quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Ciclo menstrual leva a alterações estruturais no cérebro, diz estudo

Um estudo recente mostra que os hormônios que guiam o ciclo menstrual podem levar a alterações cerebrais nas pessoas que menstruam. Pesquisadoras da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, documentaram em detalhes as mudanças estruturais que ocorrem no cérebro à medida que os níveis dos hormônios relacionados à menstruação se alteram.

Publicado em julho no periódico Human Brain Mapping, o estudo sugere que as mudanças estruturais no cérebro ocorridas durante a menstruação podem não estar limitadas às regiões associadas ao ciclo menstrual. Isso indica que ocorrem alterações em todo o cérebro ao longo da menstruação.

Esses resultados são os primeiros a relatar mudanças simultâneas em todo o cérebro na microestrutura da substância branca humana e na espessura cortical, coincidindo com os ritmos hormonais impulsionados pelo ciclo menstrual”, escreveram as pesquisadoras no artigo publicado.

Os fortes efeitos da interação cérebro-hormônio podem não estar limitados às regiões classicamente conhecidas de receptores densos do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (eixo HPG)”, acrescentam.

<><> O que já se sabe sobre a relação entre cérebro e menstruação?

Ao longo da vida, pessoas que menstruam passam por muitas mudanças hormonais, desde a menarca [primeira menstruação], na adolescência, em alguns casos, na gestação, e, por fim, na menopausa.

Todas essas fases da vida geram diversas alterações e diversos sintomas que, muitas vezes, podem impactar a vida da pessoa e que ainda não são bem explicados pela ciência. Então, podem acontecer alterações de humor, como irritabilidade, sintomas depressivos e ansiosos, alterações do sono, fadiga, dor e cefaleia”, explica Barbosa, coordenadora da Neurologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, à CNN.

A especialista explica que algumas pessoas podem sofrer descompensação de condições pré-existentes durante o ciclo menstrual, como de crises de enxaqueca ou de epilepsia catamenial. “As crises podem acontecer ou descompensar em determinadas fases do ciclo, ou no período pré-menstrual, ou no período ovulatório. Tem também casos de enxaqueca que só surgem ou descompensam nessas fases”, afirma.

Muitos desses sintomas passam sem explicação. Ultimamente, temos começado a estudar melhor e pesquisar mais essas alterações, mas ainda são pesquisas incipientes, que não têm uma resposta clara”, completa.

Segundo Helga Marquesini, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, já existem alguns estudos que mostram que o ciclo menstrual pode influenciar o funcionamento do cérebro, ativando ou desativando áreas que executam tarefas como fala, emoções e memórias.

Também já se vem estudando que tanto a substância branca, quanto a cinzenta são impactadas por processos hormonais, como a puberdade, gravidez, menopausa, hormonoterapia e contraceptivos”, explica Marquesini. “Desse desdobramento, entendemos cada vez mais sobre a influencia dos hormônios em condições psiquiátricas e neurológicas, nos sintomas de tensão pré-menstrual (TPM) e transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), nas variações do comportamento e da resposta sexual, dentre outras condições”, completa.

                        O que o estudo recente descobriu?

Liderado pelas neurocientistas Elizabeth Rizor e Viktoriya Babenko, o estudo acompanhou 30 mulheres que menstruam ao longo de seus ciclos menstruais para documentar as mudanças estruturais que ocorrem no cérebro à medida que hormônios como o estrogênio, a progesterona, o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo-estimulante (FSH) são liberados.

Para isso, foram realizados exames de ressonância magnética nas participantes durante a menstruação, na ovulação e na fase lútea média [fase do ciclo menstrual que ocorre após a ovulação e dura em média 14 dias]. No momento desses exames, também foram medidos os níveis hormonais das participantes.

Os resultados mostraram que, à medida que os hormônios flutuam [mudam de concentração], os volumes de substância cinzenta [responsável por interpretar impulsos nervosos] e branca [relacionada com o aprendizado e as funções cerebrais] também mudam, assim como o volume do líquido cefalorraquidiano [fluido corporal que circula pelo sistema nervoso central].

