Insuficiência
cardíaca: casos vêm aumentando no Brasil, alertam especialistas
No
Brasil, cerca de três milhões de pessoas vivem com insuficiência cardíaca, mas
esse número pode aumentar, segundo especialistas.
“Um
estudo recente, com dados do DataSUS, mostrou que, de 2018 a 2021, quase 900
mil pessoas internaram por insuficiência cardíaca. De 2008 a 2018, dois milhões
de pessoas. Com custo, no Brasil, de R$ 3 bilhões. Se a gente pegar dados dos
Estados Unidos, até 2030 vai ter um aumento de 46% [de casos] afetando oito
milhões de americanos, com um custo de US$ 30 bilhões. Ou seja, a insuficiência
cardíaca é uma das doenças que vai ser o problema do futuro”, afirma o
cardiologista Fábio Fernandes, especialista em miocardiopatias no Incor.
Fernandes
e Silvia Ayub, cardiologista também do Incor alertam sobre a gravidade da
insuficiência cardíaca e a importância de realizar o tratamento adequadamente.
A
insuficiência cardíaca é uma condição caracterizada pela incapacidade do
coração de bombear sangue de forma adequada, comprometendo o funcionamento de
outros órgãos do corpo.
“A
insuficiência cardíaca é uma síndrome e, como uma síndrome, há várias doenças
que podem levar a esse acometimento”, diz Fernandes.
Segundo
ele, há dois tipos de insuficiência cardíaca. Uma delas tem origem no
enfraquecimento do músculo do coração, que não consegue bombear o sangue
corretamente. Os homens são os mais atingidos por esse tipo, e as causas são
diversas.
“Infarto
agudo do miocárdio, miocardiopatias dilatadas, doença de Chagas, pacientes
oncológicos, miocardite, causas virais. Há uma gama muito grande de alterações
que podem atingir a musculatura do coração”, elenca o cardiologista.
O
segundo tipo ocorre quando o problema está no relaxamento do músculo. “Ele
contrai muito bem, mas relaxa com uma certa dificuldade”, diz Fernandes.
Hipertensão e diabetes são algumas das doenças que podem estar na raiz do
problema. Esse tipo atinge mais a população feminina.
Entre
os principais sintomas da insuficiência cardíaca estão o inchaço nas pernas e
na barriga, fadiga e cansaço, inclusive para realizar atividades habituais,
como vestir-se ou tomar banho. No programa, Dr. Kalil explica como diferenciar
esse cansaço de uma estafa habitual do dia a dia. “O sintoma clássico é o
sujeito que chega contando: ‘eu ia na padaria toda manhã comprar meu pão.
Agora, eu não consigo chegar na padaria, porque eu canso muito”.
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Insuficiência cardíaca tem alta mortalidade
Ayub
alerta para a gravidade da insuficiência cardíaca, que possui mortalidade alta.
“Após o diagnóstico de insuficiência cardíaca, 50% dos indivíduos vão morrer
com cinco anos de doença. E nos idosos, isso reduz para 35% de sobrevida em
cinco anos. É mais grave até que uma parte dos cânceres. Normalmente, o
paciente quando recebe o diagnóstico de uma doença oncológica ele fica muito
assustado. Talvez ele não tenha noção de que a insuficiência cardíaca é tão
grave ou até mais grave, em alguns casos”, afirma.
A
cardiologista explica que entre os principais fatores de risco estão o
envelhecimento da população e a melhora no tratamento das chamadas doenças
cardíacas primárias. “Hoje, se eu tenho um infarto agudo do miocárdio, eu abro
a artéria, recupero uma parte do coração. Se eu tenho uma doença valvar, eu
troco a válvula. Eu trato a hipertensão. Mas, às vezes, você fica com alguma
sequela no miocárdio e no longo prazo, você pode desenvolver insuficiência
cardíaca”, completa.
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Coração artificial é opção para casos graves
O
tratamento da insuficiência cardíaca é, em geral, medicamentoso, com a maior
parte dos remédios disponível também na rede pública. No entanto, casos graves
podem requerer o uso de coração artificial ou, como último recurso, o
transplante.
“O
coração artificial, apesar de o nome dar a impressão de que é uma máquina que
substitui o coração inteiro, na verdade (…) é um dispositivo que assiste ao
ventrículo esquerdo. É como se fosse uma bomba d’água: ele aspira o sangue do
ventrículo esquerdo e manda para a aorta. Então, substitui este lado do
coração, que é a parte mais importante que é a que bombeia sangue para o
organismo”, explica Ayub.
Segundo
a especialista, hoje os pacientes que utilizam o coração artificial podem ter
uma vida plena e, inclusive, praticar atividades físicas. “A gente muda a vida
desse indivíduo, que teria um prognóstico de sobrevida menor que 10% em um
ano”.
Esse
dispositivo pode ser utilizado como terapia definitiva ou para o paciente que
está na fila aguardando o transplante. “O Brasil tem um programa de transplante
cardíaco muito importante, talvez seja no mundo o principal programa coberto
pelo SUS, e a gente tem um número de transplantes em torno de 350 a 370
transplantes por ano. E ele é extremamente efetivo. Um paciente que é submetido
a um transplante cardíaco tem uma expectativa de vida de 10 a 15 anos, então é
uma mudança dramática na história de vida de cada indivíduo”, afirma Ayub.
