quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Jeferson Miola: Marinha explicita visão deformada dos militares e insulta governo e população civil

É indesculpável o vídeo da Marinha que classifica os civis como folgados e privilegiados, enquanto considera os militares pessoas sacrificadas na missão de proteger o país, o que nem no mais delirante pesadelo pode ser levado a sério.

Trata-se de um grave insulto à população civil e ao governo. A gravidade é ainda maior porque o vídeo não é uma iniciativa isolada de algum militar tresloucado, mas é uma peça de publicidade institucional, decidida nos canais oficias do Comando da Marinha.

Segundo o site Sociedade Militar, dedicado a questões militares, o vídeo publicitário foi “lançado nesse domingo [1/12], na presença do Comandante da Marinha [almirante Marcos Sampaio Olsen] e de outras autoridades militares”.

“Divulgado poucos dias após anúncios de cortes orçamentários e medidas para redução de benefícios militares, a peça buscava destacar o trabalho dos militares, contrastando-o com momentos de lazer de civis, e encerra com o provocativo questionamento: ‘Privilégios? Vem para a Marinha’”, registra a reportagem.

De acordo com o site, a publicação teve efeito inverso ao desejado, com enorme indignação entre os comentários feitos na rede social da Marinha – “78% das reações foram negativas, 10% positivas e 12% neutras”.

No fundo, o conteúdo do vídeo não chega mesmo a surpreender, pois traduz exatamente a visão militar, historicamente deformada, de que são eles, e somente eles, os fardados, que podem conduzir os destinos do país, porque os paisanos são corruptos, incompetentes, incapazes.

Como mensagem subliminar, o vídeo traz essa visão de tutela dos militares sobre o sistema político e o regime civil.

O general Mourão, vice de Bolsonaro, na campanha de 2018 resumiu bem essa perspectiva doutrinária quando disse que o brasileiro é um povo preguiçoso, malandro e vadio devido às suas raízes indígena e negra. Esta é uma síntese da visão dos militares sobre o povo brasileiro, considerado inimigo interno a ser combatido.

No mérito, o pleito dos militares veiculado no vídeo também é inadmissível.

Eles pretendem manter uma série de privilégios que são verdadeiras obscenidades, como a pensão vitalícia e com salário integral para falsas viúvas de militares vivos e expulsos das Forças Armadas por crimes cometidos.

Ou, então, as pensões vitalícias para filhas de militares. Há casos fraudulentos, como o da neta do general Ernesto Garrastazu Médici, adotada como filha pelo ditador sanguinário em 1985, meses antes de ele morrer, mesmo tendo ela os pais vivos.

Com o óbito da avó em 2003, desde fevereiro daquele ano a neta do ditador recebe uma pensão mensal de R$ 36.562,40 a valores de agosto passado.

Além disso, não se conhece servidor público civil e trabalhadores civis do Regime Geral da Previdência Social que consiga se aposentar com menos de 50 anos de idade, como acontece com os militares.

Funcionários públicos civis precisam comprar seus próprios uniformes, arcar com suas moradias, alimentação, educação dos filhos e demais necessidades cotidianas, uma realidade muito distinta das regalias na caserna.

Seria ocioso esperar do ministro da Defesa José Múcio Monteiro a atitude que este episódio exige, mas o mínimo a se esperar é que a Marinha retire de circulação o vídeo ultrajante e peça desculpas à sociedade brasileira.

É a imensa maioria trabalhadora do Brasil que, com seus impostos, sustenta o orçamento das Forças Armadas que destina quase R$ 90 bilhões por ano, cerca de 87% do total, só para pagar despesas de pessoal, a maioria de aposentados [reservistas] e pensionistas.

 

•                        Marinha deve apagar o vídeo e pedir desculpas, diz Amoêdo

Neste domingo (1º), a Marinha do Brasil divulgou um vídeo institucional que vem gerando grande repercussão nas redes sociais. A peça publicitária, com duração de 1 minuto e 16 segundos, foi apresentada durante a substituição do Pavilhão Nacional na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e permanece disponível nos canais oficiais da Força. O vídeo aborda as peculiaridades da carreira militar, confrontando críticas sobre "privilégios" atribuídos aos integrantes das Forças Armadas.

