Ciclo
menstrual leva a alterações estruturais no cérebro, diz estudo
Um
estudo recente mostra que os hormônios que guiam o ciclo menstrual podem levar
a alterações cerebrais nas pessoas que menstruam. Pesquisadoras da Universidade
da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, documentaram em detalhes as
mudanças estruturais que ocorrem no cérebro à medida que os níveis dos
hormônios relacionados à menstruação se alteram.
Publicado
em julho no periódico Human Brain Mapping, o estudo sugere que as mudanças
estruturais no cérebro ocorridas durante a menstruação podem não estar
limitadas às regiões associadas ao ciclo menstrual. Isso indica que ocorrem
alterações em todo o cérebro ao longo da menstruação.
“Esses resultados são os primeiros a relatar mudanças simultâneas
em todo o cérebro na microestrutura da substância branca humana e na espessura
cortical, coincidindo com os ritmos hormonais impulsionados pelo ciclo
menstrual”, escreveram as pesquisadoras no artigo publicado.
“Os fortes efeitos da interação cérebro-hormônio podem não estar
limitados às regiões classicamente conhecidas de receptores densos do eixo
hipotálamo-hipófise-gonadal (eixo HPG)”, acrescentam.
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O que já se sabe sobre a relação entre cérebro e menstruação?
Ao
longo da vida, pessoas que menstruam passam por muitas mudanças hormonais,
desde a menarca [primeira menstruação], na adolescência, em alguns casos, na
gestação, e, por fim, na menopausa.
“Todas essas fases da vida geram diversas alterações e diversos
sintomas que, muitas vezes, podem impactar a vida da pessoa e que ainda não são
bem explicados pela ciência. Então, podem acontecer alterações de humor, como
irritabilidade, sintomas depressivos e ansiosos, alterações do sono, fadiga,
dor e cefaleia”, explica Barbosa, coordenadora da Neurologia do Hospital
Sírio-Libanês em Brasília, à CNN.
A
especialista explica que algumas pessoas podem sofrer descompensação de
condições pré-existentes durante o ciclo menstrual, como de crises de enxaqueca
ou de epilepsia catamenial. “As crises podem acontecer ou descompensar em
determinadas fases do ciclo, ou no período pré-menstrual, ou no período
ovulatório. Tem também casos de enxaqueca que só surgem ou descompensam nessas
fases”, afirma.
“Muitos desses sintomas passam sem explicação. Ultimamente, temos
começado a estudar melhor e pesquisar mais essas alterações, mas ainda são
pesquisas incipientes, que não têm uma resposta clara”, completa.
Segundo
Helga Marquesini, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, já
existem alguns estudos que mostram que o ciclo menstrual pode influenciar o
funcionamento do cérebro, ativando ou desativando áreas que executam tarefas
como fala, emoções e memórias.
“Também já se vem estudando que tanto a substância branca, quanto
a cinzenta são impactadas por processos hormonais, como a puberdade, gravidez,
menopausa, hormonoterapia e contraceptivos”, explica Marquesini. “Desse
desdobramento, entendemos cada vez mais sobre a influencia dos hormônios em
condições psiquiátricas e neurológicas, nos sintomas de tensão pré-menstrual
(TPM) e transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), nas variações do
comportamento e da resposta sexual, dentre outras condições”, completa.
• O
que o estudo recente descobriu?
Liderado
pelas neurocientistas Elizabeth Rizor e Viktoriya Babenko, o estudo acompanhou
30 mulheres que menstruam ao longo de seus ciclos menstruais para documentar as
mudanças estruturais que ocorrem no cérebro à medida que hormônios como o
estrogênio, a progesterona, o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio
folículo-estimulante (FSH) são liberados.
Para
isso, foram realizados exames de ressonância magnética nas participantes
durante a menstruação, na ovulação e na fase lútea média [fase do ciclo
menstrual que ocorre após a ovulação e dura em média 14 dias]. No momento
desses exames, também foram medidos os níveis hormonais das participantes.
Os
resultados mostraram que, à medida que os hormônios flutuam [mudam de
concentração], os volumes de substância cinzenta [responsável por interpretar
impulsos nervosos] e branca [relacionada com o aprendizado e as funções
cerebrais] também mudam, assim como o volume do líquido cefalorraquidiano
[fluido corporal que circula pelo sistema nervoso central].