Atualmente,
a grande dificuldade ainda é o tempo que o paciente precisa permanecer em fila
aguardando um transplante. “Às vezes o paciente permanece de quatro a seis
meses internado, num hospital, necessitando de medicações na veia para chegar o
momento dele na fila. Talvez aí a gente tenha que melhorar mais a nossa doação
de órgãos”, finaliza.
• Inteligência artificial
na cardiologia: entenda seus usos para saúde do coração
A
aplicação da inteligência artificial (IA) na detecção precoce de doenças
cardíacas tem mostrado avanços significativos, especialmente com a utilização
de exames simples, disponíveis no dia a dia, como eletrocardiogramas (ECGs),
ecocardiograma e tomografia. A IA, particularmente por meio de redes neurais de
aprendizado profundo (deep learning), tem permitido a interpretação rápida e
precisa de ECGs, identificando padrões que podem ser imperceptíveis para os
humanos.
Um
exemplo disto é a detecção de disfunção ventricular esquerda, fibrilação atrial
silenciosas, cardiomiopatias, rejeição aguda após transplante cardíaco, entre
outras condições. Além disso, a IA tem sido integrada em dispositivos vestíveis
que podem monitorar continuamente os sinais cardíacos, facilitando a detecção
precoce de arritmias e descompensação de insuficiência cardíaca.
No
campo da imagem médica, a IA tem melhorado a qualidade das imagens e
automatizado a detecção de marcadores de risco de doenças cardiovasculares,
como o cálcio nas artérias coronárias, que podem predizer eventos
cardiovasculares, mesmo em populações assintomáticas.
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Impacto da IA na personalização de tratamentos e acompanhamento de doenças
crônicas
Este
uso de inteligência artificial na cardiologia possibilita uma estratificação e
personalização do tratamento. No campo da insuficiência cardíaca, estes modelos
preditivos podem integrar variáveis clínicas, laboratoriais e genéticas para
personalizar terapias, como ajustes de doses dos medicamentos, buscando melhor
resposta a determinada terapia e alcance de desfechos clínicos mais favoráveis.
Em
termos de doença arterial coronariana, a IA pode avaliar respostas a terapias
antiplaquetárias e orientar a melhor aplicação de stents.
O
monitoramento remoto também pode ter um papel importante, utilizando-se os
dispositivos vestíveis. Relógios e sensores com IA detectam alterações na
frequência cardíaca, pressão arterial e sobrecarga de líquidos no organismo,
proporcionando uma integração de dados em tempo real, como sinais vitais e
resultando em aumento da adesão ao tratamento e de alertas sobre riscos de
internação.
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Ética e segurança no uso da IA na cardiologia
A
IA na cardiologia apresenta várias considerações éticas e medidas de segurança
que são cruciais para sua implementação de forma segura e eficaz. As principais
preocupações éticas incluem questões de privacidade, segurança e
confidencialidade dos dados dos pacientes. Além disso, há riscos potenciais de
desigualdade no atendimento à saúde, se não forem devidamente validados em
populações diversas, para que efetivamente possamos ver sua aplicação na
prática.
Outro
aspecto ético importante é quanto à responsabilização, especialmente quando
ocorrem falhas nos sistemas de IA. Além disso, a obtenção de consentimento
informado pode ser um problema, pois os pacientes podem não compreender
completamente como seus dados serão utilizados por sistemas de IA, e isto se
torna mais crítico quando o sistema é aplicado para propor uma forma nova de
tratamento ou mesmo na inclusão de pacientes que serão participantes de estudos
clínicos e de pesquisas aplicadas.
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Estudos e casos de sucesso ilustrativos
A
aplicação da inteligência artificial na cardiologia tem mostrado avanços
significativos em várias áreas, conforme evidenciado por estudos recentes. Um
dos principais campos de aplicação é a análise de eletrocardiogramas (ECGs),
onde métodos de deep learning, especialmente redes neurais convolucionais, têm
sido desenvolvidos para interpretar rapidamente ECGs com uma capacidade
diagnóstica comparável à de especialistas. Esses métodos têm sido utilizados
para prever fibrilação atrial, para avaliar a função ventricular, presença de
cardiomiopatia hipertrófica, síndromes coronarianas agudas e estenose da valva
aórtica.
Sem
contar que a IA tem transformado o ECG em uma ferramenta de triagem e predição
de doenças cardíacas e não cardíacas, muitas vezes em indivíduos ainda sem
nenhum sintoma. Algoritmos de inteligência artificial têm sido desenvolvidos
para detectar disfunção ventricular esquerda e fibrilação atrial episódica a
partir de traçados registrados durante o ritmo cardíaco ainda normal. Na área
de imagem cardíaca, a IA tem sido amplamente aplicada. Esses exemplos ilustram
o potencial desses recursos em melhorar o diagnóstico e o manejo de doenças
cardiovasculares, embora desafios como a validação em ambientes clínicos reais
e questões de privacidade de dados ainda precisem ser abordados.
Fonte:
CNN Brasil
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