Segundo o estudo, o hormônio folículo-estimulante, que aumenta antes da ovulação, foi associado à massa cinzenta mais espessa. Já a progesterona, que aumenta após a ovulação, foi associada ao aumento do tecido e à diminuição do volume do líquido cefalorraquidiano.

O estudo viu alterações cerebrais na ressonância magnética, mas não foi feita uma correlação com os sintomas que elas apresentaram. Não foi questionado se elas tinham algum sintoma e quais eram esses sintomas e suas gravidades. Então, é um aspecto que ainda precisamos aprofundar, fazer estudos com maior número de mulheres e tentar entender se isso traz repercussão na prática clínica e no dia a dia das pessoas”, observa Barbosa. Ela não esteve envolvida com o estudo.

Apesar disso, a especialista considera que as descobertas podem ser um caminho para entender sintomas relacionados à menstruação e à menopausa. “O fato é que conseguimos documentar que existem, sim, alterações estruturais e o cérebro é sensível a essas variações hormonais”, afirma Barbosa. “Isso é um caminho para começarmos a entender como esses sintomas todos [da menstruação, da menopausa e, até mesmo, da gestação e do pós-parto] podem ser explicados e para definirmos tratamentos específicos, porque muitos desses sintomas trazem incapacidade”, acrescenta.

Este estudo traz como inovação o uso de métodos de imagem mais precisos para investigar como os hormônios do ciclo menstrual afetam áreas de interesse no cérebro. Isso impacta positivamente a prática médica, pois aprofundamos o conhecimento sobre os mecanismos hormonais cerebrais e podemos estudar cada vez melhores estratégias terapêuticas e preventivas. Além disso, é o primeiro estudo que avalia a mudança que ocorre na microestrutura da substância branca cerebral frente às oscilações hormonais do ciclo”, complementa Marquesini.

 

                        Menopausa precoce está relacionada ao maior risco de perda muscular, diz estudo

A dor muscular é um dos sintomas comuns da menopausa, o que explica por que as mulheres com mais de 50 anos sentem mais dor do que os homens nesta mesma faixa etária. Além disso, a função e a massa muscular também podem ser afetadas pelo climatério. Agora, um novo estudo mostra que a menopausa precoce, principalmente induzida por cirurgia (como a retirada dos ovários) pode aumentar ainda mais os riscos de distúrbios musculares.

O estudo foi publicado no dia 1º de maio, na revista científica Menopause, da Menopause Society. Os pesquisadores decidiram avaliar o efeito de diferentes tipos de menopausa no desconforto e na função muscular em mulheres na pós-menopausa. O trabalho incluiu quase 650 mulheres no total.

Os pesquisadores descobriram que as mulheres que sofreram menopausa cirúrgica prematura tinham maior probabilidade de desenvolver desconforto músculoesquelético e sarcopenia (perda de massa muscular) do que aquelas que passaram por menopausa natural aos 45 anos ou mais de idade.

A menopausa precoce é aquela que acontece antes dos 40 anos de idade. Essa condição pode ocorrer por diferentes fatores, como câncer de mama, câncer de ovário, câncer de endométrio e outros cânceres que levam à falência ovariana, de acordo com Maria dos Anjos Neves Sampaio Chaves, ginecologista do Delboni, marca pertencente à Dasa, em matéria publicada anteriormente na CNN.

A menopausa precoce cirúrgica é aquela que ocorre em decorrência da remoção dos ovários por cirurgia. O procedimento impede que a menstruação ocorra e, consequentemente, leva à menopausa.

De acordo com os pesquisadores, a dor e a redução da massa muscular em mulheres na pós-menopausa pode estar mais relacionado à deficiência hormonal do que à idade.

Esse estudo destaca os potenciais efeitos músculoesqueléticos a longo prazo da menopausa cirúrgica prematura, que provoca uma perda mais abrupta e completa de hormônios ováricos, incluindo estrogénio e testosterona, do que a menopausa natural. O uso da terapia hormonal até a idade natural da menopausa tem o potencial de mitigar alguns dos efeitos adversos a longo prazo da perda precoce de estrogênio”, diz Stephanie Faubion, diretora médica da Menopause Society.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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