segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Insuficiência cardíaca: casos vêm aumentando no Brasil, alertam especialistas

No Brasil, cerca de três milhões de pessoas vivem com insuficiência cardíaca, mas esse número pode aumentar, segundo especialistas.

“Um estudo recente, com dados do DataSUS, mostrou que, de 2018 a 2021, quase 900 mil pessoas internaram por insuficiência cardíaca. De 2008 a 2018, dois milhões de pessoas. Com custo, no Brasil, de R$ 3 bilhões. Se a gente pegar dados dos Estados Unidos, até 2030 vai ter um aumento de 46% [de casos] afetando oito milhões de americanos, com um custo de US$ 30 bilhões. Ou seja, a insuficiência cardíaca é uma das doenças que vai ser o problema do futuro”, afirma o cardiologista Fábio Fernandes, especialista em miocardiopatias no Incor.

Fernandes e Silvia Ayub, cardiologista também do Incor alertam sobre a gravidade da insuficiência cardíaca e a importância de realizar o tratamento adequadamente.

A insuficiência cardíaca é uma condição caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue de forma adequada, comprometendo o funcionamento de outros órgãos do corpo.

“A insuficiência cardíaca é uma síndrome e, como uma síndrome, há várias doenças que podem levar a esse acometimento”, diz Fernandes.

Segundo ele, há dois tipos de insuficiência cardíaca. Uma delas tem origem no enfraquecimento do músculo do coração, que não consegue bombear o sangue corretamente. Os homens são os mais atingidos por esse tipo, e as causas são diversas.

“Infarto agudo do miocárdio, miocardiopatias dilatadas, doença de Chagas, pacientes oncológicos, miocardite, causas virais. Há uma gama muito grande de alterações que podem atingir a musculatura do coração”, elenca o cardiologista.

O segundo tipo ocorre quando o problema está no relaxamento do músculo. “Ele contrai muito bem, mas relaxa com uma certa dificuldade”, diz Fernandes. Hipertensão e diabetes são algumas das doenças que podem estar na raiz do problema. Esse tipo atinge mais a população feminina.

Entre os principais sintomas da insuficiência cardíaca estão o inchaço nas pernas e na barriga, fadiga e cansaço, inclusive para realizar atividades habituais, como vestir-se ou tomar banho. No programa, Dr. Kalil explica como diferenciar esse cansaço de uma estafa habitual do dia a dia. “O sintoma clássico é o sujeito que chega contando: ‘eu ia na padaria toda manhã comprar meu pão. Agora, eu não consigo chegar na padaria, porque eu canso muito”.

<><> Insuficiência cardíaca tem alta mortalidade

Ayub alerta para a gravidade da insuficiência cardíaca, que possui mortalidade alta. “Após o diagnóstico de insuficiência cardíaca, 50% dos indivíduos vão morrer com cinco anos de doença. E nos idosos, isso reduz para 35% de sobrevida em cinco anos. É mais grave até que uma parte dos cânceres. Normalmente, o paciente quando recebe o diagnóstico de uma doença oncológica ele fica muito assustado. Talvez ele não tenha noção de que a insuficiência cardíaca é tão grave ou até mais grave, em alguns casos”, afirma.

A cardiologista explica que entre os principais fatores de risco estão o envelhecimento da população e a melhora no tratamento das chamadas doenças cardíacas primárias. “Hoje, se eu tenho um infarto agudo do miocárdio, eu abro a artéria, recupero uma parte do coração. Se eu tenho uma doença valvar, eu troco a válvula. Eu trato a hipertensão. Mas, às vezes, você fica com alguma sequela no miocárdio e no longo prazo, você pode desenvolver insuficiência cardíaca”, completa.

<><> Coração artificial é opção para casos graves

O tratamento da insuficiência cardíaca é, em geral, medicamentoso, com a maior parte dos remédios disponível também na rede pública. No entanto, casos graves podem requerer o uso de coração artificial ou, como último recurso, o transplante.

“O coração artificial, apesar de o nome dar a impressão de que é uma máquina que substitui o coração inteiro, na verdade (…) é um dispositivo que assiste ao ventrículo esquerdo. É como se fosse uma bomba d’água: ele aspira o sangue do ventrículo esquerdo e manda para a aorta. Então, substitui este lado do coração, que é a parte mais importante que é a que bombeia sangue para o organismo”, explica Ayub.

Segundo a especialista, hoje os pacientes que utilizam o coração artificial podem ter uma vida plena e, inclusive, praticar atividades físicas. “A gente muda a vida desse indivíduo, que teria um prognóstico de sobrevida menor que 10% em um ano”.

Esse dispositivo pode ser utilizado como terapia definitiva ou para o paciente que está na fila aguardando o transplante. “O Brasil tem um programa de transplante cardíaco muito importante, talvez seja no mundo o principal programa coberto pelo SUS, e a gente tem um número de transplantes em torno de 350 a 370 transplantes por ano. E ele é extremamente efetivo. Um paciente que é submetido a um transplante cardíaco tem uma expectativa de vida de 10 a 15 anos, então é uma mudança dramática na história de vida de cada indivíduo”, afirma Ayub.

