Entenda a
proposta do fim da escala 6x1 de trabalho
A
proposta de emenda à Constituição (PEC) que pede o fim da escala de seis dias
de trabalho para um de descanso (6x1) agita os debates nas redes sociais e
divide opiniões de trabalhadores, empresários e políticos. De um lado, os
defensores afirmam que a mudança é essencial para garantir mais tempo de
descanso e qualidade de vida ao trabalhador. Do outro, os críticos demonstram
preocupações com os possíveis impactos econômicos.
Inspirada
pelo Movimento VAT (Vida Além do Trabalho), a PEC apresentada pela deputada
federal Erika Hilton (PSOL-SP) propõe a redução da carga horária semanal de 44
para 36 horas, além da implementação de uma jornada de trabalho de quatro dias
por semana. Até o dia 15 de novembro, a proposta já contava com 231
assinaturas. Para que uma PEC comece a tramitar no Congresso Nacional, é
necessário o apoio de pelo menos 171 deputados.
A
proposta conta com apoio popular. Uma petição criada pelo Movimento VAT,
fundado pelo vereador eleito do Rio de Janeiro, Ricardo Cardoso Azevedo (PSOL),
mais conhecido como Rick Azevedo, já reúne quase três milhões de assinaturas
pelo fim da escala 6x1. O ativista ganhou projeção nacional após um desabafo em
sua conta no TikTok, no fim de 2023. "É uma escravidão ultrapassada",
disse Rick na ocasião. O Movimento VAT tem organizado protestos em diversas
cidades do Brasil, reivindicando o fim da escala.
Ao
jornal O DIA, Rick Azevedo afirma que essa é uma "luta coletiva".
"Quem vive nessa realidade mal consegue dedicar tempo à família, cuidar da
própria saúde ou planejar qualquer aspecto de sua vida fora do trabalho”,
destaca o vereador eleito.
Rick
também pontua que não se trata apenas de uma alteração na carga horária.
"A
proposta em debate no Congresso busca reequilibrar essa equação, garantindo
condições mínimas para que os trabalhadores tenham uma rotina mais humana e
sustentável. Não se trata apenas de mudar a jornada, mas de reafirmar que o bem-estar
do trabalhador é um pilar essencial de qualquer sociedade justa e
produtiva", ressalta.
A
reportagem entrou em contato com o gabinete da deputada federal Erika Hilton,
mas não obteve retorno até a publicação da matéria. O espaço segue aberto para
manifestação.
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A realidade do dia a dia
Além
do horário exaustivo, há quem enfrente uma jornada dupla, precisando conciliar
o trabalho com os estudos ou até mesmo com as responsabilidades de mãe. A
moradora do Rio de Janeiro e recepcionista Melissa Almeida, de 42 anos,
ressalta que, apesar de gostar do que faz, há exaustão "física e
mental".
"Passo
cerca de 12 horas por dia fora de casa. Quando chego, estou cansada demais para
as tarefas domésticas. Não posso me dar ao luxo de sair para algum lugar, pois
preciso descansar para o dia seguinte. Menos ainda tenho tempo de qualidade com
meus filhos", diz.
A
recepcionista, que folga somente aos domingos, pontua que um dia na semana é
pouco para descansar e cumprir as tarefas.
"Quando
acordo no domingo de manhã, começa uma grande crise existencial. E, a partir
daí, a dura decisão: aproveito meu domingo para descansar? Mas e a geladeira
que precisa ser limpa? E a roupa acumulada para lavar? Talvez eu devesse fazer
algo com a minha filha, já que quase não passamos tempo juntas. Mas e eu?
Quando terei o meu momento de lazer para sair com os amigos e fazer algo
divertido?" questiona Melissa.
Maria
Clara Carvalho, de 19 anos, também enfrenta a jornada dupla, mas por conta dos
estudos. A jovem trabalha como atendente de uma drogaria e cursa graduação em
História. "Minha rotina é basicamente essa: saio de casa todos os dias às
8h e volto às 00h15."
Maria
Clara explica que a falta de tempo para focar nos estudos é um dos principais
problemas da escala, mas também menciona o impacto na sua saúde. "A falta
de tempo impede que eu consiga focar nos meus estudos e também prejudica um
pouco a minha saúde, pois afeta meu sono devido ao horário em que chego em
casa", pontua a jovem.
"Ter
um único dia de folga na semana é muito cansativo, pois as tarefas acabam se
acumulando durante a semana e, além disso, fico muito cansada tanto fisicamente
quanto mentalmente. Não consigo focar em tudo o que deveria fazer na minha
folga", diz a estudante, que tem o dia livre apenas às sextas-feiras e,
uma vez por mês, aos domingos.
Quando
questionada sobre o fim da escala 6x1, Maria Clara afirma que "acharia
justo, visto que ela afeta a saúde dos trabalhadores em diversos aspectos de
suas vidas", mas também expressa preocupação com as possíveis
consequências.
"Eu
sei que isso envolve fatores que podem influenciar diretamente a economia do
país, então tenho a noção de que é algo que afetaria a nação de forma
significativa", enfatiza.
A
preocupação com os possíveis impactos econômicos tem dificultado o apoio à PEC.
Organizações como o Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio), o
Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro
(SindilojasRio) e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC) manifestaram-se contra o fim da escala 6x1.
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Quem apoia e quem é contra
O
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) afirma ao jornal O DIA que "tem
acompanhado de perto o debate sobre o fim da escala de trabalho 6x1".
