terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Geriatra chama atenção para aumento de casos de HIV em idosos

De acordo com dados do Boletim Epidemiológico sobre HIV/AIDS do Ministério da Saúde, o número de idosos que testaram positivo para o vírus quadruplicou entre 2011 e 2021. O geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Marco Túlio Cintra chama a atenção para a elevação do número

Ele explica que são diversos os fatores ligados ao aumento, entre eles a falta de campanhas direcionadas a esse público. E acrescenta que os números podem ser ainda maiores, já que é grande a subnotificação por falta de testagem.

O Dia Mundial de Combate a Aids é lembrado sempre em 1º de dezembro, principal data da campanha Dezembro Vermelho. O último mês do ano foi escolhido desde 2017 para a mobilização nacional, chamando a atenção para as medidas de prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas que vivem com o vírus HIV.

Neste fim de semana, diversas capitais realizam mobilizações e ações de prevenção. 

Em entrevista ao programa Tarde Nacional da Amazônia, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o geriatra Marco Túlio Cintra disse que acontece de o paciente apresentar sintomas como o emagrecimento acentuado, e os médicos investigarem câncer, sem desconfiarem de HIV.

Segundo o especialista, é fundamental que os profissionais da saúde solicitem a testagem aos pacientes idosos, já que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento.

<><> Confira um trecho da entrevista abaixo.

•                        O número de idosos com HIV quadruplicou nos últimos dez anos. A gente está falando de que números?

Marco Túlio Cintra – O número é maior. Há um aumento progressivo que o número de testagens não justifica. E aí vai para uma terceira questão que as pessoas se surpreendem pelo número de casos porque no imaginário das pessoas a vida sexual do idoso se enterrou. É um aumento progressivo em uma faixa etária preocupante.

•                        Tem a ver com fatores comportamentais também?

Cintra – No idoso, geralmente, há múltiplas causas. Os nossos profissionais não pensam na possibilidade do vírus HIV para os idosos. Então é descoberto com doença já manifesta com sintomas de Aids numa fase mais avançada. Outra questão importante que não é comentada: não se direcionam campanhas de prevenção para pessoa idosa. Então a informação não está chegando.

•                        Esse vírus é mais preocupante para a pessoa idosa?

Cintra – Quando se fala em pessoa idosa, não todos obviamente, mas há um perfil de mais doenças. Há uma alteração no sistema imune. Muitos tomam muitos medicamentos. É uma questão que quando entra o vírus HIV complica. Pode haver interações medicamentosas, de um medicamento atrapalhar o outro, tem maior dificuldade com o tratamento porque essas pessoas têm mais problemas de saúde.

•                        Tem muita resistência, principalmente com relação ao público masculino, com relação ao uso do preservativo nessa faixa etária?

Cintra – Entre os idosos, a preocupação do uso é menor. Muitos idosos não imaginam que eles estão se expondo. Muitas vezes as campanhas são voltadas para grupos e não por comportamento de risco. O comportamento de risco pode estar em qualquer faixa etária, inclusive nos idosos que são sexualmente ativos.

 

•                        HIV: injeção semestral reduziu em 96% risco de infecção em novo estudo

Uma nova injeção semestral para profilaxia pré-exposição (PrEP) apresentou 96% de eficácia para reduzir as infecções por HIV, segundo estudo clínico publicado na última quinta-feira (27) no The New England Journal of Medicine (NEJM). A pesquisa era de fase 3, que avalia a eficácia e a segurança de um novo tratamento médico em um grande número de pessoas.

O trabalho, chamado Purpose-2, é o segundo a confirmar a alta eficácia do lenacapavir para prevenir a infecção por HIV. Em julho deste ano, o ensaio clínio Purpose-1, realizado em três locais de Uganda e 25 regiões da África do Sul, mostrou 100% de eficácia em mulheres cisgênero.

O lenacapavir é um medicamento injetável semestral desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences. Ele atua como um inibidor de fusão capside, o que significa que ele interfere no capsídeo do HIV, uma capa de proteína que protege o material genético do vírus e as enzimas necessárias para a replicação. Seu uso é injetável, abaixo da pele, sendo necessária a aplicação apenas duas vezes por ano — uma a cada seis meses.

<><> Como o estudo de injeção para combater infecção por HIV foi feito?

No Purpose-2, o lenacapavir semestral foi testado em um público mais diverso. Enquanto o primeiro trabalho analisou apenas mulheres cisgênero em regiões da África, o estudo mais recente envolveu participantes de diferentes gêneros, incluindo homens cis e pessoas trans, além de mais etnias, sendo conduzido em 88 centros de pesquisa no Peru, Brasil, Argentina, México, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos.

O estudo analisou a segurança e a eficácia do lenacapavir duas vezes ao ano para PrEP em comparação com Truvada, uma pílula diária utilizada amplamente há mais de uma década como PrEP.

