quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Dino libera pagamento de emendas parlamentares, mas impõe restrições

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, determinou que seja retomado o pagamento de emendas parlamentares. Ele estabeleceu, no entanto, diversas regras de transparência e o modo como devem ser feitas as destinações.

O pagamento das emendas estava suspenso desde agosto, e a liberação ocorreu após quatro meses de reuniões entre Executivo, Legislativo e Judiciário para tratar do tema.

Segundo a decisão, a destinação de cada emenda deverá conter informações sobre o congressista que a indicou. Também foram estabelecidas regras mais duras sobre o crescimento dos valores das emendas.

Leia a seguir um resumo das determinações para cada modalidade de emenda:

# Emendas de relator (RP9), também conhecidas como “orçamento secreto”:

- Estão liberadas, desde que haja identificação do congressista que as indicou. Caberá ao Executivo aferir a transparência e liberar o pagamento caso a caso;

# Emendas Pix:

- podem ser pagas, desde que seja mostrado um plano de trabalho prévio para as emendas apresentadas a partir do ano que vem. Para as anteriores, foi aberto prazo de 60 dias para a apresentação do plano;

# Emendas de bancada:

-  destinadas a grandes projetos e obras, as emendas não poderão ser fragmentadas. A destinação deverá ser feita em conjunto pelos congressistas. A Controladoria-Geral da União fará uma auditoria da destinação em outubro de 2025;

# Emendas destinadas a ONGs:

- só poderão ser liberadas quando as ONGs e entidades do terceiro informarem na internet, com total transparência, os valores oriundos de emendas parlamentares;

# Emendas para a saúde:

- será necessária a aprovação nas comissões bipartite e tripartite do Sistema Único de Saúde.

<><> Explosão de emendas

Na decisão, Dino criticou a explosão das emendas desde 2019 e o “destino incerto” dado a bilhões de reais do orçamento.

“Temos a gravíssima situação em que bilhões do Orçamento da Nação tiveram origem e destino incertos e não sabidos, na medida em que tais informações, até o momento, estão indisponíveis no Portal da Transparência ou instrumentos equivalentes”, afirmou o ministro.

Segundo ele, com as emendas, parcela relevante do orçamento público foi executada sem respeito às “balizas normativas”, a partir de “uma engrenagem flagrantemente inconstitucional, montada especialmente a partir do ano de 2019, quando os bilhões de reais alocados pelo Congresso Nacional foram se multiplicando em escala geométrica”.

Ainda de acordo com o ministro, jamais houve “tamanho desarranjo institucional com tanto dinheiro público” em um intervalo tão pequeno de tempo (2019 a 2024).

Além das novas regras, Dino estabeleceu um limite para a evolução das despesas com emendas. Ficou decidido, por exemplo, que o montante não pode crescer indefinidamente e, a partir de 2025, deverá ser utilizado o menor entre os seguintes parâmetros: arcabouço fiscal; variação da Receita Corrente Líquida; e devolução das despesas discricionárias do Executivo.

Hoje, há dois indexadores para as emendas: as de bancada estaduais são fixadas em 1% da receita corrente líquida (RCL) do exercício anterior ao da vigência do Orçamento. Já as emendas individuais são definidas em 2% da RCL de dois exercícios anteriores.

O Congresso aprovou em novembro, após ter combinado com o Executivo, que o crescimento passaria a ser equivalente ao do arcabouço fiscal (correção pela inflação, mais aumento real entre 0,6% e 2,5%, equivalente a 70% do incremento das receitas da União no ano anterior).

A condição definida por Dino é diferente. Deverá ser adotada a regra que resulta no menor valor, considerando o arcabouço, as despesas discricionárias do Executivo e a variação da receita corrente líquida.

 

•                        Liberação de emendas parlamentares deve facilitar tramitação do corte de gastos no Congresso

A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de liberar o retorno do pagamento das emendas parlamentares, nesta segunda-feira (2), deve destravar a tramitação do pacote corte de gastos no Congresso.

As medidas para controlar os gastos públicos e garantir o respeito ao arcabouço fiscal nos próximos anos, anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28), dependem do aval do Legislativo.

•                        Parte do pacote exige mudanças na Constituição Federal – o que, em geral, significa uma tramitação mais demorada e uma exigência de mais votos para a aprovação.

Na avaliação de governistas que participaram das negociações, a expectativa de liberação das emendas parlamentares pelo Supremo, suspensas desde agosto, era um fator importante para o andamento da proposta do Executivo.

🔎As emendas parlamentares são uma reserva dentro do Orçamento usadas conforme indicação de deputados e senadores. É esse o dinheiro enviado pelos parlamentares às suas bases eleitorais.

Para 2024, R$ 49,17 bilhões em emendas parlamentares foram autorizados, e cerca de R$ 23,3 bilhões foram efetivamente pagos — inclusive, considerando os chamados "restos a pagar", emendas reservadas de anos anteriores.

<><> Veja os valores detalhados:

•                        R$ 49,17 bilhões foram autorizados

•                        R$ 37,6 bilhões foram empenhados — destinados para fins específicos

•                        R$ 23,3 bilhões foram efetivamente pagos, o correspondente a menos da metade.

