Paul Burrell, que dizia: "meu marido
está planejando 'um acidente' no meu carro". E o conselheiro espiritual de
Diana alegou ter avisado que seus freios seriam adulterados. A investigação de
Paget não encontrou evidências para essas alegações.
Antes de sua morte,
na controversa entrevista à BBC em 1995, Diana afirmou que pessoas dentro da
família real "me veem como uma ameaça". Por mais estranhas ou
impressionantes que essas "premonições" e testemunhos pareçam,
nenhuma dessas alegações por si só prova as teorias de que ela foi realmente
assassinada.
·
A
promessa das conspirações
As teorias sobre a
princesa Diana contêm uma característica fundamental da conspiração: um grupo
interno e um grupo externo. Embora normalmente celebridades como Diana e a
família real sejam vistas como parte do grupo interno em contraste com o
público, esses rótulos significam algo diferente a depender do contexto das
teorias da conspiração.
O grupo interno
neste caso inclui o público em geral e Diana. Eles representariam o bem, com
Diana caracterizada como vítima. Por outro lado, o grupo externo — a família
real e as autoridades — seriam os vilões: uma ameaça poderosa e maligna ao
grupo interno. O grupo externo é aquele em que o teórico da conspiração pode
identificar potenciais culpados do suposto crime.
As teorias da conspiração
de Diana geralmente dependem de pessoas que não acompanham as investigações
oficiais e comparam uma suposta conspiração com um cenário ideal (o que deveria
ter acontecido).
O detetive da
conspiração assume que nada dá errado sem que tenha havido uma intenção
maliciosa. Descobrir a suposta mentira, encobrimento ou conspiração é,
portanto, uma maneira de as vítimas e de seus aliados (o grupo interno)
recuperarem o poder sobre o grupo externo.
As teorias da
conspiração da morte de celebridades são palatáveis para o grande público porque permitem que um evento
traumático ou confuso se torne "claro". Elas nos oferecem um
vislumbre de um mundo perfeito a se desejar, onde nada dá errado e onde os
humanos fazem as melhores escolhas que podem em qualquer momento. E, segundo
essas teorias, se o grupo maligno não tivesse conspirado para matá-la, Diana
ainda poderia estar aqui hoje.
¨ 5 coisas sem precedentes que a monarquia britânica fez
após a morte da princesa Diana
Além de comover o
mundo, a morte da princesa Diana também foi um ponto de inflexão para a
monarquia britânica.
A aparente reação
fria da rainha Elizabeth 2ª após o acidente que custou a vida de sua ex-nora em
Paris em 31 de agosto de 1997 fez com que ela fosse duramente criticada.
A monarca acreditava
que o acontecimento deveria ser tratado de forma privada e familiar, ainda mais
levando em conta que a princesa não era um membro oficial da família real.
Mas o mal-estar
gerado na sociedade britânica a fez romper pela primeira vez com o protocolo
real - e demonstrar mais tato e empatia com os cidadãos consternados com morte
da "princesa do povo".
Confira, a seguir,
alguns dos gestos inéditos da monarquia britânica após o acidente.
<><> 1.
O pronunciamento de Elisabeth 2ª na TV
Demorou cinco dias,
mas Elizabeth 2ª decidiu finalmente fazer um discurso televisionado ao vivo
após ser criticada por não ter feito demonstrações públicas de luto após a
morte de Diana.
A não ser pelas
mensagens de Natal, a rainha só havia falado uma vez na TV, em 1991, por causa
da guerra do Golfo. Mas ela nunca tinha feito isso ao vivo nos então 45 anos de
reinado.
Trajando preto e em
frente a uma janela aberta onde se via ao fundo a multidão concentrada na
frente do Palácio de Buckingham, a monarca disse que Diana era um "ser humano
excepcional".
"Eu a
respeitava e a admirava por sua energia e comprometimento com os outros,
especialmente por sua devoção aos filhos. Ninguém que conhecia Diana a
esquecerá jamais", declarou.
<><> 2.
A bandeira britânica a meio mastro
No palácio, a única
bandeira que fica hasteada é o estandarte real - a bandeira pessoal da rainha
-, mas só quando ela está nesta que é sua residência oficial em Londres.
Após a morte de
Diana, muitos cidadãos pouco familiarizados com o protocolo interpretaram como
falta de respeito com a princesa que o fato a bandeira britânica não estivesse
a meio mastro sobre o palácio.
Sendo assim, quando
a rainha deixou o local para ir ao funeral, o estandarte real foi substituído
pela bandeira oficial do Reino Unido, que ficou a meio mastro pelo resto do
dia.
<><> 3.
O estandarte real sobre o caixão de Diana
O estandarte real é
um símbolo usado só por membros oficiais da família da monarquia britânica.
Diana não fazia parte dela quando morreu, pois havia se divorciado do príncipe
Charles um ano antes.
Ainda assim, a
bandeira foi colocada sobre seu caixão desde o início da repatriação de seu
corpo de Paris.
O militar Charles
Richie, que estava na embaixada britânica na França na época, disse ao canal
Sky que ele assumiu a responsabilidade por essa decisão, mesmo sabendo que isso
ia contra o protocolo.
"O embaixador
recebeu depois um comunicado oficial pedindo que me agradecesse pela decisão
pouco convencional que havia tomado", disse.
<><> 4.
O cortejo fúnebre a pé de seus filhos e ex-marido
Os filhos de Diana,
William e Harry, seu ex-marido, o príncipe Charles, seu irmão, o conde de
Spencer, e o duque de Edimburgo, seu ex-sogro, seguiram a pé atrás do caixão da
princesa no cortejo fúnebre que percorreu as ruas de Londres até chegar à abadia
de Westminster.
Foi especialmente
debatido na época se os jovens príncipes, com 15 e 12 anos na época, deveriam
participar do ato. "Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz",
disse William sobre a ocasião à BBC.
"Não foi uma
decisão simples e foi fruto de uma conversa em família. Era preciso manter o
equilíbrio entre o dever e a família, e foi o que fizemos."
Seu irmão mais
novo, Harry, disse à revista Newsweek que caminhar atrás do caixão de sua mãe
era algo que "não se deveria pedir" a nenhuma criança. Ele afirmou
não ter uma opinião se participar foi a decisão correta, mas que hoje fica
feliz de tê-lo feito.
<><> 5.
A reverência da rainha diante do caixão de Diana
Poucas vezes um
gesto tão pequeno teve tanto peso. Quando o caixão de Diana passou em frente ao
Palácio de Buckingham, a rainha Elizabeth 2ª inclinou levemente a cabeça como
um gesto de reconhecimento.
A monarca não é
obrigada a fazer gestos de cortesia a outras pessoas, como se espera que elas
façam para saudá-la.
Segundo vários
analistas, isso foi essencial para a reconciliação do público com a realeza
após a reação inicial da rainha.
Fonte: The
Conversation/BBC News
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