João Amoêdo, fundador do partido Novo, utilizou sua conta no Twitter para criticar duramente a produção. "Esse vídeo da Marinha para pressionar o governo contra cortes de privilégios e valorizar a instituição tem para mim o efeito contrário. Deveriam exclui-lo o quanto antes e pedir desculpas aos brasileiros que trabalham muito para pagar todas as contas públicas, inclusive da realização desse vídeo", escreveu Amoêdo, ecoando a insatisfação de parte da sociedade com os benefícios concedidos aos militares.

<><> Vídeo institucional e o contexto fiscal

No material, imagens de militares em condições adversas, como operações em alto-mar e missões extremas, são alternadas com cenas de civis em situações de lazer, como festas e viagens. Um dos momentos mais emblemáticos do vídeo mostra um jovem militar questionando: "Privilégios? Vem pra Marinha". A peça busca justificar as peculiaridades da carreira militar, apresentando-a como incompatível com as condições de trabalho de civis.

A divulgação ocorre em um momento estratégico, quando o governo do presidente Lula avança com propostas de ajustes no sistema previdenciário militar. Entre as mudanças anunciadas, está a introdução de uma idade mínima de 55 anos para a aposentadoria e a aplicação de um "pedágio" de 9% sobre o período restante para atingir o tempo de serviço exigido. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as alterações visam promover mais equidade entre os setores previdenciários. "São mudanças justas e necessárias", declarou Haddad em recente pronunciamento.

Atualmente, a regra previdenciária para os militares exige apenas 35 anos de serviço, sem estipular uma idade mínima, o que contrasta com as reformas implementadas em outros setores nos últimos anos.

<><> Reação ao material divulgado

O vídeo institucional, que antecede as celebrações do Dia do Marinheiro em 13 de dezembro, também foi interpretado como um sinal de resistência das Forças Armadas às mudanças propostas. Ao exaltar os sacrifícios inerentes à carreira militar, a Marinha parece buscar reforçar sua identidade e valores perante o público e as autoridades governamentais. Contudo, a estratégia atraiu críticas, como as de Amoêdo, que acusam a iniciativa de ignorar os esforços da sociedade em financiar os benefícios concedidos aos militares.

A narrativa estabelecida pela Marinha abre espaço para um debate mais amplo sobre a relação entre as Forças Armadas, a sociedade e o Estado. Com as reformas ainda por serem discutidas no Congresso, o tema promete ocupar um espaço central nas próximas semanas, dividindo opiniões entre os que defendem a valorização da carreira militar e aqueles que cobram maior isonomia no tratamento previdenciário.

A mensagem veiculada pela Marinha, embora destinada a enaltecer a carreira, acabou por intensificar o debate sobre privilégios e sacrifícios em um momento de ajustes fiscais e reorganização do Estado.

•                        Solnik: “vídeo da Marinha é infame e Múcio precisa ser cobrado”

Na edição do Bom Dia 247 desta segunda-feira (2), o jornalista Alex Solnik fez duras críticas ao vídeo institucional divulgado pela Marinha do Brasil, no domingo (1º). A peça gerou ampla repercussão nas redes sociais por confrontar críticas sobre os “privilégios” das Forças Armadas.

Para Solnik, o vídeo é “infame” e representa um uso inadequado dos recursos públicos. “A Marinha gastou uma grana para fazer esse vídeo infame, que nunca deveria ter sido feito. Os vídeos institucionais da Marinha não podem se vangloriar do que eles são. Tá errado, é dinheiro jogado fora. Coisa absurda”, declarou o jornalista durante o programa.

Ele também defendeu que o caso seja investigado e responsabilizou o ministro da Defesa, José Múcio, por prestar esclarecimentos à sociedade. “Esse vídeo precisa ser investigado e o ministro da Defesa, José Múcio, Múcio precisa responder”, afirmou.

•                        Vídeo da Marinha que questiona ideia de privilégios para militares teve aval da cúpula das Forças Armadas

O vídeo que questiona a ideia de "privilégios" nas Forças Armadas, divulgado pela Marinha, foi aprovada pela alta cúpula militar, incluindo o comandante da Força Naval, almirante Marcos Sampaio Olsen, destaca a jornalista Raquel Landim em sua coluna no UOL. O vídeo tinha originalmente o intuito de comemorar o Dia do Marinheiro, celebrado em 13 de dezembro. No entanto, a divulgação foi ajustada para responder às propostas de ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que inclui mudanças nas aposentadorias dos militares.