"O MTE acredita que essa questão deveria ser tratada em convenção e
acordos coletivos entre empresas e empregados. No entanto, a pasta considera
que a redução da jornada de 44 horas semanais é plenamente possível e saudável,
diante de uma decisão coletiva", diz a nota da Pasta.
O
Sindicato dos Comerciários defende a redução da jornada e frisa que "quem
trabalha nessas condições dificilmente consegue equilibrar as responsabilidades
profissionais com a vida pessoal e as necessidades de descanso e cuidado com a
saúde". "É uma situação que provoca estresse, adoecimento físico e
mental, além de fragilizar as relações familiares e sociais."
Questionado
sobre o apoio dos parlamentares, o Sindicato dos Comerciários conta que tem
cobrado a bancada fluminense, mostrando dados e que a mudança será positiva
para todos. "Os que ainda resistem, em geral, o fazem por falta de
informação ou por conservarem uma visão ultrapassada, patrimonialista, de que
nós trabalhadores já temos direitos demais e devemos ser levados a trabalhar
até a exaustão. O que temos reparado, porém, é que a maioria dos parlamentares
já está convencida da importância dessa mudança", ressalta.
O
Sindicato dos Comerciários também menciona uma experiência de 2023, no Reino
Unido, na qual foi testada a jornada de trabalho de quatro dias por semana.
"Durante seis meses, as empresas continuaram pagando 100% dos salários
para os funcionários trabalharem 80% do tempo, ou seja, um dia a menos por
semana. O resultado foi tão bom que, mesmo com o fim do teste, 91% das empresas
decidiram continuar com o esquema. Ficou bom para todo mundo", enfatiza.
O
Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) e o Sindicato dos
Lojistas do Município do Rio de Janeiro (SindilojasRio) se posicionam contra a
mudança.
"A
diminuição da jornada de trabalho sem a contrapartida da redução dos salários
não afetará apenas o comércio, mas a todos os setores produtivos, pois
impactará e comprometerá negativamente as condições de existência das empresas,
sejam grandes, médias ou pequenas, de todos os setores produtivos, sendo as
menores as mais sensíveis e vulneráveis tanto às mudanças da conjuntura
econômica quanto do nível e formação dos custos", afirmam em nota
conjunta.
A
Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro, Confederação Nacional da Indústria e a Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também se posicionam
contra a PEC.
De
acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC), "ao invés de gerar novos postos de trabalho, a medida pode provocar
uma onda de demissões, especialmente em setores de mão de obra intensiva,
prejudicando justamente aqueles que a medida propõe beneficiar", destaca a
CNC.
Até
o dia 15 de novembro, a proposta já contava com 231 na Câmara dos Deputados. O
deputado Tarcísio Motta (PSOL) afirma que, com a aprovação da PEC, o
trabalhador terá "mais tempo para se dedicar aos estudos, se matricular em
um novo curso ou mesmo para relaxar e aproveitar mais horas de lazer,
fundamental para seu descanso e para manutenção da saúde mental". Ele
também explica que "um trabalhador mais saudável e descansado significa
menos acidentes de trabalho, menos gastos com o SUS, menos licenças e afastamentos
do emprego".
Eduardo
Bandeira de Mello (PSB) diz que a redução da jornada de trabalho
"contribui para um equilíbrio melhor entre trabalho e vida pessoal,
favorecendo inovação e aumentando a satisfação geral no ambiente laboral".
"A redução da jornada de trabalho pode trazer benefícios econômicos
importantes para as empresas, como aumento da produtividade, redução de custos
com rotatividade e acidentes, e maior engajamento dos trabalhadores, resultando
em inovação e eficiência operacional. Além disso, a PEC prevê um período de
adaptação para que as empresas ajustem seus processos, mitigando impactos
iniciais", destaca Bandeira de Mello.
A
reportagem entrou em contato com a toda a bancada do Rio de Janeiro na Câmara
dos Deputados para saber a opinião dos parlamentares sobre a PEC, mas não
obteve mais respostas até o momento. O espaço segue aberto para manifestação.
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O que vem a seguir?
O
projeto atingiu o mínimo de assinaturas necessárias para começar a tramitar no
Congresso Nacional. Agora, até ser aprovado, é necessário que a proposta passe
por uma série de etapas.
Primeiro,
a PEC será oficialmente apresentada e analisada pela Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania (CCJ), que avaliará sua admissibilidade. Atualmente, a CCJ
é presidida pela bolsonarista Carol de Toni (PL-SC), contrária à mudança, o que
pode representar um desafio para a proposta. Uma possibilidade seria adiar a
apresentação da medida à Comissão até que o cargo seja ocupado por outra
pessoa.
Depois
dessa fase, se admitido pela CCJ, o texto será analisado por uma comissão
especial, que pode alterá-lo com o objetivo de melhorar ou facilitar a sua
aprovação no Plenário da Câmara. Nessa etapa, serão ouvidos diversos
especialistas, sindicatos e associações para fornecer informações que embasem a
construção de um texto mais consistente.
O
próximo passo é a votação no Plenário, onde são necessários votos favoráveis de
3/5 dos deputados (308 dos 513), em dois turnos de votação, para que a medida
seja aceita. Após a aprovação, o texto segue para o Senado, onde passará por um
processo semelhante. Se houver modificações substanciais feitas pelo Senado, o
texto retorna à Câmara e passa por novos ajustes, até que ambas as Casas
concordem com a proposta, que então será promulgada como emenda constitucional
em sessão do Congresso Nacional.
Fonte:
O Dia
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