Atualmente, a grande dificuldade ainda é o tempo que o paciente precisa permanecer em fila aguardando um transplante. “Às vezes o paciente permanece de quatro a seis meses internado, num hospital, necessitando de medicações na veia para chegar o momento dele na fila. Talvez aí a gente tenha que melhorar mais a nossa doação de órgãos”, finaliza.

 

•                        Inteligência artificial na cardiologia: entenda seus usos para saúde do coração

A aplicação da inteligência artificial (IA) na detecção precoce de doenças cardíacas tem mostrado avanços significativos, especialmente com a utilização de exames simples, disponíveis no dia a dia, como eletrocardiogramas (ECGs), ecocardiograma e tomografia. A IA, particularmente por meio de redes neurais de aprendizado profundo (deep learning), tem permitido a interpretação rápida e precisa de ECGs, identificando padrões que podem ser imperceptíveis para os humanos.

Um exemplo disto é a detecção de disfunção ventricular esquerda, fibrilação atrial silenciosas, cardiomiopatias, rejeição aguda após transplante cardíaco, entre outras condições. Além disso, a IA tem sido integrada em dispositivos vestíveis que podem monitorar continuamente os sinais cardíacos, facilitando a detecção precoce de arritmias e descompensação de insuficiência cardíaca.

No campo da imagem médica, a IA tem melhorado a qualidade das imagens e automatizado a detecção de marcadores de risco de doenças cardiovasculares, como o cálcio nas artérias coronárias, que podem predizer eventos cardiovasculares, mesmo em populações assintomáticas.

<><> Impacto da IA na personalização de tratamentos e acompanhamento de doenças crônicas

Este uso de inteligência artificial na cardiologia possibilita uma estratificação e personalização do tratamento. No campo da insuficiência cardíaca, estes modelos preditivos podem integrar variáveis clínicas, laboratoriais e genéticas para personalizar terapias, como ajustes de doses dos medicamentos, buscando melhor resposta a determinada terapia e alcance de desfechos clínicos mais favoráveis.

Em termos de doença arterial coronariana, a IA pode avaliar respostas a terapias antiplaquetárias e orientar a melhor aplicação de stents.

O monitoramento remoto também pode ter um papel importante, utilizando-se os dispositivos vestíveis. Relógios e sensores com IA detectam alterações na frequência cardíaca, pressão arterial e sobrecarga de líquidos no organismo, proporcionando uma integração de dados em tempo real, como sinais vitais e resultando em aumento da adesão ao tratamento e de alertas sobre riscos de internação.

<><> Ética e segurança no uso da IA na cardiologia

A IA na cardiologia apresenta várias considerações éticas e medidas de segurança que são cruciais para sua implementação de forma segura e eficaz. As principais preocupações éticas incluem questões de privacidade, segurança e confidencialidade dos dados dos pacientes. Além disso, há riscos potenciais de desigualdade no atendimento à saúde, se não forem devidamente validados em populações diversas, para que efetivamente possamos ver sua aplicação na prática.

Outro aspecto ético importante é quanto à responsabilização, especialmente quando ocorrem falhas nos sistemas de IA. Além disso, a obtenção de consentimento informado pode ser um problema, pois os pacientes podem não compreender completamente como seus dados serão utilizados por sistemas de IA, e isto se torna mais crítico quando o sistema é aplicado para propor uma forma nova de tratamento ou mesmo na inclusão de pacientes que serão participantes de estudos clínicos e de pesquisas aplicadas.

<><> Estudos e casos de sucesso ilustrativos

A aplicação da inteligência artificial na cardiologia tem mostrado avanços significativos em várias áreas, conforme evidenciado por estudos recentes. Um dos principais campos de aplicação é a análise de eletrocardiogramas (ECGs), onde métodos de deep learning, especialmente redes neurais convolucionais, têm sido desenvolvidos para interpretar rapidamente ECGs com uma capacidade diagnóstica comparável à de especialistas. Esses métodos têm sido utilizados para prever fibrilação atrial, para avaliar a função ventricular, presença de cardiomiopatia hipertrófica, síndromes coronarianas agudas e estenose da valva aórtica.

Sem contar que a IA tem transformado o ECG em uma ferramenta de triagem e predição de doenças cardíacas e não cardíacas, muitas vezes em indivíduos ainda sem nenhum sintoma. Algoritmos de inteligência artificial têm sido desenvolvidos para detectar disfunção ventricular esquerda e fibrilação atrial episódica a partir de traçados registrados durante o ritmo cardíaco ainda normal. Na área de imagem cardíaca, a IA tem sido amplamente aplicada. Esses exemplos ilustram o potencial desses recursos em melhorar o diagnóstico e o manejo de doenças cardiovasculares, embora desafios como a validação em ambientes clínicos reais e questões de privacidade de dados ainda precisem ser abordados.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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