Segundo
o estudo, o hormônio folículo-estimulante, que aumenta antes da ovulação, foi
associado à massa cinzenta mais espessa. Já a progesterona, que aumenta após a
ovulação, foi associada ao aumento do tecido e à diminuição do volume do
líquido cefalorraquidiano.
“O estudo viu alterações cerebrais na ressonância magnética, mas
não foi feita uma correlação com os sintomas que elas apresentaram. Não foi
questionado se elas tinham algum sintoma e quais eram esses sintomas e suas
gravidades. Então, é um aspecto que ainda precisamos aprofundar, fazer estudos
com maior número de mulheres e tentar entender se isso traz repercussão na
prática clínica e no dia a dia das pessoas”, observa Barbosa. Ela não esteve
envolvida com o estudo.
Apesar
disso, a especialista considera que as descobertas podem ser um caminho para
entender sintomas relacionados à menstruação e à menopausa. “O fato é que
conseguimos documentar que existem, sim, alterações estruturais e o cérebro é
sensível a essas variações hormonais”, afirma Barbosa. “Isso é um caminho para
começarmos a entender como esses sintomas todos [da menstruação, da menopausa
e, até mesmo, da gestação e do pós-parto] podem ser explicados e para
definirmos tratamentos específicos, porque muitos desses sintomas trazem
incapacidade”, acrescenta.
“Este estudo traz como inovação o uso de métodos de imagem mais
precisos para investigar como os hormônios do ciclo menstrual afetam áreas de
interesse no cérebro. Isso impacta positivamente a prática médica, pois
aprofundamos o conhecimento sobre os mecanismos hormonais cerebrais e podemos
estudar cada vez melhores estratégias terapêuticas e preventivas. Além disso, é
o primeiro estudo que avalia a mudança que ocorre na microestrutura da
substância branca cerebral frente às oscilações hormonais do ciclo”, complementa
Marquesini.
• Menopausa
precoce está relacionada ao maior risco de perda muscular, diz estudo
A
dor muscular é um dos sintomas comuns da menopausa, o que explica por que as
mulheres com mais de 50 anos sentem mais dor do que os homens nesta mesma faixa
etária. Além disso, a função e a massa muscular também podem ser afetadas pelo
climatério. Agora, um novo estudo mostra que a menopausa precoce,
principalmente induzida por cirurgia (como a retirada dos ovários) pode
aumentar ainda mais os riscos de distúrbios musculares.
O
estudo foi publicado no dia 1º de maio, na revista científica Menopause, da
Menopause Society. Os pesquisadores decidiram avaliar o efeito de diferentes
tipos de menopausa no desconforto e na função muscular em mulheres na
pós-menopausa. O trabalho incluiu quase 650 mulheres no total.
Os
pesquisadores descobriram que as mulheres que sofreram menopausa cirúrgica
prematura tinham maior probabilidade de desenvolver desconforto
músculoesquelético e sarcopenia (perda de massa muscular) do que aquelas que
passaram por menopausa natural aos 45 anos ou mais de idade.
A
menopausa precoce é aquela que acontece antes dos 40 anos de idade. Essa
condição pode ocorrer por diferentes fatores, como câncer de mama, câncer de
ovário, câncer de endométrio e outros cânceres que levam à falência ovariana,
de acordo com Maria dos Anjos Neves Sampaio Chaves, ginecologista do Delboni,
marca pertencente à Dasa, em matéria publicada anteriormente na CNN.
A
menopausa precoce cirúrgica é aquela que ocorre em decorrência da remoção dos
ovários por cirurgia. O procedimento impede que a menstruação ocorra e,
consequentemente, leva à menopausa.
De
acordo com os pesquisadores, a dor e a redução da massa muscular em mulheres na
pós-menopausa pode estar mais relacionado à deficiência hormonal do que à
idade.
“Esse estudo destaca os potenciais efeitos músculoesqueléticos a
longo prazo da menopausa cirúrgica prematura, que provoca uma perda mais
abrupta e completa de hormônios ováricos, incluindo estrogénio e testosterona,
do que a menopausa natural. O uso da terapia hormonal até a idade natural da
menopausa tem o potencial de mitigar alguns dos efeitos adversos a longo prazo
da perda precoce de estrogênio”, diz Stephanie Faubion, diretora médica da
Menopause Society.
Fonte:
CNN Brasil
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