O conteúdo do vídeo refuta a ideia de que os militares gozam de privilégios, ao destacar que a aposentadoria nas Forças Armadas visa compensar as peculiaridades da carreira, como a impossibilidade de greve, a ausência de direitos políticos, a falta de horas extras e o não recebimento de adicional de periculosidade, entre outros pontos.

Em um momento controverso, o vídeo apresenta um soldado que é parecido com o próprio ministro da Fazenda, com a legenda "vocês terão que se acostumar". No entanto, fontes militares negaram que a semelhança com Haddad tenha sido intencional, afirmando que a produção foi feita internamente e com um baixo custo.

Além disso, as fontes ouvidas pela reportagem alegam que o objetivo do vídeo não foi criar uma comparação entre jovens marinheiros e civis, mas sim ilustrar a Marinha "trabalhando enquanto a sociedade descansa". A peça também é a estreia do novo canal da Marinha no TikTok, uma plataforma popular entre os mais jovens.

O conteúdo do vídeo surge em meio a um impasse sobre a proposta de Haddad que, dentro do pacote fiscal, inclui a implementação de uma idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares. Além disso, o ajuste prevê a eliminação da chamada "morte ficta" e a proibição da transferência de cotas de aposentadoria entre filhas de militares. Embora o ajuste tenha sido proposto, ainda não há consenso sobre o período de transição necessário para implementar a medida.

No último sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir essas propostas.

 

•                        "Ou o poder civil enquadra essa gente ou a democracia pagará o preço", diz Maringoni, sobre vídeo da Marinha

A Marinha do Brasil provocou polêmica ao divulgar, neste domingo (1º), um vídeo institucional que aborda as críticas sobre supostos privilégios militares. A peça, exibida na substituição do Pavilhão Nacional na Praça dos Três Poderes, em Brasília, apresenta uma narrativa que contrapõe as privações dos militares às experiências de lazer dos civis. O vídeo também foi compartilhado nas redes sociais da instituição.

O professor de Relações Internacionais Gilberto Maringoni manifestou indignação nas redes sociais, classificando o vídeo como uma ameaça velada à democracia. "A Marinha exibe dentes em disparatado vídeo divulgado domingo. A peça mostra que militares têm vida dura enquanto civis vivem em vadiagens sem fim. Tudo na estética realismo-gorila, a rosnar ameaças. Ou o poder civil enquadra essa gente, ou a democracia pagará o preço da omissão", escreveu Maringoni.

Com duração de 1 minuto e 16 segundos, o vídeo alterna cenas de militares enfrentando condições extremas de trabalho com imagens de civis em festas e reuniões familiares. Em um dos momentos mais emblemáticos, um jovem militar questiona: "Privilégios? Vem pra Marinha", reforçando o contraste entre as diferentes realidades.

<><> Tensão em meio a mudanças fiscais

A divulgação ocorre em um contexto sensível, marcado pelas mudanças fiscais propostas pelo governo Lula para o sistema previdenciário militar. Entre as medidas defendidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estão a criação de uma idade mínima de 55 anos para a passagem à reserva e um pedágio de 9% sobre o tempo de serviço restante. "São mudanças justas e necessárias", declarou Haddad recentemente.

Atualmente, os militares podem passar à reserva após 35 anos de serviço, sem exigência de idade mínima. A proposta busca alinhar os benefícios das Forças Armadas às reformas previdenciárias já aplicadas a outras categorias, gerando forte resistência no meio militar.

<><> Uma mensagem à sociedade e ao governo

Especialistas apontam que o vídeo da Marinha vai além de uma mera campanha institucional, funcionando como um recado à sociedade e ao governo. A peça enfatiza as peculiaridades da carreira militar e reforça a ideia de que a vida nas Forças Armadas não pode ser comparada à de profissionais civis.

A proximidade do Dia do Marinheiro, celebrado em 13 de dezembro, também sugere que o vídeo pretende reafirmar a identidade e os valores das Forças Armadas em meio ao debate sobre privilégios e sacrifícios.

Para Maringoni, no entanto, o vídeo é um exemplo claro de como a atuação política das Forças Armadas pode tensionar a relação com o poder civil.

 

Fonte: Brasil 247

 

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