Ou seja, o governo terá R$ 25 bilhões para gastar em dezembro. Portanto, em um único mês, o governo terá uma margem robusta de recursos para negociar com os parlamentares.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nessa sexta-feira (29) que os deputados darão "todo esforço, celeridade e boa vontade" para aprovar as medidas anunciadas pelo governo federal.

"Reafirmo o compromisso inabalável da Câmara dos Deputados com o arcabouço fiscal. Toda medida de corte de gastos que se faça necessária para o ajuste das contas públicas contará com todo esforço, celeridade e boa vontade da Casa, que está disposta a contribuir e aprimorar", publicou.

A avaliação dos governistas era que a boa vontade dos parlamentares estava ligada ao fato de que os parlamentares davam como certa a liberação das emendas esta semana. Portanto, na prática, com a liberação das emendas, o governo encontra o caminho aberto para a tramitação do pacote de gastos.

O governo gostaria de ver pelo menos parte do pacote aprovado ainda este ano – o que significa protocolar, analisar mudanças, negociar com a oposição, votar nos plenários da Câmara e do Senado e sancionar (ou promulgar) o texto em pouco mais de um mês.

<><> Liberação das emendas

O ministro Flávio Dino decidiu nesta segunda-feira (2) liberar o retorno do pagamento das emendas parlamentares.

A decisão, no entanto, define ressalvas para cada modalidade de emendas (veja abaixo) – e deixa claro que os repasses deverão obedecer a regras de transparência e rastreabilidade, tanto da origem da indicação quanto do destino do recurso.

Com isso, ficam restabelecidos os pagamentos das três categorias de emendas impositivas – aquelas que o governo é obrigado a executar:

•                        as emendas individuais de transferência especial, ou "emendas PIX": cada parlamentar tem uma cota anual para essas indicações – que chegam à ponta sem assinatura e sem destino definido.

•                        as emendas individuais com finalidade definida: como o nome diz, se diferenciam das "emendas PIX" porque o dinheiro chega ao destino "carimbado", com indicação de uso.

•                        e as emendas de bancadas estaduais: deputados e senadores de cada estado decidem, em conjunto, para onde enviar aquele recurso.

Ficaram de fora desse bloqueio, nos últimos meses, apenas aquelas emendas usadas para bancar obras já em andamento ou para atender a calamidades públicas.

 

•                        Galípolo sinaliza ‘juros elevados por mais tempo’

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira que o cenário econômico atual aponta para uma política monetária "mais contracionista" por parte da instituição, sinalizando "juros mais altos por mais tempo" no Brasil.

Falando em um evento organizado pela XP, ele disse ser "lógico" tal direcionamento para a taxa Selic diante de uma economia com maior dinamismo do que o esperado e uma moeda mais desvalorizada, mas se recusou a fornecer um guidance para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

"Parece relativamente lógico imaginar isso e (foi) em cima desse movimento que aconteceu ao longo do ano que o Banco Central foi migrando gradativamente de um ciclo de corte para uma pausa e (para) o ciclo de alta de juros", disse o diretor do BC.

Ele disse que a autarquia iniciou um ciclo de cortes de juros em agosto de 2023, que levou a Selic a 10,50% ao fim do período de afrouxamento, por haver uma perspectiva de desaceleração da economia brasileira naquele momento, que tem se "frustrado sistematicamente".

O Copom realizará seu último encontro do ano nos dias 10 e 11 de dezembro, com operadores especulando sobre se as autoridades optarão por elevar a Selic, atualmente em 11,25% ao ano, em 0,50 ou 0,75 ponto percentual, em meio a uma maior desancoragem das expectativas de inflação do mercado.

Galípolo assumirá a presidência do BC a partir de janeiro. O diretor ressaltou que a desancoragem das expectativas de inflação é um incômodo "há muito tempo" para os diretores da autarquia e defendeu que o trabalho da autoridade monetária é justamente reancorá-las.

Segundo ele, o BC tem os instrumentos necessários para perseguir o centro da meta de inflação -- de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo -- e que qualquer discussão sobre uma mudança na meta é um "não tema" para os membros da autarquia.

"Sou da máxima que acho estranho que quem persegue a meta possa determinar a própria meta. Mas esse é um tema (com a) página virada", afirmou.

Galípolo defendeu que a banda de tolerância é um mecanismo para "eventuais choques", indicando também que o mais importante para o BC é definir a direção correta, uma vez que há "várias maneiras" de se atingir a meta de inflação.

•                        Desafios globais

Galípolo nomeou uma série de desafios globais no atual cenário econômico, incluindo a desaceleração da economia da China e as incertezas sobre o futuro dos Estados Unidos com a iminência do governo do presidente eleito, Donald Trump.

No entanto, o diretor defendeu que o Brasil está em uma "posição robusta" para enfrentar tais desafios, apontando para o câmbio flutuante e as reservas internacionais como mecanismos de defesa "bastante relevantes".

 

Fonte: Conjur/g1

 

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