No total, o trabalho contou com 3.271 homens gays, bissexuais e outros homens cisgêneros, mulheres e homens transgêneros e pessoas não-binárias com 16 anos ou mais que fazem sexo com parceiros designados do sexo masculino no nascimento.

Os participantes foram divididos de forma aleatória em uma proporção de 2:1 para receber lenacapavir e Truvada, respectivamente. Como já existem opções eficazes de PrEP, há um amplo consenso de que um grupo placebo seria antiético; portanto, o ensaio usou bHIV como o comparador primário e Truvada como um comparador secundário.

Segundo o estudo, o lenacapavir foi altamente eficaz na redução de infecções por HIV entre os participantes do estudo: 99,9% dos participantes não adquiriram o HIV no grupo do lenacapavir, com dois casos incidentes entre 2.179 participantes.

Os dados do ensaio confirmam que ambos os participantes adquiriram o HIV após receberem suas primeiras injeções de lenacapavir, mas antes de suas segundas injeções, e ambos os participantes foram diagnosticados usando testes de HIV padrões.

Os resultados também demonstraram superioridade do lenacapavir semestral sobre o bHIV com redução de risco relativo de 96%. Além disso, a injeção administrada duas vezes ao ano foi 89% mais eficaz na redução de infecções por HIV do que o Truvada administrado uma vez ao dia.

Ainda de acordo com o estudo, houve nove casos incidentes de HIV entre os 1.086 indivíduos no grupo Truvada. Esses nove participantes tinham evidências de baixa ou nenhuma adesão ao Truvada, ou haviam descontinuado o uso mais de 10 dias antes do diagnóstico.

Até o momento, o lenacapavir é aprovado em vários países para o tratamento de adultos com HIV multirresistente em combinação com outros antivirais. O uso da injeção como prevenção do HIV continua em fase de estudos e ainda não foi aprovado como PrEP por agências reguladoras.

 

•                        Pacientes com HIV na Argentina temem impacto dos cortes de gastos de Milei

Argentinos vivendo com o vírus HIV e médicos afirmam que os cortes de gastos sob o presidente Javier Milei têm prejudicado o tratamento da doença. A preocupação é que comece a faltar remédios e testes.

Milei está promovendo uma grande iniciativa de austeridade com o objetivo de reduzir o tamanho do estado e reverter um profundo déficit fiscal que ele herdou. Isso fez com que os orçamentos fossem congelados ou limitados para muitos serviços do setor público.

O orçamento para tratamento gratuito de HIV/AIDS, onde a Argentina é pioneira regional, caiu 67% em termos reais em 2024 e deve cair 46% em 2025. Isso colocou pressão no fornecimento de medicamentos essenciais e pode deixar milhares de pessoas sem cuidados no ano que vem, disseram especialistas.

A síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) é uma condição crônica causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A maioria das pessoas com HIV pode viver vidas quase normais e não sofrer de doenças relacionadas à Aids, caso façam um tratamento precoce eficaz.

“Estou tomando remédios vencidos desde maio. Agora em outubro me deram remédios até fevereiro, que venceram em novembro”, disse Claudio Mariani, de 59 anos, que foi diagnosticado com HIV em 1993.

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“No meu caso, por exemplo, estou fazendo o teste de carga viral agora, mas não sei quando terei os resultados”, acrescentou.

De acordo com dados oficiais do governo, há cerca de 140 mil pessoas vivendo com HIV na Argentina. Cerca de metade desse número depende de tratamento do setor público, de acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde argentino.

<><> Expectativa negativa

A Fundação Huésped, que trabalha para garantir o acesso ao tratamento para portadores de HIV/Aids, disse que mais de 9 mil pessoas teriam o tratamento interrompido em 2025 devido aos cortes de gastos.

O projeto de orçamento do governo argentino projeta um aumento nos gastos com o serviço gratuito de tratamento de HIV aumentar de 21 bilhões para 23 bilhões de pesos (US$ 23 milhões. Porém, com o índice de inflação acima de 100%, isso significa um corte significativo de gastos em termos reais.

Isso pode fazer com que os pacientes não sejam diagnosticados, e assim, pode haver um aumento nos custos hospitalares, disseram especialistas.

“Essas pessoas precisam de hospitalização, tratamento para infecções e uma série de cuidados médicos que poderiam ser evitados se o diagnóstico fosse feito mais cedo”, explicou Leandro Cahn, diretor executivo da Fundação Huésped.

“Todos esses cortes, longe de economizar dinheiro vão geram mais custos”, explicou.

Dados do Ministério da Saúde argentino mostram que já neste ano o número de preservativos distribuídos pelo governo caiu de 503.460 no ano anterior para 209.328. Também são esperadas quedas no fornecimento de reagentes e testes rápidos.

“O tratamento é algo permanente”, disse o especialista local em HIV Luis Trombetta à Reuters, explicando que essa consistência manteve a taxa de mortalidade baixa. “Não pode ser substituído ou interrompido.”

 

Fonte: Agencia Brasil/CNN Brasil

 

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